31.5.05

Os ecossistemas não têm preço...



O ritmo de esgotamento das matérias-primas é insustentável. E tal não diz unicamente respeito aos recursos não renováveis, os que têm origem mineral, como os hidrocarbonetos, os minerais e os metais. Também para os recursos renováveis, o ritmo de esgotamento é excessivo: é o caso da água, das pescas e das madeiras tropicais. O modo de produção é, além disso, gerador de poluição, redução da biodiversidade, e destruição do capital natural: o empobrecimento dos solos sob o efeito da agricultura intensiva, o aquecimento climático, o desaparecimento de espécies vivas ou a destruição de ecossistemas…

Não é, contudo, uma lei geral, e muitos exemplos existem que mostram os ecossistemas complexos podem ser muito produtivos sem estarem sob pressão excessiva sobre o seu ambiente.
Mas, sem dúvida, que o formidável crescimento da produção material e dos transportes, desde há dois séculos, veio a traduzir-se numa acentuação muito significativa da «pegada ecológica». Um recente relatório das Nações Unidas («Avaliação dos ecossistemas para o Milénio») constata que, « no decurso dos últimos cinquenta anos, a humanidade transformou mais intensa e rapidamente os ecossistemas do que em qualquer período da história humana». E acrescenta que o crescimento do bem estar que daí resultou para uma parte da humanidade foi feito «em detrimento das vantagens para as futuras gerações, daquilo que estas poderiam obter dos tais ecossistemas». Ou seja, estamos prestes a comer o que nos resta.

Ora o ritmo desta degradação não pára de aumentar. Os derivados de nitratos duplicaram desde 1960, e os dos fosfatos triplicaram. 60% do crescimento do efeito de estufa foram registados desde 1960. O desaparecimento de espécies animais são mil vezes mais ao longo do último século do que ao longo de milénios precedentes: 10% a 30% das espécies encontram-se ameaçadas. Uma parte não negligenciável destes problemas está ligada ao modelo de desenvolvimento industrial, que se mostra muito consumidor de recursos não renováveis. Ainda que terciarizadas, o consumo de matérias primas não pára de crescer: em seis anos (1998-2003) o consumo mundial do nickel aumentou em 16%, o do alumínio em 24%, o do cobre em 14% e o de chumbo em 13 %. Ritmos manifestamente excessivos para o futuro do nosso planeta.

Danos colaterais.

O problema não é tanto, como vulgarmente se crê, o risco de penúria. Tal risco só existe, a médio prazo, para o petróleo ( talvez, o urânio), o que explica, de resto, que a alta dos custos verificada actualmente não é conjuntural: o consumo de petróleo passou de 3 mil milhões a 4,5 mil milhões de toneladas anuais em vinte anos, um aumento de ultrapassa os novos recursos redescobertos durante o mesmo período .Quanto às outras matérias-primas, elas não correm o risco de se esgotarem.
Em contrapartida, o ritmo de extracção gera efeitos colaterais dramáticos para a populações atingidas: forte aumento da radioactividade foi registada no Níger, intoxicações por mercúrio para os produtores de moluscos, redução de superfícies agrícolas cultiváveis, descida dos lençóis de água, e desaparecimento de espécies utilizadas em certas actividades.
Verifica-se, sobretudo, um crescimento significativo da poluição difusa, a que ninguém se sente responsável porque todo o mundo é responsável: nitrificação dos lençóis freáticos causado pelo uso de produtos químicos na agricultura, salinização das terras, dispersão de metais pesados, poluições urbanas, etc. E, com certeza, há que acrescentar o aquecimento climático produzido pela acumulação dos gazes com efeito de estufa, devido principalmente à combustão de carvão e de hidrocarbonetos. O relatório da ONU sublinha que, no domínio das pescas e da água, as intervenções efectuadas ultrapassam já a capacidade regenerativa dos ecossistemas. Num total de 24 ecossistemas estudados pelos investigadores, 15 encontram-se degradados de forma profundamente inquietante.

A regulação dos preços não basta

O mecanismo dos preços – principal, senão mesmo a única via de regulação numa economia liberal – não permite travar de maneira significativa ( e, muito menos, inverter) toda esta degradação dos ecossistemas. Desde logo, porque a maior parte deles são ecossistemas não mercantis: as dificuldades dos pescadores tradicionais na Mauritânia e no Senegal, confrontados com a falta de peixe, não se repercutem em qualquer cotação bolsista, mas traduzem-se na prática na contínua degradação das condições de vida para aqueles que vivem desses ecossistemas.
Mesmo um alta de preços ( do petróleo, por exemplo) não reduz o consumo nem constitui grande estimulo para a produção de recursos alternativos renováveis. A alta o ouro negro nos últimos dois anos não impediu que a procura mundial continuasse a crescer 4% ao ano, principalmente devido ao aumento do parque de veículos e a lentidão de transformação dos sistemas de transportes no seio de um ambiente urbanizado que implicariam investimentos extremamente onerosos . A inércia não é absoluta, mas seriam necessários movimentos consideráveis no sistema de preços para as coisas se modificarem. No fundo, o ajustamento é pago pelas populações mais frágeis que pagam a maior factura para algo de que não são, de todo, responsáveis.
É, pois, pela via de políticas públicas cada vez mais restritivas que se poderá assegurar um desenvolvimento durável. E tal passará pela obrigação da reciclagem, o prolongamento do ciclo de vida dos produtos industriais, a sua redução no consumo, a fixação de taxas com efeitos no ambiente, etc. Já que o problema é mundial, as políticas públicas também o deverão ser. E como os meios dos países ricos não são os dos países pobres, tais políticas terão que ser também solidárias. Infelizmente, ainda não se começou a trilhar por esse caminho. A tomada de consciência planetária ainda não se deu, e a regra ainda continua a ser a de «cada um por si», e que os outros de desenrasquem.

( tradução do texto «Les écosystèmes n’ont pas de prix» publicado em Alternatives Economiques de Avril 2005)

Ecocrítica literária



A ecocrítica é o estudo das relações entre a literatura e o meio ambiente, segundo Cheryll Glotfelty na introdução do livro « The Ecocriticism Reader», que é, até ao momento, a obra mais completa sobre a matéria.
E não faltam críticos que têm explorado esta grelha de análise interdisciplinar, baseados no pressuposto ecológico de que tudo está interligado e, consequentemente, separar a qualidade de uma obra do seu contexto (sócio-económico, político, etc) será cair no simplismo redutor.
Segundo o próprio Glotfelty a evolução da ecocrítica processou-se ( e continuará a fazer-se) segundo o mesmo esquema evolutivo do feminismo: no início recorre-se às imagens da natureza na literatura canónica, tentando-se identificar determinados estereótipos ( Éden, Arcádia, etc) e ausências significativas; depois, num segundo momento, recupera-se alguma tradição marginalizada de textos escritos a partir da natureza; e, por último, evolui-se para uma fase teórica, preocupada por construções literárias do ser humano em relação com o seu meio natural, e daí o interesse por poéticas ligadas a movimentos como a ecologia profunda ou o ecofeminismo.
Como sempre acontece com os movimentos embrionários, logo apareceram uma praga de leituras fáceis que reivindicavam esta leitura analítica, sem com isso querer negar o aparecimento de uma série de perspectivas novas e interessantes desenvolvidas por um grupos de lúcidos ecocríticos.
No seu livro «The Environmental Imaginaions» , Lawrence Buell interessa-se pelos caminhos que levam do antropocentrismo e do egocentrismo para um ecocentrismo, procurando as obras, cujo meio natural deixou de ser um simples referencial e se tornou no verdadeiro protagonista. Estuda o «place-sense», ou seja, a consciência dos seres humanos – quer sejam narradores, personagens ou simples falantes poéticos – quanto à sua pertença a um lugar específico e que influencia, em grande medida, a sua forma de ser de agir. Existem muitos textos «ecológicos» que insistem na importância de um olhar atento, desfamiliarizador, sobre o espaço local; por outro lado, uma escrita acerca da morada ou oikos ( raiz etimológica latente na palavra ecologia) responderia à alienação que anda associada ao nosso modo de vida. Como diz Jonathan Bate, « a casa e a morada são importante para os seres humanos porque é sabido por todos o que é o desenraizamento ( o estar-sem.casa) e a alienação», enquanto outras espécies se encontram permanentemente dentro do seu ecossistema. O ser separado procura sempre efeitos catárticos na arte: « a arte é o lugar do exílio onde lamentamos a perda do nosso lugar na terra».
Ao reformular as relações entre o eu e o seu meio natural, Buell propões uma aesthtics of relinquishment, uma «estética de renúncia» que consiste fundamentalmente numa «literatura de simplicidade voluntária», em que o narrador ou o falante – personagens da obra – renunciam aos bens materiais. Mas também, de uma maneira mais radical, pode levar à renúncia do eu e a deixar-se permealizar pelo outro, ou a um cruzamento entre outros eus; outras vezes, é-se levado a uma personalização de seres não-humanos que eliminaria o abismo hierárquico entre o homo sapiens e as demais espécies; pode ainda ser-se levado a uma representação dos interesses e dos desejos das plantas e dos animais e a um retorno a formas míticas e animistas do passado.
Vários ecocríticos dedicaram-se a investigar formas pastoris. Terry Gifford, por exemplo, fala no seu livro «Green Voices» de uma poesia «post-pastoril» -a de Ted Hughes e Seamus Heaney, entre outros – em que o mundo estático da tradição virgiliana foi substituída por uma natureza dinâmica sujeita a processos cíclicos. A crítica marxista – nomeadamente Raymond Williams - refere-se às injustiças sociais que a poesia pastoril secularmente ocultou, mas Jonathan Bate defende que a representação de mundos ideais, ainda que aparentemente falseadora da realidade, é como que uma resposta a uma necessidade inerente ao ser humano, e como uma mecanismo admonitório e de sobrevivência para termos consciência das perdas provocadas pela degradação ecológica: «A idealização das comunidades orgânicas do passado, tal como a idolatria dos povos aborígenes que teriam supostamente evitado alguns males da modernidade, poderiam servir para uma máscara para as opressões do presente. Mas o mito de uma vida perdida não é menos importante pelo facto de ser mito e não história. Os mitos são imagens necessárias, relatos exemplares que ajudam a nossa espécie a dar sentido ao seu papel no mundo.»

Outros críticos investigaram as relações entre literatura e ciência: Fala-se muito, por exemplo, das ideias de Gary Snyder sobre a tradição poética como um processo análogo aos ciclos naturais de decomposição e de novo crescimento, em que o poeta seria emergia do detritus simbólico da biomassa morta, ou seja, dos escritores mortos. Fala-se também das reelaborações contemporâneas do mito do apocalipse, quer como holocausto nuclear, quer como destruição ecológica do nosso mundo em que os símbolos poéticos intemporais voltam a ser problemáticos: o ar transparente, hoje contaminado; o céu infinito, danificado pelo buraco do ozono; a chuva purificadora, convertida em chuva ácida; a terra-mãe, hoje desértica; os mares agonizantes; os rios e lagos mortos.

