31.10.06

Dar vida ao mundo rural

Reportagem na Serra de Montemuro

No interior do país, onde falta passar a carruagem da regionalização e a desertificação continua a notar-se, há quem contrarie o isolamento que os “muros” da interioridade teimam em impor.
John Mcadam, 53, americano de nascimento e, principalmente “revolucionário rural” - diz-nos o próprio num português fluente e matizado com um ligeiro sotaque inglês -, chegou há já 22 anos à aldeia de Mezio, rodeada pela serra de Montemuro, no concelho de Castro Daire. E, desde então, é um dos dinamizadores da vida local.
Começou por ser um projecto de desenvolvimento para aldeias montanhosas que trouxe este americano para cá, porém, as suas raízes aprofundaram-se na terra de Mezio com a iniciativa, juntamente com mais dois sócios, de criação de uma empresa local de plantas aromáticas e medicinais.


A hortelã comum, pimenta ou aquática, alecrim, alfazema, rosmaninho, carqueja, sabugueiro, perpétua-roxa e maravilhas são uma breve amostra da diversidade das plantas medicinais e aromáticas que podemos ver, tocar e cheirar na estufa localizada no ponto mais alto desta aldeia – Eira Velha, assim se chama a esse lugar.
Depois de se ver como se procede à reprodução das plantas na estufa, por meio do enraizamento de estacas e sementes, o conhecimento do cultivo é enriquecido com a visita aos 950 metros do campo de plantação, onde a vista é presenteada com um cocktail de cores, desde o roxo ao amarelo e com o verde sempre como pano de fundo, que pontilham a paisagem. É um itinerário que permite conhecer de perto as diferentes fases de trabalho precedentes à compra de um saco de chá.
Por detrás das estufas e dos campos de cultivo das plantas, está “uma combinação muito fértil de ideias com pessoas muito diferentes.”
De facto John Mcadam, formado em Psicologia, conta com uma vasta experiência de trabalho em projectos de desenvolvimento local desde os Estados Unidos da América, com as tribos de índios no Arizona, até à Índia. E, em 1984, parou em Portugal, onde desenvolveu durante 10 anos o Projecto de Desenvolvimento Integrado de Montemuro, no âmbito do Instituto de Assuntos Culturais, associação internacional de apoio a zonas montanhosas, com sede em Bruxelas. Os restantes sócios são dois irmãos, filhos da terra, Delfim, 40, e Joaquim Morgado, 41, respectivamente, um doutorado em Filosofia e o outro é engenheiro agrónomo.
Colocar uma aldeia nos itinerários da investigação e formação em agricultura biológica é um feito que estes três habitantes de Mezio já conseguiram com o seu projecto, iniciado em 1995, de produção, embalamento e venda de plantas medicinais e aromáticas. Para isso contribuíram “os vários projectos agro para fazer campos de experimentação e demonstração para experimentar as plantas silvestres que estão em vias de extinção e tentar adaptá-las para a agricultura. Estes projectos contaram com a parceria do Banco Português do GermoPlasma Vegetal, em Braga, do Ministério da Agricultura da Beira Litoral, em Coimbra e da Universidade do Minho”, explica Mcadam.
Por outro lado, também orientam visitas guiadas de grupos académicos ou pessoas individuais. Nesse sentido, “tanto as universidades como o Ministério da Agricultura, organizam cursos de dois ou três meses e encaminham visitas de estudo para aqui. E, também, recebemos estagiários”, acrescenta Mcadam.





Um saber antigo

O uso das plantas no tratamento e prevenção de doenças é um conhecimento muito antigo que tem acompanhado o Homem de geração em geração.
Esse facto pode ser comprovado no museu da Associação Etnográfica e Social de Montemuro - desenvolve uma cooperativa de artesãos e um restaurante de cozinha típica, cujo prato principal é o famoso “arroz de feijão com salpicão cozido”-, onde estiveram “desde o início expostas as plantas, porque as pessoas não iam ao médico. Conforme os sintomas que sentiam, assim se medicavam com ervas existentes na localidade”, esclarece Dolores Jesus, 77, professora reformada com 36 anos de ensino básico, presidente e fundadora da Associação Etnográfica de Montemuro que assinalou este ano outros 25 de actividade “na recolha, preservação e divulgação da cultura popular desta região.”
Por mera coincidência ou não, esta empresa nasceu num lugar que é considerado o centro de produção de plantas medicinais para o país. Sublinha Mcadam: “Nós não sabíamos, mas quando começámos havia jeiras de carqueja, porque a fonte desta planta para o país inteiro é aqui, em Montemuro.”
A procura crescente de plantas medicinais e produtos com certificação biológica é já um dado adquirido tanto no mercado nacional como internacional. “Cada vez mais pessoas procuram este tipo de produtos ou para a saúde ou para o gosto dos sabores. Vimos através dos meus contactos profissionais que era uma pequena onda que parecia que ia crescer. E nós quisemos captar essa onda e parece que apostámos bem”, verifica Mcadam.

Desafios a vencer

Se, por um lado, a falta de água e as ameaças dos incêndios no Verão são dificuldades inerentes ao contexto geográfico, já no que toca às exigências da certificação biológica o que está em causa é o cumprimento de uma série de requisitos qua garantam a qualidade ecológica do produto final.
Desde a plantação até ao embalamento, uma das fases de permeio é a esterilização que segundo a explicação de Mcadam é conseguida por meio “do sistema de refrigeração que congela as plantas depois de estarem secas.” E compara que “outras empresas que não são certificadas podem usar processos químicos como herbicidas, por exemplo, ou esterilizações por radiações.”
A estes desafios, acrescenta-se o de não deixar morrer a aldeia. Desafio este que parece estar a ser ganho, pois, “as pessoas estão a construir casas e a criar famílias aqui”, segundo observa Mcadam.
E olhando para trás até consegue ver diferenças na economia e organização social locais: “Quando cheguei, há 20 anos atrás, era uma economia de subsistência, a maioria das famílias trabalhava na agricultura. E, agora, Mezio mudou para ser um subúrbio no meio rural. As mulheres e os filhos vivem aqui e o homem trabalha fora e vai e vem todos os dias ou cada semana ou mês, às vezes seis meses. É muito variado: alguns trabalham em Porto, Lisboa ou Suíça e têm a família e a casa aqui. Por isso, eu chamo subúrbio em meio rural.”
Nuno Gaspar, 21, morador em Mezio, estudante de Engenharia Informática, em Viseu, é um dos 521 habitantes de Mezio e reconhece que “todas estas iniciativas de criação de empresas, especialmente das que trabalham na base de aldeia são importantes, porque desenvolvem e demonstram a terra e o que se pode fazer nela.”
Conciliar o desenvolvimento com a preservação do património natural e cultural é tanto possível como desejável. Mcadam comprova, baseando-se nos seus 22 anos de vivência rurais: “Uma parte mudou muito, mas a outra parte, mais interior, não mudou nada. Na parte cultural, eles têm as mesmas crenças, os mesmos valores sociais e culturais que tinham as pessoas quando vim para cá. Acho muito interessante ver como é que eles podem modernizar, mas com o centro não deteriorado com hábitos novos. É interessante!”



Texto de autoria de Fátima Santos, a quem agradecemos de o ter cedido para ser publicado e divulgado aqui.

30.10.06

José Couso: um crime de guerra

Conferências com
JAVIER COUSO



Dia 2 de Novembro 21:00 h
Porto na Casa Viva 167 (Pç. Marquês de Pombal, 167)
com o apoio: Espaço Musas; CasaViva167, Tribunal Internacional do Iraque –Porto.



Dia 3 de Novembro (21.30)
Lisboa na BOESG (Rua das Janelas Verdes 13 1º Esq)
com o apoio do Centro de Cultura Libertária e da BOESG



Dia 4 de Novembro (17.30)
Aljustrel no Clube Aljustrelense
com o apoio do Centro de Cultura Anarquista Gonçalves Correia


Conferência acerca do assassinato pelo exército norte-americano do repórter de imagem José Couso em 2003 e da ocupação do Iraque.

O caso judicial encontra-se presentemente no Tribunal Supremo Espanhol após a queixa-crime que dera origem a um mandato de “Busca e Captura Internacional por Crimes de Guerra” contra os autores materiais do assassinato (a primeira na história contra militares norte-americanos), ter sido arquivada num claro aviso da Audiência Nacional Espanhola à navegação para que se calem os jornalistas que são os nossos ouvidos e os nossos olhos…



Acerca de JAVIER COUSO PERMUY, nascido em Ferrol (Corunha) a 8-11-1968.

Irmão de José Couso, repórter de imagem da Tele5 assassinado pelo Exército dos Estados Unidos de América, em Bagdad a 8 de Abril de 2003.

A partir da morte de José e com outras pessoas cria a associação Hermanos, Amigos y Compañeros de José Couso (HAC-José Couso), que desenvolve uma incessante actividade com vista a exigir uma investigação e justiça, tanto para o assassinato de José como dos outros três companheiros mortos no mesmo dia, ao serem atacadas todas as sedes informativas independentes estacionadas em Bagdad.

Viajou duas vezes ao Iraque ocupado, a primeira com o objectivo de denunciar e homenagear José no mesmo lugar do seu assassinato e agradecer o trabalho dos serviços de saúde pública daquele pais no esforço generoso em salvar a sua vida. A segunda como integrante da Delegação Espanhola que no âmbito da Campanha de Emergência Sanitária pôs em marcha a CEOSI (Campanha Estatal contra a Ocupação e pela Soberania do Iraque). Uma semana na qual se estabeleceram contactos com um amplo espectro de organizações, civis e políticas do campo anti ocupação. Esta delegação, foi a primeira que consegui entrar em Faluja depois da devastação causada pelo ataque criminoso de Novembro de 2004 por parte das forças militares norte-americanas, constatando tanto os crimes de guerra cometidos como o uso de armamento proibido por as diversas Convenções Internacionais que conformam o Direito Internacional Humanitário.

