28.1.10

Acção simbólica nas ruas de Lisboa em defesa da Linha e do Vale do Tua

Na madrugada de 28 de Janeiro, foram pintadas placas de protesto nas sedes da EDP, Refer, CP, Ministérios das Obras Públicas e Transportes e do Ambiente, instituições responsáveis pela anunciada destruição da linha e do vale do Tua.



Na madrugada de quinta-feira dia 28 de Janeiro de 2010 levámos a cabo uma acção simbólica em defesa da linha e do vale do Tua. Os locais visados foram escolhidos pela sua quota-parte no processo plutocráctico que parece ter condenado em definitivo um património quer natural quer cultural. São eles a sede da EDP no Marquês de Pombal, a sede da REFER em Santa Apolónia, a sede da CP na Calçada do Duque, o Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território e o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.

A documentação textual e fotográfica desta acção pode ser consultada na página:
http://caretoslisboa.blogspot.com

Ao destruir esta linha destruir-se-á uma infraestrutura de transporte energeticamente eficiente para construir uma barragem ineficiente.
Destruir-se-á uma infraestrutura importante para a coesão social e fixação das populações.
Destruir-se-á um potencial turístico e de desenvolvimento económico.
Continua-se a represar e matar os rios e o povo de Trás-os-Montes, região que produz já metade de toda a energia hídrica em Portugal, e que continua a definhar económica e socialmente.

Pelo desenvolvimento, pelo povo transmontano, contra a destruição da linha e do vale do Tua

Caretos de Lisboa


Apresentamos no seguinte comunicado as razões para esta acção.


COMUNICADO

O que querem fazer é um crime!
Mário Soares, em visita à linha do Tua [RTP, 28/2/2008]


A linha do Tua é uma linha ferroviária de via estreita que atravessa a região de Trás-os-Montes e Alto Douro. A sua construção iniciou-se ainda no século XIX, ficando concluída em 1906 a ligação entre a linha do Douro e Bragança, a capital de distrito. Dos cerca de 134 km iniciais funcionam hoje apenas alguns parcos quilómetros, distribuídos por oito estações que servem a cidade de Mirandela. Desde a infame noite do roubo de 1992 que cortou a ligação a Bragança até aos sucessivos acidentes que têm vindo a adiar a circulação na restante linha, o futuro do único transporte ferroviário nesta região está em risco. Outra ameaça advém da construção da barragem da foz do Tua, inserida no Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico (PNB). Outorgada à EDP, a conclusão do paredão da barragem ditaria em definitivo o fim da linha do Tua tal como a conhecemos, devido à submersão duma parte do seu troço e o seu consequente isolamento da rede ferroviária nacional.


As justificações avançadas para o fecho de vários troços da linha e para o avanço da barragem são várias e estão em última análise intimamente ligadas. A desconstrução de tais razões tem vindo a ser sucessivamente feita por alguns partidos com assento no parlamento, por movimentos cívicos e por algumas das autarquias afectadas e com a defesa concomitante da preservação da linha e do vale do Tua. Relembremos brevemente os pontos principais.


Quanto à barragem, refira-se que a da foz do Tua faz parte de um pacote de dez proposto pela legislatura anterior, cujo objectivo seria diminuir quer a libertação de gases de efeito de estufa, quer assegurar uma maior produção endógena de energia eléctrica. Um relatório recente encomendado pela Comissão Europeia faz eco das críticas lançadas por várias organizações ambientalistas: o PNB foi mal planeado por ignorar as exigências de qualidade do Plano Nacional da Água, os próprios Planos de Ordenamento das Bacias Hidrográficas e os efeitos de erosão costeira. Em termos energéticos, há também várias falácias. Em 2009, às oito hidroeléctricas licenciadas nesse ano corresponde um aumento da potência média de 130 MW, o que corresponde apenas a 2,2 GW do consumo nacional, valor que, surpreendentemente, iguala a procura anual de energia eléctrica. Este avultado investimento no PNB ainda se torna mais inexplicável se tivermos em conta que, em termos energéticos, a principal dependência do país respeita à importação de petróleo, o que não está de todo relacionado com a implementação de energias renováveis; o sector dos transportes rodoviários, em particular, era responsável por cerca de 33% da energia usada em Portugal em 2006 e é verosímil que essa percentagem continue a aumentar; há portanto uma profunda contradição entre o querer aumentar a proporção de energias renováveis enquanto se concedem subsídios ao sector automóvel, a par dos sucessivos investimentos de centenas de milhões de euros em auto-estradas. O próprio orçamento de estado de 2010 trata o investimento nas barragens numa lógica geradora de emprego mas não reporta nem a pouca especialização necessária para os mesmos, nem a sua duração estar ligada apenas ao tempo de feitura das obras, nem os custos a longo prazo que todas elas provocarão. Reina a propaganda alegre que se alimenta destas obras sem visão. Sem um plano de educação para a eficiência energética, as barragens vão apenas protelar o problema do aumento da intensidade energética do país enquanto delapidam recursos e valores irrecuperáveis.