Também a teologia, especialmente a teologia da libertação, mostrou-se também sensível ao pensamento ecologista – e existem tanto na prosa de Boff como na poesia de Cardenal, por exemplo – um incisivo questionamento do cristianismo, a «religião mais antropocêntrica de todas a que o mundo conheceu.»
Por sua vez, o ecofeminismo ligou o activismo feminista com a causa ecologista e dedica-se ao estudo de como o androcentrismo moderno explorou quer as mulheres quer a natureza, ou como as metáforas e as imagens literárias reflectem a analogia mulher-natureza, e ainda como o actual interesse pela Deusa resulta de uma longa tradição mítica e literária que procede da tradição greco-latina, de Gaia dos hinos homéricos.
Por outro lado, os ecocríticos, enquanto se dedicam a recuperar a visão animista e harmónica das literaturas indígenas, também se viram para os discursos urbanos contemporâneos trespassados pelo lixo e despejos tóxicos.
Enfim, mil e um caminhos que o crítico e o leitor podem explorar, e que funcionam não só a nível social para despertar as nossas consciências adormecias em matéria ecológica, como também para enriquecer as nossas leituras.
Como quer que seja os notáveis estudos levados a cabo por Buell e Bate são a melhor garantia para o futuro da ecocrítica, pelo menos para os falantes de inglês. No mundo hispano é todo um imenso campo de investigação que se abre, e que se mantém virgem até agora.

Tradução de:
http://www.babab.com/no07/ecocritica.htm

Mais info em:
http://www.iyume.com/nonature/ecolinks.htm



Science and Ecocriticism
By Ursula K. Heise
The American Book Review 18.5 (July-August 1997): 4+.

Ecocriticism, or "green" criticism, is one of the most recent interdisciplinary fields to have emerged in literary and cultural studies. Ecocriticism analyzes the role that the natural environment plays in the imagination of a cultural community at a specific historical moment, examining how the concept of "nature" is defined, what values are assigned to it or denied it and why, and the way in which the relationship between humans and nature is envisioned. More specifically, it investigates how nature is used literally or metaphorically in certain literary or aesthetic genres and tropes, and what assumptions about nature underlie genres that may not address this topic directly. This analysis in turn allows ecocriticism to assess how certain historically conditioned concepts of nature and the natural, and particularly literary and artistic constructions of it, have come to shape current perceptions of the environment. In addition, some ecocritics understand their intellectual work as a direct intervention in current social, political, and economic debates surrounding environmental pollution and preservation.
Excerto de:
Science and Ecocriticism
By Ursula K. Heise
The American Book Review 18.5 (July-August 1997): 4+.

Epicuro, o filósofo dos desejos



No século IV a.c., a Grécia está sob a tutela da Macedónia. Alexandre acaba de morrer, os generais lutam entre si, e as cidades gregas perdem a sua autonomia. Epicuro (341-270 a.c.) nasce na ilha de Samos, segue o ensinamento de vários mestres, põe-se a viajar e acaba por fundar uma escola de filosofia em Atenas: o Jardim.
As mulheres e os escravos eram bem-vindos e admitidos no «Jardim», coisa rara para a época. A influência da sua filosofia foi enorme nos séculos seguintes. A verdade, porém, é que a sua filosofia foi objecto de frequentes deturpações. Epicuro buscava a «felicidade», o prazer, e os meios mais simples para os alcançar.
Não raro procurou-se converter o epicurismo numa busca do puro prazer, no sentido moderno do termo. Certo é que os cristão nunca pararam de o criticar. Mas os enganos multiplicaram-se sobre um pensamento mais próximo do ascetismo que do hedonismo.

O epicurismo opera uma distinção entre os prazeres que são naturais e necessários, como comer, beber, e aqueles que, apesar de serem naturais, não são necessários, como comer uma refeição farta, ou beber muito. Relativamente aos prazeres que não são nem naturais nem necessários, como a procura de poder, de homens ou de riquezas, tais procedimentos só podem trazer instabilidade e desequilíbrio. Perante isto, só o primeiro género de prazeres deve ser seguida: a vida feliz baseia-se na moderação dos desejos, e nas coisas simples. Epicuro suprime todas as necessidades supérfluas. Não é preciso, de todo, multiplicar os nossos desejos, que acabam por nos alienar. Precisamos de nos acautelar relativamente as estes prazeres não naturais que nos acabam por nos prender.

O pensamento de Epicuro torna-se, nos dias que correm, uma voz a ouvir. Ele viveu, tal como nós, numa sociedade despolitizada, e a sua filosofia pode ser vista como um convite para uma auto-reflexão, um caminho para a felicidade. Vinte e cinco séculos depois de ter vividos, não faltam os convites para o «expansão pessoal», e os magazines encarregam-se de vender cada um a sua receita…Mas, ao contrário do vendedores de felicidade e das ilusões, Epicuro não vê no consumo de bens materiais uma forma de atingir a felicidade. Muito pelo contrários, ele seria hoje o primeiros a estigmatizar os nossos hábitos de conforto, a nossa necessidade imperiosa de nos deslocarmo-nos a toda a velocidade, a nossa necessidade de comer carne três vezes por semana…Ora todos estes prazeres, que muitos de nós colocam no centro da sua vida, tornam-nos cegos sobre aquilo que o filósofo grego chamaria a felicidade: a simplicidade voluntária.

(texto de Sophie Divry, publicado no nº 26 de La Décroissance, le journal de la joie de vivre)

Rede internacional da hospitalidade



A associação Hospitality club é uma rede internacional de hospitalidade fundada em 2000 e que se baseia no sistema de trocas vi net, reunindo presentemente mais de 43.000 membros em 170 países. O princípio maior que inspira a rede consiste no contacto e troca entre culturas, fora do circuito turístico. Um encontro internacional realizar-se-á proximamente nos dia 13-17 de Julho em Monnai ( em Orne, França). O encontro é organizado por jovens artistas e todos os interessados são bem-vindos.

www.monnai2005.com

30.5.05

Tchernobyl nos nossos pratos!



O lobby nuclear está a tentar modificar a regulamentação internacional de modo a ser autorizada a presença de poluentes radioactivos na nossa alimentação!!!
É incrível mas, infelizmente, é verdade!

Logo após a catástrofe de Tchernobyl em 26 de Abril de 1986 os governos elaboraram normas comuns para a gestão de futuros acidentes nucleares. A contaminação então gerada tinha apanhado os governos de surpresa, e cada qual definiu as suas próprias normas, que variavam conforme os gastos que cada Estado estava pronto a gastar para limitar a quantidade de radioactividade a ingerir por cada indivíduo. A variedade de limites fixados levou à interpelação dos responsáveis acerca das arbitragens efectuadas entre as autoridades de saúde e os interesses económicos. Situação incómoda que nenhum governo deseja naturalmente viver. Entre 1987 e 1989 a acção desenvolvida foi muito intensa. A nível europeu o trabalho foi efectuado no quadro do tratado do Euratom. A nível internacional, o dossier foi entregue à Comissão do Codex Alimentarius, uma estrutura dependente da Organização Mundial da Saúde e da FAO encarregada na elaboração de normas alimentares que regulem o comércio internacional.

A regulamentação saída destes trabalhos fixa os níveis de contaminação «aceitáveis» nos géneros alimentares durante as situações de crise. Os limites então fixados não são certamente muito protectores, mais a verdade é que apresentavam duas garantias fundamentais: tais «normas» só teriam validade numa situação pós-acidente e sempre com uma duração limitada - uma duração que, segundo o regulamento europeu, devia «ser tão breve quanto possível», e que «não devia ultrapassar os 3 meses». Ora assiste-se actualmente à tentativa por parte do lobby nuclear de fazer desaparecer estes limites temporais.

Tudo começou por iniciativa da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), um organismo das Nações Unidas com duas missões: controlar o nuclear militar e promover o nuclear civil.Em 2002, esta Agência instou a Comissão do Codex alimentarius a rever a regulamentação relativa ao comércio dos alimentos contaminados. A Comissão respondeu favoravelmente…tendo encarregado a própria AEIA (!!!) a elaborar um texto regulamentador sobre a matéria!

Resultado: a regulamentação preparada sob os auspícios da Agência de promoção do nuclear civil prevê limites de contaminação dos alimentos que serão, daqui para diante, sem qualquer limitação de tempo e o seu campo de aplicação estendido não só para as situações de crise mas ainda para a própria gestão dos despejos controlados das instalações nucleares. A lógica que se quer impor será não mais limitar por um tempo a contaminação provocada por uma crise nuclear, mas autorizar definitivamente a presença de poluentes radioactivos nos nossos alimentos.

Tratando-se de poluentes cancerígenos e mutogénicos reconhecidos, a AIEA não tinha outra solução senão reafirmar os seus riscos. De facto, o texto afirma claramente a inocuidade das novas disposições: os alimentos cuja contaminação não ultrapasse os limites fixados pela AIEA «devem ser considerados como seguros para consumo humano».

O problema é que, como valerá a pena verificar, os níveis por dose, logo de risco, são de 100 a 2.000 vezes superiores àquilo que pretendem os autores do projecto. Já não estamos no patamar do risco «negligenciável» mais bem pelo contrário nos níveis de risco completamente inadmissíveis.

A afirmação, segundo a qual o consumo dos alimentos contaminados abaixo dos limites está fora de risco, esquece de precisar que isso só é válido na condição expressa que eles não sejam mais que 0,1% da alimentação total de uma pessoa. Ora 0,1% representa menos de 10g. por dia para um adulto e menos de 2g. para uma criança pequena. Trata-se de um pequeno detalhe que faz toda a diferença.

E quando se fica a saber que o projecto regulamentar não prevê absolutamente nada para garantir o respeito destas percentagens, nem sequer que os consumidores fiquem em condições de identificar os produtos com tais contaminações, pode-se então avaliar o alcance do procedimento que está em vias de ser aprovado. Sob a referência ALINORM 04/27/12, o projecto da AIEA já passou sete das oito etapas exigidas para a adopção das normas oficiais do Codex alimentarius. A luz verde, correspondente à adopção definitiva do projecto, terá lugar no início de Julho em Roma.

Há toda a urgência nesta matéria. Se a nova norma for aprovada, não haverá possibilidade de recurso: nem para os produtores nem para os consumidores, nem mesmo para os Estados que se sujeitaram às penalizações da Organização Mundial do Comércio caso bloqueiem o comércio de alimentos «legalmente» contaminados!!! Ainda estamos a tempo de fazer fracassar o projecto daAIEA…desde que não fiquemos passivos.


(texto de Corinne Castagnier, directora da Comissão de investigação e informação independente sobre a Radioactividade, CRIIRAD, publicado en edição francesa da revista L’ecologist nº15, Avril 2005)

Há uma petição a correr pela Net.

