28.12.09

A música etíope de Alemu Aga




Alemu Aga é um dos grandes mestres da begena, também conhecida como harpa do Rei David. Instrumento de cordas etíope, que se crê ter cerca de 3.000 anos, pertence à família das liras e das harpas. A begena vê a sua continuidade ameaçada, por falta de mestres a ensiná-la nas escolas do seu país, sendo Alemu Aga um dos seus já escassos tocadores. Também geógrafo e lojista, residente em Adis Abeba, o músico viaja, há já algum tempo, um pouco por todo o mundo, a divulgar esta melodia ancestral intemporal, sintonizada com uma paz eterna, luminosa, beatífica, capaz de nos levar para outra dimensão. Inicialmente conotado como instrumento real e aristocrático, a begena é quase exclusivamente utilizada em orações, servindo como música de meditação. Esta é uma oportunidade única para ver um espectáculo solene de um dos maiores intérpretes de música etíope, dada a conhecer ao grande público por Francis Falceto e a sua série musical com doze anos, Ethiopiques.


Segundo a tradição etíope, a begena foi trazida de Israel para a Etiópia por Menelik I, tendo sido utilizado por David para acalmar os nervos do Rei Saul e curá-lo da sua insónia. Instrumento com dez cordas, nem todas são usadas para produzir som – algumas servem apenas para descansar os dedos, enquanto as cordas tocadas vibram. Desconhecida do mundo Ocidental até meados dos anos 80, a begena e a música etíope foi-nos dada a conhecer através da série Ethiopiques – compilação de música da Etiópia e da Eritreia, lançada a partir de 1997, pela editora francesa Buda Musique.

O 11º volume deste conjunto de obras pertence a Alemu Aga e à sua begena. O seu primeiro registo foi gravado em 1972 para uma colectânea da UNESCO, tendo sido proibida em 1974, quando a junta militar Derg subiu ao poder na Etiópia e pôs em prática políticas anti-religiosas. Depois disso, Alemu Aga desistiu de tocar e abriu uma loja de souvenirs em Adis Abeba. Durante algum tempo, tocou apenas para amigos em círculos fechados, mas, com o colapso do regime Derg, voltou a tocar em público. Tendo sofrido uma democratização no seu uso e tradição em épocas mais recentes, o ensino deste instrumento resulta de uma extensíssima tradição oral.

Francis Falceto conta como ouviu, pela primeira vez, música etíope: Aconteceu uma noite em que festejávamos, e um amigo nosso trouxe um LP que tinha comprado na Etiópia. (...) Ao passear por Adis Abeba, (…) ouviu música, entrou numa loja e comprou um LP de Mahmoud Ahmed. Nessa noite, pôs a tocá-lo e eu fiquei maravilhado. (…) Peguei no LP, fiz cópias (…) e mandei-o para amigos meus jornalistas, críticos de música e assim. No dia seguinte, todos me ligaram a dizer (…) “Isto é fantástico!”. No mês seguinte fui à Etiópia (…) convidar o Mahmoud Ahmed para fazer uma “tour” em França e na Europa. Eu era completamente ignorante, não só em relação à música etíope como em relação à própria Etiópia. Neste país independente (à excepção de uma relativamente breve ocupação fascista italiana no século XX), os músicos tradicionais (azmaris) eram considerados uma casta, havendo uma posição ambivalente em relação a eles. Eram apreciados pela sua liberdade de expressão, mas ninguém escolheria casar a filha com um, explica o produtor. Foi necessário esperar vinte anos pelo desenvolvimento da música etíope moderna, que tem sido revelada nas últimas duas décadas e recebida com o maior entusiasmo, admiração e reverência. Espiritual e etérea, capaz de fazer todo o nosso corpo vibrar e de nos devolver a uma outra vida, tem na begena a sua expressão maior e em Alemu Aga uma das suas pedras mais preciosas.



