Depois de recuperado fisicamente o local podia ser aproveitado para varios fins culturais como uma biblioteca\arquivo do espólio cultural da aldeia por exemplo e\ou servir de espaço para serem leccionados cursos na aldeia, numa das salas do edifício da escola, sendo que a outra sala poderia funcionar como uma biblioteca, ludoteca e arquivo local!!!
6.10.10
É urgente salvar e recuperar a escola de Castelo Branco, Mogadouro
Depois de recuperado fisicamente o local podia ser aproveitado para varios fins culturais como uma biblioteca\arquivo do espólio cultural da aldeia por exemplo e\ou servir de espaço para serem leccionados cursos na aldeia, numa das salas do edifício da escola, sendo que a outra sala poderia funcionar como uma biblioteca, ludoteca e arquivo local!!!
Pobreza Urbana e Solidariedade Intergeracional ( a experiência da AGIRXXI em Vila d'Este) é o tema da tertúlia hoje à noite no bar-livraria Gato Vadio
Quarta-feira, dia 6, 21h15
Entrada Livre
Gato Vadio, bar-livraria
Apresentação do projecto “O Poder do Povo” no espaço Musas ( 7 de Outubro, às 22h.)
O Espaço Musas tem a honra de o/a convidar para a apresentação do projecto “O Poder do Povo”,
de Elizabeth Ida, José Simões e Koert Jobse,
what the heck are we getting now?
it’s for free and without taxes, just take it one solution, revolution
quinta-feira 7 de Outubro 22h
“La diferencia entre el sistema comunista y el capitalista es que, aunque los dos dan una patada en el culo, en el comunista te la dan y tienes que aplaudir, y en el capitalista te la dan y uno puede gritar; yo vine aquí a gritar”
Reinaldo Arenas
1st social public presentation in all world and conversation around capitalism vs activism
1ª apresentação pública social em todo o mundo e conversa em torno do capitalismo vs activismo.
People Power Pill, was born in Artist Residency, Artis Den Bosch, in s’Hertogenbosch,
project by Elisabeth Ida (IND), José Simões (Por) and Koert Jobse (NL). 2009, developed in Den Bosch.
Elisabeth Ida (Ind) / www.elisabethida.com
José Simões (Por) / www.cargocollective.com/josesimoes
Koert Jobse (NL) / www.nowshow.it
Projecto PowerPill / www.usethepill.tumblr.com
Assembleia preparatória da Contra Cimeira NATO e acções de rua contra a guerra do Afeganistão
ASSEMBLEIA PREPARATÓRIA DA CONTRA-CIMEIRA NATO
Data: 16 de Outubro, 14h
Local: Associação Caboverdeana, Rua Duque de Palmela, nº2, 8º andar
Programa:
14:00 – 15:30
Boas vindas e explicações iniciais
Palestra resumida de abertura: A NATO e a UE, Willy Meyer
Onde estamos – Onde queremos ir: Acções durante a Contra Cimeira
Informações e discussões
16:00 – 20:00 – Grupos de trabalho
Mobilização para a Contra Cimeira
Desobediência Civil
Trabalho com os Média
Praça da Paz
Nos dias 19 e 20 de Novembro, Lisboa receberá a Cimeira da NATO para discutir o novo conceito estratégico da aliança militar.
O Estado português prepara-se a rigor para esteve evento e já investiu 5 milhões de euros só em equipamento anti-motim para as forças policiais. Lisboa estará em alerta de segurança máxima para receber os senhores da guerra.
...
Porque não aceitamos esta política belicista e defendemos a extinção da NATO, porque exigimos a retirada imediata das tropas portuguesas do Afeganistão e a respectiva saída de Portugal desta aliança militar, porque consideramos a estratégia da NATO o braço armado do imperialismo dos E.U.A., porque recusamos os gastos militares milionários, porque defendemos de forma intransigente a paz, organizamo-nos e preparamos o protesto contra os senhores da guerra.
