13.4.08

Dia Internacional pelo Darfur

Esperança para o Darfur.


Ajudar quem o mundo esqueceu.


www.dayfordarfur.org/

www.darfurinfo.org/oldnews.html


www.savedarfur.org/content?splash=yes



O Sudão é o maior país de África e uma antiga colónia britânica que sofreu, desde praticamente a independência, uma guerra entre o norte (maioritariamente árabe e que tem vindo a ser governado por partidos que assentam a sua autoridade no crescente fundamentalismo religioso) e o sul (de população maioritariamente africana e um longo passado de exploração pelo norte relacionada com o comércio de escravos). Os acordos de paz assinados a 9 de Janeiro de 2005, em Naivasha - Quénia, deixaram em aberto a independência do sul, a decidir por referendo em 2011.

Sobre o Darfur

Darfur é uma região do tamanho da França, situada no oeste do Sudão, que antes da colonização inglesa era independente de Cartum
Durante a guerra entre o norte e o sul, o exército de Cartum (norte) utilizou os jovens do Darfur como manancial de soldados africanos utilizados para combater os grupos armados do sul (muitas vezes através do rapto de crianças e jovens nas aldeias), mas a região foi relativamente poupada pela guerra e assistia até há pouco tempo a uma coexistência pacífica entre os pastores nómadas árabes e a população de etnia africana.

O genocídio

Desde 2003 que a população de etnia africana de Darfur sofre razias e morticídios que fazem parte de uma estratégia promovida pelo governo de Cartum com o apoio militar de países como a Arábia Saudita e a Líbia, apostados em impor a Charia e arabizar todo o norte do Sudão. Uma campanha de fomento do ódio étnico e racial, armando as populações de pastores árabes (politicamente mais fáceis de controlar e manipular por Cartum) e financiando as razias às populações africanas vitimou quase meio milhão de civis (!).
Ante os olhos passivos da comunidade internacional, o Governo de Cartum continua a patrocinar uma radical operação de limpeza étnica. Estima-se em mais de 3.000 o número de ataques a comunidades e aldeias destas milícias armadas e mantidas pelo governo (a uma média de cerca de 60 ataques por mês!). Todos os dias perdem a vida centenas de pessoas!

(Obs.: Quer a população árabe, quer a africana falam o árabe e professam maioritariamente o islamismo. )

Em apenas quatro anos, morreram no Darfur, vítimas da guerra, da fome ou da doença pelo menos 200 mil pessoas - os piores prognósticos apontam para 400 mil - na sua larga maioria civis indefesos.
Calcula-se que pelo menos 2,3 milhões de pessoas tenham sido obrigadas a deixar as suas casas e a procurar refúgio em campos onde estão totalmente dependentes das organizações humanitárias. Todos os dias morrem pessoas, a maior parte crianças, de todas as mais vulneráveis.
Apesar do Tribunal Penal Internacional ter declarado a existência de práticas de Crimes de Guerra e Crimes contra a Humanidade e da ONU ter reconhecido a existência de indícios de um Genocídio, a tragédia da província sudanesa do Darfur arrasta-se desde Fevereiro de 2003, debaixo dos olhos de uma comunidade internacional pouco consequente.
Os ataques às populações sucedem-se em redor dos próprios campos onde se concentram as populações deslocadas, não sendo garantida a sua segurança. As organizações de ajuda humanitária tem sido também alvos frequentes das milícias, que procuram paralisar a sua actuação, agravando ainda mais a situação de extrema debilidade de milhões de pessoas refugiadas.
Entretanto o sofrimento causado pelo conflito já ultrapassou as fronteiras do Sudão, com milhares de refugiados a fugirem para o Chade (gerando por sua vez um número de deslocados internos que ascende já a 200 mil) e para a República Centro-Africana, aonde continuam a ser perseguidos pelas milícias Janjauid.



Darfur: chamamento à consciência













Darfur: a vergonha do mundo
Por José Manuel Pureza


Publicado nedição especial do Jornal A Cabra ( jornal da Academia da Universidade de Coimbra) dedicado ao tema e à tragédia do Darfur

O Darfur é há anos palco de uma tragédia humanitária de enormes proporções, possibilitada por um crime de esquecimento por parte da comunidade internacional. Os mais de 250 mil mortos, os dois milhões de refugiados e de deslocados internos e os mais de dois milhões de pessoas totalmente dependentes da ajuda externa são o rosto incontornável desta tragédia.