Begena Alemu Aga - Ethiopian Orthodox Tewahedo Song 1 of 4












Ethiopia Around the World in 80 Religeons 1



Passagem d'ano no bar-livraria Gato Vadio


Desde há duas décadas que uma espécie humana que habita um território terráqueo entre os confins do actual Império Euro-mano e a frente Ural se reúne no último dia do ano do calendário gregoriano para festejar a passagem para…1984. Esse povo baptizado de Europeu é um bocado distraído – na linguagem de um barbudo dessa espécie, alienado – e ainda não quis dar por isso. Também é uma espécie com muita etiqueta e, por isso, nós não queremos estragar a festa, pois não? Pois não? Aliás, a nossa actividade ao longo do ano de 1983 que passou é uma prova de etiqueta e bons costumes.


Celebremos 1984, com música dos eitis (80’/ Pista de dança com DJ little-brother) e esqueçamos que 2010 já está perdido há muito tempo.

Viva 1984! Viva o Homo-Sonâmbulos!



Quinta-feira, 31 de Dezembro de 1983, 21h30

Entrada 4€ (inclui champagne, quiche, pão, homus, bolo-plebeu, favas e pevides).

Gato Vadio, rua do Rosário 281, Porto


*a espécie humana na foto é puro design bio-futurista e não passou nos critérios de selecção musical. (o nosso novi-Gabinete pós-humano trans-celular teve dificuldades em catalogar esse sujeito pluri-celular e hiper-hirsuto. Também vários estudos terráqueos são inconclusivos a esse respeito).


nota: Quem quiser beber o champagne em taça de vidro é favor trazer de casa.

Lançamento da nova edição do Pica-Miolos e sessão de cinema comunitário na Casa Viva ( dia 29, à noite)

o pica miolos atrasou-se

3ª, 29 dezembro 18h30 entrada livre
casaviva
praça marquês pombal 167 porto

Com tanto tráfego aéreo causado por números sem precedentes de pais natal a voar de um lado para o outro, o Pica Miolos teve dificuldade em piratear uma rota segura. O frio glaciar que se faz sentir pelo noroeste da península impediu-o, por outro lado, de tentar os caminhos clandestinos das grandes alturas. Devia ter vindo antes do homem das barbas brancas que explora duendes na Lapónia, mas reparou que, ano após ano, os natais começam cada vez mais cedo e, desta vez, ao preparar-se para sair, tudo o que existia era um espaço aéreo intransitável.
Mas, já se sabe, o Pica é como o outro: pode tardar, mas não falha.
E cá chega ele em plena ressaca pós-natalícia, ou, se quiserem, em época de carregamento de baterias para a noite oficial do "agora é que vai ser".

Às 18h30, deve chegar gente à casa. O Pica Miolos já deve andar por lá, todo partido, a precisar de cuidados intensivos de todas as mãos amigas que aparecerem.

Se às 21h00 conseguirmos jantar, poderemos acompanhar as iguarias caseiras com um filme um pouco indigesto para gente de bem com o mundo.

21h30 cinema: A Quarta Guerra Mundial, de Rick Rowley (76')EUA, 2003. Legendado em português


Documentário quase poético sobre um dos temas mais importantes do planeta: a luta mundial contra a opressão do neoliberalismo.
A regra do empobrecimento de uma população é quase sempre a mesma: Pedir dinheiro emprestado ao FMI, cumprir seus ajustamentos estruturais, privatizar todos os sectores que possam gerar lucros, seguir as regras liberais da Organização Mundial de Comércio. Isso traz sempre a miséria e o descontentamento. Para combater tanta gente descontente que sai às ruas e para que não se destrua o Estado que as grandes empresas querem, usa-se a polícia e o exército.

A Quarta Guerra Mundial é, hoje, travada em todos os cantos do mundo. De um lado, os povos e, do outro, os governos dos países que se ajoelharam perante as exigências das grandes corporações.

Este é também o registo de depoimentos e lutas contra políticas neoliberais em alguns países: Argentina, Coreia, África do Sul, México, Itália, Canadá. E da opressão brutal que o Estado de Israel faz sobre a Palestina.