Ao nível local, os absurdos da barragem da foz do Tua tornam-se ainda mais flagrantes. A localização prevista para o paredão situa-se apenas a um quilómetro do vale do Douro, património mundial da humanidade. Além de submergir e afectar a agricultura e a vitivinicultura locais através dos novos níveis de humidade, é certo que descaracterizará, completa e irreversivelmente, a beleza paisagística não só da afluência do Tua no Douro mas também do próprio vale do Tua. O Estudo de Impacte Ambiental, para além destes efeitos nefastos, menciona também o risco sísmico acrescido com a instalação da barragem e os efeitos negativos daí decorrentes para as economias locais e para o movimento e dinâmica das populações. A EDP, através de uma campanha de publicidade fraudulenta que contou com a vergonhosa conivência da TSF, tentou deturpar estes factos; sugeriu até que a barragem do Tua introduziria desenvolvimento, turismo e emprego. Se de facto as barragens acrescentassem algo ao desenvolvimento local, como explicar o paradoxo de mais de metade da produção hidroeléctrica nacional estar sedeada na região de Trás-os-Montes e daí não ter acrescido nenhuma riqueza local? A região é na verdade a mais pobre do país e uma das mais pobres da União Europeia. A lógica parece ser, uma outra vez, a de sacrificar ou suspender o desenvolvimento da região trasmontana em função do suposto benefício nacional, o que é, para as suas populações, um fado recorrente que as tem votado ao isolamento, à emigração, ao esquecimento.


No caso dos sucessivos fechos dos troços da linha do Tua, a REFER e a CP justificaram as amputações com razões relacionadas com a rentabilidade da linha e com as baixas taxas de utilização da mesma. Para lá de terem omitido desse critério a falta de coordenação com a linha do Douro, os horários desadequados às necessidades das populações e a ausência de publicidade turística aos reconhecidos méritos paisagísticos do vale do Tua, ficou por dizer que um linha será tão mais atractiva quanto mais investimento for nela feito. O que não impediu que em 2006 cerca de 42000 turistas a tenham visitado. A falta de manutenção da linha e das carruagens é tão crónica que a última renovação dos carris e do balastro remonta a 1991. Se as taxas de utilização e respectiva rentabilidade fossem o único critério para decidir a viabilidade de um empreendimento de uma empresa pública, quer o metro do Porto, quer a Carris teriam de fechar portas, dado não cumprirem tais requisitos e serem, tal como a CP e a REFER, empresas públicas com enormes dívidas.


O que deve ser sublinhado e constituir-se como critério fundamental de avaliação da conservação da linha é a coesão regional e social introduzida por tal transporte público. A acessibilidade a transportes e a quantidade de movimentos por eles proporcionados têm influências imediatas na fixação das populações e nas possibilidades reais de trocas de bens e serviços. Num concelho que enfrenta problemas graves de envelhecimento e desertificação, a preservação da linha do Tua é um elemento capital para a sua revitalização. O corte da ligação ferroviária a Bragança em 1992 provocou a perda de capital humano e desfalcou ainda mais o concelho; o discurso político de então prometia o desenvolvimento, numa lógica excludente da ferrovia, através das estradas do IP2 e do IP4; dezoito anos mais tarde, é o mesmo argumento que pretende salvaguardar o desenvolvimento da região através do prolongamento da A4; a complementaridade com a ferrovia não é sequer contemplada, apesar de ter sido durante décadas a única via de comunicação responsável pela ligação do concelho ao litoral e por ter introduzido mais vida no concelho.