O Darfur – com uma extensão territorial comparável à da França – é apenas um dos capítulos, o mais recente, de uma extensa série de conflitos que têm atravessado o Sudão desde a sua independência em 1956. Como em tantos outros pontos do globo, a divisão étnica e religiosa (70 por cento de muçulmanos, 25 por cento de animistas e 5 porcento de cristãos) e entre diferentes modos de vida (culturas sedentárias e culturas nómadas), não pode ser absolutizada enquanto causa dos conflitos. É um ingrediente importante, sem dúvida, mas indissociável quer do peso de um passado colonial (anglo–egípcio) que separou o Norte do Sul, dando às elites do primeiro a primazia da governação – desigualdade esta que a islamização, conduzida no país a partir de 1969, durante a ditadura de Nimeiri, veio radicalizar – quer do apetite internacional pelas riquezas petrolíferas do país e das alianças por ele determinadas.


O actual poder despótico, personificado em Omar el–Bashir, não é, pois, mais do que um prolongamento de um passado de profunda discriminação e de guerra interna. Neste contexto de discriminação colectiva, o Darfur veio juntar–se – através do Exército de Libertação do Sudão (SLA) e do Movimento Justiça e Igualdade – a outras revoltas contra a marginalização económica, política e social.


Animaram essa mobilização sobretudo tribos sedentárias como os Fur, os Massaleit ou os Zaghawa. A resposta das autoridades de Cartum tem sido esmagadora e traduz–se sobretudo em acções directas de destruição por raids aéreos e no apoio às milícias Janjaweed e às suas acções de devastação das populações civis e das suas fontes de sustento.


Mas além de uma longa história de conflito e de chacina, o Darfur é também uma história repetida de acordos de paz fracassados. O último desses acordos, de Maio de 2006, mostrou–se desde o início demasiado limitado quer no elenco dos signatários quer nas obrigações concretas dos que o assinaram.


Desde logo o Partido do Congresso Nacional, no poder em Cartum, tudo tem feito para boicotar o acordo, designadamente através da integração de membros das Janjaweed nas forças policiais regulares em vez de os desarmar. Por outro lado, grupos rebeldes como algumas facções do Exército de Libertação do Sudão (Minni Minawi) têm vindo a intensificar ataques contra populações civis, especialmente em campos de deslocados.


Face a este estado de coisas, há muito que urge estabelecer naquele território uma força internacional de paz, que ponha termo aos desmandos dos diferentes grupos que chacinam a população civil.


O Conselho de Segurança da ONU, através de Resolução 1706, de Agosto de 2006, aprovou o reforço da anterior Missão das Nações Unidas no Sudão (UNMIS), mandatada para vigiar o cumprimento do Acordo Geral de Paz que pôs fim à guerra entre o Norte e o Sul do Sudão. Está em causa o envio de uma força de 20.600 homens (no quadro restrito das Nações Unidas ou num quadro misto entre a ONU e a União Africana), complementados por pessoal civil, especificamente para o Darfur. O governo de Bashir, com fortes apoios sobretudo na China, tem tido a liberdade necessária para boicotar insistentemente esta decisão. Até agora sem consequências.


Está mais do que na hora de a comunidade internacional cessar a transigência com os perpetradores do massacre do Darfur. A cessação imediata da ofensiva militar contra o território, a plena cooperação das autoridades sudanesas com a força internacional de paz, o levantamento de todos os obstáculos burocráticos à ajuda humanitária às populações são exigências mínimas de cumprimento absolutamente inadiável. Há instrumentos para garantir a sua satisfação: sanções personalizadas contra os responsáveis pelos massacres, vigilância


apertada sobre os rendimentos dos negócios do petróleo e sobre os fluxos de investimento directo estrangeiro ou fiscalização, sob a égide do Conselho de Segurança, das contas “offshore” dos membros da direcção do partido maioritário, tudo pode e deve ser implementado para limitar a chacina.
Assim haja vontade política.

Os 10 mandamentos da religião (neo)liberal em veneração ao divino Mercado apresentados por Dany-Robert Dufour

Nota prévia: a divulgação aqui das teses de Dany-Robert Dufour não significa obviamente a nossa concordância com todas elas. Pensamos sim que o seu conhecimento permitirá um debate mobilizador sobre os efeitos da ideologia neo-liberal e a consequente capacitação crítica de quem resiste a mais este deus, desta vez sob a forma do divino Mercado.