Lançamento do livro sobre a ficção e os escritores anarquistas (Mythmakers & Lawbreakers, anarchist writers in fiction) de Margaret Killjoy




Basically, anarchy is in fact the only political position that is actually possible.”
(from the interview with Alan Moore, author of V for Vendetta)


Ao longo do próximo mês de Janeiro vai ser lançado nos EUA um livro sobre ficção e anarquismo, mais concretamente sobre vários escritores que se assumem como anarquistas. O seu título é «Mythmakers & Labreakers, anarchist writers on fiction», editado pela AK Press, e Margaret Killjoy é a sua autora. As apresentações começarão em New Orlean ( a 3 de Janeiro) e terminarão em Seattle e Olympia nos úlitmos dias de Janeiro.

A introdução do livro é da autoria do reconhecido autor de ficção científica , Kim Stanley Robinson que, apesar de não se assumir como anarquista, fez dos anarquistas um retrato muito favorável na sua trilogia Mars



Em Portland, no Oregon, a 21 de Janeiro, é a vez da apresentação no bar vegan Red & Black Café .


Alguns dias antes, a 18 de Janeiro, a apresentação do livro tamém em Portland, na livraria Powell’s Books , contará com a presença, para além da sua autora, da conhecida escritora de ficção científica Úrsula K. Le Guin.

A primeira parte do livro é composta de uma série de entrevistas com variadíssimos escritores que directa ou tangencialmente se relacionam com o anarquismo. A lista dos autores referenciados é a seguinte:

Octavio Buenaventura
Professor Calamity
Carissa van den Berk Clark
CrimethInc.
Rick Dakan
Jimmy T. Hand
Derrick Jensen
Ursula K. Le Guin
Alan Moore
Michael Moorcock
Jim Munroe
Cristy C. Road
Lewis Shiner
Starhawk

A segunda parte consiste num trabalho de pesquisa sobre a história dos escritos e da ficção anarquista. Aí se indica sucintamente cada autor e os livros que publicou, bem como se elabora uma listagem de livros que representam a ficção anarquista.
Locais e datas da apresentação do livro nos EUA ao longo do próximo mês de Janeiro de 2010:

New Orleans, LA: Sunday, Jan. 3rd at
Iron Rail Book Collective. Flyers: letter and quartersheet.

Houston, TX: Tuesday, Jan. 5th at
Sedition Books. Flyers: letter and quartersheet.


Austin, TX: Wednesday, Jan. 6th at
Monkey Wrench Books. Flyers: letter and quartersheet.


Tucson, AZ: Thursday, Jan. 8th at
Dry River. Flyers: letter and quartersheet.


West Hollywood, CA: Sunday, Jan. 11th at
Book Soup, with Carissa van den Berk Clark. Flyers: letter and quartersheet.


San Francisco, CA: Thursday, Jan. 14th at
Modern Times Bookstore. Flyers: letter and quartersheet.


Portland, OR: Monday, Jan. 18th at
Powell’s Books with Ursula K Le Guin. Flyers: letter and quartersheet.


Portland, OR: Monday, Jan. 21st at the
Red & Black Cafe with Artnoose of Ker-bloom!. Flyers: letter and quartersheet.


Seattle, WA: Friday, Jan. 29th at
Left Bank Books. Flyers: letter and quartersheet.


Olympia, WA: Monday, Feb. 1st at
Last Word Books. Flyers: letter and quartersheet.


Fonte: www.birdsbeforethestorm.net/MMLB/


Mythmakers & Lawbreakers discuss the role of storytelling in the an­archist movement! Learn about novelist assassins, post-colo­nial african squatters, writers who fought in revolutions and went on to write childrens’ stories! Find out what Tolkien, camus, orwell, and kafka have to say about anarchism!

