3.2.08

Excertos eloquentes do Sermão de Santo António aos Peixes a propósito do 400º aniversário do Padre António Vieira

«A maldade é comerem-se os homens uns aos outros, e os que a cometem são os maiores, que comem os pequenos»
Pe António Vieira


«…a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os que menos podem e os que menos avultam na república, estes são os comidos. (…) Porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos senão que devoram e engolem os povos inteiros»
Pe António Vieira


«….os pequenos. São o pão quotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem»
Pe António Vieira


«Parece-vos bem isto, peixes? Representa-se-me que com o movimento das cabeças estais todos dizendo que não, e com olhardes uns para os outros, vos estais admirando e pasmando de que entre os homens haja tal injustiça e maldade! Pois isto mesmo é o que vós fazeis. Os maiores comeis os pequenos; e os muito grandes não só os comem um por um, senão os cardumes inteiros, e isto continuamente sem diferença de tempos, não só de dia, senão também de noite, às claras e às escuras, como também fazem os homens. »
Pe António Vieira
A propósito do 400º aniversário do Padre António Vieira que será assinalado ao longo de todo este ano, já que aquela figura histórica nasceu a 6 de Fevereiro de 1608 em Lisboa, ocorre-nos reproduzir aqui alguns excertos do célebre Sermão de Santo António aos Peixes que foi pregado na igreja de São Luís, na véspera do seu embarque para Lisboa que se deu a 14 de Junho de 1654, viagem essa que se destinava a convencer D. João IV a aprovar uma legislação justa para os índios.
Apesar de sempre ter gravitado em torno do rei e da corte, importa lembrar que o Padre António Vieira se revelou como um persistente defensor dos grupos que na época eram os mais perseguidos: os índios brasileiros e os judeus.
Além disso, e não obstante a sua condição de religioso, os seus múltiplos textos mostram-no um ardente simpatizante das profecias do sapateiro de Trancoso, o célebre Bandarra, e que fizeram do Padre António Vieira uma viva ilustração do milenarismo utópico e universalista que se batia contra as injustiças sociais e o abastardamento e a corrupção das instituições vigentes.

E é justamente para criticar e censurar os vícios que alastravam nas sociedades humanas que o Padre António Vieira sente necessidade de pregar, dirigindo um sermão aos peixes, uma vez que os homens não dão ouvidos às suas palavras de denúncia e crítica.
Um dos vícios que é alvo da sua censura é o dos «peixes» se comerem uns aos outros, principalmente quando os grandes comem os pequenos.

