11.9.07

Pela bibliodiversidade

A Aliança dos editores independentes que reúne mais de 330 editoras espalhadas por 40 e tal países lançou no passado mês de Julho uma «Declaração internacional pela protecção e a promoção da bibliodiversidade», reafirmando a vontade de resistência e acção comum.

Nesta Declaração é lançado um alerta para a ameaça que paira sobre a diversidade cultural dos livros por efeito da concentração do capital e das empresas editoriais, como sobretudo pela crescente financiarização do sector, e que tem a ver com a crescente e perigosa penetração dos bancos e dos grandes grupos bancários financeiros no capital das editoras o que significa um domínio acrescido dos grandes grupos económicos nesta área cultural tão importante como é o das edições de livros.


www.alliance-editeurs.org

Ler a declaração aqui

Concentração e marcha por uma Europa livre de transgénicos (no Porto, 16 de Setembro, às 13h em frente ao hotel Sheraton)


De 16 a 18 de Setembro vai acontecer na cidade do Porto (Norte de Portugal) uma Reunião Informal de Ministros da Agricultura europeus que se realizará no edifício da antiga Alfândega do Porto.É uma boa oportunidade para a sociedade civil dizer o que pensa sobre as políticas agrícolas.A «Plataforma Transgénicos Fora» vai aproveitar a ocasião para protestar contra os transgénicos e as leis que protegem as multinacionais em vez do ambiente e da saúde das pessoas.



Dia 16 - Domingo
Haverá uma concentração, seguida de marcha com música, teatro e dança por uma Europa livre de transgénicos!.

13h00 - concentração em frente ao Hotel Sheraton (Av. da Boavista)

15h - Início da Marcha contra os OGM até à Avenida dos Aliados (passando pela Av. da Boavista, R. Júlio Dinis, Jardim da Cordoaria, Rua dos Clérigos) - chegada prevista: 17h
22h - passagem dos documentários "The future of food" e "TranXgenia" (Local: Casa Viva, Pr. do Marquês nº 167)

Se estás interessado, contacta porto@gaia.org.pt e enviamos-te mais pormenores.


O nosso programa inclui ainda para os dias 14 e 15 ( sexta e sábado) ensaios intensivos na Casa Viva (Praça do Marquês nº 167 - metro: Marquês, cidade do Porto) – com possibilidade de alojamento e refeições comunitárias - de samba ( ritmos da resistência), dança, teatro do oprimido, «exército de palhaços»(clown army).
Haverá também preparação de cartazes, faixas e de gigantones.

Plataforma Transgénicos Fora - http://www.stopogm.net/


http://casa-viva.blogspot.com/



(nota: para entrar na Casa Viva é preciso tocar no batente. A entrada é livre para todos os interessados em participar)

Exposição de arte na Árvore de tributo a José Afonso começa hoje


Tem início hoje na Cooperativa Árvore na cidade do Porto uma exposição de artes plásticas como tributo a José Afonso. Realiza-se também hoje no mesmo local uma sessão musical constituída com as suas canções.

Os Dez Princípios da Nova Cultura da Água

A COAGRET ( Coordenadora de afectados pelos grandes embalses e transvases) é uma organização não-governamental fundada em 1995 em Zaragoza com o objectivo de aglutinar os municípios, as populações e as pessoas afectadas pelas grandes obras e construções na área das infra-estruturas hídricas, quer as que estão já construídas quer as que estão ainda em projecto por todo o território do Estado espanhol. No âmbito das suas actividades foi lançado um decálogo sob o título «Os Dez Princípios da Niva Cultura da Água», a saber:

1 – Não inundar os vales de montanha nem secar os deltas do rio, que são a casa e o sustento das povoações para cuja identidade contribuíam ao longo dos anos.


2 – Conservar os rios e o património que nele floresceu no decorrer dos anos, devolvendo as águas às suas funções e atributos mais essenciais.