As várias correntes e as ideologias políticas das esquerdas







2 – As primeiras ideias





3: Jacobinos e as Revoluções de 1848




4: Anarquismo




5: Marxismo e a Primeira Internacional



6: Comuna de Paris




7: Ruptura na Primeira Internacional e Segunda Internacacional




8: Revolução Mexicana






9: Revolução Russa




10: Terceira Internacional




11 a: República Espanhola




11b-Resistência na Guerra Civil de Espanha





12: Quarta Internacional





Aindas Faltam os seguintes capítulos:

trotskismo
revolucion chinesa (1950)
maoísmo
revolução cubana (1959)
guevarismo
os años 60
revolução vietnamita (1973)
os años 70

Fonte:
www.diluyendofronteras.net/transitando%20la%20izquierda.html

Centenário da CNT vai ser comemorado em 2010


Durante o ano de 2010 a CNT vai comemorar o centenário da sua criação fazendo juz ao movimento operário que lhe deu origen através de várias acções que estão a ser preparadas, mas sobretudo através da luta diária que os sindicatos cenetistas desenvolvem um pouco por todo o lado e que visam a revolução social

http://cnt.es/centenario

Já no próximo dia 9 de Janeiro realiza-se o Festival Centenário CNT-AIT com a participação das seguintes bandas


Canteca de Macao
Siniestro Total
Kutxi Romero y Ja Ta Ja
Albertucho
Kike Suárez y La Desbandada
El Cabrero


Estão ainda previstas as seguintes exposições:
- Vivendo a Utopia, a cargo da CNT da Extremadura,e que vai tratar da guerra civil
- Concurso de cartazes
- Cartazes históricos
- Cartazes do 1º de Maio
-Cem anos, cem fotos






Centenário de la CNT




Historia CNT





A las barricadas-Hino de la CNT (Ana Belen y Victor Manuel)







Pela Anarquia. Agora mais do que nunca, Anarcosindicalismo.
Centenário de la CNT/AIT (1910-2010)

Linhas de força para a realização de um Congresso do Associativismo e da Democracia Participativa

Portugal: Congresso do Associativismo e da Democracia Participativa
Algumas Linhas de Força do Processo em Curso

Texto de Rui D’Espiney

A reunião de associações realizada no ISCTE, a 21 de Novembro de 2009, saldou-se pela explicitação de linhas de acção que surgem como um impulso ao movimento que começa a tomar corpo em ordem à afirmação da Democracia Participativa e do Associativismo, movimento lançado em Coimbra por 9 associações que se encontraram a partir da reflexão produzida numa tertúlia que teve lugar na Manifesta de Peniche. São essas linhas que aqui se apresentam sucintamente.

A. Assumir a preparação do Congresso como um processo

Reafirma-se o propósito de se caminhar para a realização, em finais de 2010, de um grande congresso do Associativismo e da Democracia Participativa onde, se espera, se aprofundem conceitos, se formulem reivindicações e se clarifiquem estratégias.

Assume-se, no entanto, a caminhada para o congresso como um processo de crescente envolvimento das associações em torno da construção de "argumentário" que legitime o movimento enquanto projecto politico da Democracia Participativa e que se deverá organizar de baixo para cima, conscientizando-se pela reflexão que se for produzindo.

Assume-se, também, que o congresso não deverá ser tido como um ponto de chegada mas como um momento de sistematização que ajude a fundamentar e estimular os passos seguintes. Quer-se que seja, tão somente,uma "placa giratória" que receba a dinâmica em curso para a projectar com ainda maior energia no futuro.

B. Intencionalidades que se prosseguem

Há naturalmente um conjunto de propósitos concretos que se quer alcançar com este movimento. Para além dos que venham ainda a ser formulados pelas várias reuniões que se seguirão, reconhecemo-nos nos seguintes.

1. Dar corpo a um movimento amplo de associações, condição necessária à sua visibilidade, à construção da capacidade reivindicativa que se impõe, e a que surja como um facto politico incontornável de 2010.

2. Caminhar para a estruturação do que designamos por "Pensatório" incidindo sobre o sentido e a natureza do Associativismo, da Democracia participativa e da cidadania (e em que se torne claro o pensamento crítico que anima o movimento).