Esta estratégia de negligência e abandono da linha do Tua enquadra-se noutra mais geral levada a cabo pelas empresas públicas responsáveis pela danosa administração e gestão da rede ferroviária nacional, com o beneplácito dos vários governos. Não se compreende de todo a parcialidade com que é preterido um transporte eficiente e estruturante em favor de auto-estradas cada vez mais supérfluas, quando no mínimo ambas as modalidades de transporte terrestre deveriam ser complementares. Para o caso do Tua, esta estratégia é ainda mais absurda dado o reconhecido potencial turístico da linha e da região. A linha do Tua está ligada ao Douro – um pólo turístico fundamental, segundo o Plano Estratégico do Turismo – e já em 2012, Bragança estará a 30km de Puebla de Sanabria, uma cidade espanhola com TGV; outra ligação a Espanha por Barca de Alva é também uma concreta possibilidade. Para além de ser um elemento dinamizador das actividades económicas locais, as ligações ferroviárias permitiriam que o turismo vingasse. Á semelhança do que foi feito na própria Espanha, a preservação das vias estreitas representa uma aposta no turismo da natureza e na preservação activa do mundo rural. O desaparecimento da linha e do vale do Tua seria uma calamidade porque significaria precisamente a destruição de uma memória viva, de uma paisagem em que a obra humana está profundamente imbricada na envolvente natural e em que uma não é distinguível da outra. É de facto todo um património que testemunha a possibilidade real de haver construções humanas que não desvirtuam mas até completam a natureza, ao convidarem o homem a nela demorar-se. Quando uma grande parte do Portugal turístico é assolada pela convivência de um urbanismo duvidoso com as respectivas paisagens naturais, é gratificante saber que há ainda valores paisagísticos e produtos genuínos que teimosamente persistem em repontar numa região cronicamente esquecida. É imperioso não ceder ao perigo de transformarmos o vale do Tua e as suas gentes, tal como muitas outras regiões portuguesas, numa memória das gestas de outrora a serem futuramente admiradas num museu, em terras estranhas ao próprio território português de onde assomaram.


Nada do que ficou dito é novidade. Estes argumentos são por demais conhecidos e têm vindo a fazer parte do possível debate entre os proponentes da barragem e os defensores do rio, da linha e da região. Recorde-se a anormal celeridade com que decorreu a concessão à EDP e o silêncio cúmplice das autoridades no que respeita aos acidentes decorridos na linha. Perante a relevância inequívoca dos argumentos, a intenção da EDP e do actual governo levarem a cabo a execução da barragem é nada mais que um autêntico sintoma do pueril sistema democrático do Portugal contemporâneo. O esquecimento do interior, a ridicularização da questão por parte dos deputados eleitos pelos círculos regionais, ao invés de se pautarem pelos interesses das populações que os elegeram, a falta de cidadania da população em geral e a surdez das autoridades competentes para esta questão traduzem a pusilanimidade da nossa democracia. Os transportes são um direito fundamental dos cidadãos e a destruição do vale do Tua será um crime político, cultural e económico, feito com o aval do estado português.


Sem querermos obviar as diligências das poucas iniciativas cívicas e partidárias que alertam para esta infracção por via dos trâmites normais, pretendemos manifestar o nosso desprezo pela forma dissimulada com que as entidades envolvidas lidaram com a questão e com o interesse nacional. A escrita nas paredes das entidades responsáveis é uma escrita de confronto, de alerta e de dever, uma resposta possível à violência do ocorrido: a intencionalmente ridícula campanha de publicidade da EDP, a incúria da CP e da REFER, a promiscuidade dos Ministérios do Ambiente e das Obras Públicas e Transportes e a obediência partidária prometem sacrificar mais uma parte de Portugal a interesses ilegítimos e efémeros. Atribuímos o processo de destruição da linha e do vale do Tua à falência do conceito actual de democracia representativa; se a linha e o vale do Tua são valores nacionais com uma longa história e se a evidência da sua perda não é escutada por quem de direito, devem ser reclamados por todos os portugueses.
Terminamos dizendo basta e apelando à veemente defesa da linha e do vale do Tua por parte de todos os portugueses.