Tem participado deste modo em dezenas de conferencias no seu país e em diversos eventos internacionais (Argentina, Cuba, Bélgica, Estados Unidos, Palestina, Venezuela, Parlamento Europeu…) tornando público a análise dos factos sucedidos no dia 8 de Abril em Bagdad, inseridos dentro do controlo informativo da ocupação do Iraque, país no qual se tem conseguido bloquear e controlar praticamente todas as fontes informativas independentes.

Que sirva como exemplo que nestes três anos e meio de ocupação foram assassinados mais de 100 jornalistas independentes.

Toda a informação em:

http://www.josecouso.info/

http://www.goncalvescorreia.blogspot.com/

29.10.06

Os milieux libres («os círculos ou meios livres») na Belle-époque



Os milieux libres («círculos ou meios livres») na Belle-epoque ou viver como um anarquista

Conferência a 4 de Novembro às 17 h. no CIRA (3, rue Saint-Dominique 13001 Marseille - angle Place des Capucines) de Céline Beaudet, autora do livro «Les milieux libres anarchistes en France au début du 20ème siècle), éditions Libetaires, 2006


A época que habitualmente é designada por Belle-époque é vista por quase todos como a «época de ouro» do anarquismo. Normalmente trata-se de um momento histórico que geralmente é associado ao anarco-sindicalismo. A verdade, porém, é que no anarquismo francês se podem distinguir duas correntes muitos demarcadas. Uma delas, talvez mais «oficial», a que é incomparavelmente mais conhecida na História, é constituída pelos teóricos e pelos sindicalistas.
Mas existe uma outra, frequentemente negligenciada, mas que não é menos importante do que a primeira, e que teve as suas práticas, jornais e adeptos próprios, e que exerceu uma influencia nada desprezível na maneira de pensar e na forma de se conduzir dos meios e dos círculos anarquistas. Falámos da corrente do anarquismo individualista. Anarquistas que colocam o indivíduo, a sua autonomia, a sua liberdade no coração das suas reflexões e preocupações.
Não faltam discussões entre os que pretendem que sem revolução não pode haver emancipação e aqueles outros para quem uma hipotética revolução não modificará nada, caso os indivíduos, eles mesmos, não mudarem. Para os anarco-individualistas a educação é pois algo de muito primordial. Mais ainda: eles consideram que é preciso viver, desde já, de acordo com as ideias que se defende, ou seja, viver a sua revolta e a emancipação social e individual no próprio quotidiano, sem estar à espera da «Grande Noite» da Revolução.
É no seguimento destas ideias que surgem os assim designados «milieux libres» ( meios livres), meios ou círculos onde se praticava uma vida em comum e que visavam garantir a cada um dos seus elementos libertarem-se do salariato, do patriarcado e da família, etc. Os meios livres eram formados entre 5 a 20 pessoas que se empenhavam em vivem juntos de um outro modo, distinto do que era seguido pela sociedade em geral.. Em França existiram um dezena de experiências e que envolveram algumas centenas de elementos ( homens, mulheres e crianças), para além de diversos jornais como Le Libertaire, L’Anarchie e ainda L’Ère Nouvelle. Todas essas experiências reflectem variadas ideias e práticas que testemunham esse desejo de «viver como anarquista»: educação libertária, camaradagem amorosa, redução de bens supérfluos , agricultura, artesanato, vegetarianismo, ilegalismo, propaganda pela acção e pelo texto escrito, etc, etc. Tudo isso com alicerçado numa firme vontade de viver de modo independente (face ao salariato e ao Estado), e num grande empenhamento na educação permanente ( liquidando a autoridade interiorizada…), nunca deixando de realizar a divulgação das ideias e do ideário anarquista de forma que se considerasse mais eficaz.

Para mais informações sobre os «milieux libres» consultar o livro de Céline Beaudet «Les milieux libres anarchistes en France au début du 20ème siècle), éditions Libertaires, 2006

http://www.editionslibertaires.org/

http://cira.marseille.free.fr/


CENTRE INTERNATIONAL DE RECHERCHES SUR L'ANARCHISME.
BP 20040, 13381
Marseillecedex 13.
Permanences du lundi au vendredi de 15 h à 18 h 30 avec une prolongation le mardijusqu’à 21 h
au 3 rue Saint-Dominique,13001 Marseille.
Courriel : cira.marseille(a)free.fr

Expériences de vie communautaire anarchiste en France
Le milieu libre de vaux (Aisne) 1902-1907
et la colonie naturiste et végétaliennede bascon (Aisne) 1911-1951
Autor do livro: Tony Legendre

Georges Brassens, cantor e poeta anarquista



Quando há festa nacional
Eu deixo-me ficar na cama
Porque a música militar
Nunca me fez levantar

Hoje passam 25 anos que morria George Brassens, cantor anarquista francês, pacifista e nome grande na poesia e na música francesa.

Para quem quiser ouvi-lo e conhecer o homem, o poeta e o cantor, consultar

http:/ /www.georges-brassens.com/

Campanha da Amnistia Internacional pela liberdade de expressão na Internet



Amnistia Internacional acabou de lançar uma campanha mundial a favor da liberdade de expressão na Internet e contra a censura que vários governos têm exercido sobre os blogues e, especialmente, as perseguições de que são alvo os seus responsáveis.
Amnistia Internacional denuncia ainda as grandes empresas de fornecimento de serviços da Internet, como a Yahoo, o Google, a Microsoft por terem fornecido aos governos informações sobre os utentes dos seus serviços.
Esta campanha mundial é lançada poucos dias antes do início do Fórum sobre o Governo da Internet que começará amanhã na Grécia.

A Amnistia Internacional apela a todos os bloggers para que sabotem tanto quanto possível qualquer tipo de censura e para isso pedem para que seja publicado todo e qualquer material que tenha sido censurado de forma a criar-se uma dinâmica rede de protesto.

Encontra-se também para subscrição mundial uma petição oriunda da Amnistia Internacional a exigir garantias junto dos Governos para que a Internet seja sempre um espaço de liberdade de expressão.

Ver:

28.10.06

Apelo para bloquear e atacar o capitalismo


O ciclo das últimas contra-cimeiras mostrou que nós ganhámos quando inventamos uma nova táctica em vez de procurarmos reproduzir as rituais confrontações do costume. No ano de 1999 em Seattle os capitalistas não esperavam uma tão larga mobilização para neutralizar as suas reuniões. No ano de 2001 em Génova, eles esperavam que as nossas acções se concentrassem na zona vermelha, e foi por isso que nos batemos fora desse perímetro. Na reunião do G8 em 2003, as ruas comerciais de Genebra foram iluminadas graças a um blitz nocturno em que ninguém foi detido graças ao efeito surpresa de que beneficiamos. Desde Génova que temos tido poucas vitórias e tal deve-se ao facto de andarmos a tentar repetir Génova. Mas a polícia, entretanto, organizou-se para o impedir. Salónica (Grécia), São Petersburgo, Gleneagles e outras contra-cimeiras foram outras tantos fracassos para quem quer sabotar o capital uma vez que mais não se fez do que repetir o espectáculo anterior. Apesar de tudo, esses acontecimentos foram ocasiões para nos encontrarmos e renovar os laços entre pessoas e grupos.

No fundo a questão é: quem bloqueia quem? Se organizarmos uma grande mobilização num só local a estratégia do Estado-capital é mais que previsível. Eles irão mobilizar também todas as suas forças. E é da natureza própria do capital terem mais meios do que nós. Depois há ainda que referir que as condições de luta política mudaram nos últimos anos; em certas circunstâncias, a sabotagem nocturna tornou-se menos arriscada que a manifestação de rua. O terrorismo é o novo espectáculo do capital, a moeda de troca em que se tornou o medo serve para fazer leis contra nós, para nos dividir e nos prender. Ao mobilizarmo-nos num só local mais não fazemos que facilitar o trabalho deles, pois podem-nos assim apontar em bloco. Lutar contra o capital, nos nossos dias, significa bloquear a economia. Os insurgentes, os piqueteros argentinos, o movimento contra a CPE em França têm de comum o facto de atacarem com todos os seus meios a circulação capital. É por isso que dizemos que ao bloquear a economia com um ataque concertado às infra-estruturas e aos fluxos mercantis no mundo nós podemos esboçar aquilo que seria uma insurreição. Fazem-se frequentemente críticas às contra-cimeiras por estas se terem tornado um espectáculo. Mas isso é desconhecer as potencialidades dos encontros, dos laços, a inspiração para novas lutas que despertam nessas ocasiões. Pensamos que este poder de convergência não se deve perder, mas importa concentrarmo-nos na conspiração, na partilha e no saber-fazer. Por outras palavras, propomos a dissociação entre concentração e acção. Lançamos este desafio porque não é de todo aconselhável discutir estas questões sob pressão policial que inevitavelmente existe após as acções de protesto. E depois sempre é mais fácil agir quando não se está sob o seu olhar. Na verdade, é do maior interesse reunirmo-nos e trocar ideias antes e depois das cimeiras. E tudo de forma descentralizada. Temos necessidade de elaborar um conjunto de estratégias, pois se estamos convencidos que é imperioso levar a cabo uma série de sabotagens em todo o mundo, não é menos importante perspectivar teoricamente tudo isso, ou seja, fazer as coisas de maneira a não fornecermos informações suplementares à vigilância policial.
Propomos assim para a contra-cimeira de 2007 na Alemanha que as grandes concentrações sejam votada elaboração estratégica, à organização de uma campanha de acções coordenadas, e à análise dos resultados. O alvo não deve ser Heiligendamm mas a economia global. Propomos que as grandes concentrações internacionais se realizem antes e após os dias de acção contra o G8. Teremos assim tempo e espaço para conspirar e inspirarmo-nos mutuamente sem dar o flanco a uma repressão massiva. Apelamos a cada um para agir por sua iniciativa pelo mundo inteiro, durante os dias de realização da cimeira (6,7, e 8 de Junho de 2007) com o objectivo comum de paralisar a economia mundial. Apelamos para que esta ideias seja discutida em todas as reuniões de preparação para a contra-cimeira.
Esta proposta não é dirigida contra as acções públicas mas sim contra a sua concentração num só local, por ocasião da reunião do G8. As acções simbólicas têm sempre uma utilidade, ainda que o capital esteja em guerra não de forma simbólica. Os nossos únicos limites são as nossa imaginação.