A PAGAN (Plataforma Anti-Guerra e Anti-Nato) convida todas as organizações, movimentos e cidadãos a participar na Assembleia Preparatória da Contra-Cimeira a realizar no dia 16 de Outubro pelas 14h, na Associação Caboverdeana, na Rua Duque de Palmela nº2, 8ºandar.
PORTUGAL FORA DA GUERRA E FORA DA NATO
Plataforma Anti-guerra, Anti-NATO
http://antinatoportugal.wordpress.com/
antinatoportugal@gmail.com
ACÇÕES DE RUA contra a Guerra do Afeganistão ( 9 de Outubro)
No âmbito dos 9 anos da Guerra do Afeganistão, entre 7 e 10 de Outubro, a Plataforma Anti-guerra Anti-NATO participará num Dia Internacional de Acção por um cessar fogo no Afeganistão e está a programar acções de rua em Lisboa e no Porto.
ler também: http://www.endafghanistanwar.com/
Solidariedade no Porto com os squatters holandeses
Edifícios abandonados, deixados a apodrecer apenas por interesse económico, tornam as cidades em lugares fantasma, okupar é uma forma de acção directa que resiste e inverte a lógica do capital. Quando a vontade e a acção se juntam, pessoas podem usar essas casas para habitar e criar espaços livres onde se podem encontrar, trocar ideias, organizar eventos e começar projectos em comum em oposição à privatização dos espaços e contra a gentrificação e especulação imobiliária.
A nova lei holandesa não apresenta soluções para o problemas das casas abandonadas, dando ainda mais protecção aos proprietários que podem especular com a propriedade mais à vontade.
Quando viver é um luxo, okupar é um direito!
Kraken gaat door!
Fonte da notícia: Indymedia-Portugal
Práticas Anarco-sindicalistas ( próxima sessão: 9 de Out. no CCL, em Almada)
http://ait-sp.blogspot.com/
Práticas Anarco-Sindicalistas
Sábado, 2 de Outubro
16h30 Experiências de luta no Porto
– apresentado pelo Sindicato de Ofícios Vários do Porto da AIT-Secção Portuguesa
18h00 Experiências de luta em Madrid
- apresentado pelo Sindicato de Ofícios Vários de Madrid da CNT-AIT (Confederación Nacional del Trabajo, secção da AIT em Espanha)
20h00 Jantar vegetariano
na BOESG
- Rua das Janelas Verdes, 13, 1º Esq. - Santos – Lisboa
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Sábado, 9 de Outubro
17h00 Cem anos depois: Situação actual do anarco-sindicalismo em Espanha
apresentado por um companheiro da CNT-AIT de Almeria
20h00 Jantar vegetariano
no Centro de Cultura Libertária
- Rua Cândido dos Reis, 121, 1º Dto. - Cacilhas – Almada
Associação Internacional dos Trabalhadores – Secção Portuguesa Núcleo de Lisboa
Programação para Outubro do espaço do Regueirão dos Anjos, em Lisboa
Espaço Regueirão dos Anjos
Ciclo de debates sobre o tema «Privado, Público e Comum» ( de 8 de Out. a 10 de Nov. no teatro Maria Matos, Lisboa)
LOCAL: TEATRO MARIA MATOS, Lisboa
# entrada livre #
Há mais vida além do Estado e do mercado? Ao longo dos últimos anos, a oposição entre público e privado tem ocupado um lugar fundamental em grande parte dos debates políticos e com a crise económico-financeira esta tendência acentuou-se de modo ainda mais nítido. Neste ciclo de debates, a UNIPOP propõe partir das contraposições entre público e privado e entre Estado e mercado, discutindo-as em diferentes dimensões do quotidiano, da organização do trabalho à construção das cidades, passando pelos processos educativos, pelo espaço mediático e pelas políticas de saúde. Procuraremos analisar as transformações das últimas décadas, tanto à escala nacional como à escala global, e apontar novos caminhos, num debate que vai além da simples contraposição entre público e privado ou Estado e mercado, contraposição cuja rigidez tende muitas vezes a confinar o combate aos processos de privatização à defesa do controlo estatal. Se por um lado queremos mapear claramente o que separa privado e público, por outro trata-
se de questionar a possibilidade de questionar formas de poder transversais ao espaço público e à esfera privada.