CARETOS LISBOA




Quando Portugal e a Igreja Católica se uniram para submeter os africanos à escravatura perpétua.

Em 1455, o papa Nicolau V concedeu a Afonso V, entre outros direitos, o de reduzir à escravatura perpétua os habitantes de todos os territórios africanos a sul do Cabo Bojador.

A
Dum Diversas é uma bula papal dirigida a D. Afonso V de Portugal e publicada em 18 de junho de 1452 pelo Papa Nicolau V. Através desta Bula, o Papa afirma:

«(...) nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo, onde quer que estejam, como também seus reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades (...) e reduzir suas pessoas à perpétua escravidão, e apropriar e converter em seu uso e proveito e de seus sucessores, os reis de Portugal, em perpétuo, os supramencionados reinos, ducados, condados, principados e outras propriedades, possessões e bens semelhantes (...).»

Em 8 de janeiro de 1554, estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha.

Em 1455 Nicolau V publicou uma outra bula dirigida a D. Afonso V, a
"Romanus Pontifex" que reafirma o texto da bula Dum Diversas ao dizer:

«Guinéus e negros tomados pela força, outros legitimamente adquiridos foram trazidos ao reino, o que esperamos progrida até a conversão do povo ou ao menos de muitos mais. Por isso nós, tudo pensando com devida ponderação concedemos ao dito rei Afonso a plena e livre faculdade, entre outras, de invadir, conquistar, subjugar a quaisquer sarracenos e pagãos, inimigos de Cristo, suas terras e bens, a todos reduzir à servidão e tudo praticar em utilidade própria e dos seus aos mesmos D. Afonso e seus sucessores, e ao infante. Se alguém, indivíduo ou colectividade, infringir essas determinações, seja excomungado.»

Transcrição do texto encontrado no blogue:
http://www.portugalremix.net/

Está a decorrer um curso jurídico sobre o Direito e os direitos de pessoas com deficiência na Fac. de Direito de Lisboa

No âmbito das actividades de formação da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) de 6 de Novembro de 2009 a 12 de Fevereiro de 2010 realiza-se a primeira edição do Curso Pós-graduado de Actualização "O Direito e os Direitos de Pessoas com Deficiência", uma iniciativa com coordenação de Carla Amado Gomes e Jaime Valle organizada pelo Instituto de Ciências Jurídico-Políticas (ICJP) em colaboração com a Fundação LIGA.

Diversidade e direitos, enquadramento constitucional dos direitos fundamentais das pessoas com deficiência, incapacidades e suprimento na perspectiva da sociologia e do direito, convenções internacionais e Direito Comunitário sobre os direitos de pessoas com deficiência, administração pública e discriminação positiva das pessoas com deficiência, discriminação positiva das pessoas com deficiência na sua relação com a administração fiscal, promoção da acessibilidade de edifícios públicos, vias públicas e equipamentos colectivos na perspectiva da arquitectura e do direito, instrumentos de planeamento urbanístico na execução de políticas de inclusão, regime jurídico de acesso ao trabalho e de protecção dos direitos das pessoas com deficiência e prática desportiva e acesso ao desporto são algumas questões analisadas no presente curso, que reúne professores, conferencistas e investigadores de diferentes áreas do conhecimento.

PROGRAMA

1.ª sessão – Dia 6 de Novembro
Sessão Inaugural
Jorge Miranda, Presidente do ICJP
Idália Moniz, Secretária de Estado da Reabilitação
Guida Faria, Presidente da Fundação LIGA

Conferência: Diversidade e direitos
Laborinho Lúcio

2.ª sessão – Dia 13 de Novembro
Perspectiva e enquadramento constitucional dos direitos fundamentais das pessoas com deficiência
António Araújo

3.ª sessão – Dia 20 de Novembro
As pessoas com deficiência como sujeitos de direitos e deveres. Incapacidades e suprimento – a visão do Sociólogo
Paula Campos Pinto

4.ª sessão – Dia 27 de Novembro
As pessoas com deficiência como sujeitos de direitos e deveres. Incapacidades e suprimento – a visão do Jurista
Jorge Duarte Pinheiro