Mais info:
www.criirad.org

Industrial Workers of the World (IWW) e o sindicalismo de acção directa



Em Chicago no dia 27 de Junho de 1905 teve lugar o congresso constitutivo do IWW contra as trade-unions, os sindicatos que foram denunciados, dois anos mais tarde, por Malatesta. Contra o corporatismo trade-unionista propunha-se um só sindicato para todos os trabalhadores, «One big Union for all workers».

Todas as tendências do movimento operário revolucionário estavam presentes em Chicago para defenderem que os trabalhadores se deviam organizar a fim de controlar os poderes económicos, os meios de produção, o conjunto da produção e da distribuição, e oporem-se ao capital.

O Congresso tinha sido precedido de reuniões em Chicago com o objectivo de criar um sindicato revolucionário, e um manifesto tinha sido enviado através dos Estados Unidos sob forma de convite para o Congresso do dia 27 de Junho. No manifesto, que se opunha à acção política, não era feita qualquer diferença de raças, de crenças ou de sexos entre os trabalhadores. O meio de emancipação da classe operária era a greve geral social.

O IWW propunha a solidariedade efectiva de todos os trabalhadores ( ao passo que as trade-unions estavam envolvidas na colaboração de classes e no corporativismo), e apresentava-se como a estrutura de um novo mundo.

O American Socialist Labor Party tenta transformar entretanto o IWW num sucursal da sua própria organização. As discussões internas entre os partidários da acção directa e aqueles que defendiam a acção política conduziram então à cisão por alturas do Congresso de 1908. O socialista De Leon, que queria introduzir o parlamentarismo nos objectivos programáticos do IWW, foi excluído do congresso, tendo fundado com os seus seguidores uma organização rival que seria a correia de transmissão do Socialist Labor Party. No jornal socialista The Weekly People, ele não se cansará até à morte de atacar os anarcosindicalistas do IWW.

Uma das primeiras tarefas do congresso de 1908, após o afastamento da fracção socialista, foi retirar toda a alusão à acção política no preâmbulo dos seus estatutos. A acção dos trabalhadores devia fazer-se no próprio local de trabalho. Será aí que se formarão as estruturas do mundo novo.
«O IWW, sindicato que reúne todos os operários, apropriar-se-á, pela greve geral, dos meios de produção, abolirá o salariato e estabelecerá uma nova ordem social».
Não obstante, as permanentes discussões internas, os ideais do IWW expandir-se-ão rapidamente por todos os Estados Unidos.
Foi na periferia de Nova Iorque que eclodiu em Dezembro de 1906 a primeira greve seguida de ocupação da fábrica nos Estados Unidos. Em Goldfield, no Nevada, uma greve desencadeada pelo IWW permitiu a fixação de um salário mínimo de 4,50 dólares diários. Em Portland, no Oregon, o IWW ajuda à conquista da jornada das 9 horas e um aumento do salário para os trabalhadores têxteis. Todo esses sucessos reforçam a popularidade do IWW no mundo do trabalho.

Vincent St John e Bill Haywood expuseram no Congresso de 1908 quais eram as tácticas de acção directa que inspiram toda a filosofia do IWW.
Um brochura definia a acção directa desta maneira:
«A acção directa significa a acção económica dos próprios trabalhadores, sem a ajuda interesseira e enganosa dos leaders reformistas ou dos políticos. Uma greve que seja decidida, controlada e dirigida pelos trabalhadores, é uma acção directa; acção directa é a acção conjunta no local de trabalho para melhoria das condições de trabalho.»
Era no seio dos trabalhadores que os militantes do IWW ensaiavam as suas tácticas de acção directa.
Assim em 1909, na Pensilvânia, em McKees’ Rocks, 6.000 empregados da Pressen Steel Car Company entraram em greve por melhores condições de trabalho e para terminar com o trabalho à peça. A maior parte dos trabalhadores eram imigrantes. Forma-se um comité de greve do IWW, e é ele que determina a estratégia de luta. Piquetes de greve impedem os fura-greves amarelos ( scabs) de dividir o movimento, são organizados meetings e uma manifestação para popularizar a greve. Um grevista é morto nos confrontos com a polícia, tendo comparecido no seu funeral mais de 5.000 pessoas de quinze nacionalidades diferentes.
O primeiro número do Solidarity, jornal do IWW, é impresso em Newcastle, na Pensilvânia. Anuncia a vitória. A greve de McKees’ Rocks tinha-se saldado por melhores condições de trabalho, e feito desaparecer as barreiras ainda existentes sobre o direito a greve, além de ter reforçado a reputação e a combatividade do IWW.

Para os wobbies ( os militantes IWW) a greve era um meio de luta contra o sistema capitalista e ao mesmo tempo uma ocasião para reforçar a solidariedade de classe. As greves seriam um treino para a grande greve geral que expropriaria os grandes exploradores. A greve geral é vista pelo IWW de forma pacífica. Os trabalhadores tomariam em mão os meios de produção ocupando os seus locais de trabalho.

A ideia foi retomada por um militante do IWW, Joseph Ettor, durante uma greve da industria têxtil, em 25 de Janeiro de 1912 em Lawrence: « Se todos os trabalhadores do mundo querem vencer, eles devem reforçar a sua solidariedade. Se cruzassem os braços, o mundo pararia. Os trabalhadores são mais poderosos, mesmo com as mãos nos bolsos, que todos os capitalistas. Através da resistência passiva, recusando-se a agir, e silenciosos, eles são mais poderosos que toda a classe possidente.». Para a greve geral, e até esta eclodir, era necessário desenvolver a «solidariedade, a consciência de classe e o militantismo».
As greves faziam parte do combate perpétuo entre a classe possidente e os trabalhadores, combate que, como se lembra no Preâmbulo dos estatutos do IWW, deve levar ao controle completo dos meios de produção por parte da classe operária, não sendo as greves somente uma forma para obter melhorias temporárias, ainda que necessárias. As tácticas de acção directa dos wobblies adaptavam-se às circunstâncias e às diferentes condições de trabalho. Acções curtas, mas decisivas, eram preferidas frequentemente, quando o IWW não se sentia capaz de apoiar financeiramente as greves longas. Greves de braços caídos, greves de zelo e a sabotagem eram diferentes formas para obter rapidamente certas concessões.
A utilização da sabotagem nas acções reivindicativas dos trabalhadores foi sempre objecto de grandes discussões.
A palavra sabotagem parece ter sido utilizada pela primeira vez publicamente por Pouget num Congresso CGT em 1897.
A palavra aparece pela primeira vez nos Estados Unidos no Solidarity de 4 de Julho de 1910 a propósito de um greve de 600 operários alfaiates que exigiam a reintegração de um dos seus camaradas. Recusaram trabalhar, e quando os fura-greves apareceram para os substituir, os trabalhadores das empresas Lann e Company começaram a sabotar o trabalho de tal modo que a empresa acedeu à maior parte das reivindicações dos grevistas.
A controvérsia atingiu o seu apogeu num congresso do partido socialista em 1912. O Socialist Labor Party não admitia membros que se opunham à acção política ou que eram partidários da sabotagem ou de qualquer outro meio violento a favor da emancipação do proletariado. Esta medida levou à exclusão da sua ala esquerda.
Um militante do IWW, Bill Haywood, teve a mesma sorte. Tinha sido delegado em 1919 ao congresso da II Internacional na Europa, e desiludido, resolve, no seu regresso, militar em prol de um socialismo de fato de trabalho, e a favor da acção directa e da greve geral. Nas publicações da IWW, os artigos sobre sabotagem são muito numerosos entre 1913 e 1917, altura em que a repressão se abateu sobre o IWW.
A partir de 1910 apareceram na imprensa do IWW muitas traduções de textos provenientes da Europa. A posição oficial do IWW demarcou-se, todavia, sempre da sabotagem.
Podia-se ler em 1913 no Industrial Worker: «O programa do IWW oferece a solução para o problema do salariato, solução com a violência reduzida ao mínimo». De qualquer modo, na literatura e nos jornais do IWW a sabotagem ficará sempre, junto com o gato negro, como o símbolo da acção directa.
Na realidade, as numerosas greves desencadeadas pelo IWW não recorreram à violência. Os patrões americanos é que, com receio por esta organização sindicalista revolucionária, organizaram as suas próprias milícias…A imprensa, por seu turno, manobrou a opinião pública apresentando os wobblies como terroristas, bombistas, sabotadores a soldo do kaiser alemão, e mancomunados com os bolchevistas e apostados em sovietizar os Estados Unidos.