3. Orientar a reflexão e a acção das associações para a promoção e participação das comunidades locais, e para a resolução dos seus próprios problemas, enquanto condição de reforço da democracia e do exercício da cidadania.

4. Dar corpo a estratégias de interacção com a Democracia Representativa e o Estado, de que possa resultar não apenas a requalificação destes como a sustentabilidade e o reconhecimento do papel social do Associativismo e da democracia Participativa.

5. Possibilitar a autoconscienctização do movimento associativo nomeadamente no que se refere à exigência de surgir não só como promotor mas também como produtor de cidadania.


C. Algumas estratégias

Tendo em vista operacionalizar o movimento que nos propomos desencadear, definem-se como estratégias para o imediato:

• Adopção de um texto fundamentador e orientador do processo que funcione como um factor de congregação e implicação das associações, texto que se quer aberto à incorporação de contributos. Considera-se suficiente o documento saído da reunião de Coimbra.

• Aposta num envolvimento progressivo das associações, cativando as que desde já pareçam passíveis de aderir ao que se propõe.

• Recurso a espaços de reflexão e problematização de base local, admitindo-se, no entanto, diversidade de âmbito (local, sub-regional e regional).

• Esforço de alargamento para regiões onde se não conta ainda com associações aderente (Sul, Trás-os-Montes, Açores, Nordeste Alentejano).

• Publicitação e divulgação do movimento, no sentido de se proporcionar a sua visibilidade, para o que se considera um instrumento precioso a iniciativa havida de se organizar um blogue.
• Progressiva construção de um caderno reivindicativo do Associativismo.

• Necessidade imperativa de trazer ao movimento associações de diferentes domínios de intervenção (juventude, ambiente, saúde etc.)

D. Contributos para um "Pensatório"

As linhas de força explicitadas foram definidas a partir da reflexão produzida pelos presentes, reflexão que proporcionou igualmente a identificação de questões que o movimento deverá aprofundar no próprio processo do seu desenvolvimento. Nomeadamente:

• O entendimento necessário sobre o sentido de cidadania, em rotura com a tendência dominante para a reduzir à noção de civilidade;

• A clarificação da ideia de associativismo cidadão, tornando evidentes as formas que o assegurem, os obstáculos que se levantam e as condições e estratégias de promoção da participação;

• A percepção do papel da solidariedade no desenvolvimento da Democracia participativa e do caminho que a ela conduz;

• A/o desigual sensibilidade /entusiasmo que revelam os vários associativismos mobilizáveis para a problemática em aberto, realidade que nos remete para a necessidade de nos apercebermos das razões que levam certos sectores a não se implicar (como parece ser o caso dos jovens);
• O fosso que existe, e que importa vencer, entre o mundo e os valores da política e o mundo e os valores dos cidadãos comuns.

Fonte do texto:

As guerras mentem ( artigo de Eduardo Galeano)



"— Mas o motivo... –indagou o senhor Duval.
— Um homem não mata por nada.
— O motivo? –respondeu Ellery, encolhendo os ombros.
— O senhor já conhece o motivo".
Ellery Queen. Aventuras na Mansão das Trevas.

As guerras dizem que ocorrem por nobres razões: a segurança internacional, a dignidade nacional, a democracia, a liberdade, a ordem, o mandato da civilização ou a vontade de Deus.
Nenhuma tem a honestidade de confessar: "Eu mato para roubar".


Não menos de três milhões de civis morreram no Congo ao longo da guerra de quatro anos que está em suspenso desde fins de 2002.
Morreram pelo coltan, mas nem eles sabiam disso. O coltan é um mineral raro, e o seu nome estranho designa a mistura de dois minerais raros chamados columbita e tantalita. Pouco ou nada valia o coltan, até que se descobriu que era imprescindível para a fabricação de telefones celulares, naves espaciais, computadores e mísseis; passou então a ser mais caro que o ouro.
Quase todas as reservas conhecidas de coltan estão nas areias do Congo. Há mais de quarenta anos, Patrício Lumumba foi sacrificado num altar de ouro e diamantes. Seu país torna a matá-lo a cada dia. O Congo, país paupérrimo, é riquíssimo em minerais, e esse presente da natureza continua a converter-se em maldição da história.