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8 de Outubro das 18h às 21h
O que é o Comum?
Debate com Michael Hardt e a UNIPOP
Com a publicação de Império, em 2000, Michael Hardt e Toni Negri renovaram de modo significativo os termos do debate político à esquerda. O livro, entre muitos utros pontos de debate, procurou repensar a política além da alternativa entre o capitalismo e o socialismo, assumindo como tarefa a renovação de um imaginário radical igualmente crítico do Estado e do mercado, retomando as tradições autónomas do movimento operário, assumindo-se como herdeiro de Maio de 68 e acompanhando os novos movimentos alterglobais. Em Multidão, primeiro, e, mais recentemente, em Commonwealth, Hardt e Negri continuaram a reflexão iniciada em 2000, nomeadamente em torno dos temas da propriedade, da produção e do rendimento, articulando alguns dos principais debates marxistas em torno da economia com os estudos foucauldianos acerca da biopolítica e da governamentalidade. Sublinharam, em particular, a necessidade de construir uma política assente no comum, entendido como condição essencial do comunismo, tal como o privado será condição do capitalismo e o público do socialismo. Dez anos depois de Império, Michael Hardt discute em Lisboa, com a UNIPOP, alguns dos aspectos mais importantes do trabalho político da dupla Hardt e Negri.
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13 de Outubro 18h30
Economia, Comunismo e Pirataria
Conversa com José Maria Castro Caldas e Miguel Serras Pereira
Nos últimos anos tem sido frequentemente debatido o maior peso do Estado ou do mercado na vida económica. Ao culto da livre iniciativa empresarial contrapõe-se a necessidade de maior regulação estatal, num debate a que não são de todo indiferentes as transformações ideológicas do liberalismo e do socialismo no século XX e as dinâmicas de globalização nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, a partir de experiências como as que caracterizaram a crise argentina do início deste século, retomaram a sua actualidade debates acerca do próprio modo de organização do poder no seio da empresa, reavivando-se tradições conselhistas ou de autogestão, assim como colocando na ordem do dia novas práticas comunais, de que se encontra exemplo na questão dos direitos de autor e de propriedade intelectual.
José Maria Castro Caldas é economista do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Miguel Serras Pereira é tradutor.
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20 de Outubro 18h30
Cidades, Centros Comerciais e Praças Públicas
Conversa com João Pedro Nunes, Manuel Graça Dias e Miguel Silva Graça
A cidade tem sido palco de conflito entre interesses privados e públicos, conflito em que a questão imobiliária e os debates em torno do planeamento, colocando em causa a sacralidade do direito à propriedade privada, têm assumido particular destaque. Entretanto, a fronteira entre público e privado nem sempre resulta clara, seja porque a questão da privacidade tem sido colocada no âmbito do próprio espaço público (veja-se os debates em torno da videovigilância) seja porque existem determinados espaços privados, como os centros comerciais, que parecem assumir funções de encontro e reunião que antes eram apanágio da rua ou da praça. Ao mesmo tempo, os problemas específicos da habitação, dos chamados bairros de lata aos novos bairros sociais, mas também passando pelos condomínios fechados, pelos processos de gentrificação ou pelos movimentos de ocupação de casas, têm colocado as fronteiras entre público e privado em transformação, nuns casos, consolidando-as, noutros, atenuando-as.
João Pedro Nunes é sociólogo e investigador do CIES-ISCTE, Manuel Graça Dias é arquitecto e professor de arquitectura na Universidade do Porto e Miguel Graça é arquitecto e doutorando na Universidade de Valladolid.