Propaganda e Greves

Apesar de toda a campanha de imprensa dirigida contra eles, o IWW continuaram a estender a sua influência e a propagar a sua ideia: «One big union for all workers». Muitos dos seus militantes eram trabalhadores sazonais e difundiram o Little Red Book ( canções para inflamar as chamas do descontentamento), que era uma recolha de canções revolucionárias que contribuíram para popularizar o movimento IWW no seio da classe operária.
Aliás, as principais ideias do IWW estavam incluídas nas canções quer por via de músicas originais quer a partir de ritmos e sons já conhecidos, mas com novos versos. Joe Hill, membro do IWW, foi um dos bardos itinerantes que atravessaram os Estados Unidos em busca de emprego, e que iam de uma união local IWW para outra. Segundo o estudioso de folklore John Greenway, essa pequena recolha de canções foi «a primeira grande colecção de canções de trabalho». Fora editado pela união loal IWW de Spokane; muitos operários eram obrigados pelo seu trabalho sazonal a percorrer continuamente o território americano e puderam assim divulgar por todo o lado o ideal do IWW.
Uma outra forma de acção directa desenvolvida pelo IWW foi o uso da palavra em plena rua, conhecida pelo nome de «soap box speeches» pois, para falar, o orador subia para cima de uma caixa ( soap box). De resto, para obterem o direito de se exprimirem nas ruas, os militantes do IWW levaram a efeito rudes campanhas entre 1908 a 1916.
Esta forma de intervir era vital para o IWW, pois permitia-lhes contrariar as agências de emprego e organizar boicotes contra elas. Os empregadores deveriam antes passar pelo sindicato, pela união local IWW, que assumiria então as funções de Bolsa de trabalho.
Através das suas campanhas, as uniões locais, como a de Spokane, obtiveram o direito à expressão pela palavra, e ainda o terem um local como ainda poderem publicar um jornal. Nas regiões em que não estavam ainda implantados, o IWW recrutavam novos membros pelo recurso ao «soap box speeches».
Tratava-se assim não de um método de acção directa como um importante e vital direito de expressão.
Poder-se-á pensar que o IWW só poderia influenciar os trabalhadores sazonais como os trabalhadores rurais da apanha da fruta, e os lenhadores. É certo que a propaganda do IWW teve principalmente eco nestes grupos de trabalhadores, que se encontravam à mercê dos empregadores. Recorde-se que para a colheita da fruta, os angariadores faziam vir duas vezes mais trabalhadores que necessitavam, o que lhes permitia a descida brutal dos salários…
Mas a verdade é que a influência do IWW abrangeu ainda os centros industriais.
Assim, em Janeiro de 1912, 25.000 operários da fiação de Lawrence desencadearam uma greve de 10 semanas onde assumiam as palavras de ordem do IWW. Note-se que Lawrence era o maior centro têxtil dos Estados Unidos, superando pela sua produção todos os outros. As principais fiações pertenciam à American Woolen Company ( com 34 fábricas na Nova Inglaterra) e apresentavam um lucro anual de 45 milhões de dólares.
As fiações de algodão e de lã empregavam mais de 40.000 operários, que eram na maior parte não-qualificados, vindos muitos deles da Europa, atraídos pelas promessas dos «enviados» dos industriais têxteis norte-americanos. Apesar de algumas medidas proteccionistas, os salários e as condições de vida dos trabalhadores da lã não paravam de se deteriorar desde 1905.
Nas fiações fora introduzido um novo sistema de fiar ( o two-loomsystem) que duplicava o trabalho, e tornava-o mais penoso, especialmente para as mulheres e crianças que lá trabalhavam. Seguiu-se o desemprego, ao mesmo tempo que o custo de vida disparava em Lawrence, sendo o mais elevado em toda a Nova Inglaterra, com rendas altas e preços exorbitantes.
Segundo a comissão de fiscalização do Ministério do Trabalho, havia cerca de 22.000 operários, sendo mais de metade mulheres e crianças. A metade dos empregados das quatro fiações de Lawrence da American Woolen Company eram jovens raparigas entre os 14 e 18 anos.
A mortalidade era também muito elevada. Nessa época, a dra Elizabeth Shapleigh escrevia: «Um número considerável de rapazes e raparigas morrem nos dois ou três primeiros anos de trabalho, e um terço dos homens e mulheres que trabalhavam nas fiações morrem antes dos vinte e cinco anos.» Em 1 de Janeiro de 1912 os legisladores do Estado do Massachusttes aprovaram uma lei que reduzia a semana de trabalho de 56 para 54 horas para as mulheres e crianças, reduzindo ainda os respectivos salários.
Desde 1907 que o IWW organizaram em Lawrence os trabalhadores estrangeiros, e tinham perto de um milhar de aderentes. Em AFL United Textiles Workers que encontravam-se 2.500 operários qualificados de língua inglesa. Os tecedores polacos das fiações de algodão de Everett foram os primeiros a parar em 11 de Janeiro quando souberam da redução em 11% das suas remunerações. Em toda a Lawrence os trabalhadores paralisaram e, pela primeira vez em toda a história da região, os sinos tocaram a rebate.
De Nova Iorque veio Joseph Ettor do secretário executivo do IWW. Tinha 25 anos, falava inglês, e compreendia o húngaro e o yiddish. Sob o seu impulso, a greve foi coordenada, formando-se um comité de greve, eleito pelos trabalhadores. Cada nacionalidade elegia dois representantes, e cada manhã o comité reunia-se para tratar dos assuntos relativos á greve.
As reivindicações eram: 15% de aumento, 50 horas de trabalho por semana, pagamento em dobro das horas suplementares, e extinção de qualquer represália para os grevistas. O presidente da câmara local exprimia assim o seu pensamento: « A greve devia parar nas próximas 24 horas. A milícia e a polícia deveriam ser autorizadas a disparar. Era o método empregue por Napoleão». Mas as famílias acabaram por receber 2 a 5 dólares a mais por semana.
As dez semanas de greve e, Lawrence foram exemplares. Foi também a primeira vez que tantos trabalhadores não qualificados se reconheceram nos ideais do IWW. John Golden, presidente da AFL United Textile Workers denunciou a táctica da acção directa do IWW como «revolucionária» e «anarquista», tentando sem sucesso liderar a greve. Os líderes do IWWW, Enor e Giovannitti (socialista italiano) foram preso com o único objectivo de quebrar a greve.
Mas o IWW enviaram prontamente para Lawrence, Bill Haywood, William Trautmann, Elizabeth Gurley Flynn e, mais tarde, Carlos Tresca, um anarquista italiano.
Estiveram mais de 15.000 grevista na estação de comboios a acolherem Haywwod e os seus companheiros.
A repressão endureceu, ao mesmo tempo que a greve adoptava novas formas.
Por exemplo, um piquete de greve de milhares de trabalhadores marchou por entre as tecedeiras com panos onde se lia «Don’t be a scab» (Não sejas um amarelo). Quando esta táctica foi interrompida pela polícia, os manifestantes começaram um vai-e-vém incessante nas lojas, sem nada comprar, o que enervava os comerciantes.
Em meados de Fevereiro de 1912 os filhos dos grevistas foram enviados para famílias amigas em Nova Iorque e Filadélfia. A opinião pública foi sensibilizada, não obstante o boicote da imprensa, e como a combatividade dos trabalhadores não esmorecia, a American Woolen Company acabou por aceitar todas as reivindicações dos grevista em 12 de Março de 1912. Em toda a Nova Inglaterra os salários de todos os trabalhadores têxteis foram aumentados.
Lawrence não foi a única grande greve em que o IWW estiveram presentes: Paterson em 1913 ( onde os grevistas representaram uma peça de teatro no Madison Square Garden); a greve dos trabalhadores do talho em 1917 que paralisou a produção no sudoeste dos Estados Unidos, as greves nas minas de cobre no Arizona, foram talvez as mais célebres, entre muitas outras.
A influência do IWW ultrapassava largamente o número dos seus aderentes ( o número de aderentes do IWW nunca passou dos 100.000 membros), mas eram eles que tinham a iniciativa, eram eles que estavam na pinha do combate.

O Declínio do Movimento

Logo no início da Primeira Grande Guerra Mundial o IWW fez saber solenemente que era contra a guerra: «Não sejas um soldado, sê um homem. Junta-te ao IWW e aos combates pelo trabalho e pela tua classe», dizia um cartaz do IWW em 1916.
Esta posição corajosa valeu ao IWW serem declarados «fora de lei».
Um campanha de imprensa, habilmente conduzida, acusava-os de serem agentes do kaiser. A repressão abateu-se então com toda a sua força. Pode-se dizer que o movimento IWW foi decapitado durante a guerra, tantos foram os militantes assassinados pelas milícias patronais. Em França, o governo mandava as tropas. Mas nos Estados Unidos era o próprio patronato que financiava os bandos de assassinos, sem sequer apelar à acção governamental.
Em 1918 o conteúdos do editorial de um grande jornal de Oklahoma, o Daily World, era assaz significativo: «O primeiro passo para a derrota da Alemanha é o esmagamento do IWW. Matai-os como se matam serpentes. Não há tempo, nem dinheiros, a perder com processos.»
Na Primavera de 1917, o Ministério da Guerra, sob pressão do capitalismo americano, tinha dado o sinal, ao permitir a prisão dos membros do IWW que «usassem a violência ou tivessem intenção de a usar». Durante o Verão de 1917, bandos armados dispersavam os meetings do IWW, e vandalizavam as suas sedes. Em 23 Estados foram então aprovadas leis contra o «sindicalismo criminal» e a interditar toda a actividade do IWW.
A revolução russa foi então para alguns dos militantes do IWW um imensa esperança que, depressa se desfaz em 1921 face às posições da Internacional dos sindicatos vermelhos: os comunistas russos não eram muitos diferentes dos políticos do Socialist Labour Party.
O nascimento do Partido Comunista ( em 1919) provocou um cisão no IWW em 1924. A organização, já de si muito fragilizada com a guerra, não conseguiu superar mais esta crise. Outros factores poderiam ainda ser referidos.
Saliente-se apenas que, no período entre as duas guerras, os comunistas apoiaram as leis anti-greve adoptadas pelo governo. O IWW teve que retomar todo o seu trabalho contra as trade unions que passaram a aceitar a filiação dos trabalhadores não qualificados.
O movimento IWW reaparece hoje sobretudo por altura das greves selvagens, e o seu jornal mensal, Industrial Worker, reflecte a vida dos trabalhadores norte-americanos, e não apresenta aquele aspecto deprimente daquelas publicações, cujas organizações vivem das recordações de um passado glorioso.
A possibilidade que lhes é dada de fazer propaganda legal será aproveitada? Como quer que seja cabe aos militantes da IWW de fazer da sua organização o ponta de lança da classe operária.
O IWW deixou a sua marca em toda a cultura norte-americana, assim como em todo o mundo.

O milagre americano = mais milionários e mais pobreza


Mais milionários e mais pessoas em situação de pobreza eis o que é, resumidamente, o milagre norte-americano

O número de milionário nos USA em 2004 aumentou 21%, ao alcançar os 7,5 milhões de famílias que possuíam um património líquido de um milhão de dólares, o que constitui o maior aumento de milionários desde há muitos anos.
Recorde-se já agora que, no mesmo período de tempo, se registou um redução real dos salários dos trabalhadores não administrativos.
Segundo as mesmas estatísticas houve também um aumento de 3,7 % de norte-americanos em situação de pobreza em 2003
Os mais ricos foram também os que mais cresceram: as famílias com um património líquido de 5 milhões de dólares cresceram em 38%
Um factor que explica isto são as grandes reduções de impostos que têm favorecidos os ricos. Ninguém duvida que o ano de 2004 foi um óptimo ano para os ricos.
Há umas semanas atrás a revista Forbes já informara que o número de multimilionários ( com um fortuna de mais de mil milhões ) tinha alcançado as 691 pessoas, um acréscimo de 17% relativamente ao ano anterior.
Desgraçadamente o ano de 2004 também foi «um bom ano» para a pobreza. Segundo a revista Time, de há umas semanas atrás, quase metade dos habitantes da Terra são pobres, isto é, mais de mil milhões pessoas sobrevivem com menos um dólar por dia.





28.5.05

Amazónia devastada



A perda no ano de 2004 de 26.000 quilómetros quadrados de selva amazónica no Brasil ( uma superfície correspondente à da Galícia) provocou a comoção fora e dentro do Brasil.Esta enorme devastação mostra que nem as promessas do governo brasileiro de esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva estão a conseguir parar a hamorragia nesse pulmão de oxigénio da humanidade, o maior bosque tropical do mundo, e que, além disso, possui a maior riqueza de biodiversidade do planeta.
Se não se conseguir estancar essa hemorragia da selva - que se encontra desflorestada já em 17,5% segundo o Fundo Mundial da Natureza (WWF) – a região converter-se-á daqui a 50 anos num deserto ou, no melhor dos casos, numa enorme plantação de soja e da pastagens para o gado, com todas as sequelas que isso representaria não só para o Brasil como para todo o mundo. Com efeito, a Amazónia continua a ser o pomo da discórdia no Brasil, um verdadeiro campo de batalha entre a preservação ecológica e o desenvolvimento.
Vilmar Locatelli, assessor da Comissão Nacional da Amazónia, declara que, segundo estudos realizados por via satélite, o ritmo de desflorestação da selva e o aumento do efeito de estufa «podem provocar sérias alterações ao clima amazónico», acrescentando: «Sem a selva, as chuvas vêm-se reduzidas entre 20% e 30% e a temperatura média poderá subir entre 3 a 5 graus.»