Os africanos chamam o petróleo de "merda do Diabo".
Em 1978 descobriu-se petróleo no sul do Sudão. Sete anos depois, sabe-se que as reservas chegam a mais do dobro, e a maior quantidade jaz no oeste do país, na região de Darfur.
Ali ocorreu recentemente, e continua a ocorrer, outra matança. Muitos camponeses negros, dois milhões segundo algumas estimativas, fugiram ou sucumbiram, a bala, a facão ou a fome, com a passagem das milícias árabes que o governo apoia com tanques e helicópteros.
Esta guerra disfarça-se de conflito étnico e religioso entre os pastores árabes, islâmicos, e os labregos negros, cristãos e animistas. Mas acontece que as aldeias incendiadas e os cultivos arrasados estavam onde começam a estar agora as torres petroleiras que perfuram a terra.

A negação da evidência, injustamente atribuída aos bêbados, é o mais notório costume do presidente do planeta, que graças a Deus não bebe nem uma gota.
Ele continua a afirmar, um dia sim e outro também, que a sua guerra do Iraque nada tem a ver com o petróleo.
"Enganaram-nos ocultando informação sistematicamente", escrevia a partir do Iraque, por volta de 1920, um tal Lawrence da Arábia: "O povo da Inglaterra foi levado à Mesopotâmia para cair numa armadilha da qual será difícil sair com dignidade e com honra".
Sei que a história não se repete; mas às vezes duvido.

E a obsessão contra Chávez? Nada tem a ver com o petróleo da Venezuela esta frenética campanha que ameaça matar, em nome da democracia, o ditador que ganhou nove eleições limpas?
E os contínuos gritos de alarma com o perigo nuclear iraniano, nada têm a ver com o facto de o Irão conter uma das reservas de gás mais ricas do mundo? E se não é assim, como se explica isso do perigo nuclear? Foi o Irão o país que despejou as bombas nucleares sobre a população civil de Hiroshima e Nagasaki?

A empresa Bechtel, com sede na Califórnia, havia recebido em concessão, por 40 anos, as águas de Cochabamba. Toda a água, incluindo a água das chuvas. Nem bem se instalou, triplicou as tarifas. Explodiu um motim, e a empresa teve de ir embora da Bolívia.
O presidente Bush apiedou-se da expulsada, e consolou-a concedendo-lhe a água do Iraque.
Muito generoso da sua parte. O Iraque não só é digno de aniquilação pela sua fabulosa riqueza petrolífera: este país, regado por o Tegre e pelo Eufrates, também merece o pior porque é a mais rica fonte de água doce de todo o Médio Oriente.

O mundo está sedento. Os venenos químicos apodrecem os rios e as secas exterminam-nos, a sociedade de consumo consume cada vez más agua, a água é cada vez menos potável e cada vez mais escassa. Todos dizem isso, todos sabem: as guerras do petróleo serão, amanhã, guerras da água.
Na realidade, as guerras da água já estão a verificar-se.
São guerras de conquista, mas os invasores não lançam bombas nem desembarcam tropas. Viajam vestidos como civis estes tecnocratas internacionais que submetem os países pobres a estado de sitio e exigem privatização ou morte. Suas armas, mortíferos instrumentos de extorsão e de castigo, não fazem volume nem provocam ruído.
O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, dois dentes da mesma pinça, impuseram, nestes últimos anos, a privatização da água em 16 países pobres. Entre eles, alguns dos mais pobres do mundo, como Benim, Níger, Moçambique, Ruanda, Yemen, Tanzania, Camerúm, Honduras, Nicarágua… O argumento era irrefutável: ou entregam a água ou não haverá clemência com a dívida nem empréstimos novos.
Os peritos também tiveram a paciência de explicar que não faziam isso para desmantelar soberanias e sim para ajudar a modernização dos países afundados no atraso pela ineficiência do Estado. E se as contas dá água privatizada tornavam-se impagáveis para a maioria da população, tanto melhor: para ver se assim finalmente despertava sua vontade adormecida de trabalho e de superação pessoal.