3 – Gerir a água a partir do princípio da solidariedade, e encará-la como uma herança comum das gerações do presente e que devemos transmitir nas melhores condições possíveis às gerações vindouras.


4 – Poupar e preservar a qualidade da água, alterando o menos possível os sistemas naturais, e reduzindo na origem a carga contaminante, restringindo paulatinamente as operações de depuração.


5 – Gerir de forma sustentável os recursos hídricos, perante todo o desperdício, graças à poupança, à melhoria e a um uso eficiente, assim como à reutiização.


6 – Instaurar a cultura da participação e da imaginação, capazes de acolher as estratégias sábias de fazer pequeno e bem, tal como a subsidiariedade, como formas vinculativas de gestão.


7 - Viver a água enquanto nossa realidade mediterrânica, uma realidade limitada, incompatível com a cultura de um bem livre, que aponta para a oferta ilimitada da água a cargo do erário público.


8 – Abandonar a dialéctica demagógica de um falso produtivismo da água ( especialmente para regadio) a fim de incorporar critérios sérios de valoração económica e de recuperação integral dos custos, na perspectiva de uma gestão sustentável do desenvolvimento.


9 – Aproveitar as águas superficiais e subterrâneas como um recurso unitário, cientes de que formam parte de um mesmo ciclo e que lutar contra os aquíferos e a sua contaminação é o melhor contributo que podemos dar para esse aproveitamento conjunto.


10 – Defender para a água o conceito de recurso público gerido na base do interesse geral, evitando a sua mercantilização e a sua conversão em objecto de especulação.

Consultar:
http://www.coagret.com/

Os destaques da edição portuguesa do Le Monde Diplomatique de Setembro


«Novas Precariedades em Portugal: do Trabalho aos Estilos de Vida» é o tema do dossiê português do número de Setembro do Le Monde diplomatique - edição portuguesa, que está já nas bancas.


O sumário da edição bem como textos de outras rubricas estão acessíveis em http://pt.mondediplo.com.


Destacamos o artigo sobre a actual crise financeira, «O mundo refém do poder financeira» de Frédéric Lordon, um outro texto sobre as manobras económico-militares à volta do Árctico, «Início de guerra fria nos glaciares», assim como um longo texto sobre a vitimização de Mona Chollet sob o título « Segundas intenções dos discursos sobre a vitimização».

Para ler e guardar.

Repensar o saber para reformar a escola ( entrevista com Edgar Morin)

Sem querer suprimir a escola, como defendia Ivan Illich, o sociólogo e o pensador francês Edgar Morin propõe-se, no entanto, romper com o actual esquema tradicional constituído pelas várias disciplinas que fixa, rigidifica e burocratiza o conhecimento.

A luta por uma pedagogia da mudança


Pergunta – Em que contexto emergiu o pensamento de Ivan Illich que pretendia romper com a instituição escolar?
Resposta de Edgar Morin – Aparece no fim dos anos 60 ao mesmo tempo que as primeiras preocupações de carácter ecológico. Mas os escritos de Illich nunca convenceram os espíritos. O livro «Uma sociedade sem escola» foi lido, mas esta obra incendiária foi imediatamente rejeitada poruqe atacava as bases profundas da nossa civilização.

P – O que é que ele pretendia dizer quando falava do perigo do saber ficar confinado à escola?
R – Tomemos um exemplo. Reparei que os jovens ameríndios do norte do Canada compreendiam os fenómenos humanos ou naturais das suas relações mútuas. Abordavam assim a água ou a floresta colocando em relação uma erva esmagada, um excremento animal ou um ruído para figurarem a passagem de um pequeno mamífero. Ora desde a chegada da escola eles ficaram desamparados por efeito dos cortes disciplinares operados por uma instituição que forma e que adapta os espíritos às normas da racionalidade dominante. Illich mostra bem como o saber, tal como a medecina, ficou periigosamente especializado, emparcelado e parcializado.