Quem são os responsáveis? O Governo brasileiro defende-se pela boca do Secretário da Biodiversidade do Ministério do Ambiente, João Paulo Capobianco, afirmando que o Plano de Prevenção e de Controle da Desflorestação da Amazónia ( lançado pelo Presidente Lula no ano passado, e no qual participaram 13 ministros, e de cujo responsável é o todo poderoso ministro da Presidência, José Dirceu) ainda não pode dar frutos «porque só tem poucos meses de funcionamento». Da parte da oposição respondeu um dos melhores líderes da defesa do meio ambiente, o deputado do Partido Verde (PV), Fernando Gabeira, que não hesita em declarar que o problema para o famoso Plano «não estar ainda a funcionar se deve à falta de recursos e porque o mi nisto Circeu ainda não pôs os pés na Amazónia».

Para os observadors o grande problema que se defronta o Brasil é como conciliar o actual desenvolvimento económico (centrado no agronegócio, em especial na soja e na pecuária) com a defesa dos seus bosques, da sua madeira preciosa, dos seus rios, sem os contaminar ( recorde-se que o Brasil possui 23% da água potável do mundo), da sua biomassa e das suas imensas jazidas de minerais preciosos, principalmente diamantes.

A Amazónia é um território de 5 milhões de Km2, com apenas 275 fiscais para vigiar – um fiscal por cada 18.000 Km2 -, uma região cobiçado por tudo e por todos, inclusive pelas 27 grandes multinacionais que operam na região.

Neste momento, o Brasil é o segundo exportador da soja do mundo, depois dos Estados Unidos, e um dos maiores vendedores de carne. O consumo de carne brasileira na Europa, assim como da soja, é uma das principais causas para o aumento da desflorestação da Amazónia, segundo David Kaimowitz, director geral do Centro Internacional de Investigações sobre Bosques Cifor). A União Europeia importa do Brasil quase 40% das 578.000 toneladas de carne bovina que é consumida anualmente no Velho Continente. O número de cabeças de gado no Brasil já ultrapassa os 60 milhões, dos quais mais de 30% encontram-se na Amazónia. Brasil controla já, neste momento, 20 % do mercado mundial de carne bovina.

Para o cultivo da soja e para as pastagens do gado cortam-se milhões de árvores.
80% da madeira usada no Estado de São Paulo é de procedência ilegal.
Os especialistas calculam que por cada árvore cortada, destroem-se outras 10, das quais 6 nem sequer é aproveitada.

A defesa da Amazónia estava consagrada no programa eleitoral do Presidente Lula, que pôs à frente do Ministério do Ambiente Marina Silva, filha de uma família muito pobre do norte do país, e que conseguiu chegar a senadora, depois de ter sido sindicalista. O próprio Presidente Lula sempre defendeu o princípio que a Amazónia não poderia converter-se num «santuário intocável» e que deveria desencadear-se na região um processo de desenvolvimento económico sustentável, ou seja, compatível com a preservação da diversidade e da riqueza natural. «Não queremos proibir, queremos regular, fazer as coisas civilizadamente», disse Lula.
O governo Lula tomou toda uma série de medidas para tentar travar a ocupação ilegal da selva amazónica ameaçada. Para tanto,incentivou um moderno sistema de vigilância aérea, capaz de detectar os incêndios, a desflorestação e a ocupação ilegal. Exigiu ainda o registo de todos os proprietários de mais de 300 hectares a fim de os obrigar a demonstrar que eram terras legitimamente adquiridas e não por meios ilegais. Dispôs-se a conceder 13 milhões de hectares de áreas públicas da Amazónia para um uso económico sustentável em 10 anos, a fim de evitar as invasões ilegais e a ocupação das terras públicas. Ao mesmo tempo decidiu a criação de dezenas de parques naturais, dentro da selva amazónica, a fim de os blindar à pilhagem. Os resultados, todavia, tardam a surgir.
A ministra Silva, que perdeu quase todas as batalhas dentro do seu governo e no Parlamento, começando pela guerra contra os transgénicos, preferiu atacar, depois de saber dos últimos dados relativos à destruição da natureza amazónica, a sociedade brasileira e a sociedade internacional que, segundo ela, «critica a desflorestação da Amazónia, mas continua a consumir produtos que contribuem para essa mesma desflorestação».

O que é difícil explicar, é como o Brasil, possuindo a legislação mais exigente e moderna sobre a defesa da natureza e dos seus santuários, não consiga travar à sua devastação, nem parar as pistolas que assassinam todos quantos se opõem à essa destruição, como foi patente a recente execução da religiosa norte-americana, naturalizada brasileira, Dorothy Mãe Stang que há 40 anos lutava contra a pilhagem e a devastação da Amazónia , e cujo assassínio revelou à comunidade internacional as extremas dificuldades em levar à prática a lei, face às conivências entre terra-tenentes, polícias, políticos locais e juízes corruptos numa trama de impunidade contra a qual se desfazem os esforços governamentais. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, do Episcopado do Brasil, entre 1985 e 2004, registaram-se 1.349 assassinatos de pessoas empenhadas contra os saqueadores da Amazónia. Desse total, só 75 desses assassinatos foram a julgamento, e apenas 15 pessoas acabaram por ser condenadas. Todas elas, acrescente-se, apelaram da sentença.

Referindo-se aos responsáveis pela desflorestação, o diário Globo afirmava no seu editorial na passada 3ª feira: «São sempre os mesmos, como também é sempre a mesma ineficiência do Governo na preservação do maior património natural do país.»


Como nota de curiosidade saiba-se que o actual Governador do Estado do Mato Grosso é Blário Borges Maggi, 50 anos, quem chamam o rei da soja, por ser o maior produtor mundial de soja, controlando a sua família o Grupo Amaggi, um gigantesco grupo empresarial, sedeado no Estado do Mato Grosso, que factura mais de 600 milhões de dólares e que é responsável por uma área de cultivo de 50.000 hectares de soja, 12.000 hectares de milho e 2.500 hectares de algodão. O grupo produz 2,2 milhões de toneladas de soja, o que representa 5,2 % da produção nacional brasileira.
Resta acrescentar que Maggi é visto como o inimigo número um por parte dos ecologistas que o acusam de ser o maior responsável pela desflorestação da Amazónia.


Estima-se que na Amazónia seja um santuário onde estejam albergadas 30.000 espécies de plantas, 2.500 espécies de árvores, 3.000 tipos de peixes diferentes, e um terço da madeira tropical do planeta. É também na Amazónia que se registam em cada ano,mais de 300.000 incêndios, uma grande parte provocados pelos madeireiros, criadores de gado e agricultores.

Recorde-se que o prestigiado intelectual brasileiro, que já foi Ministro da Educação do governo de Lula, e ex-governador de Brasília, Cristovam Buarque, autor de mais de 40 livros, afirmou num dos seus célebres textos:
«Como brasileiro, estou contra a internacionalização da Amazónia, apesar da degradação ambiental desse património. Mas como humanista, admito essa hipótese. Mas então, que se internacionalizam também todas as reservas de petróleo do mundo, todos os museus e toda a infância para que deixe de haver fome e haja direito à educação»

(tradução do texto publicado no El País de 28 de Maio de 2005)

O dinheiro

«O dinheiro representa hoje uma nova forma de escravatura impessoal que substituiu a antiga escravatura da pessoa» ( Tolstoi)

Homenagem em Madrid aos professores republicanos anti-franquistas




Foram homenageados ontem em Madrid milhares de professores republicanos que foram perseguidos e mortos às mãos das hostes facínoras dos esbirros de Franco,o ditador fascista de Espanha.

Os professores republicanos foram talvez um dos grupos sociais mais perseguidos e mortos pela repressão fascista de Franco, logo que chegou ao poder do Estado espanhol.
Calculam-se em cerca de 60.000 casos de professores perseguidos e depurados dos seus postos de trabalho. Tratava-se de um grupo profissional com tendências progressistas e reivindicativas que tinham acolhido com entusiasmo retirar Espanha da miséria e do atraso em que se encontrava.Por isso mesmo, o regime fascista de Franco puniu, com extrema severidade, o atrevimento dos professores e, ao persegui-los, fuzilá-los e expulsá-los das escolas públicas, estava ao mesmo tempo a facilitar e incentivar a entrada em força do nacional catolicismo nas instituições educativas franquistas

Pede-se ao cidadão para ter bom senso, coisa que falta ao mercado…!



Segundo o Banco de Portugal, o conjunto das famílias portuguesas deviam 117% do seu rendimento anual em finais de 2004. De acordo com as previsões, a dívida vai subir ainda mais este ano.Trocados por miúdos, estes números significam que as famílias que contraíram empréstimos recorrendo ao crédito teriam de trabalhar mais de um ano, sem gastar um cêntimo em alimentação, vestuário, saúde, escola, transportes, livros, férias – sem pagar um tostão em nada! -, apenas para poder pagar o que devem! (…)
Como é possível? Pois graças aos méritos do abençoado sistema de mercado. Este novo deus garante-nos que é preciso produzir cada vez mais, a mais baixo custo e consumir cada vez mais. Portanto, é indispensável gastar, gastar sempre mais – mesmo quando já não há dinheiro para gastar. Que importa! A publicidade existe para criar as apetências e o crédito para engordar a carteira vazia. (…)
Excluindo, como está, que os portugueses sejam globalmente estúpidos, inconscientes ou incapazes de deitar contas á vida, sobram as razões evidentes que os levam a hipotecar o real para sobreviver no virtual. Esses motivos são os estímulos da publicidade, a par do incitamento ao crédito. Enquanto a publicidade procura vender o máximo, a todos, fazendo crer a cada um que é diferentes dos outros, as instituições de crédito concedem empréstimos ao consumidor, tentando passar a ideia de que o crédito não custa dinheiro. (…)
Tenho dificuldade em imaginar o Governo (…) a pedir a todos os vendilhões de sonhos e de supérfluo que deixem de fazer publicidade – e a pedir aos v«bancos que deixem de conceder crédito como quem empresta corda a um enforcado… A pedir e, menos ainda, a exigir. Se exigência houver, receio bem que seja dirigida ao cidadão (…) para que tenha o bom senso que manifestamente falta a um sistema de mercado…


(excerto de um artigo de José Manuel Barata-Feyo, publicado na revista «Grande Reportagem» de 28 de Maio de 2005, sob o título «A nova pirataria»)

Os vencimentos oficiais dos estadistas lusos

Presidente da República – 9657 euros
Presidente da Assembleia da República – 7725 euros
Primeiro-Ministro – 7242 euros
Vice-Primeiro-Ministro – 6759 euros
Ministro – 6277 euros
Secretário de Estado – 5587 euros
Sub-Secretário de Estado – 4742 euros
Vice-Presidente da Assembleia da República – 4311 euros
Presidente de grupo parlamentar – 4138 euros
Presidente da Comissão Parlamentar – 3966 euros
Deputado – 3793 euros

Além disto, os titulares dos órgãos de soberania usufruem das chamadas ajudas de custo diárias: se estiverem em Lisboa recebem 20 euros diários; se estiverem fora de Lisboa as ajudas aumentam para 61 euros diários; e se estiverem no estrangeiro recebem 148 euros diários.