O colectivo do 22 de Outubro

(tradução de um texto que circula há alguns dias entre os activistas que se preparam para a realização de uma contra-cimeira em Heiligendamm, Alemanha, em Junho de 2007. Uma proposta para a renovação de estratégias também apareceu no Indymedia UK)

Lágrima de preta

Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão, Máquina de Fogo (1961)

Entrevista com António Pedro Ribeiro


Por vezes, ao observarmos uma fotografia antiga de Oscar Wilde, de Ernest Hemingway ou um qualquer outro mestre da literatura, somos invadidos por uma vaga de nostalgia; a da figura romântica do escritor, despreocupado pelos pormenores secundários de uma vida passada nas boémias tertúlias de café, por entre o tabaco, o ópio e o álcool, em viagem recreativa por entre as paisagens paradisíacas de países estrangeiros ou em comunhão telúrica com a terra em qualquer esconderijo pessoal no meio da Natureza
Quem nunca teve um secreto ensejo de ser um Fernando Pessoa a escrever na esplanada d’A Brasileira, um Sebastião da Gama a colocar por palavras a beleza da Serra da Arrábida ou um Almeida Garrett a inspirar-se nas paisagens verdejantes do Douro, que atire a primeira pedra.
Claro que estou a exagerar, esta é apenas uma visão romântica do escritor. No entanto, é uma imagem que já não colamos aos autores contemporâneos. A culpa é da sociedade moderna e de conceitos como o capitalismo ou a globalização. Actualmente, existem demasiadas coisas com que nos preocuparmos, demasiada informação para assimilarmos e bastante pouco tempo livre para desfrutarmos.
O poeta portuense António Pedro Ribeiro parece não querer acreditar nisso e poderá vir a ser o último poeta romântico português. Isto apesar de “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro e Outras Pérolas – Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário”, o livro que acaba de editar pela Objecto Cardíaco, ser uma obra política, irónica, satírica e algo surrealista, directa e quase panfletária.
Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro…” é ainda uma obra influenciada pelos situacionistas, que não se furta a utilizar a técnica da colagem, ao utitilizar machetes ou excertos de notícias da comunicação social escrita misturadas com palavras suas.
A Rua de Baixo decidiu dar a conhecer um pouco mais sobre o poeta (e músico) António Pedro Ribeiro, que fez furor na recente edição do festival Paredes de Coura com as suas declamações. Foi sobre isto, sobre o seu inusitado amor pelo primeiro-ministro, sobre os The Doors e sobre muitas outras coisas que conversámos. Para conferir nas linhas seguintes.

Confessou-se apaixonado pelo primeiro-ministro. Pelo actual em particular?

A "Declaração de Amor…" não se aplica só a um primeiro-ministro, aplica-se a todos os poderes que estão podres, como dizem os surrealistas, os situacionistas, os anarquistas e outros esquerdistas. É claro que José Sócrates merece uma menção especial pela sua postura mecânica, robótica, arrogante e intolerante. Julga-se um super-homem, um homem-providência, cheio de rigor e competência como Salazar, mas é uma grande treta. Aliás, tal como a maior parte dos dirigentes dos partidos portugueses. Além disso, faz o jogo do imperialismo e do capitalismo mundial. Nada faz para combater a pobreza ou o desemprego. Os únicos primeiros-ministros portugueses que estimo são Afonso Costa, Vasco Gonçalves e Maria de Lourdes Pintassilgo.

Depois de algumas edições de autor, “Declaração De Amor Ao Primeiro-Ministro…” é o seu primeiro livro publicado por uma editora. Como surgiu o encontro com a Objecto Cardíaco?

A “Declaração de Amor" não é o primeiro livro publicado por uma editora. Em 2001 publiquei "À Mesa do Homem Só. Estórias" através da Silêncio da Gaveta, uma pequena editora sedeada em Vila do Conde e na Póvoa de Varzim, dirigida pelo João Rios e pelo José Peixoto. Ainda assim, em Maio desse ano, surgiu uma boa crítica na revista do "Diário de Notícias" [DNA] que já falava numa certa "descida aos infernos do álcool", só que como nem eu nem a editora éramos conhecidos, a coisa caiu no esquecimento. Eu e o Valter Hugo Mãe, da Objecto Cardíaco, já nos conhecíamos das andanças dos bares e da poesia. Contudo, no ano passado o Valter ouviu-me recitar no café Pátio, em Vila do Conde, o "Poema do Défice" e o texto "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro". Perguntou-me se eu tinha mais coisas do género e eu disse que tinha quatro ou cinco coisas antigas e inéditas. Depois, de Julho a Setembro, escrevi o resto, até porque encontrei na casa da minha avó em Braga uma antologia do surrealismo francês e a "Arte de Viver para a Geração Nova" do situacionista Vaneigem. Foi mais uma volta à cabeça. O livro, no fundo, é um manifesto surrealista situacionista libertário em linguagem poética.

É o A. Pedro Ribeiro um autor exclusivamente político, de intervenção, ou o seu próximo livro poderá muito bem ser sobre outra coisa qualquer?

Não me considero um autor exclusivamente político. Até porque, na senda de Breton, a política não existe separada da vida. O amor, o sexo, a liberdade e a revolução são todas uma coisa só que as máquinas castradoras do sistema sempre tentaram dividir. Mas, ao fim e ao cabo, felizmente nunca o conseguiram no que respeita a alguns homens e mulheres. Nietzsche fala no espírito livre e em Dionisos e eu acredito.
Eu tenho um livro para sair há um ano chamado "Saloon", através das Edições Mortas. O problema é que o editor - António Oliveira, mentor da livraria "Pulga" no Porto - anda teso e eu também. Esse livro é diferente. Tem a ver com a atmosfera dos bares, com as mulheres que estão do lado de cá e de lá, com o sexo que espreita mas raramente vem, com o engate, com as mulheres que amamos e com as outras que passam, com a noite e com os copos até cair, com o pistoleiro que entra no saloon a gingar e que assusta toda a gente, ou então é ostracizado. O meu próximo livro talvez se chame "Um Poeta a Mijar" e terá talvez duas partes ou dois livros: uma das partes vai ser estilo Dada e humorística com textos já conhecidos mas nunca editados em livro, como "Borboletas", "Futebol Dada" ou "Mamas2". A segunda parte ou livro poderá conter as tais iluminações, delírios ou alucinações - a fronteira é ténue -, estilo "Eu vi a morte nos olhos de Deus", os tais textos que não sabemos de onde vêm. Contudo, não deixarei nunca de tomar posições políticas, talvez até funde uma coisa nova, mas não um partido, não suporto mais ver a coisa dividida entre dirigentes e dirigidos.

Não teme que não o levem a sério?
Eu já fiz muitos disparates. Mas se não tivesse feito alguns deles teria apodrecido de tédio ou de depressão. Mesmo quando estou a brincar ou com os copos, penso que as pessoas inteligentes entendem que já escolhi o meu lado da barricada. Há quem me ame e quem me odeie. Isso é natural quando dizemos ou cantamos determinados textos ou tomamos determinadas posições. É claro que custa não reagir às provocações quando insultam aqueles que amamos.

Sente-se um “poeta maldito”, como o eram Rimbaud, Baudelaire ou Sade?

Não me coloco ao nível de Rimbaud, Baudelaire ou Sade. No entanto, tenho a certeza que sou deles, que venho dessa linha de malditos onde incluo também Blake, Lautreamont, Jim Morrison, Nietzsche, Henry Miller, Bob Dylan, Allen Gingsberg, Péret e tantos outros. Não nasci para os empregos das 9 às 5 - dou-me mal neles, a rotina mata-me. Léo Ferré disse que o artista aprende a profissão no inferno. Eu vou lá muitas vezes e gosto, porque o céu, muitas vezes, é uma seca, com todos aos beijinhos, aos abracinhos, aos boatos, aos mexericos, às panelinhas e eu detesto. Serei um poeta maldito, mas isso não significa que não ame a Humanidade, as mulheres bonitas, o sol, as crianças. Esta merda que nos querem impingir é que eu não aceito. De qualquer modo, não sou, não quero ser, o versejador da corte.

São eles as suas referências ou existem outros?

Antes de falar em mais artistas queria elogiar todas as mulheres bonitas que amei e continuo a amar (mesmo quando nos chateiam a cabeça...). O meu amigo António Manuel Ribeiro, dos UHF, dizia que "a mulher é fundamental para o homem na sua criatividade". Além do mais, tudo quanto nos rodeia, tudo quanto nos vem à cabeça, são referências. Posso também falar de Salvador Dali, Mário de Sá-Carneiro, Pessoa, Herberto, Cesariny, António José Forte, Led Zeppelin, Deep Purple, Breton, Artaud, Monty Phyton, Lucky Luke, Obélix, Eurípedes, Dioniso, Afrodite, Sócrates (o filósofo), Agostinho da Silva, Jack London, Henry Miller, Jack Kerouac, Platão, Marx, Bakunine, Rosa Luxemburgo, Hugo Chavez, Trotsky, Proudhon, Pasolini, Fellini, João César Monteiro, Marlon Brando, Bárbara Guimarães, Merche Romero, Minka, Sharon Stone, Kim Basinger, Pamela Anderson, Zapata, Pancho Villa, Marcos e Che Guevara. E tantos outros e outras...

O A. Pedro Ribeiro foi um dos grandes destaques das sessões de leituras realizadas este ano no festival Paredes de Coura, promovidas pela Objecto Cardíaco. Sentiu-se como uma estrela de música?