5.ª sessão – Dia 4 de Dezembro
As convenções internacionais sobre os direitos de pessoas com deficiência
Jaime Valle

6.ª sessão – Dia 11 de Dezembro
O Direito Comunitário e os direitos das pessoas com deficiência
Ana Fernanda Neves

7.ª sessão – Dia 18 de Dezembro
Administração Pública e discriminação positiva das pessoas com deficiência
José Manuel Madeira Serôdio

8.ª sessão – Dia 8 de Janeiro
A discriminação positiva das pessoas com deficiência na sua relação com a administração fiscal
Guilherme d'Oliveira Martins

9.ª sessão – Dia 15 de Janeiro
A supressão de barreiras arquitectónicas e a promoção da acessibilidade de edifícios públicos, vias públicas e equipamentos colectivos – a visão do Arquitecto
José Pedro Martins Barata

10.ª sessão – Dia 22 de Janeiro
A supressão de barreiras arquitectónicas e a promoção da acessibilidade de edifícios públicos, vias públicas e equipamentos colectivos – a visão do Jurista
André Folque

11.ª sessão – Dia 29 de Janeiro

Os instrumentos de planeamento urbanístico como meio de execução de políticas de inclusão
André Folque

12.ª sessão – Dia 5 de Fevereiro
Regime jurídico de acesso ao trabalho, de protecção dos direitos das pessoas com deficiência e respectiva execução
Pedro Romano Martinez

13ª sessão – Dia 12 de Fevereiro
Desporto e cidadãos com deficiência
José Manuel Meirim

Informação disponível
aqui.

KINO 2010, a 7ª Mostra de Cinema de Expressão Alemã em Lisboa

O Goethe-Institut e a EGEAC, juntamente com as Embaixadas da Áustria, da Suíça e do Luxemburgo e o ABC Cineclube, voltam a convidar o público cinéfilo de Lisboa a visitar entre os dias 27 de Janeiro e 4 de Fevereiro de 2010 o Cinema São Jorge para assistir à nova edição de KINO. Esta mostra de cinema de expressão alemã, que desde 2008 adoptou o nome KINO, já chegou à sua sétima edição e, no ano passado, a KINO conseguiu somar mais de 2.000 espectadores.

A mostra será inaugurada com a ante-estreia nacional do filme
John Rabe de Florian Gallenberger. O filme narra a história verídica do comerciante alemão John Rabe que se mudou para a China onde, em 1931, foi director comercial da filial da Siemens na então capital chinesa, Nanjing. Durante o massacre japonês que ocorreu nesta cidade em 1937, John Rabe teve um papel decisivo no estabelecimento de uma zona de protecção para a população civil, salvando assim a vida de mais de 200.000 chineses. Florian Gallenberger, que em 2001 ganhou o Óscar Para a Melhor Curta-Metragem com Quiero Ser, estará em Lisboa para apresentar pessoalmente o seu filme que em 2009 foi premiado com um dos mais importantes prémios de cinema da Alemanha, o Deutscher Filmpreis.

A programação da KINO 2010 irá de novo abraçar todos os géneros cinematográficos - da comédia ao drama e do documentário à ficção: entre os filmes seleccionados estão a comédia suíça
Guilias Verschwinden (O Desaparecimento de Giula/ Prémio do Público, Locarno 2009) que gira em torno do envelhecimento e da juventude e conta com a participação do actor Bruno Ganz ( As Asas do Desejo); Das Vaterspiel (O Jogo do Pai)), do aclamado realizador austríaco Michael Glawogger, que trata da culpa e do perdão, cruzando três histórias e o destino de três famílias; o documentário Frau mit 5 Elefanten (A mulher com 5 Elefantes) que desenha um admirável e comovente retrato de Swetlana Geier, uma das mais importantes tradutoras russas das obras de Dostoijewski na Alemanha; AnonymaSturm (Tempestade) de Hans-Christian Schmid que tem o conflito dos Balcãs como pano de fundo e foca o julgamento de crimes de guerra cometidos na ex-Jugoslávia; e Pipermint, em que Merete Becker é uma das protagonistas e compositora da banda-sonora deste divertido roadmovie.