Agfa alemã abre falência e despede 2800 trabalhadores



A conhecida empresa alemã AgfaPhoto, sedeada em Leverkusen, anunciou a sua falência , o que se vai traduzir no despedimento de 2400 trabalhadores não só na Alemanha mas noutros países. A empresa tinha sido recentemente adquirida.

Greve na fábrica da Opel na Azambuja



A linha de produção da empresa da General Motors na Azambuja parou ontem, na sequência de uma greve de 24 horas, convocada pelo Sindicato dos Metarlúgicos, por não haver acordo quanto à actualização salarial. A paralisação foi seguida em 90% dos trabalhadores da linha de montagem.

Erros nos concursos de professores custaram 20 milhões



Os erros de colocação verificados no concurso de professores de 2003/04 custaram ao Estado 20 milhões de euros. Pior é difícil…

Há 30 anos o casamento para os portugueses deixou de ser obra e vontade de Deus...



Até Maio de 1975 os portugueses só podiam casar-se uma vez na vida por força da legislação estatal que seguia o acordo estabelecido na Concordata entre o Estado e a Igreja Católica. Ou seja, os casamentos civis tinham efeitos não só civis como religiosos, não podendo ser dissolvidos por serem considerados pela Igreja Católica como obra e vontade de Deus!!!

Só depois do DL 262/75 de 27 de Maio é que passaram a distinguirem-se os casamentos civis e os casamentos religiosos, cada um tendo efeitos distintos e separados: os primeiros seguiam a lei civil, os segundos seguiam a lei canónica.

Mas até ali e durante todo o Regime ditatorial do Estado Novo de Oliveira Salazar, e por força da Concordata assinada entre a Igreja Católica e o Estado português, os cidadãos portugueses tinham que seguir as normas do direito canónico que considera ainda hoje o casamento como obra de Deus, e enquanto tal, mandamento divino, pelo que é um acto definitivo e insusceptível de dissolução por vontade humana !!! …

Com efeito, para a doutrina cristã o casamento é obra de Deus e, por isso, só por ele pode ser dissolvido, o que significa que os seres humanos, uma vez casados, não podem dissolver o seu casamento.
Como até Maio de 1975 o direito português conferia plena eficácia às normas canónicas sobre o matrimónio, tal significava que o divórcio estava proibido em Portugal !!!

E assim se fazia o ledo e triste Portugal salazarento…


Recorde-se que hoje em dia regista-se em Portugal uma média de 1 divórcio para cada 3 casamentos, instituição cada vez mais desacreditada, e que progressivamente vem sendo suplantada pelo que, muitos libertários, designam por Amor Livre, isto é, uma relação amorosa, assente na vontade livre de dois seres, e liberta da burocracia estatal e eclesial.

27.5.05

Polícia (FBI) vigiou Picasso durante 25 anos



Apesar de Pablo Picasso ter nascido em Espanha, ter vivido a maior parte da sua vidaem França e nunca ter visitado os Estados Unidos, o Departamento Federal de Investigação e o Departamento de Estado dos Estados Unidos conservaram um volumoso e secreto dossier sobre Picasso.
Esses documentos comprovam uma tentativa de preverem o impacte e os efeitos na opinião pública norte-americana da adesão do pintor ao PCF em 1944.

Os cidadãos americanos tiveram ( e têm, certamente), nos organismos estaduais de polícia e de informações, processos e dossiers relativos às suas pessoas por motivo das suas ideias políticas – facto que se iniciou já nos anos 20 com a ascensão de J. Edgar Hoover ao cargo de director do FBI.

Mas, recentemente, alguns documentos desclassificados revelaram que grandes nomes das Artes europeias também eram submetidos a severa vigilância, sem o saberem, no seu próprio país onde residiam, já para não falar quando se deslocavam aos USA. Assim é possível descobrir que o FBI tinha processos e dossier abertos sobre escritores como Thomas Mann, Sinclair Lewis, Ernest Hemingway, William Faulkner, John Steinbeck, Pearl Buck, e pintores como Alexandre Calder, Bem Shahn, Geórgia O’Keefe, Henry Moore.

O dossier relativo a Picasso revela que a Agência Federal norte-americana vigou Picasso durante 25 anos, analisando o que ele escrevia, o que declarava e o que assinava, interessando-se ainda pelas suas relações com outras personalidades do mundo das artes como o artista Fernand Léger, o escritor Louis Aragon, o arquitecto Le Corbusier,o actor-realizador Charlie Chaplin.

O dossier sobre Picasso é classificado pelo FBI como «assunto de segurança – C » ( isto é, comunista) e como um possível subversivo – de acordo com os seus padrões, uma ameaça para a segurança e bem-estar dos Estados Unidos.

Tal como muitos outros registos do FBI, o dossier contém informações repetidas e desconexas. O capítulo biográfico do dossier inclui observações acerca da sua vida pessoal: «Vive tranquilamente com uma mulher mitos anos mais nova, também ela artista e comunista, de quem tem dois filhos.».

Outros documentos referem as relações internacionais do artista. Num memorando datado de 1945 pode-se ler: « Como se sabe, os comunistas adoptaram como emblema da sua campanha internacional uma pomba branca, obra do pintor espanhol Pablo Picasso. O pássaro pintado por Picasso pertence a uma espécie conhecida como Russian Trumpeter.» Parece dar-se a entender que o pombo é um simpatizante comunista!

O seu dossier continuou a ser alvo de referências até 1971. Isto apesar de Picasso ter abandonado o PCF depois da invasão soviética da Hungria em 1956.

A explicação dada foi que Picasso seguia a tradição anarquista espanhola. Era um comunista, mas não seguia a linha do partido.

Amigos do pintor não hesitaram em dizer que Picasso se tivesse sabido que o FBI o vigiava ter-se-ia rido às gargalhadas. Mais: teria, sem dúvida, pedido que lhe pintassem o nariz de vermelho e contado piadas e anedotas acerca disso.

(texto elaborado a partir de um artigo do New York Times, traduzido e reproduzido no Diário de Notícias de 23 de Dezembro de 1990)

Raiz e Utopia



«Raiz e Utopia» foi uma notável revista trimestral que começou a ser editada a partir da Primavera de 1977 pela mão de António José Saraiva, Carlos L. Medeiros e José Baptista, e que se definia como uma revista de «crítica e de alternativas para uma civilização diferente».
Foram publicados vários números, tendo pouco depois a revista ficado a cargo de Helena Vaz da Silva, do Centro Nacional de Cultura.
Ao longo da sua existência a revista conseguiu manter um nível de muita boa qualidade, com textos e ensaios de muito interesse, organizando números temáticos e dossiers sobre vários problemas sócio-culturais.
Publicamos por ora um pequeno excerto do Manifesto Raiz e Utopia que foi publicado no 1º número da revista.

NOTA: Pimenta Negra vai proximamente editar o texto integral desse Manifesto, dado o elevado interesse histórico e cultural de que ele se reveste.


Raiz e Utopia ( manifesto)
Autores:
António José saraiva
Carlos L. Medeiros
José Baptista


Os burocratas, tecnocratas e salvadores políticos dos vários mundos, independentemente das suas diferenças de situação e doutrina, estão empenhados em consolidar um sistema em que a grande maioria dos homens executa mecanicamente as decisões tomadas por alguns. Torna-se cada vez mais urgente restituir a cada homem a sua humanidade, quadriculada e esquartejada num mundo cada vez mais programado.
«Raiz e Utopia» não propões uma nova doutrina no plano político e ideológico em que se exibem os actores do dia. Não contribui para o discurso dominante. Tão-pouco alinha com o que é moda chamar «ciência». Recusa a ilusão do «progresso» considerando que a famosa «marcha da humanidade» é um comboio num túnel em forma de funil. Os problemas de raiz estão hoje escamoteados no discurso tecnoburocrata. É preciso mudar radicalmente a problemática a partir do quotidiano, transformar a atitude do espírito perante as coisas. A utopia não é um impossível: é um norte, a leste ou a oeste das ilusões confortáveis que hoje são servidas como ópio às massas resignadas.

26.5.05

Guantánamo é o Gulag do nosso tempo, diz a Amnistia Internacional




A Inglaterra e o EUA estão a violar grosseiramente os direitos humanos na sua pretensa guerra contra o terrorismo, diz a Amnistia Internacional no seu relatório anual tornado público ontem.
Irene Khan, secretária geral da Amnistia, acusa os dois governos de pactuar com a tortura enquanto tentam ocultar e branquear as suas responsabilidades.


A Inglaterra usa cinicamente a linguagem da liberdade e da justiça para justificar os próprios atentados aos direitos humanos. O governo britânico tem procurado garantias diplomáticas de países terceiros, para o quais pretendia deportar as pessoas, branqueando assim a sua responsabilidade na tortura e nos atentados aos direitos do homem.

" Toda uma operação tem vindo a ser montada, em nome e usando a linguagem da liberdade e da justiça para desenvolver políticas de medo e insegurança. Isto inclui até tentativas cínicas para redefinir a tortura”, declarou Irene Khan.

Recordou ainda que os Estados Unidos anunciaram que estavam a promover a liberdade no Iraque. Porém, as suas tropas cometeram torturas pavorosas, maltrataram detidos e provocaram milhares de mortos.

Irina Khan, secretária-geral da Amnistia Internacional define Guantánamo Bay como " o gulag de nosso tempo ".

Pior que tudo isso os Estados Unidos estão a fixar o tom e os padrões de conduta para os restantes governos. Quando o país mais poderoso comete sistematicamente uma série de atentados aos direitos humanas de forma tão cruel e grosseira, convidando outros governos a acompanhá-lo nos seus actos está no fundo a impor uma norma de conduta mundial que atenta contra a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a própria Civilização tal como a conhecemos.

O que é o Tratado Constitucional Europeu( breve explicação)


Quem tenha a paciência de ler o Tratado Constitucional Europeu que está a ser objecto de aprovação nos vários Estados membros da União Europeia chega facilmente à conclusão que a Constituição, que nos é proposta e em vias de ser referendada, contém os seguintes ingredientes:

Livre concorrência = 85%

Liberdade = 5 %

Solidariedade = 2%

Militarismo = 8%

Democracia Participativa = 0%

As 10 razões para votar sim ao Tratado Constitucional Europeu



Se você quiser:

1º) Que os capitais e as mercadorias sejam colocados ao mesmo nível que os seres humanos ( conferir Artigo I.3 e i.4, Preâmbulo do Título III), vote no sim

2º) Que daqui para a frente o direito comunitário prevaleça sobre o direito dos Estados membros ( Artigo I.6) e que as normas comunitárias sejam directamente aplicáveis sem passar pelos Parlamentos nacionais ( ArtigoI.33.1), vote no sim.

3º) Que a Comissão Europeia, órgão não-eleito, disponha do direito de propor textos legislativos ( Artigo I.26.2), vote no sim.