Essa coisa da estrela do rock n' roll... da fama... é muito perigosa. Já me aconteceu antes por motivos políticos enquanto candidato do PSR, do Bloco ou à presidência da República. Os gajos põem-nos nos píncaros e depois, no fim, dão-nos porrada. Todos nos vêm cumprimentar, somos os maiores, mas passado um mês ou dois tudo se esquece no altar do tédio e da rotina. É uma ilusão. É claro que eu sempre tive a noção de que esta é uma sociedade de imagens. Mesmo quando cantava numa banda chamada "Ébrios" em Braga em 1990 e fui acusado de mandar fechar o hipermercado Feira Nova com um bando de guerrilheiros imaginários. Delírios, né? Às vezes temos de utilizar os "media" a nosso favor, sem os desprezar como fazem alguns dos meus camaradas anarquistas. Não nos podemos fechar num "ghetto" elitista, onde somos os detentores da verdade. O Rui Reininho fala em "subir ao povo". Agora só me falta que o povo suba até mim... a coisa tem de ter uma sequência, senão torna-se uma viagem sem regresso. De qualquer modo, se vier a ser uma estrela (se não for preso ou internado antes...) acho que me vou retirar para o deserto ou para a montanha, para um sítio onde ninguém me conheça, ou então... talvez vá ter com os meus camaradas revolucionários da América Latina.

Ainda Paredes de Coura: um dos poemas que declamou foi «When The Music’s Over», de Jim Morisson. Porquê essa escolha?

Aos 16/17 anos, um amigo do Liceu Sá de Miranda, em Braga, – o Jorge Pereira – emprestou-me o disco "Strange Days" dos Doors, banda que eu só conhecia muito vagamente. À primeira audição estranhei. À segunda, sobretudo quando ouvi a canção «When The Music's Over» parecia que o mundo recomeçava ali. Eu já percebia as letras críticas do Roger Waters, dos Pink Floyd, mas ali foi uma porta que se abriu, uma luz que veio ter comigo e nunca mais foi embora. "We want the world and we want it...Now!", gritou o Jim Morrison e todos os sinos, todas as missas, todas as convenções, todas as ilusões, todas as falsas convicções, todas as aparências, todas as conveniências, todas as normas, todas as infâncias acabaram ali, naquele momento. E depois veio o "The End" e o "Apocalipse Now" do Coppola com o Marlon Brando no papel de xamã, como o Jim era. E, a partir daí, tive de ir sempre atrás da loucura... até hoje.

A música é também um dos seus prazeres? Houve algum grupo que tivesse gostado particularmente de ver em Paredes de Coura?

"Music is your only friend", canta outra vez o Jim. A música sempre foi fundamental na minha escrita e na minha alma. Lembro-me do "boom" do rock português em 80/81 com os «Cavalos de Corrida» dos UHF, o «Chico Fininho» do Rui Veloso, a «Chiclete» dos Táxi, os Jafumega. Mais tarde, os Xutos, os GNR, os Mão Morta. E depois, claro, os Pink Floyd, os Doors, os Velvet Underground, a Nico e o Lou Reed, os Bauhaus, os Joy Division, os Led Zeppelin, os Rolling Stones, a Patti Smith, os Who, o Freddy Mercury, o John Lennon e o Bob Dylan. Ultimamente, ando mais virado para o punk (Clash, Sex Pistols), porque a linguagem directa do punk é a que melhor se aplica a estes dias de tédio e imbecilidade militante, e também para os blues – B.B.King, Muddy Waters, John Lee Hooker –, mas continuo a ouvir o José Mário Branco, o Zeca Afonso, o Fausto e o Pedro Barroso.
Em Paredes de Coura adorei os Panico, os Yeah, Yeah, Yeah, os Cramps e os Bauhaus – embora tivesse gostado mais deles no Coliseu em 99, estavam mais "iluminados". A minha maneira de escrever sempre foi muito musical, muito rítmica. As letras que escrevo para a minha banda – Mana Calórica & Las Tequillas, que inclui o Rui Costa (guitarra), o Henrique Monteiro (guitarra), a Betânia Loureiro (baixo) e o Hélder Sottomayor (bateria) –, reflectem isso mesmo e são cada vez mais directas.

E quanto ao futuro, pode-nos adiantar algo sobre o seu próximo livro, ou sobre os seus planos para o futuro próximo?

De futuro espero estar vivo e inteiro, com ou sem as mulheres que amo, fazer concertos e performances com a Mana por todo o país e pelo estrangeiro e viver disso. Conto também escrever mais livros/fanzines "underground" como o "Sexo, Noitadas e Rock n' Roll" (2004) e participar activamente na revolução mundial.

Para além deste “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro e Outras Pérolas – Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário”, editado pela Objecto Cardíaco (www.objectocardiaco.pt), o António Pedro Ribeiro pode ainda ser lido no seu blogue pessoal, o “Trip Na Arcada” (www.tripnaarcada.blogspot.com).

Entrevista retirada de:
http://www.ruadebaixo.com/

Trabalhadores do sexo uni-vos! Organização Laboral na Indústria do Sexo


Já está nos escaparates das livrarias o livro da antropóloga portuguesa Ana Lopes, natural da cidade do Porto, com o título «Trabalhadores do sexo uni-vos! Organização Laboral na Indústria do Sexo», da Ana Lopes.» que reproduz a sua tese de mestrado na University of East London na Inglaterra, onde exerceu uma profissão ligada à indústria do sexo britânica, e onde promoveu e fundou o Sindicato Internacional dos Trabalhadores do sexo (Internacional Union of Sex Workers).
Sobre este sindicato, diz Ana Lopes:
"Desde 2002, ano em que oficializámos o sindicato, conquistámos alguns dos objectivos que estabelecemos no início: Defendemos trabalhadores quando os seus direitos foram violados, resolvemos problemas pontuais e conseguimos ser a voz organizadora dos trabalhadores do sexo."

Recorrendo a técnicas como a investigação-acção e a etnografia, o estudo apresenta uma análise do debate feminista sobre o trabalho e a indústria do sexo e defende a aceitação do trabalho do sexo como um trabalho legítimo, a descriminalização da prostituição e a atribuição de direitos laborais a todos aqueles que trabalham na indústria do sexo.
Ana Lopes defende que as pessoas que estão na indústria do sexo contrariadas «devem ter liberdade de abandonar o meio, enquanto as que aí permanecem por sua iniciativa, devem ver os seus direitos reconhecidos, em lugar de serem tratadas como párias».
«Trabalhadores do Sexo, Uni-vos!» analisa os fenómenos da prostituição e do tráfico de pessoas e debate as políticas públicas e as mudanças legislativas nestas áreas que estão em curso em vários países europeus.
O livro relata a luta que permitiu aos profissionais do sexo alcançarem a sindicalização oficial no Reino Unido e coloca questões sobre o movimento internacional de trabalhadores deste sector.
Ana Lopes nasceu no Porto há 30 anos, viveu dez anos em Inglaterra e doutorou-se na University of East London, onde Chris Wright, especialista em estudos culturais daquele estabelecimento de ensino, a considerou «a mais brilhante aluna de sempre da instituição», segundo a Dom Quixote.
Activista pelos direitos dos trabalhadores do sexo, é reconhecida internacionalmente como especialista em assuntos relacionados com as indústrias sexuais e secretária-geral do sindicato britânico International Union of Sex Workers.
O livro "Trabalhadores do Sexo - Uni-vos!" vai ser lançado em Lisboa no próximo dia 4 de Novembro.

http://www.iusw.org/

26.10.06

Técnicas de manipulação das percepções (ou como enganar as pessoas) em tempo de guerra global


Existem todo um conjunto de técnicas designadas de «perception management» e que não têm outro objectivo que não seja enganar as pessoas.

Indicamos alguns exemplos a propósito da propaganda suja em tempo de Guerra ( do Iraque, mas que poderia ser em qualquer outra guerra):

- ocultar os cadáveres, de forma a torná-los invisíveis

- silenciar as mortes dos soldados como resultado de fogo amigo

- encobrir as violações de soldados por parte dos próprios soldados

-exonerar de responsabilidade os criminosos de guerra ou investigá-los tão lentamente que as pessoas acabem por os esquecer

- enviar centenas de cartas à imprensa a dizer mentiras, fazendo-se passar por pessoas diferentes, o que permite criar a ilusão de que se trata de «grassroots», quando na verdade não passa de um truque de desinformação governamental («False flag»)

-inventar histórias totalmente falsas sobre o seu inimigo

- mentir descaradamente sobre o seu inimigo

- mentir sistematicamente de tal modo que a imprensa nem sequer tenha tempo para averiguar a veracidade das notícias

- não comentar e nada fazer mesmo depois de que as histórias difundidas tenham caído em descrédito

-usar a mesma mensagem, mas transmiti-la por intermédio de várias pessoas, mas repetindo-a sempre

- criar falsas associações – como por exemplo, Iraque e terrorismo – e repeti-las até à exaustão

- difamar os seus inimigos reiteradamente – dizer deles, por exemplo, que são terroristas, apesar de se saber que o não são, ou qualificá-los de «agressores», quando eles não fazem mais do que defenderem-se dos ataques perpetrados pelos difamadores

- repetir mentiras, ainda que com ligeiras alterações

- intimidar imprensa: caso os jornais e os outros órgãos de comunicação social não publiquem as tuas atoardas, taxá-los de imediato de «anti-americanismo»

- pagar para que a imprensa publique as mentiras

Plataforma Internacional contra os veículos 4x4



Foi recentemente criada a «4x4 network» que visa lutar contra o uso indiscriminado e desnecessário dos veículos 4x4 que representam bem um exemplo de um modelo de transporte social e ambientalmente insustentável.
O mercado de automóveis regista evoluções preocupantes, como a generalização do uso de veículos feitos a pensar em actividades profissionais como é o caso dos 4x4, sem esquecer outras tendências inquietantes como é p caso do constante aumento de potência e do peso de uma boa parte dos automóveis ( especialmente dos monovolumes e das berlinas), com os consequentes aumentos dos custos energéticos.
As vendas de todos esses modelos de automóveis têm vindo a aumentar, invadindo tudo o que é espaço público e rua citadina, muito embora os fins para que originalmente foram feitos sejam outros.
Enquanto tratados internacionais e normativas várias vão no sentido da aplicação de politicas de redução da mobilidade, de melhoria do transporte público, ou de construção de automóveis de baixo consumo e de combustíveis renováveis, o que se assiste é a tentativa das grandes marcas de automóveis em lançarem modelos de carros que vão contra todos os princípios de economia energética que têm sido defendidos nas mais variadas instâncias.
A isso acresce o facto deste tipo de veículos favorecerem um tipo de condução agressiva que ilustra bem os riscos acrescidos do nosso modo de vida.
Como se isso não fosse suficiente a indústria do turismo transformou as actividades desportivas e de conhecimento a natureza em outros tantos produtos, o que tem levado a que milhares de veículos 4x4 sulcarem os caminhos florestais e pecuárias causando os inevitáveis danos ambientais.
Foi para contrariar toda esta tendência que se constitui a rede internacional contra os 4x4

www.ecologistasenaccion.org/article.php3?id_article=6045




The mission of the international 4x4Network is to unite groups of concerned citizens across the world against the growing presence of 4x4 vehicles (4x4s) in urban areas.
The 4x4Network seeks to educate people about the environmental and social damage caused by the increasing numbers of urban 4x4s and to promote sustainable forms of transport. The 4x4Network also campaigns for more fuel-efficient cars in general, at European and international level.
We will lobby for strong legislation to discourage 4x4s and other polluting, gas-guzzling and socially unacceptable vehicles

