23.9.08

Não há solução capitalista para a crise financeira

Vamos ajudar os drogados do lucro ( = os capitalistas) a libertarem-se do seu vício, visto que só por si não o conseguirão fazer!


A actual crise financeira mostra-nos o que é o sistema capitalista: uma economia construída sobre o vento e sempre à procura do lucro fácil. Nos últimos dias o que se passou verdadeiramente foi que milhões de dólares pura e simplesmente desapareceram. E muitos milhares de milhões de dólares no último ano se eclipsaram como num passe de magia. Hoje, ironia das ironias, são os ultra-liberais de ontem e a própria Meca do neo-liberalismo ( os Estados Unidos da América) que se converteram ao intervencionismo estatal na economia, ao avançarem para as maiores nacionalização jamais feitas em pleno regime capitalista, numa escala muito maior do que as nacionalizações dos bancos e empresas portuguesas em 1975, e muitas outras realizadas noutros países por governos ditos socialistas.

Quem disse que os capitalistas e os liberais eram contra o intervencionismo estatal, ou contra as nacionalizações?
São-no sim, mas só quando se trata de socializar e estatizar os apoios sociais para as populações, ao passo que se mostram completamente partidários da estatização e do intervencionismo quando se trata de montar colossais operações militares que lhes agradem, ou então quando há que ir em socorro dos bancos e das instituições financeiras que sofrerem grandes prejuízos na economia de casino em que se converteu o capitalismo global.

Os milhares de milhões de dólares que o governo norte-americano já injectou, e que se propõe ainda injectar mais, só tem como objectivo garantir que aqueles jogadores – sim, porque se trata disso mesmo, de jogadores – continuem a jogar, graças a uma fuga para a frente.

É como dar-lhes a possibilidade de refazer o jogo, desde o início, quais jogadores de poker detentores de uma reserva ilimitada de trunfos. A verdade, porém, é que eles jogam com o nosso trabalho, e são os trabalhadores que irão pagar aquelas ruinosas jogadas. E quando a crise tiver passado, e os bancos recomeçarem a obter lucros, não faltarão certamente prestimosas medidas governamentais a obsequiar os capitalistas. Ou seja, o que se trata, mais uma vez, é de privatizar os lucros e socializar os prejuízos.

Numa época como esta não será mau de todo pensar e interrogarmo-nos sobre o sentido e significado das privatizações em geral, alardeada por políticos e economistas liberais, assim como das tão afamadas deslocalizações de empresas, da alta especulativa dos preços das matérias-primas, da redução das pensões com consequências negativas para as populações mais pobres e carenciadas.

Por tudo isso é que precisamos de nos preparar para ajudar os drogados do lucro a libertarem-se do seu vício, visto que só por si não o conseguirão. Não há solução para o capitalismo por muito intervencioncionismo estatal que se promova a fim de salvar os pilares capitalistas: a avidez e a ganância do lucro, a dominação e opressão dos pobres e explorados, o militarismo, a destruição da natureza.

Pôr em xeque um sistema baseado no lucro e na exploração do trabalho e de milhares de seres humanos deve ser o objectivo permanente de quem sabe que não há solução definitiva para a crise capitalista senão fora do próprio sistema capitalista, e que, enquanto este se mantiver, não deixarão de inevitavelmente emergir crises estruturais que afectarão a vida de milhões de seres humanos.

O documentário «Sociedade do automóvel» vai passar hoje na Casa da Horta (às 21h30), seguido de debate sobre a mobilidade e transportes


No âmbito da semana da mobilidade, e numa iniciativa conjunta do GAIA (grupo de acção e intervenção ambiental) e da Casa da Horta, será projectado, hoje à noite às 21h30 o filme “Sociedade do Automóvel” (duração 40min) seguido de uma tertúlia sobre mobilidade e transportes.

http://casadahorta.pegada.net/entrada/

Casa da Horta, Associação Cultural

Rua de São Francisco, 12A
4050-548 Porto
Perto da Igreja de São Francisco e Mercado Ferreira Borges.




Sinopse do filme:
11 milhões de pessoas, quase 6 milhões de automóveis; um acidente a cada 3 minutos; uma pessoa morta a cada 6 horas; 8 vítimas fatais da poluição por dia.
No lugar da praça, o shopping center; no lugar da calçada, a avenida; no lugar do parque, o estacionamento; em vez de vozes, motores e buzinas.
Trabalhar para dirigir, dirigir para trabalhar: compre um carro, liberte-se do transporte público ruim. Aquilo que é público é de ninguém, ou daqueles que não podem pagar.
Vidros escuros e fechados evitam o contato humano. Tédio, raiva angústia e solidão na cidade que não pode parar, mas não consegue sair do lugar.

Um vídeo de
Branca Nunes e Thiago Benicchio

http://www.sociedadedoautomovel.cjb.net/