4º) Que os Estados membros se comprometam a aumentar o seu orçamento militar (Artigo I.41.3), vote no sim.

5º) Que os cidadãos só possam «convidar» a Comissão Europeia a fazer propostas a fim de aplicar a Constituição ( Artigo I.47.4), vote no sim.

6º) Que o direito de greve tenha de ser reconhecido pelos…empregadores ( artigo II.88), vote no sim

7º) Que a primeira coisa a salvaguardar em caso de crise social ou de guerra deva ser «o funcionamento do mercado» ( artigo iii.131), vote no sim.

8º) Que o Tratado constitucional só fale uma única vez de «serviços públicos», vote então no sim

9º) Que a legislação nacional que proteja as terras agrícolas seja abolida, e o seu comércio liberalizado ( Aritog III.138.e), vote no sim.

10º) Que o prestador de um serviço industrial, comercial, artesanal ou um profissional liberal possa exercer a sua actividade num Estado da sua escolha, mas segundo as condições existentes do seu país de origem ( princípio da directiva Bolkenstein, e Artigo III.145), vote então no sim.


Bom, e se no fim disto tudo, ainda estiver interessado em votar no sim, volte à escola primária que ainda não percebeu que lhe estão a passar a perna, ao condená-lo á figura de idiota feliz…no reino da Eurolândia.

Léo Ferré: As palavras são mais perigosas que as metralhadoras



«Para mim as palavras são sempre importantes. Creio que a palavra é a arma mais perigosa que existe. Bem mais perigosa que a metralhadora. As palavras ficam.» ( Léo Ferré)

Por altura de um dos concertos dados em Portugal em 1982 o antigo jornal «Sete» entrevistou Léo Ferré, músico e cantor francês, conhecido pelas suas músicas e pelas suas opiniões anarquistas. Dessa entrevista, publicado pelo «Sete» de 31/3/1982 reproduzimos algumas passagens.

- Dizem que Léo Ferré é o sobrevivente de uma geração perdida…
Léo Ferré – Melhor que isso: que sou o porta-voz de um mundo perdido. É isso, de facto, prque tenho a impressão de que fui inspirado…Para me fazer compreender, eu falo de um mundo perdido, porque ele existe, certamente. Não o vemos, mas eu persisto…Prefiro pensar que aquilo a que se chama alma são os extraterrestres, as coisas que estão para lá do nosso entendimento, mas que existem. Quer sejam Deus, ou um tocador, ou a música, ou um violoncelo. Mas de certeza que não sou um fascista…
- O «mundo perdido» é a Utopia?
Léo Ferré – Não. Eu vou dar um exemplo: se olhares para um carreiro de formigas, tu dizes:«Que interessante que isto é!» E não tens necessidade de intervir, porque as formigas são demasiado pequenas. Ora, eu penso que há certamente outras pessoas no Universo que olham para nós, e nó somos as formigas. E é por isso que não há uma intervenção contra o terror deste mundo. Terror político, claro. Não há intervenção contra os que torturam e matam pessoas em El Salvador e na Guatemala, por exemplo. (…) Se eu lhes chamo o «mundo perdido» é porque é um mundo que nós inventamos, que não se vê. E é muito bom dizer que ele existe, porque constitui uma esperança. E sem ela não se podia viver…
- Qual é o teu papel entre as formigas?
Léo Ferré – Eu faço música, sou a formiga que canta…
(…)
-Isso quererá dizer que há esperança de futuro na juventude?
Léo Ferré – Sim. (…) Em França, por exemplo, os economistas fazem os orçamentos para a «defesa nacional», para a guerra, têm problemas porque os aviões, as máquinas, os carros de assalto estão fora de moda. Mas com metade daquilo que se gasta para preparar os meios de defesa, os generais, os soldados, podia-se dar u subsídio aos jovens…
- Isso é a subversão?
Léo Ferré – Claro, é porque eu sou um subversivo…
(…)
-Porque vives no campo?
Léo Ferré – Porque tenho possibilidade de o fazer. Tu não podes viver no campo, mesmo que queiras, porque trabalhas aqui, numa cidade. E nas cidades as pessoas não se conhecem nem se amam. (…) Para mim as palavras são sempre importantes. Creio que a palavra é a arma mais perigosa que existe. Bem mais perigosa que a metralhadora. As palavras ficam.
-Porque essas canções?
Léo Ferré - «Thank you Satan» é um agradecimento a Satanás por fazer de nós «maus». A outra é um agradecimento a Deus por todas as porcarias que nos envia lá de cima…

As emissões de gases em Portugal



No ano de 2002 Portugal emitiu cerca de 81,98 Mt Co2e, o que representa um aumento de mais 40% das suas emissões de GEE relativamente ao ano de referência de 1990. Esta evolução é assustadora e, ao mesmo tempo, terrível tendo em conta o facto de Portugal ao ter subscrito o Protocolo de Quioto se ter comprometido a não aumentar as suas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) em mais de 27% até ao ano de 2012, a partir do ano de referência de 1990. Ou seja, a continuamos assim não só não cumprimos o que está estabelecido naquele Protocolo como nos arriscamos, mantendo este ritmo de crescimento das emissões, a ver aumentado de 54% a 63% o valor de referência registado naquele ano de 1990.
E não se esqueça que o Protocolo de Quioto entrou em vigor no passado dia 16 de Fevereiro de 2005, não se tendo assistido a nenhuma iniciativa ou medida governamental, digna desse nome, que contrarie de alguma forma aquela evolução.

Face à inércia dos responsáveis políticos em iniciativas que mitiguem as emissões de gases de que Portugal é responsável, o comércio europeu de emissões, e a atribuição de licenças de emissão, constituirá o eixo para algum controle sobre a matéria. Ou seja: Portugal aparece à partida como um dos principais interessados, na posição de comprador, na aquisição de direitos de emissão para poder continuar a aumentar o ritmo de emissões de gases.
Reconheça-se, desde já, que um tal mercado é altamente promissor para quem venda. Com efeito, cada tonelada de CO2 é vendida por cerca de 17 euros.
E já há estudos que prevêem que Portugal tenha de gastar 300 milhões de euros anuais na compra de licenças de emissão de CO2.

Registe-se, finalmente, que segundo um relatório da Comissão Europeia o nosso país é, dos 15 países membros, aquele que mais desperdício produz em termos energéticos: para produzir uma mesma quantidade de riqueza gasta mais de 12% de energia do que gastava em 1991. Tudo isto é revelador de desperdício, péssima gestão e falta de visão…

21% dos portugueses são excluídos sociais



Segundo dados fornecidos pela imprensa 21% dos portugueses vivem actualmente em situação de exclusão social. Nesta altura, existe dois milhões de portugueses a viver abaixo dos 60% do rendimento médio definido pelo Eurostat para Portugal. São, pois, 21 % de portugueses que vivem em condições de exclusão social, isto é, um em cada cinco portugueses vivem sem condições mínimas.

Portugal, apesar de pertencer ao grupo dos países desenvolvidos, apresenta números de pobreza muito semelhantes aos países subdesenvolvidos, o que coloca o nosso país na cauda da Europa em matéria de exclusão social.

O rock segundo Bento XVI




O cardeal Ratzinger, investido actualmente nas funções de Sumo Pontífice da Igreja Católica, foi durante anos o teólogo guardião da ortodoxia da fé religiosa católica. Num dos inúmeros escritos, Ratzinger escreve sobre música, em particular o rock nestes termos:

« (O Rock)… é a expressão das paixões elementares que, nos grandes ajuntamentos musicais, assume o carácter de culto, ou melhor dito, de contra-culto, e que se opõe ao culto cristão.»

O Guardador de rebanhos

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhes flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes, Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

Fernando Pessoa
(in Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos)



Leitor e rebeldia



«O espírito de rebeldia é a essência de todo o acto de leitura. Cada leitor deve tornar-se um rebelde»

Alberto Manguel, in Expresso de 21/5/2005

Poluição nas pedreiras em Lourosa

Segundo análises feitas às àguas, estas encontram-se contaminadas na freguesia de Loursa (Sta Maria da Feira). Tal facto deve-se ao depósito de lixo, algum dele de carácter tóxico, ao longo de décadas que, entretanto, foi soterrado. Foram detectados 1800 microgramas de alumínio nas água das captações particulares, quando os valores máximos permitidos não deveriam ultrapassar os 200 microgramas/litro, calculando que as águas estejam contaminadas numa profundidade de 150 metros

Governo encomendou 31 mil espingardas



O anterior governo Santana/Portas adjudicou a compra de 31 mil espingardas à empresa alemã HK-Heckler & Koch, associada ao grupo Espírito Santo por intermédio da empresa Escom, a fim de substituir as antigas G-3. As outras empresas interessadas acusam o concurso público de total falta de transparência, e ter sido especialmente montado a pensar na empresa alemã. As acusações partem da empresa canadiana Diemaco, uma fábrica de armas que pertence ao grupo norte-americano Colt.

Com menos de um dólar por dia, vivem milhões de pessoas



Actualmente, cerca de 1,2 mil milhões de pessoas em todo o mundo vivem com menos de um dólar por dia.

Os 8 objectivos do Milénio



A cimeira do milénio realizada em 2000 aprovou os 8 objectivos a serem atingidos até 2015:

- reduzir para metade a pobreza extrema e a fome
-universalizar o ensino primário
-promover a igualdade entre os sexos
-reduzir em dois terços a mortalidade infantil
-combater o HIV/Sida, a malária e outras doenças
-garantir a sustentabilidade ambiental e criar um processo mundial para o desenvolvimento

17,1 milhões de refugiados



Em 2003 existiam 17,1milhões de refugiados, informava a imprensa de hoje.

A (não)ajuda ao desenvolvimento



Portugal prometeu chegar aos 0,36% do PIB para a ajuda ao desenvolvimento em 2006, e aos 0,5 % em 2010.

Mas o que realmente acontece é que essa ajuda não é canalizada para financiar o desenvolvimento directo, mas antes é utilizada para pagar a entidades portuguesas pela assistência técnica aos países pobres.
Esta perversão e este desvio de ajudas é severamente criticada pela responsável pela Campanha dos objectivos de desenvolvimento do Milénio,Evelyn Herfkens.

Greve na BBC



Mais de 11.000 trabalhadores dos 25.000 trabalhadores da BBC aderiram àjornada de greve no passado dia 23 de Maio.

Manifestação dos trabalhadores da EMEF



Perto de 200 trabalhadores da Empresa de reparação e manutenção do material ferroviário (EMEF, controlada pela CP) realizaram no dis 23/5/05 um greve de duas horas que culminou com uma manifestção pelas ruas da cidade do Porto a fim de protestar contra as multinacionais como a Alstom e a Bombardier. Esta iniciativa deve-se ao facto do Governo português querer utilizar a EMEF nas negociações com a Bombardier acerca do destino a dar à fábrica que esta empresa tem na Amadora, e que foi encerrada por decisão daquela multinacional.