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27 de Outubro 18h30
Media, Propriedade e Liberdade
Conversa com Daniel Oliveira, Nuno Ramos de Almeida e Rui Pereira
De que falamos quando falamos de liberdade de expressão? Nos últimos anos, os grandes meios de comunicação social fazem alarde da liberdade de expressão contra alegadas interferências do Estado, mas poderemos falar de liberdade de expressão no quadro de uma economia dos media em que a concentração impera? Neste contexto, importa atender a novas formas de comunicação que, à margem do controlo directo do Estado e dos grandes grupos privados, têm vindo a tecer redes muito vastas em que a fronteira entre emissor e receptor parece fragilizar-se. É o caso de uma série de meios suportados pela Internet, que, aliados aos novos desenvolvimentos tecnológicos, permitem igualmente colocar em cima da mesa novas possibilidades de estender o direito de emissão televisiva ou radiofónica além das empresas públicas e das empresas privadas de comunicação.
Daniel Oliveira, Nuno Ramos de Almeida e Rui Pereira são jornalistas.
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3 de Novembro 18h30
Medicina, Ciência e Saberes
Conversa com António Fernando Cascais e Isabel do Carmo
Em tempo de guerra ou em tempo de paz, o sistema estatal de saúde constitui um dos elos mais importantes da relação entre os Estados e as populações e durante a segunda metade do século XX os sistemas estatais de saúde têm sido considerados, na Europa mas não só, como uma das áreas primordiais de intervenção estatal, entre outras coisas visando impedir que as desigualdades económicas entre pessoas e classes se reflictam de modo ainda mais marcante no direito universal à saúde. Durante o mesmo período, contudo, as relações entre médico e doente têm vindo a ser cada vez mais objecto de debate, no quadro do questionamento das lógicas de poder subjacentes ao conhecimento científico, daqui resultando importantes discussões acerca da importância do «atendimento» em meio hospitalar (questão particularmente valorizada por gentes privados do sector da saúde), por um lado, e, por outro, da necessidade dos sistemas úblicos integrarem saberes e conhecimentos heterodoxos face às correntes dominantes na medicina (questão com implicações a nível nacional mas também no quadro dos debates em torno das valências de diferentes práticas culturais).
António Fernando Cascais é professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Isabel do Carmo é médica no Hospital de Santa Maria.
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10 de Novembro 18h30
Escola, Ordem e Emancipação
Conversa com António Avelãs e Jorge Ramos do Ó
A disputa pelo método de educar atravessa a história e é motivo de concórdia e discórdia entre professores, ministros, pais, psicólogos, alunos. Entre o ensino público e o ensino privado, o primeiro financiado pelo Estado e o segundo suportado pelas famílias, têm-se travado muitos destes debates, que se cruzam com outros tantos, à volta do ideal iluminista da educação como emancipação, e do seu potencial para corrigir as desigualdades ou, pelo contrário, para as eproduzir. Entretanto, a disputa pelo método de educar coloca igualmente em campo professores e alunos. As relações de poder que entre eles se estabelecem, das reiteradas críticas à falta de utoridade dos docentes à tentativa de levar a cabo experiências pedagógicas emancipatórias da condição estudantil, têm suscitado um debate pouco informado, mas nem por isso menos cirrado, e que constitui o ponto de partida para esta conversa.
António Avelãs é professor e presidente do Sindicato de Professores da Grande Lisboa e Jorge Ramos do Ó é historiador e professor do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
Anarquistas no dealbar de Novecentos: O despertar dos famintos
Autor: João Madeira
O “despertar dos famintos”, que os anarquistas se encarregaram de ampliar e enquadrar no dealbar do século, está indissociavelmente ligado ao processo de desagregação e queda da Monarquia. Por João Madeira. Lead: O “despertar dos famintos”, que os anarquistas se encarregaram de ampliar e enquadrar no dealbar do século, está indissociavelmente ligado ao processo de desagregação e queda da Monarquia.