O encerramento da KINO será feito com o mais recente filme de Detlev Buck,
Same, same but different, galardoado no Festival de Locarno de 2009 com o “Variety Piazza Grande Award“ e que conta a história de amor que decorre no Cambodja entre Benjamin (David Kross, conhecido em Portugal pelo seu desempenho em O Leitor) e a jovem Sreykeo, que é seropositiva.

Até há vinte anos atrás, com a RDA existiu um quinto país de expressão alemã. No âmbito das comemorações dos vinte anos da reunificação da Alemanha, a KINO de 2010 apresenta uma pequena selecção de filmes produzidos pelos estúdios da DEFA que articulam histórias vividas na Alemanha Oriental durante o período da Guerra-fria:
Der geteilte Himmel (O Céu Dividido) de Konrad Wolf, baseado na obra homónima da escritora Christa Wolf e onde se articula a problemática de uma Alemanha dividida através de uma história de amor; Das Kaninchen bin ich (O Coelhinho Sou Eu) que, devido à sua crítica social, esteve proibido na RDA; Berlin – Ecke Schönhauser (Berlin – Esquina Schönhauser) um dos clássicos dos estúdios da DEFA que, próximo do estilo do neo-realismo italiano, nos mostra o quotidiano da juventude na Alemanha Oriental nos anos cinquenta e, por fim, Coming Out, o primeiro filme de temática gay a ser exibido na RDA e que estreou na mesma noite em que o muro de Berlim caiu (9 de Novembro de 1989).Uma novidade da KINO é a integração da selecção de curtas-metragens Next Generation, uma iniciativa da German Films que é apresentada anualmente no Festival de Cannes e, através da qual, jovens realizadores, finalistas de diversas escolas de cinema alemãs, têm a oportunidade de mostrar os seus trabalhos a um público internacional. No Cinema São Jorge, as sessões com início às 21.30 horas serão sempre antecedidas por uma destas curtas-metragens.

Outra novidade é o destaque que a programação dará ao público jovem. Além da habitual matiné familiar que, este ano, apresenta o conto fantástico do jovem
Krabat (com Daniel Brühl, protagonista de Goodbye Lenin) e a história Perlmutterfarbe que se desenrola numa cidade da Baviera em 1931 e que mostra quais as consequências de uma pequena e inocente mentira, haverá ainda um programa concebido para jovens estudantes: paralelamente à mostra no Cinema São Jorge irá decorrer o ciclo Cinema Jovem especialmente pensado para os alunos do Ensino Secundário. As sessões realizam-se no Goethe-Institut e têm início sempre às 14.30 horas, sendo necessário que as respectivas turmas façam uma marcação prévia.

27.01.2010
John Rabe
Realização: Florian Gallenberg, cores, 134 min., 2007/2009, Alemanha
curta-metragem: Spatzen (Pardais) Cinema São Jorge, Lisboa

28.01.2010
Luftbusiness
Realização: Dominique de Rivaz, cor, 89 min., 2008, Suíça Cinema São Jorge, Lisboa
28.01.2010
Sturm (Tempestade)
Realização: Hans-Christian Schmid, cor, 110 min., 2008/2009, Alemanha
curta-metragem: Clean Up Cinema São Jorge, Lisboa


29.01.2010
Ghosted
Realização: Monika Treut, cor, 89min., 2008, Alemanha Cinema São Jorge, Lisboa

29.01.2010
Es kommt der Tag (Chega o dia)
Realização: Susanne Schneider, cor, 108 min., 2008/2009
curta-metragem: Amoklove Cinema São Jorge, Lisboa

30.01.2010
Krabat
Realização: Marco Kreuzpaintner, cor, 120 min., 2006/2008, Alemanha Cinema São Jorge, Lisboa

30.01.2010
Giulias Verschwinden (O desaparecimento de Giulia)
Realização: Christoph Schaub, cor, 87 min.2009, Suíça Cinema São Jorge, Lisboa

30.01.2010
Das Vaterspiel (O jogo do pai)
Realização: Michael Glawogger, cor, 117 min., 2009, Áustria
curta-metragem: Between Cinema São Jorge, Lisboa

31.01.2010
Die Perlmutterfarbe (A cor madrepérola)
Realização: Marcus H. Rosenmüller, cor, 103 min., 2008/2009, Alemanha Cinema São Jorge, Lisboa