Na democracia, quem manda? Os funcionários internacionais das altas finanças, votados por ninguém?
Em fins de Outubro do ano passado, um plebiscito decidiu o destino da água no Uruguai. A grande maioria da população votou, por esmagadora maioria, confirmando que a água é um serviço público e um direito de todos.
Foi uma vitória da democracia contra a tradição de impotência, que nos ensina sermos incapazes de administrar, nem a água nem nada; e contra a má fama da propriedade pública, desprestigiada pelos políticos que a utilizaram e maltrataram como se o que é de todos fosse de ninguém.
O plebiscito do Uruguai não teve nenhuma repercussão internacional. Os grandes meios de comunicação não se inteiraram desta batalha da guerra da água [1] , perdida pelos que sempre ganham; e o exemplo não contagiou nenhum país do mundo. Este foi o primeiro plebiscito da água e até agora, que se saiba, foi também o último.

[1] Quanto a Portugal, ver Lei da Água gravemente danosa prestes a ser aprovada à revelia dos cidadãos

O original encontra-se no semanário Brecha, Montevideo, 11/Set/05.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Por cada dia há mais 200 desempregados em Portugal

200 TRABALHADORES PERDERAM O EMPREGO EM CADA DIA DO MÊS DE NOVEMBRO
(comunicado da CGTP, Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses)

O desemprego continua a aumentar atingindo, neste momento, 523.680 trabalhadores. De acordo com os números divulgados pelo IEFP, cerca de 200 trabalhadores perderam, em média, por dia, o emprego durante o mês de Novembro.

Mais uma vez a destruição do emprego na indústria e a não renovação dos contratos de trabalho, decorrentes da elevada precariedade dos vínculos laborais, estão na origem deste flagelo que atinge um número cada vez maior de mulheres, homens e jovens trabalhadores.
Estes são dados oficiais que estão longe de corresponder ao número real de desempregados que, neste momento, rondam as 700 mil pessoas, metade das quais sem subsídio de desemprego.

Ao contrário do que o Governo e o Presidente do IEFP teimam em fazer crer, não estamos perante uma estagnação do desemprego, mas sim confrontados, no dia a dia, com o seu agravamento.

Se acrescentarmos ao problema do desemprego o recrudescimento dos salários em atraso e os processos oportunistas e, por vezes ilegais, do lay-off, protagonizados por várias entidades patronais, com o objectivo de diminuir os custos com o trabalho à custa das verbas da segurança social, da redução dos salários e do número de trabalhadores ao seu serviço, é evidente que se avolumam as preocupações quanto a um eventual agravamento do desemprego nos próximos meses.

Por outro lado, a situação descrita confirma a ineficácia das medidas repetidamente anunciadas pelo Governo contra o desemprego e exige uma outra política que responda aos problemas económicos e sociais do país.

Para a CGTP-IN é tempo do Governo fazer menos propaganda e apresentar verdadeiras soluções que vão ao encontro das necessidades dos trabalhadores e dos desempregados.

Tal facto implica a adopção de medidas urgentes que assegurem o alargamento das prestações sociais aos desempregados; a ruptura com o actual modelo de desenvolvimento; a garantia do emprego estável e com direitos, combatendo a precariedade que penaliza de forma particular os jovens trabalhadores; a resposta aos problemas estruturais do país, designadamente através da dinamização e modernização do tecido produtivo.

CGTP-IN
Lisboa, 23.12.2009

Gaza sobrevive e resiste ao cerco imposto por Israel

O Natal de 2009 na cidade palestiniana de Belém






Natal 2009 na Palestina




Sapatos para Gaza




Resistência




Chomsky fala sobre Gaza 2009




Partida de Londres da Marcha de apoio humanitário a Gaza, vítima do cerco imposto por Israel