“A anarquia progride por todo o lado. O ano passado havia um só anarquista em Lisboa. Hoje, são já suficientemente numerosos para difundir milhares de brochuras e editar um jornal”1
Creio que a citação é relativamente conhecida. Trata-se de uma carta do militante anarquista Elisée Reclus, escrita de França, depois de uma segunda viagem a Portugal, em Abril de 1886.
Nessa altura, os anarquistas portugueses podiam ser suficientemente numerosos para aquelas tarefas de propaganda; a sua presença podia ter a expressão mínima que permitisse doravante falar em movimento libertário no país, mas estavam ainda efectivamente muito longe de serem hegemónicos no movimento social.
Terão, aliás, nesses anos até ao final do século, particularmente na última década de Oitocentos, grandes dificuldades de afirmação, emparedados que estavam entre um movimento sindical completamente hegemonizado pelo velho Partido Socialista Português e acossados por fortes bátegas repressivas com que o Governo reagia a um conjunto de acções violentas e atentados.
Na prática era a proibição das organizações e da imprensa anarquista. Era a chamada lei celerada, que João Franco, na altura ministro, tratara de fazer aprovar. O seu impacto seria tão forte que não se conseguiria mais livrar do seu espectro, mesmo quando quis revê-la, oito anos mais tarde, já como Presidente do Conselho de Ministros.
Dezenas, porventura centenas mesmo, de militantes anarquistas, ou suspeitos de o serem, foram assim deportados para Timor, Moçambique, para a Guiné… Muitos morreram por lá, outros só regressaram passados muitos anos, alguns tentaram fugas espantosas.
Em reacção, constituir-se-ia uma Liga contra a Lei de 13 de Fevereiro, funcionando na Confederação Metalúrgica, envolvendo associações de classe, mas também centros republicanos.
Do ponto de vista das condições de vida dos trabalhadores, a situação não era também a melhor. Entre 1888 e 1901, a ração alimentar teria aumentado 25%, tanto quanto o preço do trigo de 1892 a 1900. Na última década de Oitocentos ter-se-ia registado estagnação e quebra nos consumos populares.
Nos salários, nalguns sectores, a tendência tinha sido mesmo de depreciação. Nos metalúrgicos, por exemplo, entre 1890 e 1905, consideradas cinco das principais categorias profissionais, em todas elas o valor nominal do salário baixou. Um caldeireiro que em 1890 auferia 700 reis/dia, em 1905 auferia 670. Do mesmo modo os ferreiros ou os torneiros que de 980 e 950 reis diários passavam nesse período de 15 anos para 750 e 780, respectivamente.
A oscilação do défice nas contas públicas, com contracções fortíssimas em 1900-1901 ou em 1903-1904, bem como o superavit registado no ano económico seguinte, apontam para reduções enormes na despesa pública o que equivalia à fortes constrangimentos sobre o emprego nas obras públicas e ao aumento da pressão fiscal, com consequências pesadas nos trabalhadores.
Porém, na viragem do século, assiste-se a um crescimento industrial, que sendo incipiente, se traduz no aumento das unidades fabris, designadamente de média dimensão, e na incorporação crescente do maquinismo, processo que teve implicações significativas na reconfiguração do proletariado, se bem que, em 1907, mais de metade do que se considerava como população industrial fossem artesãos.
É neste contexto que, entre a resistência à repressão política e o envolvimento no movimento social, se vão desenvolver em relativa pluralidade as ideias anarquistas, nem sempre coincidentes, nem sempre suficientemente diferenciadas, mas evidenciando grande vigor e efervescência.