Um novo deus subiu aos altares nas nossas sociedades contemporâneas, o Mercado.
Um deus que se apresenta como um remédio para todos os males e que promete a felicidade eterna.
A religião, que o glorifica, esteve em gestação nos últimos 3 séculos e assistimos hoje aos seu triunfo e consagração.
Na sua origem está um princípio axiomático tão simples quanto paradoxal - «os vícios privados fazem as virtudes públicas», ou seja, os maus vícios privados levam à fortuna pública.
Este princípio moral reinante hoje em dia pode-se traduzir em 10 Mandamentos implicítos, muito poderosos, que são os 10 mandamentos do (neo)liberalismo:


1) Deixar-te-ás guiar pelo egoísmo e entrarás alegremente no rebanho dos consumidores

Nota: o que equivale à destruição de qualquer individualidade

2) Utilizarás o outro como um meio para alcançares os teus fins

Nota: o que equivale à destruição de toda a «common decency»

3) Poderás venerar todos os ídolos à tua escolha, desde que adores o deus supremo, o mercado

Nota: trata-se aqui do retorno (e reforço) do elemento religioso

4) Não quererás ser um Kant-em-si a fim de escapares ao rebanho

Nota: o que equivale à neutralização do ideal ( isto é, do espírito) crítico

5) Combaterás todo o governo e serás tu a assumir a boa governação

Nota: este mandamento acabará por se traduzir na destruição da dimensão política substituída pela soma dos interesses privados

6) Ofenderás todo o professor que esteja em posição para te educar

NOTA: o que equivale à desconsideração da transmissão de saberes e ao descrédito do poder formador das obras

7) Ignorarás a gramática e maltratarás o vocabulário

Nota: tal conduzirá à criação de uma novlíngua

8)Violarás as leis sem te importares com isso

Nota: o que vai levar, paradoxalmente, à proliferação do direito e dos procedimentos quanto à invalidação de toda a Lei

9) Abrirás indefinidamente a porta já aberta por Duchamp

Nota: o que comduzirá à transformação da negatividade da arte numa comédia de subversão

10) Libertarás as tuas pulsões e procurarás uma fruição sem limites

Nota: o que equivale à destruição de uma economia do desejo e sua substituição por uma economia de fruição



«Os vícios privados fazem as virtudes públicas» é uma fórmula que se tornou hoje banal mas que escandalizaou a Europa das Luzes quando foi enunciada em 1704 por Bernard de Mandeville, médico, e precursor mal conhecido do liberalismo. O seu enunciado, considerado perverso na época, foi fazendo escola ao longo dos séculos até se ter tornado hoje no princípio moral que rege o nosso planeta, na medida em que se constituiu no núcleo de uma nova religião que parece reinar um pouco por todo o lado e votada à veneração do divino Mercado.
A pergunta que nos assalta de imediato é logo a de saber se as fraquezas individuais contribuem para as riquezas colectivas, não se deverá então privilegiar os interesses egoístas de cada um?

Quem se interroga assim e nos faz um diagnóstico analítico da nova religião éo filósofo Dany-Robert Dufour, apostado como está em interrogar as últimas evoluções das nossas sociedades contemporâneas.

No seu último livro, com o sugestivo título «Divino Mercado.A revolução cultural liberal», ele aponta 10 mandamentos que consubstanciam a moral neoliberal hoje dominante em domínios tão variados como a relação de cada um em relação a si mesmo e ao outro, a sua relação para com a escola, bem com para com a política,a economia, a empresa, o saber, a língua a Lei, a arte, o inconsciente, etc. Com a sua abordagem o autor mais não pretende que dar conta da autêntica revolução cultural que vivemos hoje, e que não sabemos onde nos pode levar.

Com efeito, no livro «O Divino Marcado, a revolução cultural liberal» o filósofo francês Dany-Robert Dufour pretende mostrar que longe de termos saído da dominação religiosa acabamos na actualidade por sermos submergidos por uma nova e poderosa religião, o Mercado, duplamente mais eficaz, e funcionando segundo um princípio muito simpes que já fora apresentado por Bernard de Mandeville em 1704 : «os vícios privados fazem as virtudes públicas». Um milagre foi possível graças à intervenção de uma Providência divina, nada mais nada menos que a célebre «mão invisível» de que dam Smith falava. O autor apresenta ainda os 10 Mandamentos desta nova religião que se revela menos proibicionista que as religiões anteriores, porque apostada sobretudo em incitar e orientar os seus fiéis.