http://www.anovieirino.com/

Excertos do Sermão de Santo António aos Peixes

A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho: Homines pravis, praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut pisces invicem se devorantes: «Os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros.» Tão alheia cousa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer! Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens.
Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os Brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer. Morreu algum deles, vereis logo tantos sobre o miserável a despedaçá-lo e comê-lo. Comem-no os herdeiros, comem-no os testamenteiros, comem-no os legatários, comem-no os credores; comem-no os oficiais dos órfãos e os dos defuntos e ausentes; come-o o médico, que o curou ou ajudou a morrer; come-o o sangrador que lhe tirou o sangue; come-a a mesma mulher, que de má vontade lhe dá para a mortalha o lençol mais velho da casa; come-o o que lhe abre a cova, o que lhe tange os sinos, e os que, cantando, o levam a enterrar; enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra.
Já se os homens se comeram somente depois de mortos, parece que era menos horror e menos matéria de sentimento. Mas para que conheçais a que chega a vossa crueldade, considerai, peixes, que também os homens se comem vivos assim como vós. Vivo estava Job , quando dizia: Quare persequimini me, et carnibus meis saturamini? «Porque me perseguis tão desumanamente, vós, que me estais comendo vivo e fartando-vos da minha carne?» Quereis ver um Job destes?
Vede um homem desses que andam perseguidos de pleitos ou acusados de crimes, e olhai quantos o estão comendo. Come-o o meirinho, come-o o carcereiro, come-o o escrivão, come-o o solicitador, come-o o advogado, come-o o inquiridor, come-o a testemunha, come-o o julgador, e ainda não está sentenciado, já está comido. São piores os homens que os corvos. O triste que foi à forca, não o comem os corvos senão depois de executado e morto; e o que anda em juízo, ainda não está executado nem sentenciado, e já está comido.
E para que vejais como estes comidos na terra são os pequenos, e pelos mesmos modos com que vós comeis no mar, ouvi a Deus queixando-se deste pecado: Nonne cognoscent omnes, qui operantur iniquitatem, qui devorunt plebem meam, ut cibum panis? «Cuidais, diz Deus, que não há-de vir tempo em que conheçam e paguem o seu merecido aqueles que cometem a maldade?» E que maldade é esta, à qual Deus singularmente chama maldade, como se não houvera outra no Mundo? E quem são aqueles que a cometem? A maldade é comerem-se os homens uns aos outros, e os que a cometem são os maiores, que comem os pequenos: Qui devorant plebem meam, ut cibum panis. Nestas palavras, pelo que vos toca, importa, peixes, que advirtais muito outras tantas cousas, quantas são as mesmas palavras. Diz Deus que comem os homens não só o seu povo, senão declaradamente a sua plebe: Plebem meam, porque a plebe e os plebeus, que são os mais pequenos, os que menos podem e os que menos avultam na república, estes são os comidos. E não só diz que os comem de qualquer modo, senão que os engolem e os devoram: Qui devorant. Porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam. E de que modo os devoram e comem? Ut cibum panis: não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres, é que para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come: e isto é o que padecem os pequenos. São o pão quotidiano dos grandes; e assim como o pão se come com tudo, assim com tudo e em tudo são comidos os miseráveis pequenos, não tendo nem fazendo ofício em que os não carreguem, em que os não multem, em que os não defraudem, em que os não comam, traguem e devorem: Qui devorant plebem meam, ut cibum panis. Parece-vos bem isto, peixes? Representa-se-me que com o movimento das cabeças estais todos dizendo que não, e com olhardes uns para os outros, vos estais admirando e pasmando de que entre os homens haja tal injustiça e maldade! Pois isto mesmo é o que vós fazeis. Os maiores comeis os pequenos; e os muito grandes não só os comem um por um, senão os cardumes inteiros, e isto continuamente sem diferença de tempos, não só de dia, senão também de noite, às claras e às escuras, como também fazem os homens.

(…)
os maiores que cá foram mandados, em vez de governar e aumentar o mesmo Estado, o destruíram; porque toda a fome que de lá traziam, a fartavam em comer e devorar os pequenos.

Manifestação regicida em Lisboa ( 1 de Fevereiro de 2008)


Para comemorar essa grande data da história da luta pela liberdade em Portugal, que foi o regicídio levado a cabo em 1908 por Alfredo da Costa e Manuel Buíça, e para honrar a memória daqueles que praticaram tamanho acto de libertação pagando pelo mesmo com as próprias vidas, realizou-se uma manifestação em Lisboa na tarde de 1 de Fevereiro.

Pelas 17.30, enquanto se realizava uma concentração monárquica no Terreiro do Paço, cerca de 30 pessoas irromperam pela dita praça , empunhando bandeiras negras e três faixas onde se podia ler


“O rei morreu. Viva o Costa”
“O rei morreu. Viva o Buíça”
“Xeque Mate”.


Foram gritadas palavras de ordem como


“Buíça está vivo nos nossos corações. Nem Rei. Nem Deus. Nem Pátria. Nem Patrões”
“Passaram cem anos desde o regicídio. Para os próximos governantes recomendamos o suicídio”
“Nem República, nem Monarquia. Morte ao Estado e viva a Anarquia”.


Após alguns minutos de permanência no Terreiro do Paço, como estávamos a estragar a festa de glorificação dos opressores do povo e de apagamento da memória das lutas sociais em Portugal, um grupo de polícias abordou a manifestação, dizendo que não podíamos estar ali “a provocar” e logo tratando de tentar apreender as faixas. Firmes no propósito que ali nos levava, não deixámos que nos tirassem as faixas e gritámos ainda com mais ânimo. Retirámos então em bloco do Terreiro do Paço e percorremos a Rua Augusta até ao Rosssio.