25.10.06

Não trabalho, logo existo


Uma apologia do satanismo laboral

Se nos repetiram até à exaustão que não se pode viver sem trabalhar, nós preferimos afirmar que não é possível viver enquanto se trabalha. Agiremos, portanto, em conformidade.
…………………………………………….
O trabalho é algo mais que o motor da sociedade de consumo: é também o seu melhor meio de protecção. Enquanto pomos mãos à obra, convertemo-nos nos seus mais perfeitos defensores. Desta maneira, o que tem um lugar, não o quer perder, seja à custa de pisar os seus companheiros, numa espécie de darwinismo laboral que salvaguarda os valores do capitalismo, seja estrangulando a sua própria dignidade, feita em farrapos depois de infinitos tormentos e humilhações. Por outro lado, o que não o tem, não dorme enquanto não o tiver. Enquanto sofre a penúria económica ou pelo «que dirão» os vizinhos, sentindo-se como um inútil parasita. Este compreende melhor do que ninguém que trabalhar não serve apenas para poder comprar estúpidos automóveis ou televisores gigantes, também é a condição para ser alguém. Que grande verdade: o trabalho liberta-nos…de sermos livres.
………………………………………………………..
Sim, afirmamos peremptoriamente que a oral do suor na cara é para imbecis, para autênticos cretinos.
……………………………………………..
«Pepe é muito bom homem, muito trabalhador», dizem-nos, como se o facto de quebrar as costas todos os dias para que o seu chefe cobre mais-valias fosse uma acto honroso e gratificante… Mas que fazer? Que alternativa temos? Só chorar e patear? À parte a alteração e a transformação radical da vida não vemos outra solução, mas podemos entretanto tentar-te com a possibilidade de passares connosco ao lado obscuro e praticares o doce satanismo laboral. Já que é um facto que esta estúpida sociedade olha com desconfiança quem não trabalha, ou simplesmente despreza tão alta instituição social, propomos-te dar-lhes um motivo para temer, ser um vírus, uma pedra na engrenagem, uma dor de cabeça constante. Assim não hesites, esconde-te no anonimato e sabota o que puderes: faz perder dinheiro ao teu chefe. Destrói a reputação da tua empresa, espalhando boatos e falsos testemunhos – para além dos verdadeiros. Leva tudo o que possas e vende-o ao desbarato. Cria ratos pelos cantos. Adoece todas as sextas-feiras. Esquece-te de olear as máquinas. Abre as janelas quando chover. Escreve obscenidades na mercadoria. Utiliza bombas de mau cheiro. Mete silicone nas fechaduras. Deixa cascas de banana em frente do encarregado. Derrama dissolvente na fotocopiadora. Estraga os computadores, esconde peixe e ovos podres por todo o lado, pratica sexo nas horas de trabalho, chega tarde todos os dias, ensina mal os aprendizes…

(panfleto distribuído na manifestação do 1º de Maio de 2005, em Sevilla, e reproduzido parcialmente no nº1 do jornal PREC)

Todo o ser humano tem direito à preguiça

Declaração universal dos direitos do ser humano
( segundo a formulação de Raoul Vaneigem)


Artigo 21º
Todo o ser humano tem direito à preguiça

1. Durante séculos, o direito à preguiça foi apenas uma organização do tempo de trabalho, concedendo aos escravos o descanso necessário a uma rendibilidade acrescida. Trata-se agora de o arrancar ao princípio da exploração para o restituir ao princípio da fruição, criativa ou não. Que a preguiça se baste a ela própria e não se possa confundir com as tréguas que a fadiga concede ao corpo para restaurar a sua força produtiva.

2. A verdadeira preguiça concede ao prazer de nada fazer a graça de se aceitar sem culpa, resignação, esquecimento de si mesmo ou impotência. Da mesma maneira que o repouso e o jogo proporcionam à criança a lenta maturação em que ela se torna naquilo que é e quer ser, queremos que a letargia dos sentidos e da razão, ao contrário de gerar monstros, seja o tempo em que a vida se emprenha a si mesma.

3. A arte da preguiça consiste em afiná-la a fim de que, conciliando-se com as outras paixões, ela escape a uma proliferação que, ao disseminá-la por todo o lado, a tornaria odiosa e a destruiria. Não há nada pior do que a lassidão do ânimo. O privilégio da preguiça refinada é o de impedir a preguiça do desejo.

Comentário – Existe uma preguiça mortífera. Remete para o trabalho, serve-lhe de escape, usa o corpo e a consciência para produzir, como ele, o vazio do ser. Uma preguiça que, pronta a fazer a economia de um gesto, vai obrigar em breve a efectuar dez. Uma preguiça que se poupa ao trabalho de uma reflexão, põe-se a pensar de forma enviesada e cai na servidão e na moleza para ser apanhada na armadilha do poder. A preguiça é o triunfo da independência, e não uma cilada da sujeição

Raoul Vaneigem, in Declaração universal dos direitos do ser humano

João Santiago, sapateiro libertário


Comecei com 11 anos no ofício de sapateiro, ao pé de mestres competentes aqui de Setúbal, com os quais acompanhei até aos 21 anos. Trabalhavam em pequenas oficinas. Aos 21 anos libertei-me daquela situação e comecei a trabalhar por conta própria. Muitas coisas aprendi com eles e outras tive de aprender sozinho. Até hoje.
Depois tive na tropa e, quando sai, não havia trabalho na profissão. Entretanto já era casado…tive que ir à procura de outras coisas, mas sem gostar do que me aparecia. Assim que tive oportunidade de voltar novamente para isto, nem hesitei.. Porque os outros empregos implicavam trabalhar com muita gente ao mesmo tempo. Não sei se foi por me ter habituado a lidar com pouca gente. De início, achei aliciante. Gostei! Depois apanhei aquele período a seguir ao 25 de Abril… e foi uma situação muito complexa. Meti-me naquilo a sério, com entusiasmo. E as pessoas com quem trabalhava não sentiam as coisas da mesma maneira. Comecei a ter problemas e tive de fugir. Voltei ao meu primeiro ofício.
Claro que nessa fase aprendi muito. Aprendi a conhecer melhor as pessoas. Tinha um sonho, um sonho com o qual sempre sonhei: acreditava que, um dia, aquele sistema político haveria de cair. E a partir daí haveria um despertar nas pessoas para coisas que até aí não tinham. Foi extremamente decepcionante para mim ver que as pessoas não eram capazes de acompanhar, de fazer a leitura disso e de se lançarem na aventura de reconstruir. Portanto, fiquei desiludido. Não só pelo facto de as pessoas não terem feito o que eu sonhava, também pelo de se terem virado contra os que sonhavam assim…contra quem queria fazer as coisas. E isso atingiu o ponto de agressão, da perseguição e de outras coisas do género. Não suportei e vim-me embora.
Os sonhos que tinha vinham-me de um passado. Tive a felicidade de conhecer gente muito interessante. Coisas que são pouco conhecidas e que deviam sê-lo. Conheci analfabetos, pessoas que não sabiam ler, muito pobres, que viviam do seu trabalho e ganhavam muito pouco mas, do pouco que ganhavam, tiravam dinheiro, quotizavam-se, para comprar livros. Tinham uma noção do que lhes faziam falta. E depois havia de aparecer alguém que lesse os livros para eles ouvirem. Era pequenito, na altura, tinha para aí 7,8, ou 9 anos, já sabia ler. Esses adultos teriam já 30 e tal ou 40, talvez mais, vinham de uma escola anarco-sindicalista riquíssima – isso hoje é pouco conhecida… Então eu lia para eles os livros que eles compravam e lia outras coisas que arranjavam clandestinamente. Ainda hoje não sei como é que conseguiam arranjá-las. Nomeadamente Batalhas, o jornal A Batalha que na época saia clandestinamente. A leitura de um texto que poderia ter durado uns minutos, prendia-me ali horas. Porque eles ouviam a leitura e mandavam-me parar para comentar. Aí é que estava daqueles momentos. Foi a minha escola. A seguir comecei a entusiasmar-me pelos livros, a ler muito. Ainda hoje leio. Já menos, porque a vida não deixa. Tive a felicidade de conhecer esses e outros amigos através do pensamento. Leitura, contacto, conversação foram a minha escola. Há coisas mais importantes que o trabalho. Para mim, o mais importante é conversar e pensar. A minha formação foi e ainda hoje é isso.
Na época havia folhetos, uns livrinhos pequenitos, de gente ligada ao anarco-sindicalismo e ao anarquismo, às ideias libertárias…Havia folhetos do Errico Malatesta, do Pedro Kropotkin, de outros assim. Eles gostavam muito de ouvir essas leituras. Não sei onde arranjavam as publicações. A verdade é que as tinham. E, coisa curiosa, guardavam os livros junto do peito…Também se lia muito romance. Certos autores, estavam muito em voga: o Emílio Zola, o Vítor Hugo. Um português, o Ferreira de Castro, de quem eles gostavam muito. Conheci indivíduos desses que até iam a Lisboa para se encontrarem com o Ferreira de Castro num café…agora não me ocorre o nome do café. Era rapazinho na altura. Depois conheci outras pessoas, já mais «entradas» no movimento. Cheguei a ter reuniões com elas. Aceitaram receber-me o que, na época, era muito perigoso. Nessas reuniões, perspectivaram o relançamento do anarquismo em Portugal.
Apesar do meu gosto pela leitura, nunca me aproximei de instituições oficiais, como sejam as bibliotecas. Contactei com associações que tinham a sua biblioteca, mas foi mais uma decepção. Moro num bairro de uma cooperativa de habitação. Entrei para a cooperativa com um entusiasmo extraordinário. E depois vi no que aquilo se tornou. O mundo de hoje é para os vigaristas. A cooperativa caiu nas mãos dessa gente quesó vê dinheiro.Na cooperativa estavam previstas iniciativas para juntar amigos e familiares. Portanto, a dada altura, formei uma biblioteca quase sozinho. Mas surgiu o velho problema. Aceitei formar a biblioteca conquanto não houvesse lá muito material político partidário. Estávamos num período quente…Por causa disso, os políticos que lá estavam caíram-me todos em cima e foi o fim. Não tenho outras experiências de encontro com a leitura em lugares públicos ou associativos. Noutros tempos, a leitura fazia-se em casa das pessoas. Umas vezes numa, outras noutra, para não dar muito nas vistas de ser sempre no mesmo sítio. O que contava mais era o convívio.
Agora sou quase solitário, estou quase sozinho. Os meus amigos morreram todos e entretanto, infelizmente, não encontrei ninguém que preenchesse esse vazio. Enfim, sou conversador, gosto de conversar com toda a gente…mas aquilo que me interessa de facto parece interessar poucas pessoas. Alguns não dão grande atenção àquilo que eu digo, outros não me compreendem. Outros até nem gostam de me ouvir.
Esse mundo onde aprendi a ler, pensar e conversar morreu. Aliás a conversação é uma coisas que quase já não existe. Mesmo em família. Enfim, a verdade é que tive a sorte e a felicidade de conhecer aquela gente especial no ler e no viver.