No seguimento da sua teorização e na linha de um Jean-Claude Michéa, tenta analisar o acontecimento histótico que foi o Maio 68 como uma formidável armadilha na medida em que os estudantes em luta contra o capitalismo acabaram por obter efeitos exactamente opostos àqueles que pretendiam atingir com o seu combate, uma vez que este acabou por abrir o passo a uma nova forma capitalismo, um capitalismo desregulado e desinstitucionalizado. Nesse sentido Maio de 68 é-nos apresentado como desencadeador de um espírito liberal, e não tanto libertário, uma vez que a transgressão permanente preconizada acabaria por desencadear uma libertação de paixões e de pulsões que se mostrava indispensável para o emergente reino da livre circulação das mercadorias.
Os pensamentos de Deleuze, Bourdieu e Foucault , aparentemente revolucionários quando questionavam toda a identidade e toda a cultura dominante, redundaram antes numa desimbolização liberal dos indivíduos ( isto é, numa desinibição simbólica), numa desubjecitivação do humano, contribuindo involuntariamente para o mercado conquistar mais facilmente os espíritos.
Livro:
Le Divin Marché. La révolution culturelle libérale
de Dany-Robert Dufour




Dany-Robert Dufour - Le Divin Marché






Parte 1






Parte 2






Parte 3

Escravatura na sociedade actual: debate a realizar pela Tertúla Liberdade no dia 19 de Abril às 16h.

Local: Espaço PAR situado na Rua Padre Gregório Verdonk, nº 4 em Lisboa
(escadas junto ao Centro Comercial Novo Areeiro, perto da Rotunda, no lado oposto ao da Segurança Social).

Esta iniciativa integra-se no Festival Imigrarte 2008.

A Tertúlia da Liberdade promove, no próximo Sábado dia 19 de Abril pelas 16 horas, o debate «Escravatura na sociedade actual?».
A iniciativa pretende dar continuidade ao trabalho iniciado em Dezembro de 2007 com a realização do evento «200 anos de denúncia da escravatura».

Apesar de terem passado já tantos anos sobre a primeira lei abolindo oficialmente a escravatura, promulgada pela Inglaterra em 1807, calcula-se que existam ainda cerca de 27 milhões de escravos no mundo. O papel que Portugal assumiu neste tráfico contínua por discutir assim como suas consequências nas sociedades actuais e as novas formas de escravatura em desenvolvimento.

http://tertulialiberdade.blogspot.com/





http://www.antislavery.org/2007/


http://www.antislavery.org/breakingthesilence/

http://www.anti-slaverysociety.addr.com/index.htm

Hoje há Assembleia dos precários, e no próximo Sábado (19 de Abril) há Festa MayDay no Ateneu de Lisboa

Assembleia MayDay
Hoje
Domingo - 13 de Abril às 17h

Se puderes aparecer mais cedo, juntamo-nos às 15 horas, para fazer materiais para a Festa MayDay e para a parada!!


Local:
Cooperativa Cultural Crew Hassan
Rua das Portas de Santo Antão, 159 (perto Coliseu)

Divulga já pelos teus contactos!!
Não faltes!




Festa Mayday no próximo Sábado, 19 Abril - 21h30

Local: Ateneu de Lisboa
Portas de Santo Antão







Ciclo de Cinema sobre o tema do Trabalho organizado pelo Cinemalfa


O
Cinemalfa organiza, nas próximas Quintas deste mês:


Ciclo de Cinema sobre o tema do Trabalho


dia 17 e 24 de Abril


Inicio das sessões às 21h30


Rua dos Fanqueiros, 286, 1°, Lisboa

http://cinemalfa.blogspot.com/


Encontro de precários(as) nas Caldas da Rainha ( 16 de Abril, às 18h., na Pensão Portugal)


O Precariado a rebelar-se nas Caldas da Rainha!!


Debate e preparação para a participação de todos os precários
da região à volta das Caldas da Rainha no MayDay-Lisboa 2008

Seminário na Corunha ( Galiza) sobre «A globalização em crise. Controle, governamentabilidade e movimentos sociais» (18 e 25 de Abril)


Promovido pelo colectivo Assembleia de Precárias vai-se realizar na Corunha (Galiza) nos dias 18 e 25 de Abril um Seminário autogestionado sob o tema «A globalização em crise. Controle, governamentabilidade e movimentos sociais»

http://cognitarias.blogaliza.org/

A actual globalização dos sistemas de educação do ensino superior ameaça anular todo o espaço de critica e de dissidência; a cada vez maior tendência para a tecnocratização dos conteúdos, a elevada precarização dos estudantes e investigadores, os regimes de propriedade intelectual privada e as complexas hierarquias obstaculizam gravemente as possiblidades de um oposição e alternativa à Universdidade neoliberal.
A difícil abertura de um espaço político outro, no que toca a produzir um saber comum a partir do nosso desejo de autonomia, horizontalidade e participação, anima os organizadores deste Seminário, o colectivo « Assembleia de Precárias»
Nesse sentido lançou-se na oferta formativa no Campus uma acção que será a nossa primeira experiência de autoformação sob o tema «A globalização em crise. Controle, governamenbilidade e movimentos sociais» que pretende mapear os territórios e as lógicas da sociedade de controle e os novos movimentos sociais que a questionam a partir dela.