31.01.2010
Die Frau mit den 5 Elefanten (A Mulher com 5 elefantes)
Realização: Vadim Jendreyko , cor, 93 min., 2009, documentário, Alemanha Cinema São Jorge, Lisboa

31.01.2010
Anonyma – eine Frau in Berlin (Anónima – uma mulher em Berlim)
Realização: Max Färberböck, cor, 131 min., 2008, Alemanha
curta-metragem: Samsa – Homenagem a Franz Kafka Cinema São Jorge, Lisboa


01.02.2010
Berlin – Ecke Schönhauser (Berlim – Esquina Schönhauser)
Realização: Gerd Klein, p/b, 79 min., 1957, Alemanha Cinema São Jorge, Lisboa

01.02.2010
Totó
Realização: Peter Schreiner, p/b, 128 min, 2007 – 2009, documentário, Áustria
curta-metragem: Lebensader Cinema São Jorge, Lisboa

02.02.2010
Der geteilte Himmel (O Céu Dividido)
Realização: Konrad Wolf, cor, 113 min., 1963/1964 Cinema São Jorge, Lisboa

02.02.2010
Pipermint – Das Leben möglicherweise (Pipermint – a vida provavelmente)
Realização: Nicole-Nadine Deppé, 2003, Luxemburgo
curta-metragem: Rosarot Cinema São Jorge, Lisboa

03.02.2010
Das Kaninchen bin ich (O coelho sou eu)
Realização: Kurt Maetzig, p/b, 114 min.,1965, Alemanha Cinema São Jorge, Lisboa

03.02.2010
So glücklich war ich noch nie (Nunca fui tão feliz)
Realização: Alexander Adolph, cores, 92 min.,2008/2009, Alemanha
curta-metragem: I Don’t Feel Like Dancing Cinema São Jorge, Lisboa


04.02.2010
Coming Out
Realização: Heiner Carow, cor, 112 min., 1989, Alemanha Cinema São Jorge, Lisboa

04.02.2010
Same, same but different
Realização: Detlev Buck, cor, 105 min., 2008/2009, Alemanha
curta-metragem: You Are My Hero

Amanhã ( sexta-feira, dia 29 de Janeiro) há bicicletadas em Lisboa, Porto, Aveiro e Coimbra


Bicicletadas / Massas Críticas de 29 de Janeiro de 2010


Sex, 29/01/2010 - 18:00 - 20:30
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Aveiro
- Concentração às 18h30 e saída às 19h00, no Forum Aveiro, ao lado da Capitania;
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Coimbra
- Encontro: Largo da Portagem, junto à estátua do Mata Frades;
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Lisboa
- Concentração às 18:00 e saída às 19:00, no Marquês Pombal, no início do Parque Eduardo VII;
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Porto
- Concentração às 18h30 e saída às 19h00, na Praça dos Leões.


...Há alguma variedade na hora de início das bicicletadas pois, para além do mais, espera-se sempre cerca de meia hora pela chegada de mais participantes... E como anoitece mais cedo é bom trazerem luzes e reflectores... Se estiver tempo húmido também é bom trazerem vestuário de protecção...


Aparece e traz amigas/os

A guerra do Afeganistão vista por Eça de Queiroz



«Os ingleses estão experimentando, no seu atribulado império da Índia,a verdade desse humorístico lugar comum do sec. XVIII: 'A História é uma velhota que se repete sem cessar'. O Fado e a Providência, ou a Entidade qualquer que lá de cima dirigiu os episódios da campanha do Afeganistão em 1847, está fazendo simplesmente uma cópia servil, revelando assim uma imaginação exausta.

Em 1847 os ingleses, "por uma Razão de Estado, uma necessidade de fronteiras científicas, a segurança do império, uma barreira ao domínio russo da Ásia..." e outras coisas vagas que os políticos da Índia rosnam sombriamente, retorcendo os bigodes - invadem o Afeganistão, e aí vão aniquilando tribos seculares, desmantelando vilas, assolando searas e vinhas: apossam-se, por fim, da santa cidade de Cabul; sacodem do serralho um velho emir apavorado; colocam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e, logo que os correspondentes dos jornais têm telegrafado a vitória, o exército, acampado à beira dos arroios e nos vergéis de Cabul, desaperta o correame, e fuma o cachimbo da paz... Assim é exactamente em 1880.