Reprodução da entrevista realizada para o vídeo «Aprender Viver e Trabalhar» (ICE/Abril em Maio), 1997, e publicada no nº1 do jornal PREC

Ciclo Grandes Livros de Poesia


Já se iniciou o ciclo de sessões dedicadas aos grandes livros de poesia a decorrer na Fundação Eugénio de Andrade, Rua Passeio Alegre, 584, Porto, sempre às 18.30

O acesso é totalmente livre


Calendário

21 de Outubro
Cântico dos Cânticos – por José Tolentino Mendonça

28 de Outubro
Odisseia – por Frederico Lourenço

11 de Novembro
Eneida – por Maria Helena da Rocha Pereira

25 de Novembro
Divina Comédia – por Vasco Graça Moura

16 de Dezembro
Os Lusíadas – por Vítor Manuel Aguiar e Silva

6 de Janeiro de 2007
Fausto ( de Goethe) - por João Barrento

13 de Janeiro
Folhas de Relva, de Walt Whitman – por Maria Irene Ramalho

20 de Janeiro
As Flores do Mal, de Baudelaire – Fernando Pinto do Amaral

27 de Janeiro
Elegias de Duíno, de Rainer Maria Rilke – por Nuno Júdice

3 de Fevereiro
A Terra Devastada, de T.S. Eliot – por Gualter Cunha

10 de Fevereiro
Mensagem – por Fernando Guimarães

17 de Fevereiro
Romancero Gitano, de Federico Garcia Lorca – por Pilar Nicolás Martínez

24 de Fevereiro
Vinte poemas e uma canção desesperada, de Pablo Neruda - por Albano Martins

3 de Março
A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade – por Arnaldo Saraiva

10 de Março
As Mãos e os Frutos, de Eugénio de Andrade – Rui Lage




Os Grandes Livros de Poesia
(do texto de apresentação)

São estes, mas podiam ser outros, até dos mesmos autores – ou de outros, com nomes tão sonantes como Horácio, Petrarca, Villon, Góngora, Sharkespeare, Holderlin, Kavafis, Ruben Darío, Camilo Pessanha, Ezra Pound, César Vallejo, Huidoro, João Cabral de Melo Neto, Szymborska…E não esquecemos grandes livros ou grandes nomes da poesia médio-oriental e oriental, de que trataremos noutro ciclo: poemas védicos, Mahabharata, Lao Tsu, Li Po, Omar Khayyam, Bashô, Pushkin…

23.10.06

O nº 1 do jornal PREC (Pensa, Rosna, Estica, Corta) vai ser apresentado no próximo dia 27 no Porto


Ver: http://www.jornalprec.com/


O Jornal PREC já foi apresentado em Lisboa. Agora é a vez de ser lançado no Porto no próximo dia 27 (sexta-feira), às 22h, nos Maus Hábitos (R. Passos Manuel, 178, 4º - frente ao Coliseu)
Nota: no mês de Novembro estão previstas outras iniciativas( ver no cartaz abaixo reproduzido ou no site)

Sacamos a notícia da sua apresentação do excelente blogue Fuga para a Vitória (http://fugaparaavitoria.blogspot.com/ )

"Acaba de sair o nº1 do PREC - Pensa Rosna Estica Corta, publicado na sequência do PREC – Põe Rapa Empurra Cai (número zero)
No Sábado 21 de Outubro às 18h o número será apresentado Lisboa, na Ouvê (Rua do Século, nº 78).
A sessão conta com leituras críticas feitas por leitores atentos mas não veneradores (entre os quais Acácio Barradas, Cristina Ponte e Pedro Caldeira Rodrigues) e com uma leitura encenada do «glossário de ideias fortes e fracas» Da Abrangência ao Zunzum que nasceu do ciclo Em Novembro é de Abril e Maio que me lembro, organizado pelo PREC – Põe Rapa Empurra Cai, em Novembro e Dezembro de 2005.
O número do PREC que vai ser apresentado (32pp + um suplemento «Vive quem vive» de 8pp e uma capa de 4pp) tem como tema central «o trabalho e a preguiça».Os textos são de Absinte Abramovici, Alberto Pimenta, António Preto, Armando Silva Carvalho, Cesar de Vicente Hernando, Diana Dionísio, Filomena Marona Beja, Francisco Martins Rodrigues, Gabriela Dias, Irene Flunser Pimentel, Jean-Pierre Garnier, João Bernardo, João Pacheco, João Rodrigues, Jorge Silva Melo, Lira Keil Amaral, Luiz Rosas, Mamadou Ba, Manuel Lisboa, Manuela Torres, Miguel Castro Caldas, Miguel Perez, Pedro Rodrigues, Pitum Keil Amaral, Regina Guimarães, Renato Roque, Rui Canário, Saguenail, Vitor Silva Tavares.Inclui depoimentos orais e entrevistas com Artur da Fonseca, Gianfranco Azzali (Micio), Giuseppe Morandi, Jagjit Rai Mehta, Jerónimo Franco, Manuel Graça (Juba), Peter Kammerer.As ilustrações são de Bárbara Assis Pacheco, João Alves, Sofia Lomba, Tiago Cutileiro.Contém textos antológicos de Alexandre O’Neill, André Breton, Bertolt Brecht, João César Monteiro, Gabriel o Pensador, George Orwell, Georges Bataille, Irmãos Pleskianov, Juvenal Antunes, Raoul Vaneigem, etc.Tem ainda uma página de «passatempos» e uma página de «notícias da nossa terra» e um folhetim

À apresentação em Lisboa seguir-se-ão outras:
- No Porto, na sexta-feira 27 de Outubro, às 22h, nos Maus Hábitos (R. Passos Manuel, 178, 4º - frente ao Coliseu
)- Em Coimbra, na quarta-feira 6 de Dezembro, às 18h, no foyer do Teatro Académico Gil Vicente
- Em Viseu, na quinta-feira 14 de Dezembro, às 21h 30 no Lugar Presente- Companhia Paulo Ribeiro (R. Cândido dos Reis, 1).

PREC Pensa Rosna Estica Corta"
Que se pode esperar mais para um fim-de-semana preenchido?

PS: só aditar que há nova dose, e das fortes, lá mais adiante: em Novembro e Dezembro, virá o ciclo «O trabalho dá preguiça. A preguiça dá trabalho» (em Lisboa, Porto e Tondela). Venha de lá essa preguiceira toda, em Outubro, Abril, Maio ou Agosto, em qualquer altura, em qualquer lugar.



Exposição no Porto de Cartazes do Maio de 68



Encontra-se patente, até 30 de Dezembro, na Galeria Sargadelos (R. Mouzinho da Silveira, 294), a exposição de Cartazes do Maio de 68. Apresentam-se 35 cartazes originais, elaborados em litografia e serigrafia. Eles são o testemunho de dois meses de explosão de vida e de criatividade, em que a problematização levantou, ela mesma, paralelos metafóricos, pondo a nú os alicerces do edifício social. A discussão, generalizada e permanente, incidiu sobre as mais variadas questões: o poder, a democracia, o capital, o trabalho, a educação, os costumes, a moral, a publicidade, os nacionalismos anacrónicos, temas em que está organizada esta mostra.

Nem mesmo os cartazes escaparam ao debate: "Desobedecer primeiro: só depois escrever nos muros (Lei de 10 de Maio de 1968)." É muito fácil cairmos na mistificação do passado e, por isso, é bom lembrar que foram igualmente dois meses de greve geral, de fábricas ocupadas e economia paralisada, em que participaram, espontaneamente, 10 milhoes de franceses, 1/5 da população (segundo censo de 1967).

A exposição na Galeria Sargadelos surge no ano em que se comemoram os 50 anos da rebelião dos estudantes na Hungria contra os tanques soviéticos (23 de Outubro de 1956), um ano após os acontecimentos nos subúrbios de Paris e na semana em que se realiza a Festa do Cinema Francês (Porto, 24-29 de Outubro). Ela acontece também num clima de instabilidade social, quer no nosso país, com o descontentamento no meio docente e estudantil contra a política educativa do governo, o desemprego, decorrente da deslocalizaçao e do fecho de empresas, quer a nível internacional, nomeadamente em França, com a lei do 1º contrato de trabalho, ou o problema da integração dos imigrantes que procuram, na Europa, emprego e uma vida melhor.