Programa:

18 de abril
Local: Faculdade de Direito, Aula 5

9:30 - 10:30 Conferencia inaugural: Abertura e creatividade: a historia do ser humano.
José Antonio Fernández de Rota, Catedrático de Antropología da UDC.

O ser mais incontrolado do planeta substituiu os instintos pelas muito complexas redes do controle social. O controle e as suas correspondentes iniciativas de resistencia, umas e outras são uma mostra clara da creatividade humana, da sua abertura radical. Esta conferência tratará de buscar as relaciões existentes entre creatividade e liberdade.

10:30 - 12:00 Poder e contestação (de Foucault a Tarrío).
Luis García Soto. Professor Titular de Filosofía Moral na Universidade de Compostela.

Segundo Foucault, na sociedade ocidental contemporânea dá-se un novo tipo de poder (Biopoder) e novas formas (regulações, disciplinas, dispositivos) de poder, que se soman ao tipo (poder de morte) e as formas (poder militar, poder ideológico) tradicionais. Perante esses poderes, a contestação (a resistência, a oposição, a alternativa) vai do anti-poder ao contra-poder. A este respecto, Tarrío proporciona un exemplo e um contributo concreto.

12:15 - 13:45 Novo capitalismo e lógicas de controle.
José Ángel Brandariz. Professor Titular de Direito Penal na Universidade da Coruña.

Há tres décadas Foucault intuiu que a lógica disciplinária que animava então os dispositivos de sanção estavam mudando, na abertura duma etapa já embrionáriamente postmoderna. Hoje é o momento de testar as instituções de sanção e de controle presentes, para comprovar a certeza ou inveracidade daquela intuição.

16:00 - 17:30 O risco como dispositivo de governo na sociedade de controle. Algumas notas sobre Frontex.

David San-Martín. Investigador Predoutoral en Filosofía do Direito da Universidad de La Rioja.
A evolução do do risco como dispositivo em sentido foucaultiano (isto é, como entramado de racionalidades, discursos e técnicas de governo) permite descortinar alguns dos traços distintivos da sociedade de controle: as novas formas de objetivação securitária, a relación poder-saber e, em definitivo, a governamentabilidade que o dito modelo traz consigo. Como exemplo, apresentam-se algumas notas sobre os usos das técnicas notariais por parte da Frontex na gestión das fronteiras exteriores da UE.

17:45-19:30 Virtual WWWorlds. Servidões e libertação na era digital.
Rosendo González. Revista Transversal

A nova rede digital não é só uma nova forma de transmissão e difusão de información senão também, e sobretudo,um novo modo de existência. Uma nova forma de “estar no mundo” que combina, paradóxicamente, os mais íntimos e brutais métodos de controle com as possibilidades mais radicais de libertação. Produção maquínica de subjetividade, aceleração, virulência, espectáculo, sociedade-rede, fragmentação, etc. Há dois dispositivos que por concentrar parte destas problemáticas se converteram em representantes desta contradição: a web 2.0 e Google. Sobre eles versará em grande medida a nossa abordagem, através do movimento pelo software livre ou as reflexões de autores como Jean Boudrillard, Marshall McLuhan, Gilles Deleuze, Guy Debord e Félix Guattari.

Sexta-Feira, 25 de abril
Local: Faculdade de Socioloxía, Salón de Graos

9:30 - 10:30 Apresentação

10:30 - 12:00 Metrópole e multitude.
Emmanuel Rodríguez. Doutor em Historia pola Universidad Complutense de Madrid.

O conceito de metrópole, além do seu uso nos estudos urbanos e para designar determinadas morfologías urbanas, é hoje o designador da situação actual. A metrópole é tanto a fábrica do capital como a grande máquina social. A metrópole é a pele da multitude, o governo complexo duma produção tendencialmente socializada; a realidade mesma da complexidade e da extremada fragmentação social. Por isso a metrópole só é governável mediante o estado de excepção. E por isso também, a metrópole é o grande desafio de uma política que vá para além dos episodios festivos do baile das revoluções moleculares e das pequenas insurrecções. A pergunta é sempre a mesma, que política é hoje possível?