Mais um lay-off na Rohde



A multinacional de calçado alemã Rohde, sedeada em Santa Maria da Feira, anunciou a aplicação do lay-off a 900 trabalhadores entre Junho e Agosto. O Sindicato do sector já denunciou a situação por entender que não há falta de encomendas nem de trabalho, mas sim uma decisão da empresa em deslocalizar as encomendas para outros países.
Recorde-se que durante a situação de lay-off, caberá à Segurança Social suportar 70% do salário dos trabalhadores, que tendo uma forte redução do seu horário de trabalho, recém apenas o salário mínimo.

Os Portugueses são conservadores


Um estudo elaborado por um instituto francês traça um retrato dos portugueses, revelando a sua mentalidade conservadora quer quanto à imigração, ao papel das mulheres, e bem assim como sobre o aborto.

Só 49% dos português apoiam o rendimento mínimo ( contra os 63% dos europeus). Em contrapartida, 86% dos portugueses são favoráveis à prestação de cuidados de saúde gratuitos ( mais que os 85% dos europeus que têm a mesma opinião).
60% dos português acreditam nas virtualidades da livre concorrência ( contra 73% dos europeus), mas já 65% não aceitam qualquer alteração na legislação relativa aos despedimentos e contratação laboral.

51% dos português acham a homossexualidade como uma forma aceitável de vida (contra 64% dos europeus)
59% dos portugueses opõem-se à pena de morte ( ao passo que 60% dos europeus têm a mesma opinião)

General iraquiano colaboracionista foi morto


O general iraquiano que dirigia as operações contra os resistentes à ocupação norte-americana foi morto a tiro nas ruas de Bagdad, anunciaram as agências de informação internacionais

15.5.05

Dia Internacional da Objecção de Consciência ( 15 de Maio)



Um direito fundamental! O direito a invocar a nossa consciência contra a lei!


Recusar o serviço militar, por exemplo, é um direito da nossa consciência.

O Direito à objecção de consciência - direito que é inerente a qualquer pessoa - vem a consistir no respeito pelos ditames da sua própria consciência, pelos princípios filosóficos, morais ou religiosos que o indivíduo escolhe para si mesmo, de tal forma que ao invocá-los mais não faz que afirmar e exprimir a soberania e a dignidade da pessoa humana. A sua simples invocação pode traduzir-se naturalmente na recusa à prática de certos actos ou actividades que possam contrariar de qualquer forma aqueles princípios. O direito à Objecção de Consciência inspira-se directamente na Declaração Universal dos Direitos do Homem, nomeadamente, quando aí se diz que "toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, e de consciência", encontrando-se ainda consagrado na Lei Fundamental do Estado Português e na legislação ordinária ( Lei da Objecção da Consciência: Lei nº 7/92 de 12 de Novembro).

O direito à objecção de consciência pode ter várias concretizações, mas aquela que é mais conhecida porque mais vulgar é a da objecção (recusa) à prestação do serviço militar, ou seja, abster-se a contribuir para a prática de actos de guerra e de violência - ou para o seu treino e preparação, o que vem dar ao mesmo - por motivo de imperativos da sua consciência, e dos valores que nela vivem.

O direito à objecção de consciência encontra-se já consagrada na legislação portuguesa, assim como em alguns países com regime democrático. Mas o reconhecimento legal deste direito nem sempre foi fácil, nem ainda hoje o seu exercício é aceite por alguns países e instituições (recorde-se os casos dos Objectores de Consciência em Israel que se recusam a alistar-se, ou a serem enviados para os territórios palestinianos ocupados pelo Exército israelita).

Este facto deve-se a razões obscuras, senão mesmo por falta de conhecimento sobre o assunto, quando não por simples abuso de poder do Estado ( que tudo pensa poder sacrificar em prol dos seus interesses), mormente do seu aparelho de guerra, que é o Exército, quando este sente o seu funcionamento regular prejudicado por coisas tão "mesquinhas e insignificantes" (!!!) como são as consciências humanas.

A situação hoje é muito melhor que no passado pois a evolução histórica tem sido marcada pela necessidade do respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos indivíduos, respeito esse cada vez mais enraizado na consciência jurídica dos indivíduos se bem que nem sempre aplicado pelo próprio Estado.

Mas muito ainda há a fazer neste campo até que se possa dizer que não mais existem consciências censuradas ou violentadas pela "ideia da violência". Por outro lado, nem a actual Lei é perfeita, nem a sua divulgação tem sido feita de maneira ao seu conhecimento generalizado pela população. Daí que se imponha todo um trabalho redobrado de divulgação e esclarecimento sobre a temática da Objecção da Consciência, os seus fundamentos e pertinência, como ainda sobre os concretos direitos e a forma de os exercer por parte de todos os interessados.

Múltiplas questões se poderão colocar e o seu debate e estudo virão certamente ajudar a uma cada vez maior sensibilização e afirmação dos indivíduos face ao poder do Estado, mostrando a tudo e a todos - se necessário fosse - que acima da razão de Estado encontra-se a consciência moral de cada indivíduo.

Construção de uma auto-estrada na Irlanda é um crime contra a Humanidade



Plans to build a motorway close to one of Ireland's most historic sites have been attacked by campaigners as "a crime against humanity".

The Hill of Tara and its ancient burial site in County Meath is Ireland's equivalent of the Valley of the Dead in Egypt, campaigners have said.


Environmentalists and historians have called for the proposed M3 motorway to be stopped.

The proposed route will take the motorway through the Tara-Skryne valley.

'Historical significance'

The road will be largely along the current Enniskillen to Dublin road, north-west of the capital.
Tara, known as Temair in Gaeilge, was once the ancient seat of power in Ireland - 142 kings are said to have reigned there in prehistoric and historic times.
In ancient Irish religion and mythology Temair was the sacred place of dwelling for the gods, and was the entrance to the otherworld.
Dr Muireann Ni Bhrolchain, lecturer in Celtic Studies at the National University of Ireland Maynooth, said that Tara was a monument of massive importance.
She said: "The historical significance of Tara is that it is 6,000 years old.
"It has been inhabited by the kings of Ireland, as far as we know, and by the most important inhabitants of Ireland for that period of time.
"The king of Tara would have been considered the most important king of Ireland up until the 11th or 12th century."
Archaeologists say the nine-mile stretch of motorway will mean the excavation of at least 28 sites and monuments in the road's corridor.
They expect many more sites will be affected, with 48 archaeological zones within 500 metres of the road corridor and about one site every 300 metres along the road itself.


Vincent Salafia from Save the Tara-Skryne Valley campaign has vowed to make a legal challenge against the motorway.
He said: "This is a crime against humanity

The Hill of Tara is our most important national monument. Even the name worldwide evokes the spirit and soul of Ireland.

"It is not just the motorway we are objecting to. Everything that comes with the motorway will turn this area into an industrial area."
The planning appeals board (An Bord Pleanála) took archaeological objections into account when it gave its permission for the project
The National Roads Authority said the motorway was needed because it can currently take up to two hours to travel the 25 miles between Navan and Dublin.


Environmental effect

Michael Egan from the NRA said that the road would be twice as far from the hill as the current Dublin to Navan road.
He said it would be 1.5 miles from the top of the hill to the motorway.
"The board gave its approval to proceed with the construction of the road on the basis that it concluded that the road would not have significant environmental effect and would not impact on the hill of Tara," he said.
Work on the motorway is due to start in 2005 and finish three years later.

--------------------------------------------

Petição contra o projecto de construção desta auto-estrada na Irlanda
extraído de:
http://www.petitiononline.com/hilltara/petition.html


To: Prime Minister of Ireland, Mr …


Dear Prime Minister,

I object the planned routing of the M3 motorway through the Tara-Skryne valley, and the resulting despoilment this will cause to Ireland’s oldest and most revered national monument.

The archaeological importance of this area is beyond question. After seven years surveying the Hill of Tara and its 80km² hinterland as director of the government funded Discovery Programme, Conor Newman said: “Tara is one of the most important and famous archaeological complexes in the world.… all of our researches point to the valley between Tara and Skryne as an area of paramount importance throughout the history of Tara.”
More recently, 12 eminent Irish historians and archaeologists in letters to the Irish Independent and The Examiner wrote: “The Hill of Tara constitutes the heart and Soul of Ireland. Its very name invokes the spirit and mystique of our people and is instantly recognisable worldwide. The plan approved recently by An Bord Pleanála for the M3 motorway to dissect the Tara-Skryne valley, Ireland's premier national monument, spells out a massive national and international tragedy that must be averted.”
Can anyone doubt the profound cultural importance of Tara and its unique landscape? A landscape honoured and revered by millions throughout the world today and countless generations of Irish people gone before us. Nowhere else in Ireland is there a landscape that can claim the Tuatha de Danann, Celtic Gods and Goddesses, St. Patrick, Daniel O’Connell, Thomas Moore, heroes and High Kings from Fionn MacCumhail to Brian Boru, an archaeological complex of temples, tombs, enclosures and henges spanning five millennia, and a continuous place at the centre of Irish spiritual, cultural, political and literary history, as part of it’s fabric.
Yet it is through the very heart of this landscape, that Meath County Council, the NRA and the Irish Government wish to build a motorway, which will impact at least 141 known sites. According to Dr Conor Newman, this is just “the tip of the iceberg”.
Roads, of course, are necessary to relieving the nightmare of traffic congestion. However, in the absence of any plans to improve the Navan Road/M50 roundabout, the M3 project will not relieve congestion, it will merely move it from one place to another; plugging the worst bottleneck between Navan and Dublin even tighter. Spending €680m on an ineffectual motorway that will ruin Tara forever, cannot be described as progress; rather it constitutes wanton vandalism on a grand scale.
The National Roads Authority has released an estimate of €20m to excavate the route of the M3. I believe this figure could be closer to €100m, since there are more than likely so many monuments yet to be discovered, due to a low-grade geophysical survey carried out during the EIS. I strongly object to this amount of Irish taxpayers money being used to dig up our prize national monument, and other national monuments all around the country, especially in light of the recent High Court finding that heritage protection regulations enacted by your Government are unconstitutional.
And so I am moved to ask you three questions:
1). The M3 plans include the construction of a 34 acre floodlit intersection (Blundelstown) a mere 1,090 meters from the Hill of Tara’s core zone (as defined by OPW); what has, or will, your Office do to preserve the national monument of Tara from this permanent defacement?
2). Why are the people of Ireland being asked to pay €1.3 billion (via toll charges and taxes) for a project estimated at €64, but which cannot demonstrably relieve congestion, will lead to more violations of the Kyoto agreement, and will damage our national heritage irretrievably?
3). What will your Office do to urge re-consideration of the currently approved route for the M3, and/or to engage in a process of generating alternative effective solutions to the very real problem of traffic congestion in the area, such as reopening the Dublin to Navan railroad?

I look forward to your reply, and in the meantime urge you, in your capacity as Taoiseach to oppose the imminent despoilment of Tara by the M3 motorway, and to do all you can in working for the reversal of this disastrous decision.

Sincerely,