Terminámos o percurso no Rossio, em frente ao Café Gelo, local de encontro e conspiração dos revolucionários de há cem anos, em frente do qual afixámos duas faixas, após o que a manifestação dispersou.

Via http://redelibertaria.blogspot.com/

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Foi entretanto divulgado um folheto assinado por um grupo intitulado «Os Amig@s de Buíça e Costa» em homenagem a Alfredo da Costa e Manuel Buíça, que deram a vida pela causa da Liberdade e que pode ser lido aqui

«Sou pelas greves como sou por todos os métodos de resistência utilizados pelos fracos, pelos oprimidos, em defesa dos seus legítimos interesses (...). O meu ódio maior, a minha mais viva repulsa, dirigem-se aos patrões burgueses que nos exploram e que sem altivez servimos.» Alfredo Costa, segundo Aquilino Ribeiro (Um Escritor Confessa-se, Lisboa, 1974, p. 361)

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Movimento dos trabalhadores desempregados vai manifestar-se a 7 de Fevereiro em Setúbal

O Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) marcou para 7 de Fevereiro uma acção de protesto junto ao Centro de Emprego de Setúbal.

Esta medida surge na sequência de uma reunião que teve lugar passada semana para analisar a problemática do desemprego, num distrito fortemente afectado por este flagelo. Foram debatidos os impactos das novas leis laborais e sobretudo foi referido a importância de eleger a direcção regional de Setúbal do MTD.

Fonte: aqui

O casino de Chaves e a economia de casino

Usamos frequentemente a expressão «economia de casino». Com ela queremos normalmente caracterizar fenómenos como a financeirização da economia, as fortunas feitas na bolsa ou a especulação financeira desligada da economia real.

Mas a recente abertura de um casino em Chaves dá uma outra dimensão à expressão. Em dois anos, a fúria economicista do Governo mandou encerrar 50 escolas do 1º ciclo do ensino básico no concelho – mesmo criando um novo problema, reconhecido pela autarquia: a sobrelotação das 37 escolas existentes. A Maternidade pública fechou, mas um grupo de investidores já está a construir um hospital privado, mesmo ao lado do casino, com serviço de urgência 24 horas e maternidade, a inaugurar para o ano. Fala-se da possibilidade de encerrar o bloco operatório do Hospital Distrital durante a noite e de conceder a privados áreas como a medicina física e de reabilitação, as análises clínicas e a diálise. Os concelhos vizinhos da Régua, Alijó, Murça e Vila Pouca de Aguiar ficaram sem SAP. A agricultura é alvo da gula dos grandes interesses da Política Agrícola Comum. Os micro, pequenos e médios empresários tentam sobreviver à concorrência do lado de lá da fronteira - o IVA, 5% mais baixo em Espanha, arruina o comércio local.

Mas «Chaves abre as portas à diversão», como anuncia a publicidade do novo casino do Grupo Solverde. Que de resto também não faz cerimónia a explicar que o alvo não são propriamente as depauperadas populações de Trás-os-Montes e Alto Douro, mas antes os espanhóis, ali tão perto. A concessão de jogo ao Grupo Solverde é de 25 anos, o investimento de 40 milhões de euros e estão prometidos 220 postos de trabalho. 15% das receitas brutas do casino financiarão o turismo (que lhes trará mais jogadores), 1% irá para «entidades de relevância social» (a moderna forma da esmolinha ao pobre) e 4% para «requalificação ambiental» (que as autarquias da região já decidiram que servirá para pagar o aumento das taxas do lixo ao sistema multimunicipal).

O casino de Chaves e a realidade que o rodeia podiam servir de monumento à estratégia de desenvolvimento que o Governo do PS quer impor ao povo e ao país


Texto de Margarida Botelho retirado do jornal Avante