12:15 - 13:45 A imaginación ao poder?: estrategias de renovacção urbana na cidade de Los Ángeles.
José María Cardesín. Professor Titular de Sociología na Universidade da Coruña.

Abordar-se-ão três projectos de remodelação urbana desenvolvidos na cidade de Los Ángeles na segunda metade do século XX: Bunker Hill, Hollywood Boulevard e Plaza México. Os três definem outros tantos modelos, tanto no que respeita aos objectivos como à implicação dos poderes públicos. Da primeira estratégia de demolição total passa-se a uma segunda de renovação urbana, para concluir na reinvenção do Kitsch.

16:00 - 17:30 As políticas da narração. Simulacro e reflexividade.
Antón Fernández de Rota. Doutorando en Antropologia.

Através duma revisão histórica das teorías da postmodernidade tentaremos aproximarmo-nos sas políticas da narração dos novos movimentos sociais. Deste jeito empreender-se-á uma viagem que vai entre a antropología, o cinema e os movimentos até entrarmos nas contra-estratexgas que a multitude emprega na era da simulação com o fim de expandir uma reflexividade antagonista sob a forma de obra aberta (opera aperta).

17:45 - 19:30 A política para além do soberano
Raimundo Viejo Viñas. Professor de Ciencia Política na Universitat Pompeu Fabra.

Com o desenvolvimento da vaga de mobilizações globais que se estende de 1994 até a actualidade, o modo de domínio inícia uma readaptação às exigências de controle que impõem novos repertórios da acçã colectiva. Esta mudança de paradigma no modo de governação está a pivotar sobre a excepção como limite da produção de uma governabilidade outra pata além dos constrangimentos da constituição formal. A fim de fazer possível o ajuste do modo de governo é preciso a suspensão de garantias jurídico-formais por meio da difusão gernealizada de uma nova cultura da emergência baseada numa nova forma de soberania: o Império. Esta, porém, mina os fundamentos da legitimidade liberal-democrática que se ancoravam no Estado nacional abrindo com isso o horizonte de um poder constituinte.

A Inscrição serve para o obtenção de créditos concedidos aos participantes.

Podes fazer a tua inscrição antecipada enviando nome e apelidos e o nº do teu documento de identidade para:
cognitarias@gmail.com

«A Tradição da Contestação.Resistência estudantil em Coimbra»:um livro de Miguel Cardina



Entrevista com Miguel Cardina que acaba de publicar, na revitalizada editora Angelus Novus, e de cujo blogue retiramos esta entrevista, o livro A Tradição da Contestação. Resistência Estudantil em Coimbra no Marcelismo.

AN: O título do seu livro, que se coloca explicitamente sob a égide de revisões contemporâneas da ideia de tradição como as activadas por Eric Hobsbawm, quer dizer exactamente o quê?


MC: Remete para duas ideias complementares. A primeira procura desmistificar um certo discurso sobre a «tradição académica», que ainda hoje persiste em Coimbra, e que entende a praxe como uma espécie de património ancestral, mais ou menos perene e incontestado, o que não é inteiramente verdade. Houve uma contestação da tradição que ocorreu durante toda a década de sessenta e que resultou na recusa de rituais, práticas e simbologias tidas como arcaicas. E esse não foi um processo inédito: de maneira distinta, nos finais do século XIX e inícios do século XX, estudantes identificados com o ideário republicano tinham-no já feito, o que levou, aliás, ao desaparecimento da praxe entre 1910 e 1919. Curiosamente, hoje é esse pedaço da história que anda desaparecido…
A segunda ideia relaciona-se com esta e diz respeito ao objecto central do livro: o estudo do processo de politização da juventude estudantil entre meados da década de cinquenta e o 25 de Abril. É a este percurso - variado e com algumas descontinuidades - que eu chamo de tradição da contestação. Ele é feito de profundas mudanças ao nível da contestação política mas também no campo das sociabilidades académicas. Algumas dessas mudanças são ainda hoje visíveis nas Repúblicas ou no próprio entendimento da Academia como «espaço de reivindicação».

AN: Ainda é possível dizer coisas novas sobre as «crises estudantis em Coimbra no antigo regime»?