P – Qual é a alternativa proposta?
R – A sai ideia é a de instituir aquilo que ele chama «redes de saber», a partir de uma oficina de coordenação que forneceria professores conforma os pedidos de cada aluno. Por exemplo, se alguém tivesse vontade de aprender chinês, era-lhe atribuído um professor de chinês. A escola assim descolarizada libertar-se-ia do esquema disciplinar das diversas disciplinas.

P – Acha que essas «redes de saber» possam ainda hoje ser actuais?
R - Sem chegar aí, é indispensável aproveitar esta crítica para pensar numa reforma educatica. Essa fragmentação do conhecimento, de que Illich deplorava, faz com que se evite questionar a civilização, transformando esta num soma de problemas individuais. Não se reflecte globalmente sobre nós mesmos, pois a cada problema é tratado por este ou aquele especialista, e torna-se independente dos outros. O ensino deve recentrar-se sobre o que permitiria defrontarmos com os nossos problemas vitais, como pessoas, cidadãos e seres humanos.

P – Como é que isso se traduziria no concreto?
R – Poder-se-ia, por exemplo, colocar o acento desde a primária na compreensão do outro, e mostrar à criança que, em vez de procurar saber sempre quem começou uma disputa, quem tem ou não razão, ela deveria antes considerar o círculo vicioso de uma incompreensão galopante do outro. Seria necessário que as crianças aprendessem desde muito cedo a reflectir sobre elas próprios. Acontece-lhes de se enganar, de ser vítimas de ilusões. Em vez de coleccionar verdades, a escola devia mostrar porque é que elas se enganam, o que já seria uma forma de conhecimento pertinente. Os saberes fundamentais, que hoje estão desintegrados nas compartimentações disciplinares, deveriam ser estudados durante uma ano propedêutico obrigatório antes do ensino universitário. Sou também a favor da criação de um instituto onde se ensinasse saberes transdisciplinares. Esta pedagogia da complexidade substituiria assim o saber em migalhas.

P – Como se poderia ensinar esse pensamento da complexidade?
R – Inspirando-nos na maiêutica socrática, o discípulo descobriria nele uma verdade que ignorava. A escola não tem mais o monopólio de um conhecimento a transmitir, já que o seu papel será antes o de ajudar os alunos a descobrirem um saber ao qual eles aspiram e que corresponde às suas curiosidades naturais. O desafio não é tanto o de ensinar todos os saberes, mas de mostrar como todos eles se inscrevem num mesmo projecto de conhecimento fundamental e vital. Os objectos disciplinares são por definição cortados; ora a natureza, e mesmo a natureza humana, não está organizada dessa forma disciplinar.

P – Isso significaria suprimir as disciplinas?
R – Bem pelo contrário. É verdade que a especialização fechada impede a cultura. Mas a especialização aberta alimenta o contexto e nutre-se do contexto. Renovadas, as disciplinas poderiam satisfazer as necessidades de conhecimento. É sobretudo necessário sair do esquema autoritário e parcelar do ensino sem troca, como é denunciado por Ivan Illich. Claro está que isso levanta um problema demográfico, porque com 40 alunos por classe não é difícil ver a verdadeira torça pedagógica não se faz senão com dois ou três eleitos.

P – Será então preciso acabar com a instituição escolar, como desejava Illich?
R – Não creio. No fundo não há razão nenhuma para suprimir as escolas quantos os quartéis. Eu diria que a escola deve ser preservada como local de encontro e de amizade. Um antigo colega meu enviou-me há pouco tempo uma fotografia tirado nos tempos do liceu que frequentei. E essa recordação levou-mea pensar que era bom partilhar momentos de companheirismo e de fraternidade. Será necessário reformar profundamente a escola, e o pensamento de Illich pode-nos ajudar a lutar contra um pensamento fixista, burocratizado, e libertar as aspirações à descoberta.

Entrevista concedida por Edgar Morin ao Le Monde de l’Éducation nº 360, Julho/Agosto 2007