Os trabalhos são provenientes da Galeria La Caja Negra Ediciones (Madrid).

Galeria Sargadelos

R. Mouzinho da Silveira, 294

Telef. 22 2011666

Horário de Funcionamento:

Segunda- Sexta: 10h00-12h30/ 14h30-19h30; Sábado: 10h00-15h00

Blog da Galeria Sargadelos:

http://www.galeriasargadelosporto.blogspot.com/

Blog da Galeria La Caja Negra (Madrid):

http://www.lacajanegra.com/

20.10.06

Declaração dos ocupantes do Rivoli-teatro municipal, após o seu desalojamento


«Estamos cá fora. Mas ainda estamos lá dentro, ou seja, dentro da luta»


Às 6 horas da manhã de ontem os ocupantes do Rivoli-teatro municipal do Porto foram desalojados por uma força musculada da polícia, cujo aparato poderia fazer temer o pior. Depois de identificados, os ocupantes saíram em liberdade. Ao fim da tarde de ontem realizou-se a manifestação de apoio que tinha sido convocada para o efeito, e durante a qual os ocupantes fizeram um breve balanço da sua luta através de uma declaração que passamos a reproduzir:


O grupo de ocupantes do Rivoli, ao cabo de 79 horas de permanência no do teatro municipal, declara o seguinte:

-os ecos de apoio e incitação à resistência que recebemos, vindos um pouco de toda a parte, prova à saciedade que a nossa razão, a despeito da escalada das tentativas de silenciamento, foi ouvida, e que as nossas reivindicações, não obstante as sucessivas tentativas de calúnia e adulteração, encontraram um acolhimento muito expressivo por parte da população.

- a forma de luta que adoptámos, rotulada de ilegal, injuriada por todos quantos a qualificaram de agressiva, mostrou ser plenamente legítima, num contexto em que as camadas mais próximas dos problemas da criação artística não dispõem de armas de combate sócio-laboral, sendo que, de resto, partilham esse handicap com um grande número de trabalhadores do terciário, «independentes» por obra e graça da precarização dominante no mercado do emprego.

- incansavelmente repetimos as nossas reivindicações, que concebemos como um patamar mínimo para a manutenção do serviço público, a saber: a garantia de uma gestão do Rivoli não regida por critérios de pura rentabilidade; o acesso ao Rivoli garantido a todos os núcleos de criação artística em todas as artes; a garantia da existência de um serviço de formação continuada de públicos.

- julgamos ter sabido argumentar contra a pretensa certeza de que o Rivoli está apenas sob a alçada da Câmara Municipal, contrapondo a esse infeliz refrão que se trata de um equipamento demasiado relevante, polivalente e bem equipado para ser propriedade de um executivo camarário, por muito que ele disponha de maioria absoluta. Acresce que uma funesta vitória dos desígnios de Rui Rio poderá encorajar outros autarcas a imitar este exercício de demissão do poder camarário perante as responsabilidades de financiamento de cada teatro municipal. O Rivoli tem uma envergadura que lhe confere um grau de interesse não somente local, mas também nacional e europeu. O Presidente da C.M.P. tem, a todo o momento, demonstrado carecer de sensibilidade e conhecimento no que toca às questões culturais e à função social da cultura, e não possuir capacidade de escuta dos interlocutores que acerca destas questões o interpelam. Esta postura tem como consequência um divórcio criadores-governantes-população, fosso que urge colmatar. A vocação anti-despesista de Rui Rio mais não faz do que encobrir uma incompetência para gerir o Rivoli e, logicamente, a cidade. De resto, a inquietante falta de rosto dos nossos opositores – Culturporto e C.M.P. -, a par de uma actuação a todos os títulos pidesca, constituem elas próprias matéria de reflexão, num estado que se diz «democrático» e « de direito».

- os ocupantes do Pequeno Auditório saíram à força do seu posto de combate com uma queixa-crime em cima, sem que nunca tivessem merecido a menor explicação por parte dos poderes instituídos, os quais se limitaram a mandar recados através dos funcionários do Rivoli, transformados em «vigilantes» das ameaçadoras personagens bloqueadas no piso -0


- Fazemos questão de frisar que, embora a abundante cobertura mediática nos tenha transformado em face visível da luta, nunca foi nossa intenção assumir protagonismo neste combate contra a voragem das privatizações que atingiu, desta vez, o Rivoli. Entendemos que toda a comunidade deve ocupar esse espaço de protagonismo numa luta que a todos diz respeito. Consideramos, por outro lado, que o nosso pequeno grupo de cidadãos indignados mostrou, com a ajuda incansável dos «ocupantes de fora» que a imaginação, investida na invenção de novas formas de luta, é porventura mais eficiente em termos de tomada de consciência do que as negociações de corredor dos profissionais da política.


- Cabe-nos fazer um balanço destas 79 horas de ocupação, balanço esse que comporta pontos francamente positivos e aspectos menos exaltantes. Se podemos afirmar que o objectivo de chamar a atenção da opinião pública para o problema da alienação do espaço público prestado pelo teatro municipal nos parece ter sido plenamente atingido, tanto ao nível da mobilização da comunidade como no plano da divulgação pela comunicação social (extremamente generosa, se bem que crescentemente focalizada no nosso suposto reality-show), não seria pertinente obliterar, ao nível do nosso segundo objectivo – o da chamada de atenção das autoridades para o escândalo deste processo precipitado, e dito «irreversível», de «reconversão» do Rivoli, coerente que ele se revela com uma pretensa ordem «natural» das coisas numa sociedade de mercado – o nosso papel ainda não terminou. Pese embora a ausência de resultados conclusivos do nosso protesto nesse plano, abrimos ainda assim caminho a mediações e encontros que, esperamos, conduzirão, a bem de todos, a uma reavaliação das decisões tomadas muito ao de leve pela C.M.P.

Sentimo-nos no dever de participar na luta que doravante se alarga a todos que, como nós, desejam remar contra a corrente, tentando por todos os meios potenciá-la.

Como noutra parte e hora já dissemos: não falemos da vitória, falemos antes da aprendizagem da luta e pela luta, bem como da sua necessária invenção, à medida que vão surgindo novos lutadores, dados e pistas.

O grupo de ocupantes de pequenos auditório do Rivoli teatro municipal

19.10.06

Manif de apoio aos ocupantes do Rivoli no Porto (Pr.D.João I) e em Lisboa (S.Luíz) no dia 19 às 20 h.



QUEM SE SENTIR SOLIDÁRIO COM A OCUPAÇÃO PACÍFICA NO RIVOLI É CONVIDADA/DO PARA UMA GRANDE MANIFESTAÇÃO DE APOIO NA PRAÇA D.JOÃO I ÀS 20H00 DE 5 ª FEIRA(DIA 19 DE OUTUBRO).


Em Lisboa também está convocada uma manifestação de solidariedade em frente ao S. Luíz para as 20 h. do dia 19


92 HORAS FECHADOS

O TEATRO É DENTRO E FORA DE PORTAS.
A CIDADANIA É A TODO O MOMENTO.

A LUTA DE UNS É A LUTA DE TODOS!


O Grupo de Ocupantes do Rivoli Teatro Municipal



Últimas notícias:
A Câmara cortou a água e proíbe entrega de alimentos aos ocupantes do Rivoli 18.
Os ocupantes do Teatro Rivoli estão sem água e sem comida por decisão da Câmara do Porto. O edifício possui um gradeamento e portas em vidro que tinham sido mandadas fechar pela Câmara Municipal do Porto, mas as pessoas no exterior entregavam alimentos aos seguranças do Rivoli, que, depois, os distribuíam aos ocupantes. A autarquia portuense, presidida pelo social-democrata Rui Rio, proibiu os seguranças de receberem alimentos destinados aos ocupantes do Rivoli.
Prevê-se que amanhã os ocupantes sejam visitados por um médio a fim de avaliar as condições de saúde em que se encontram

«A maior catástrofe que a cidade do porto alguma vez sofreu, e que lhe causou prejuízos incalculáveis, foi quando o rio chegou à Câmara»

Lançamento do livro «Formação da mentalidade submissa» com a presença do autor (20 de Out. às 21.30, no Porto;21 de Out. às 18h em Lisboa)


Vicente Romano apresentará o seu livro A Formação da Mentalidade Submissa no foyer do Auditório da Biblioteca Almeida Garrett, na cidade do Porto, às 21:30h do dia 20 de Outubro (sexta), juntamente com o jornalista Rui Pereira.


Também em Lisboa, agora com o Rui e Isabel do Carmo, o livro será debatido na Livraria Letra Livre, pelas 18h do dia 21 de Outubro (sábado).


Excerto de prefácio de Rui Pereira:

«Toda esta obra, com frequência profundamente original, disseca os processos comunicacionais a partir da sociologia, da educação, das representações e funções sociais, da interculturalidade, entrando inclusivamente na relação entre o fazer comunicacional contemporâneo e os usos do tempo e do espaço humanos. Defensor de uma necessariamente nova “ecologia e ética da comunicação”, a obra de Vicente Romano é um paradigma da junção entre valor científico e mérito transformador profundamente revolucionário. Quando a academia falha a este, que deveria ser o seu chamamento natural, que a ele acudam pensadores da envergadura do professor Vicente Romano, cuja obra de divulgação, “A Formação da Mentalidade Submissa”, que a Deriva edita agora em Portugal, contando já com dezenas de milhares de leitores e editada em diversos países do mundo, é não apenas a primeira a ver a luz do dia em língua portuguesa, como uma síntese modelar, de todo o seu notável trabalho.»
Rui Pereira, do Prefácio

18.10.06

Adere à Rivólição!






São precisos voluntários para acompanharem do lado de fora do Rivoli a vigília!


É preciso expressar solidariedade para com os ocupantes do Rivoli!

RIVOLIVRE!

O RIVOLI é nosso...O RIVOLI é de todos
...