MC: Julgo que sim. Parece-me que esta obra, bem como os diferentes trabalhos efectuados por Rui Bebiano - desde O Poder da Imaginação, até à recuperação de memórias dos activistas (com Maria Manuela Cruzeiro) ou o recente livro de articulação com o presente (com Elísio Estanque) - demonstram o interesse em se analisar os movimentos estudantis sob um prisma não simplesmente político, mas também social, moral e cultural.
De qualquer modo, o meio estudantil coimbrão é aquele que se encontra melhor estudado. Sobre o Porto, por exemplo, existe uma nebulosa quase total. Mas mesmo sobre Coimbra, faria falta um trabalho sobre o meio estudantil no contexto da 2ª guerra mundial ou sobre os posicionamentos sócio-políticos do corpo docente. Existe um livro de Luís Reis Torgal sobre o assunto, mas que se concentra no período entre 1926 e 1961. Seria interessante uma abordagem que fosse dessa data até ao 25 de Abril de 1974. E que colocasse em diálogo a composição, as práticas e as convicções do corpo docente e do corpo discente.

AN: No seu livro propõe que se considere a especificidade do período pós-69, mais propriamente o que coincide com o consulado de Marcelo Caetano. Mas tem noção que não é possível substituir, na economia simbólica das «crises estudantis em Coimbra» e mesmo na memória das gerações que as viveram, a centralidade mítica de 69 pelo período que se segue até 74, ou não?


MC: Não existe, naturalmente, uma intenção de substituir a centralidade de 69 por uma outra, colocada entre 70 e 74. Até porque isso seria conferir um poder à história que ela não detém. Mas procurei, sem dúvida, chamar a atenção para tempos menos conhecidos, menos celebrados, e que, não tendo tido a «dimensão de massas» da «crise de 69», foram inovadores em diferentes níveis: na recusa de um tradicionalismo ainda utilizado durante a “crise”, na politização da cultura ou na introdução de uma retórica anticolonial, que em 1969, por exemplo, nunca aparece explicitada. Para se fazer a história do processo revolucionário de 1974-1976, bem como, em certa medida, a (pré-) história das elites emergentes anos depois na política, na cultura, no jornalismo, etc., tem de se ter em conta aquele período.

AN: A sua área de trabalho é a «história contemporânea». Como sabe, há ainda muito quem considere a expressão duvidosa, para não a dizer uma contradição nos termos. Como vê essas posições?


MC: A desconfiança coloca-se mais ao nível da chamada História do Tempo Presente, que se baseia numa relação de coetaneidade entre o historiador e o objecto de investigação. Tem-se a ideia de que essa proximidade é perniciosa. No meu caso, isso nem se põe: directamente, não vivi o Estado Novo, como não vivi a implantação da República ou a matança de judeus em Lisboa no início do século XVI.
O que na realidade se pretende sugerir é que nos casos em que o passado está demasiado presente, a objectividade fica deturpada. O que é uma noção ainda devedora do positivismo e algo ilusória do ofício. A escrita historiográfica é sempre feita por um sujeito situado no tempo e no espaço, com um conjunto nunca infinito de fontes, seleccionadas por um olhar pessoal e visando uma coerência interna. O produto desse trabalho apenas participa da Verdade na medida em que está aberto ao confronto crítico. É certo que se podem colocar alguns entraves ao nível do acesso aos arquivos, ou algum melindre por se estar a falar de pessoas que ainda podem estar vivas. Mas isso leva-nos, mais do que a um limite, a uma potencialidade associada à história (muito) contemporânea: a oportunidade de recurso à memória vivida. A História Oral é, aliás, um dos eixos da tese de doutoramento que estou agora a realizar.

AN: O seu trabalho actual, sobre a constituição da extrema-esquerda em Portugal, é uma sequência natural de A Tradição da Contestação? Ou seja, foi na universidade que nasceu a extrema-esquerda e foi esse o seu nicho ecológico preferencial?


MC: A primeira organização portuguesa de extrema-esquerda é a FAP/CMLP, que aparece em 1964, resultado de uma cisão no interior do PCP, no contexto do conflito sino-soviético. Estritamente, o grupo não nasceu no seio estudantil, ainda que tenha recolhido simpatias de sectores mais politizados, em regra jovens ligados ao PCP e que se vão afastando deste partido por não concordarem com a linha de integrar o exército e ir para a frente de combate fazer trabalho político.
Mas a FAP/CMLP sofreu uma forte repressão entre 1965 e 1966, o que fez com que a organização - e sobretudo os textos do seu ideólogo, Francisco Martins Rodrigues - permanecesse mais como inspiração do que como suporte organizacional dos múltiplos grupos de matriz maoísta que emergiram nos anos seguintes. Pequenos e por vezes inorgânicos grupos de matriz trotskista ou socialista radical também apareceram nessa curva da década de sessenta para a década de setenta. E foi efectivamente no meio estudantil que se deu esse florescimento. No final do Estado Novo, o PCP, que era tradicionalmente a força dominante nos meios estudantis até meados da década de sessenta, repartia e por vezes era suplantado por estruturas como os Núcleos Sindicais, ligados à OCMLP, no Porto e em Coimbra, o MRPP, em Lisboa, ou a UEC(m-l), em Lisboa e no Porto. Foi este fragmentado activismo de extrema-esquerda que colocou o anticolonialismo no topo da agenda estudantil.

