"Libertar as pessoas é o objectivo da arte, portanto a arte para mim é a ciência da liberdade."
Joseph Beuys
"To make people free is the aim of art, therefore art for me is the science of freedom."
Cada homem um artista, de Joseph Beuys
Tradução de Júlio Gomes
Editora: 7Nós
A vida, a obra e as ideias de Beuys sobre a arte, a sociedade e o ser humano, nunca encontraram um espaço de discussão e questionamento em Portugal. Cada Homem Um Artista pretende colmatar essa lacuna da edição portuguesa e dos espaços próprios de crítica e discussão, apresentando aos leitores portugueses um dos mais discutidos e diatribizados artistas do século XX.
Figura central da consciência artística na Europa do pós-guerra, a obra de Beuys (1921-1986) tornou-se numa permanente "instalação verbal", fulcro da sua desdobragem enquanto activista, pensador e professor itinerante (o fluxo beuysiano levou-o a fundar a Universidade Livre Internacional, a Organização para a Democracia Directa ou os Verdes), e rastilho incontornável da sua figura controversa e prometeica. Poucos artistas no século XX rivalizaram Beuys na ruptura estética, na amplitude artística e na contínua experimentação do seu inusitado processo de expressão artística enquanto escultor, performer, pedagogo, pensador radical e activista social e político.
Em formato de "entrevista", Cada Homem Um Artista reúne diálogos de Joseph Beuys com vários interlocutores numa "acção" levada a cabo pelo autor no documenta 72, certame de arte contemporânea de Kassel, Alemanha, e onde se debatem questões sobre a Arte, a sociedade do capitalismo liberal, a educação, a emancipação das mulheres, a consciência crítica e social do ser humano, etc.
Cada Homem Um Artista é precedido por uma aprofundada introdução que parte de uma leitura global sobre o pensamento e a actividade do artista alemão no confronto com a sua época, não se confinando nunca a uma mera crítica d'arte. O ensaio introdutório Beuys, Homem-Arena, traça um itinerário abrangente sobre o criador de "Cadeira com Gordura", "Para acabar de vez com a ditadura dos partidos" e "Como explicar quadros a uma lebre morta", procurando problematizar a praxis e as reais criações do autor, e contestando amiúde as interpretações prevalecentes sobre Beuys e que habitualmente se centraram meramente no discurso, ou mesmo na retórica, do artista plástico.
Uma biografia completa e uma extensa bibliografia sobre Beuys enriquecem ainda este inédito da 7Nós.
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Joseph Beuys (Krefeld, 12 de maio de 1921 — Düsseldorf, 23 de janeiro de 1986) foi um artista alemão que produziu em vários meios e técnicas, incluindo escultura, performance, vídeo e instalação. Ele é considerado um dos mais influentes artistas europeus da segunda metade do século XX.
Em 1962, Beuys conheceu o movimento Fluxus, e as performances e trabalhos multidisciplinares do grupo - que reuniam artes visuais, música e literatura - inspiraram-no a seguir uma direção nova também voltada para a performance. Beuys se associou ao Fluxus e se tornou seu membro mais significativo e famoso. Sua obra tornou-se cada vez mais motivada pela crença de que a arte deve desempenhar um papel ativo na sociedade.
Beuys foi um dos pioneiros do movimento ambientalista alemão e teve participação activa na política. Ele fundou várias organizações políticas, como o Partido Alemão dos Estudantes, em 1967 (alemão: Deutsche Studentenpartei DSP), e a Organização para a Democracia Directa, em 1970. Em 1979, ele tornou-se um dos membros fundadores do Partido Verde Alemão. Tendo arriscado uma candidatura a uma eleição pelos verdes, Beuys expressou no fim da vida o seu desgosto pela política partidária.
Obras
-A Matilha (1969) - instalação com uma Kombi Volkswagen e 24 trenós de madeira contendo feltro, lânternas e gordura;
-Como Explicar Desenhos a uma Lebre Morta (1965) - o artista vaga pela galeria com o rosto recoberto de mel e ouro, carregando no colo uma lebre morta com quem ele fala;
Terno de Feltro (1970) - um terno de feltro em um cabide de arame;
-Canto Gorduroso (1973) - gordura de porco no canto de um espaço. A gordura derrete e se torna rançosa com o tempo;
-Eu Amo a América e a América me Ama (EUA, 1974) - performance em que o artista ficou envolvido em feltro em uma sala com um coiote durante cinco dias;
-Bomba de Mel no Local de Trabalho (Documenta de Kassel, 1977) - instalação / performance em que alunos da Universidade Livre Internacional de Criatividade e Pequisa Interdisciplinar tomam parte;
-7.000 Carvalhos (1979) - Sete mil pedras foram espalhadas em Kassel durante uma documenta: para cada pedra retirada, Beuys determinou que seria plantado em seu lugar um carvalho, na esperança de que a idéia se espalharia para mais cidades.
Para saber mais: