4.9.05

Os edukadores


Os edukadores (título original: Die Fetten Jahre sind vorbei) é o título de um filme do realizador Hans Weingartner que já está em exibição em Lisboa e que merece ser visto.
O argumento refere-se à actual luta contra a dominação capitalista e os seus personagens são três jovens berlinenses: Jan ( que defende que os mais ricos devem ser "edukados"), o seu companheiro de casa, Peter, que partilha os mesmo ideais, mas é mais descontraído, e Jule, a namorada de Peter, que se muda lá para casa porque já não consegue sobreviver com o seu salário de empregada.
Peter e Jan decidem invadir as mansões dos ricos, mexer nas suas coisas e deixar mensagens como «Os vossos dias de abundância estão contados» a fim de criar neles um sentimento de insegurança sobre o seu estatuto social privilegiado.
O enredo permite também o confronto entre duas gerações contestatárias: a de 1968 que, entretanto, se integrou socialmente, e a actual geração de contestação ao neo-liberalismo capitalista.
Com uma realização heterodoxa ( tipo câmara na mão), repleto de humor sarcástico e frequentes denúncias sociais, o filme serve sobretudo para reflectir nas melhores formas de criticar e contestar o sistema de domínio e exploração como é a economia de acumulação do capital.

Jedes Hertz ist Eine Revolutionäre Zelle!” (Todo coração é uma célula revolucionária!) é um exemplo de frases que marcam o filme.
Site oficial:
http://www.theedukators.com/

Alguns diálogos:

Quando Jule descobre que Peter e Jan são os Edukadores, ela pergunta a Jan porque invadem as mansões deixando mensagens como “Você tem dinheiro a mais” ou “os seus dias de fartura estão contados”:

Jan: - Para eles se sentirem inseguros mesmo com toda a segurança. É sinistro ter a casa invadida. Ter alguém que te vigia e vai continuar a vigiar

Jule: - Por que não pegam tudo e doam para os pobres?

Jan: - Eles contam com ladrões. Mas nós queremos que fiquem apavorados. Na fila do banco, vão ouvir sussurros: “Você tem dinheiro a mais”. Vão sentir-se completamente sozinhos. Nada poderá ajudá-los. Nem a fortuna, nem a mulher, nem a polícia.

Noutro passo Jan, Jule e Peter conversam com Hardenberg, milionário sequestrado pelos 3, num verdadeiro debate filosófico:

Jule: - Quantas horas por dia trabalha?

Hardenberg: - 13, 14 horas tranquilamente.

Jule: - O que faz com tanto dinheiro? Você acumula coisas. Coisas grandes, carros, mansões, um iate. Um monte de coisas para dizer: “Sou um macho poderoso”. Não vejo outra razão. Não tem tempo para curtir o seu iate. Então, por que é que quer sempre mais?

Hardenerg: – Vivemos numa democracia. Não devo explicações sobre os meus bens. Paguei por eles.

Jan: - Errado. Vivemos sim numa ditadura do capital. Você roubou tudo o que possui.

Hardenberg: - Posso possuir mais coisas porque trabalho mais. Tive as ideias certas na hora certa. E, além disso, não sou o único. Todos tem chances iguais.

Jule: – No sudeste da Ásia, muitos trabalham até 14 horas por dia e não têm mansões. Ganham 30 euros por mês. Também podem ter boas ideias mas não conseguem pagar uma viagem de autocarro à cidade vizinha.

Hardenberg: - Desculpe por eu não ter nascido na Ásia.

Jule: - Mas ainda assim pode tornar suportável a vida lá. O Primeiro Mundo devia perdoar a dívida do Terceiro Mundo. É só 0,01% do nosso PIB! Por que não fazem isso?

Hardenberg: - Seria o colapso do sistema financeiro mundial

Jule: - Vocês querem-nos pobres, para poder controlá-los... forçá-los a vender os seus produtos a preços ridículos.
(...)
Jan: - É a regra básica do sistema: exaurir todos até o limite para que não possam reagir.

Hardenberg: - Não é verdade. Claro, precisamos melhorar as coisas. Protecção ambiental, aumentar os preços do produtor... mas o sistema não vai mudar.

Jan: - Por que não?

Hardenberg: - É da natureza humana querer ser melhor que os demais. Todo grupo logo elege um líder. E a maioria só fica feliz quando compra algo novo.

Jan: - “Feliz”? Acha que as pessoas são felizes, Hardenber? Ei, abra os olhos. Saia do seu carro e ande pelas rua! Elas parecem felizes ou animais assustados? Veja suas salas de estar. Todas com a TV ouvindo zumbis chiques falarem sobre uma felicidade perdida. Passeie pela cidade. Verá a imundice, a superpopulação, as massas feito robôs nas escadas rolantes das lojas de departamento. Ninguém conhece ninguém. Acham que a felicidade está ao alcance mas ela é inalcançável porque você a roubou. É a vida. Você sabe muito bem. Mas tenho uma notícia para você: a máquina superaqueceu. Somos só os precursores. A sua época está a acabar. Enquanto você surfa na tecnologia, outros sentem ódio. Como as crianças das favelas vendo filmes de acção americanos. É só o começo. Haverá mais. Mais casos de insanidade, serial killers, almas destruídas, violência g
ratuita. Não pode neutralizar todo mundo com game shows e shoppings e os antidepressivos não vão funcionar para sempre. O povo está cansado da merda do seu sistema.

Hardenberg: - Admito que há alguma verdade no que falou, mas sou o bode expiatório errado. Eu jogo o jogo, mas não fiz as regras.

Peter: - Não importa quem inventou a arma, e sim quem puxa o gatilho.

Noutro momento estão Jan e Hardenberg a conversar , enquanto este lava suas roupas. Jan questiona-o como um ex-revolucionário que participou do Maio de 68 e agora se transformou num magnata insensível.

Jan: - Aposto que há muito tempo que não lava as sua s próprias roupas. Como é que alguém com o seu passado vive como você? Você teve ideais.

Hardenberg: -O meu pai dizia: “com menos de 30, se não és de esquerda és um desalmado. Acima dos 30 se continuares de esquerda és burro”.

Jan: - Eu sei, mas não acredito nesses baboseiras. É sempre a mesma desculpa.

Hardenberg: - Acontece devagar, aos poucos. A gente nem nota. Um dia, vendemos o carro velho. Queremos um mais seguro, com ar condicionado. Você casa-se, constitui família, compra uma casa. Educar os filhos custa caro. Segurança. Contrais dívidas, e começas a trabalhar para pagá-las e age como os demais. Até que numas eleições , para sua surpresa, o teu voto vira conservador.

Objectores do crescimento


A rede dos objectores ao crescimento e para o pós-desenvolvimento vai organizar nos dias 17 e 18 de Setembro em Brens, na região francesa de Tarn, encontros entre todos os interessados no decrescimento e no pós-desenvolvimento.
O movimento dos objectores do crescimento e do pós-desenvolvimento constituiu-se no seguimento da Conferência Internacional «Desfazer o desenvolvimento, refazer o mundo» realizada em Fevereiro de 2002 em Paris.

O buraco da camada de ozono atingiu a sua maior extensão


A Agência Espacial Europeia anunciou que o buraco da camada de ozono no pólo sul atingiu a sua máxima extensão desde o ano de 2000, ao ocupar uns 10 milhões de Km2, qualquer coisa como a superfície do continente europeu. Prevêem ainda que continue a aumentar até meados do mês de Setembro.
Os principais responsáveis são os compostos à base de clorofluorocarbonos, proibidos desde 1987, mas cujos efeitos – segundo os entendidos – soa se deixarão de sentir daqui a 10 anos.

Fonte: El País

Espanha já pensa em enterrar CO2 no subsolo

O governo espanhol lançou um projecto para armazenar o dióxido de carbono (CO2) debaixo da terra. As emissões de gases com efeito-estufa não param de aumentar e uma das soluções projectadas pelo governo espanhol é armazenar CO2 debaixo da terra a fim de cumprir o Protocolo de Kioto. Este projecto envolve 90 milhões de euros e foi entregue ao Centro de Investigações Energéticas, do Meio Ambiente e Tecnológicas (Ciemat)

Fonte: El País

ONU alerta para o perigo da extinção dos grandes símios


O panorama dos grandes símios ( gorilas, orangotangos, bonobos, chimpanzés) é desolador. Segundo o Atlas dos Grandes Símios e da sua conservação publicado por estes dias pela ONU estas espécies correm o risco de desaparecer nos próximos 30 anos se o meio ambiente em que vivem continuar a degradar-se como aconteceu até agora. Entre as causas figura a pobreza dos países que albergam estas espécies e que facilita a sua caça e a desflorestação dos habitats.

Fonte: El País

«O novo militarismo americano», um livro de Andrew Bacevich


«The New American Militarism: how americans are seduced by war», cujo autor é Andrew Bacevich, professor, veterano da guerra do Vietname, lança um libelo contra o complexo militar-industrial norte-americano, fornecendo não argumentos mas muitos dados sobre o crescendo militarismo norte-americano. Uma leitura útil, pois.

Reproduz-se aqui um comentário retirado de uma conhecida livraria virtual sobre este livro:

According to many of the custodians of public opinion, Andrew Bacevich has earned his right to a fair hearing. Not only is he a graduate of West Point, a Vietnam veteran, and a conservative Catholic, he is a professor of international relations and a contributor to "The Weekly Standard" and "The National Review." Obviously, if he were a left-leaning anti-war Democrat and a contributor to, say, "The Nation," he wouldn't be taken seriously as a critic of American militarism - he would be merely another "blame-America-first" defeatist.
Bacevich sees militarism manifesting itself in some disquieting ways. Traditionally America has always gauged the size of its military with the magnitude of impending threats. After the Civil War, World War I and II, the military was downsized as threats receded. Not so after the fall of the Soviet Union. The military budget has continued to grow and the expenditures are greater - by some measures - than all other countries combined. American military forces are now scaling the globe and the American public seems quiet comfortable with it. And everyone else is growing uneasy.
The mindset of the current officer corps is dominant control in all areas "whether sea, undersea, land, air, space or cyberspace." In other words, supremacy in all theaters. Self-restraint has given way to the normalization of using military force as a foreign policy tool. From 1989 (Operation Just Cause) to 2002 (Operation Iraqi Freedom) there have been nine major military operations and a number of smaller ones. The end of the Cold War has given the US a preponderance of military strength (the proverbial unipolar moment) that has enamoured successive administrations with the idea of using military force to solve international problems. In earlier times, war was always an option of the last resort, now it is a preventative measure.
War, according to Bacevich, has taken on a new aesthetic. During World War I and II, and also Vietnam and Korea the battlefield was a slaughterhouse of barbarism and brutality. Now, with the advent of the new Wilsonianism in Washington, wars are seen as moments of national unity to carry out a positive agenda, almost as if it were international social work.
The modern soldier is no longer looked upon as a deadbeat or a grunt, but rather as a skilled professional who is undertaking socially beneficial work. In fact, in a poll taken in 2003, military personnel consider themselves as being of higher moral standards than the nation they serve.
In the political classes, the Republicans have traditionallly been staunchly pro-military, but now even Democrats have thrown off their ant-military inclinations. When Kerry was running for president he did not question Bush's security policies, he was actually arguing that Bush had not gone far enough. Kerry wanted to invest more in military hardware and training. Even leftist Michael Ignatieff argues that US military intervention should be used to lessen the plight of the oppressed and that we should be assisting them in establishing more representative government. But superpowers are not altruistic; they are only altruistic to the extent that it serves their self-interest. That's probably why Ignatieff will not get much of a hearing and Bacevich will. This book should give us pause as to why the range of opinion in the America on the use of military force is so narrow. If there is one voice that stands a chance of being heeded, it is from this conservative ex-soldier.

Tariq Ramadan, intelectual árabe, vai ser conselheiro do governo de Blair


Segundo as notícias veiculadas pela imprensa oficial o conhecido e polémico intelectual árabe Tariq Ramadan, a quem o governo norte-americano recusou o visto de entrada nos Estados Unidos no ano passado sob a acusação de defender os terroristas, vai ser conselheiro do governo britânico....