Aparece...

Adere à RIVÓLIÇÃO!



Ultimas informações sobre a ocupação:


Fecharam a porta de acesso ao camarim com chuveiro.Mais ninguém toma banho.
Fecharam as portas de vidro da entrada lateral que nos permitia o contacto como exterior.A partir deste momento não entra comida (ou qualquer outra coisa).Desligaram a corrente das tomadas.




Desta vez, para variar, quem está fora não racha lenha




Amigo OCUPANTE de fora

Tu que sorris tão-só e passas, desaparecendo noutra multidão
Tu que ficaste a casa a tomar conta das horas que passam
Tu que te quedas a falar como se o mundo parasse à nossa porta
Tu que trazes a família a passear e todos aproveitam para um banho de luta
Tu que passas maçãs pelas grades e de paraíso nos alimentas
Tu que ainda não nos percebeste mas queres a todo o custo perceber
Tu que bebeste à nossa saúde e assim nos embriagaste à distância
Tu que tinhas a barriga maior que os olhos e a ofereceste para nos carregar
Tu a quem o trabalho humilha e nos deste tuas poucas horas de ócio
Tu que trouxeste a bandeira no bolso e a trocaste por duas horas de troca
Tu que nem tanto ao mar nem tanto à terra e agora somente tempestade
Tu que vento semeias e vento colhes para que o ar se respire
Tu que saíste aperaltada e voltaste desfeita como que acabada de nascer
Tu que vieste ao engano e voltaste mais verdadeiro
u que trouxeste as tuas sobras de esperança e eram um banquete
Tu que quiseste a noite branca e de manhã choravas por mais
Tu que em vale de lençóis nos concedeste vidas nunca vividas
Tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu
Ocupa a rua como nós ocupámos este nosso teatro
Pinta a manta e a macaca pinta a negro pinta o sete pinta-te a ti e aos outros
Canta para o mal espantar para acordar animar embalar protestar discordar
Toca o sino e a trompete toca tambor clarinete toca a caixa e troca o mundo
Dança a roda dança a salsa dança o tango dança a valsa baila gira salta pula
Faz figas e faz de conta faz a sério ou a brincar faz mais para o mundo mudar
Troca tintas troca passos troca cartas troca abraços troca cromos e heróis

E, pelo meio, vem até trocar umas ideias, impressões, sensações connosco

Até já, até sempre


O Grupo de Ocupantes do Rivoli Teatro Municipal


http://noteatrorivoli.blogspot.com/

17.10.06

Rivoli está ocupado. Precisam-se urgentemente de voluntários para fazer vigília no exterior




URGENTE: é preciso gente junto do Rivoli.

É preciso voluntários para a vigília desta noite junto do Rivoli.


Desde ontem que actores e público ocupam o Rivoli, no Porto, protestando contra a entrega a privados do teatro municipal da cidade.

É preciso voluntários para acompanharem do lado de fora do Rivoli a vigília desta noite.

Solidariedade para com os ocupantes do Rivoli


RIVOLIVRE


O RIVOLI é nosso

Solidariza-te

Aparece
.
RIVÓLIÇÃO

Cerca de 200 manifestantes solidarizam-se com os 40 barricados que se encontram dentro do Rivoli, teatro municipal da cidade do Porto.
Recorde-se que cerca de 40 pessoas estão há mais de 20 horas no interior do Teatro Rivoli, no Porto. Recusam-se a abandonar o edifício em protesto contra a decisão da Câmara Municipal de concessionar a gestão do teatro a empresas privadas.
Ao longo da tarde, cerca de 200 pessoas juntaram-se ao protesto, concentrando-se em frente do edifício.
Quarenta pessoas, entre actores, encenadores e público da Companhia Teatro Plástico decidiram ficar na sala do Rivoli após o fim da apresentação da peça "Curto Circuito", por volta da meia-noite de domingo.
Cerca de 200 pessoas concentraram-se a partir das 18h00 de hoje frente ao Rivoli, no Porto, em solidariedade com os actores e espectadores da Companhia de Teatro Plástico que há cerca de 20 horas ocupam o edifício.
O presidente da Plateia - Associação de Artes Cénicas, Alda Silva, o actor António Capelo e os políticos Jorge Machado (PCP) e José de Castro (BE) foram algumas das pessoas que compareceram na manifestação, convocada pelo movimento "Pelo Porto - Juntos no Rivoli".
A decisão de privatizar a gestão do Rivoli foi tomada no dia 25 de Julho passado pela maioria PSD/CDS-PP na Câmara Municipal do Porto. "A receita do Rivoli cobre seis por cento da despesa", justificou o presidente da autarquia, Rui Rio, afirmando que a câmara canaliza 7.500 euros por dia para o teatro. Cinco empresas concorreram à gestão do Rivoli e até ao final de Outubro será conhecido o nome daquela que vai gerir o teatro.


A manifestação iniciou-se depois da exibição da peça «Curto-Circuito», da companhia Teatro Plástico, no pequeno auditório, entre espectadores e artistas, num protesto convocado pela companhia.
A autora da Peça, Regina Guimarães, que também se juntou ao protesto, explicou à Lusa que o objectivo, além de protestar contra a intenção da Câmara liderada por Rui Rio (PSD), é também evitar que o cenário se repita em outras zonas de Portugal.
«Se não fizermos isto, outras autarquias acabarão por fazer o mesmo com equipamentos similares», disse.

Entre os espectadores circulava hoje um documento com críticas ao presidente da Câmara, por defender «uma ideia de um teatro regido por critérios de rentabilidade», atitude que os autores do manifesto consideram «assaz curiosa para quem esbanja dinheiros públicos em corridas de automóveis».
O texto refere-se à reedição, no ano passado, do Grande Prémio do Porto, no Circuito da Boavista, um evento que não se realizava desde os anos 60.
O documento pede garantias de que «o teatro não seja gerido e programado em função da maior ou menor rentabilidade», de que «os núcleos de produção da cidade do Porto, em todos os domínios da criação, tenham acesso e lugar no seu teatro municipal» e de que «a direcção do teatro pugnará pela formação contínua do público».



16.10.06

Os 70 anos da abertura do campo de concentração do Tarrafal


O campo de Concentração do Tarrafal


A 23 de Abril de 1936 era oficialmente criado, por lei do regime de Salazar, a Colónia Penal do Tarrafal, vulgo campo de concentração do Tarrafal, situada no lugar de Chão Bom, em Tarrafal de Santiago, Cabo Verde.
Destinava-se a presos políticos e a 18 de Outubro desse ano, partia de Lisboa a primeira leva de presos constituída, maioritariamente, por sublevados da armada, que se amotinaram no Tejo e tentaram zarpar para Espanha em apoio dos republicanos que defrontavam o levantamento armado fascista de Francisco Franco. Com estes marinheiros, cujo levantamento fora derrotado, vinham também insurrectos do 18 de Janeiro de 1934 – uma greve geral contra a fascização dos sindicatos, que teve expressão máxima na Marinha Grande, ocupada pelos sindicalistas que aí constituíram um soviete.

A CPT funcionou até 31 de Janeiro de 1953, data em que saiu do Tarrafal o último preso.

Pelo “campo da morte lenta” passaram presos de várias correntes políticas – comunistas, anarco-sindicalistas, sindicalistas-revolucionários, republicanos democratas (como o jornalista Cândido de Oliveira), mas também espanhóis derrotados na Guerra Civil, que se tinham internado em Portugal (na grande maioria, foram presos e entregues a Franco, como o grande poeta Miguel Hernández, e geralmente fuzilados), e também dois alemães anti-nazis. 32 prisioneiros portugueses - entre os quais o secretário-geral do PCP, Bento Gonçalves, e o principal líder sindicalista-revolucionário, Mário Castelhano – morreram no campo de Chão Bom.

O campo foi reactivado nos anos 60, durante a guerra colonial, para receber presos oriundos das colónias onde se travavam guerras de libertação nacional contra o colonialismo português.

(Texto retirado
daqui)



Colóquio «Salazarismo, Tarrafal, Guerra civil de Espanha – História e Memória 70 anos depois»

A propósito do 70º aniversário da abertura do campo de concentração do Tarrafal, uma das mais célebres e terríveis prisões do fascismo português, assim como acerca da guerra civil em Espanha vai-se realizar sucessivamente em Lisboa ( 27 e 29 de Outubro) e no Porto ( 3 e 4 de Novembro) um colóquio internacional destinado a fazer o ponto da situação sobre a investigação histórica acerca desses acontecimentos.



Data: 27 e 28 de Outubro no Insituto de História Contemporânea da FCSH, em Lisboa
3 e 4 de Novembro na Fac. de Letras do Porto

Informações: Instituto de História Contemporânea, Fac de Letras do Porto

Contacto:
dh@letras.up.pt

Participação mediante inscrição e pagamento de 20 e. para estudante e 40e para os restantes

.


Coordenação: Fernando Rosas e Manuel Loff

Programas:

1º dia

Estado Novo, democracia e memória – por Fernando Rosas

Fora o invasor! Guerra civil e nacionalismo(s) em Espanha – por Xosé Manoel Nunes Seixas (Un. de Santiago)

Pide e repressão – por Irene Pimentel


Relações lusoespanholas – Hipólito de la Torre (UNED, Madrid)

Las discórdias republicanas y la perdida de la guerra – por Joseph Sabchez Cervelló (URV, Tarragona)

Aspectos dos colonialismos do primeiro salazarismo: culturas obrigatórias – por Maciel Santos

Documentários e noticiários de actualidades em Portugal nos anos 30 e 40 – Ricardo Braga

2º dia


Franquismo en el tiempo de los franquismos – por Carme Molinero (UAB, Barcelona)

Salazarismo, entre fascismo, reaccionarismo e modernidade – Manuel Loff

Estado Novo, violência e Igreja Católica (1926-1945) – João Paulo Avelãs Nunes


Paralelamente decorrerá um ciclo de cinema documental do período salazarista

Info:

http://www.mentalfactory.com/ihc/index.php?ID=929

http://sigarra.up.pt/up/noticias_geral.ver_noticia?P_NR=3029