Entre 1900 e 1910 são criados 166 novos grupos anarquistas e apenas extintos 12. São grupos pequenos, de composição restrita, fundados em relações de proximidade muito fortes, cuja capacidade de consolidação depende fundamentalmente desse carácter, que os torna fechados, assentes numa organização simples, funcionando em assembleia, reunindo em regra semanalmente na casa de um dos seus membros ou em salas cedidas pelas associações de classe.
São fundamentalmente grupos de propaganda, culturais em menor número e menos ainda os ligados a temas ou objectivos específicos. Só em poucos casos evoluem para formas de organização mais complexa, promovendo por exemplo a edição de um jornal ou uma revista.
É o caso dos grupos Conquista do Pão e Juventude Consciente que se fundem em 1906, constituindo o grupo Acção Directa para, dois anos depois, darem origem ao Grupo Editor da revista anarquista A Sementeira, uma revista notável, dirigida pelo operário arsenalista Hilário Marques, com 36 números publicados na sua primeira série, entre Setembro de 1908 e Agosto de 1911, onde colabora a elite da intelectualidade anarquista da época – Campos Lima, Emílio Costa, Neno Vasco, José Carlos de Sousa, Severino de Carvalho, Adolfo Lima, Sobral de Campos e que publica dezenas de textos de Malatesta, Réclus ou Kropotkine.
As suas páginas são repositórios extraordinários da divulgação doutrinária empreendida, dos temas internacionais, das polémicas, dos ritmos de aparecimento de novos grupos anarquistas e associações de classe, das reclamações operárias e do movimento de greves, que adquirem novo fôlego na viragem do século, nos primeiros anos de Novecentos.
O movimento sindical cresce. Em 1905 há 161 associações de classe, em 1910 são 223, concentrando-se esmagadoramente no sector industrial, residuais e de crescimento muito lento no sector agrícola.
Está-se a passar de um padrão de greve dispersa, isolada, circunscrita a uma fábrica quase artesanal, com escasso número de trabalhadores, para movimentações mais vastas. A greve dos têxteis da Covilhã, no verão de 1902, pontua o arranque dessa evolução. Oitocentos operários reclamam pelas suas antigas tabelas salariais, pela reposição de fatias elevadas que chegavam aos 75% no caso das mulheres e aos 70% nos homens.
As reivindicações salariais serão aceites, mas 22 dos operários que mais se haviam destacado na greve serão despedidos. Ficava no entanto inscrito o exemplo da combatividade e da radicalização.
As negociações, intermediadas pelo governador civil e pelo próprio presidente da Associação Industrial Portuense, são completamente improcedentes e suspensas. As tentativas de reabrir as fábricas com gente estranha a substituir os grevistas sob a protecção da tropa descambam em violência – são presos 220 operários, colocados num navio fundeado no rio.
Cresce a solidariedade, imensa, do Porto operário e popular – entram em greve chapeleiros, sapateiros, metalúrgicos, tabaqueiros, tanoeiros… A greve torna-se praticamente geral no Porto e o número dos envolvidos galga para os 40 mil. Recolhem-se fundos e donativos pelas ruas da cidade.
Mas era um novo ciclo que se abria. Iam longe os tempos em que nas páginas da imprensa operária se reconheciam as virtudes da acção parlamentar e se aconselhavam os trabalhadores ao voto. O discurso sindical, de classe, tornara-se radical, anti-político.
As divergências entre anarquistas e socialistas no movimento sindical tornavam-se irredutíveis, num processo que fragmentaria o Partido Socialista e que geraria um veio com expressão suficiente para reconfigurar o próprio campo do anarquismo, ainda que caminhando numa nebulosa de sensibilidades e tendências.
Se todas essas sensibilidades se reconheciam como antimilitaristas, se todos aceitavam o papel de uma educação nova, moderna, “racionalista”, se havia um acordo consideravelmente largo sobre o papel dos sindicatos, dividia-os no entanto duas questões fundamentais – a atitude face ao regime, por um lado e a violência, por outro.
