19.12.09

Por uma ecologia social, igualitária e libertária




Por uma ecologia social, igualitária e libertária

O verde está na moda, por todo o lado se fala em ambiente. Agora, já os fabricantes de carros e até os gestores das centrais nucleares são ambientalistas ! Se não nos podemos queixar desta tomada de consciência acerca da degradação ambiental, ao fim de 40 anos dos primeiros alertas, a verdade é que devemos denunciar o populismo ecológico que para fins bem nossos conhecidos não desiste de pintar com a cor verde as malfeitorias típicas do sistema de produção capitalista, não questionando a ideologia do crescimento produtivo, a crença de que « uma maior produção é a chave da prosperidade e da paz» (Truman, 1949).

Para nós, anarquistas, a ecologia não é apenas somente a defesa dos pássaros, a sacralização da natureza, vista como uma nova deusa. Já há uma século atrás, nomeadamente com Elisée Reclus, se colocava aa questão da integração harmoniosa do homem no seu meio, a gestão duradoura dos recursos, a construção de uma sociedade em que a qualidade da vida social seja mais importante que a quantidade da produção.

Como herdeiro do cristianismo, o liberalismo coloca o homem em oposição à natureza que deve submeter e dominar, enquanto outras culturas defendiam a harmonia e o respeito desta. No século XVIII, sob o impulso de Mandeville e Adam Smith, o económico separa-se da moral e do político, constituindo-se como campo autónomo da vida social.«Em vez da economia estar encastelada nas relações sociais, são estas que acabam por ficar enquadradas no sistema económico»»(Polanyi). Hoje, o homem é o servidor do Léviathan económico. As famílias estão dispersas, as solidariedades foram dissolvidas, os ritmos biológicos alterados, e toda a nossa vida social é determinada pelo desiderato do aumento da produtividade que, segundo o catecismo liberal e a ideologia do desenvolvimento mercantil, «o suave comércio», é a única via de aumento da riqueza, logo do bem-estar. Este dogma é ainda defendido hoje, apesar de assistirmos ao suicídio de trabalhadores stressados e ao aumento da pobreza no mundo, da má-nutrição, da falta de alojamento, e da busca do lucro individual e da vontade de acumulação ilimitada do capitalismo não recuar face à poluição do ar, das terras, dos mares, colocando em perigo a saúde e a sobrevivência da humanidade. O que vemos é que o comércio e os negócios, em vez de levar à paz, estão a conduzir-nos para as guerras.

Não convém, pois, cair na armadilha verde que as empresas e os tecnocratas do Estado montaram, e não deixar de compreender que o liberalismo económico e a ideologia do crescimento são os responsáveis pela degradação do ambiente, pelo aquecimento climático e pelas complicações do nosso funcionamento psicossomático.

É urgente inventar um outro modelo de sociedade em que o bem estar não esteja ligado à acumulação da mercadoria, mas antes ao desenvolvimento e reforço dos laços sociais, da convivialidade, da solidariedade e do apoio mútuo. Um modelo de ecologia social baseado na integração e na harmonia do homem na sociedade e na natureza. Este é o projecto anarquista. Um projecto fundado na igualdade económica e social, na participação de todos na definição das necessidades admissíveis, dos recursos necessários e dos modos de produção. É porque a consideração dos desejos de cada um deve constituir-se como a única maneira de contrariar o egoísmo individual, e porque o comunismo libertário é a única forma de lutar contra os privilégios e as desigualdades, é que nós lutamos por uma ecologia social, igualitária e libertária.

Escultura do artista dinamarquês Jens Galschiot no porto de Copenhaga lembra como os opulentos vivem à custa dos mais fracos



A escultura do artista dinamarquês Jens Galschiot com o título «A sobrevivência dos opulentos» foi colocada à entrada do porto de Copenhaga no início deste mês de Dezembro e representa uma figura opulenta, símbolo dos países industrializados, às costas de uma figura mais frágil representada na pessoa de um homem africano.


A escultura acaba por confirmar o que os activistas sociais já suspeitavam, ou seja, o facto do mundo industrializado impedir a tomada de decisões importantes contra as alterações climáticas, cujas principais vítimas são as populações dos países mais pobres.

A escultura é acompanha da seguinte legenda:

I’m sitting on the back of a man.
He is sinking under the burden.
I would do anything to help him.
Except stepping down from his back.



Sobre Jens Galschiøt

O Mercado Negro (feira do livro alternativo) termina hoje no Porto, e ainda vai a tempo de o visitar

Hoje termina o Mercado Negro ( Feira do livro alternativo) que se instalou desde o dia 9 de Dezembro na cooperativa cultural Gesto, na Rua Cândido dos Reis, 64, no Porto.
Se ainda não passou por lá, ainda tem o dia de hoje para procurar livros e obras do underground estético-literário, que não é fácil encontrar nos escaparates habituais. Vale a pena.