No nosso tempo, precisamente como em 1847, chefes enérgicos, Messias indígenas, vão percorrendo o território, e com os grandes nomes de "Pátria" e de "Religião", pregam a guerra santa: as tribos reúnem-se, as famílias feudais correm com os seus troços de cavalaria, príncipes rivais juntam-se no ódio hereditário contra o estrangeiro, o "homem vermelho", e em pouco tempo é tudo um rebrilhar de fogos de acampamento nos altos das serranias, dominando os desfiladeiros que são o caminho, a estrada da Índia... E quando por ali aparecer, enfim, o grosso do exército inglês, à volta de Cabul, atravancado de artilharia, escoando-se espessamente, por entre as gargantas das serras, no leito seco das torrentes, com as suas longas caravanas de camelos, aquela massa bárbara rola-lhe em cima e aniquila-o.


Foi assim em 1847, é assim em 1880. Então os restos debandados do exército refugiam-se nalguma das cidades da fronteira, que ora é Ghasnat ora Kandahar: os afegãos correm, põem o cerco, cerco lento, cerco de vagares orientais: o general sitiado, que nessas guerras asiáticas pode sempre comunicar, telegrafa para o viso-rei da Índia, reclamando com furor "reforços, chá e açúcar"! (Isto é textual; foi o general Roberts que soltou há dias este grito de gulodice britânica; o inglês, sem chá, bate-se frouxamente). Então o governo da Índia, gastando milhões de libras, como quem gasta água, manda a toda a pressa fardos disformes de chá reparador, brancas colinas de açúcar, e dez ou quinze mil homens. De Inglaterra partem esses negros e monstruosos transportes de guerra, arcas de Noé a vapor, levando acampamentos, rebanhos de cavalos, parques de artilharia, toda uma invasão temerosa... Foi assim em 1847, assim é em 1880.


Esta hoste desembarca no Industão, junta-se a outras colunas de tropa índia, e é dirigida dia e noite sobre a fronteira em expressos a quarenta milhas por hora; daí começa uma marcha assoladora, com cinquenta mil camelos de bagagens, telégrafos, máquinas hidráulicas, e uma cavalgada eloquente de correspondentes de jornais. Uma manhã avista-se Kandahar ou Ghasnat;- e num momento, é aniquilado, disperso no pó da planície o pobre exército afegão com as suas cimitarras de melodrama e as suas veneráveis colubrinas do modelo das que outrora fizeram fogo em Diu. Ghasnat está livre! Kandahar está livre! Hurrah! Faz-se imediatamente disto uma canção patriótica; e a façanha é por toda a Inglaterra popularizada numa estampa, em que se vê o general libertador e o general sitiado apertando-se a mão com veemência, no primeiro plano, entre cavalos empinados e granadeiros belos como Apolos, que expiram em atitude nobre! Foi assim em 1847; há-de ser assim em 1880.

No entanto, em desfiladeiro e monte, milhares de homens que, ou defendiam a pátria ou morriam pela "fronteira científica", lá ficam, pasto de corvos - o que não é, no Afeganistão, uma respeitável imagem de retórica: aí, são os corvos que nas cidades fazem a limpeza das ruas, comendo as imundices, e em campos de batalha purificam o ar, devorando os restos das derrotas.

E de tanto sangue, tanta agonia, tanto luto, que resta por fim? Uma canção patriótica, uma estampa idiota nas salas de jantar, mais tarde uma linha de prosa numa página de crónica...
Consoladora filosofia das guerras!

No entanto, a Inglaterra goza por algum tempo a "grande vitória do Afeganistão" - com a certeza de ter de recomeçar, daqui a dez anos ou quinze anos; porque nem pode conquistar e anexar um vasto reino, que é grande como a França, nem pode consentir, colados à sua ilharga, uns poucos de milhões de homens fanáticos, batalhadores e hostis. A "política" portanto é debilitá-los periodicamente, com uma invasão arruinadora. São as fortes necessidades dum grande império.
Antes possuir apenas um quintalejo, com uma vaca para o leite e dois pés de alface para as merendas de verão...»

(Eça de Queiroz, in Cartas de Inglaterra
)