AN: Hoje em dia, tem-se a sensação de que tanto os princípios que orientavam os estudantes nos seus protestos nos anos 60 (e passam 40 anos sobre o Maio parisiense) como a própria ideia de extrema-esquerda se tornaram obsoletos. Os estudantes de hoje lutam contra os princípios de Maio de 68 - na medida em que lutam por escolas «articuladas» com as empresas, cursos práticos e orientados para o emprego, etc. - e a extrema-esquerda só sobrevive em recodificações como as do Bloco de Esquerda, em que o político, lato sensu, se tornou o cultural: aborto, casamento homossexual, etc. Trabalhar sobre a extrema-esquerda é hoje fazer «arqueologia do presente», para falar à Foucault?


MC: Referiu a caducidade do Maio de 68, atestada pela ausência desses princípios no ideário reivindicativo estudantil de hoje, o que é inteiramente verdade. Mas também é verdade, a outro nível, a sua presença praticamente consensual em diversos domínios da sociedade. Algumas questões relacionadas com o direito das minorais, o feminismo, a ecologia, o recuo de uma moral conservadora, etc., devê-las a esse «espaço 68». Na semana passada, num artigo no Público, Pacheco Pereira dizia que era paradoxal a condenação do Maio de 68 efectuada por Nicolas Sarkozy na última campanha presidencial francesa, já que sem aquele momento nunca teria sido visto como admissível um presidente casar com uma cantora pop que se tinha mostrado nua em revistas. Queiramos ou não, hoje somos todos um pouco filhos desse passado.
Talvez seja importante também não amalgamar completamente aquele «espaço 68» à extrema-esquerda daqueles anos. Na verdade, alguns sectores mais ortodoxos viram a emergência daquelas temáticas que mencionei com desconfiança, por acharem que se estava a descentrar indevidamente a militância da questão fundamental da luta de classes. É, aliás, esse aspecto mais rigidamente marxista-leninista que hoje aparece como obsoleto, até porque desapareceu o mundo bipolarizado da Guerra-Fria, bem como a sedução pela China, por Cuba e pelos independentismos africanos e asiáticos e o próprio modelo de organização ferreamente disciplinada mostrou-se pouco operativo e asfixiante.
Mas o radicalismo daqueles anos teve uma outra dimensão, que em Portugal foi, aliás, minoritária. Ela consistiu naquilo que Julie Stephens, uma historiadora australiana dos anos sessenta, chamou de “protesto antidisciplinar”, isto é, a capacidade de invenção de uma nova linguagem de protesto. Ela consistia numa recusa da “disciplina do político” e das correlativas noções de organização, hierarquia e liderança. Esta nova dinâmica de contestação levou a transgredir distinções rígidas como a efectuada entre radicalismo político e radicalismo cultural. A acção dos Provos, na Holanda, dos situacionistas, em França, ou dos Diggers, nos EUA, foram exemplos mais visíveis disso. A cólera e a festa, o colectivo e o individual, a política e a cultura, eram dois lados da mesma moeda. Em certa medida, a esquerda radical pós-moderna inscreve-se na linha de continuidade deste filão.

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A TRADIÇÃO DA CONTESTAÇÃO
Resistência Estudantil em Coimbra no Marcelismo
Miguel Cardina


Sobre o livro
Decorridas mais de três décadas sobre a queda do Estado Novo, as lutas estudantis travadas contra o regime de Salazar e Marcelo Caetano continuam a dispor de um lugar relevante na memória colectiva. Partindo do caso concreto de Coimbra, A Tradição da Contestação aborda a dissidência política e cultural que atravessa as universidades entre 1956 e 1974, focalizando a análise no período marcelista. Durante estes anos, um vasto processo de politização acentua-se nas práticas e nos discursos estudantis, contribuindo de forma decisiva para a quebra de legitimidade que a ditadura experimenta no seu troço final.



«Miguel Cardina observa um período do movimento estudantil que tem permanecido encoberto pela memória mais divulgada da 'crise académica' de 1969. E fá-lo num trabalho pioneiro, com uma atenção e um rigor absolutamente exemplares».
Rui Bebiano