Puristas e intervencionistas, pacifistas tolstoianos e partidários do direito à revolta, partidários da greve geral ou adeptos da acção directa ao tiro e à bomba, debatiam-se, em tensão, mas num universo que além de restrito era suficientemente sincrético, para que nenhuma dessas correntes despontasse ainda, hegemónica.
No entanto, o que essa reconfiguração do campo anarquista traz de fundamental é justamente a constituição de uma corrente intervencionista, presente nas associações de classe, engrossando através da aliança entre correntes possibilistas dissidentes do Partido Socialista e militantes anarquistas num percurso que os leva ao campo de um socialismo revolucionário, evoluindo daí para o campo do anarquismo.
Entendiam a República como um regime mais avançado que a Monarquia, espécie de etapa necessária no caminho da libertação.
A Federação Socialista Livre, constituída em 1901 e refundada em 1905 é a expressão dessa aliança e desse intervencionismo libertário que se vai desenhando no espectro do movimento anarquista. O jornal O Germinal de Setúbal, ao aderir em 1906 à Federação, tornar-se-á no principal arauto desta corrente, que tanta crítica e polémica levantará nos meios anarquistas.
Neste sentido, é esta corrente que alimenta como útil a ideia dos operários votarem nos republicanos e só desta forma se poderá perceber como o Partido Republicano quintuplicou os seus resultados eleitorais entre 1901 e 1910, atingindo níveis de votação substancialmente acima da sua base social e política de apoio. Já não eram só lojistas ou farmacêuticos a votar no PRP, mas também operários cuja capacidade eleitoral resultava do saber ler e escrever.
Anarquistas intervencionistas e republicanos haviam-se aliás encontrado desde finais do século XIX também nos ambientes carbonários. Reprimidos violentamente na viragem do século por virtude da lei celerada de Fevereiro de 1896 reagem também pela acção clandestina, escudando-se em sociedades secretas, como a Carbonária dos anarquistas, que Heliodoro Salgado funda por esses anos de final do século.
De início, estes carbonários são operários, caixeiros e alguns intelectuais sublimados. Criam a Liga Progresso e Liberdade, o Grémio da Liberdade, cujo carácter para-legal permitia a polarização e o crescimento. A avaliar pela evolução das quotizações individuais é possível perceber o seu extraordinário crescimento, aumentando essas quotizações em 1905 mais de dez vezes em relação a 1896, ano da fundação.
Nos últimos anos do século, é recomendada a abertura da organização a todas as tendências políticas, com excepção de monárquicos e é nesse contexto que se dá a adesão dos republicanos radicais.
A Loja e a Carbonária dos anarquistas, entretanto reorganizada sob o nome de Carbonária Lusitana, acabarão hegemonizados pelos republicanos radicais, com os anarquistas remetidos a uma posição secundária. A repressão policial sobre esta organização vai ocorrer no rescaldo dos rebentamentos de bombas da Rua do Carrião e na escada de um prédio na zona da Estrela, em Lisboa, em 1907, o que levará igualmente ao desmantelamento da Loja Obreiros do Futuro.
O que restou desta organizações transferir-se-á para a Carbonária Portuguesa, criada paralelamente, também no final do século, na herança da Carbonária Académica, com Luz de Almeida, entre outros e cujo papel destacado nas jornadas de Outubro de 1910 é conhecido.
Alfredo da Costa, o regicida de Casével, empregado de comércio teria, como Aquilino Ribeiro, ligações a esta rede orgânica e, por extensão aos anarquistas intervencionistas. Como dizia:
“Sou pelas greves como sou por todos os métodos de resistência utilizados pelos fracos, pelos oprimidos, em defesa dos seus interesses”, esclarecendo que “o meu ódio maior, a minha mais viva repulsa, dirige-se aos patrões burgueses que nos exploram e que sem altivez servimos”2
Esta porosidade entre republicanos e anarquistas, entre diferentes sensibilidades intervencionistas, entre organizações semi-legais e ilegais, no seio de múltiplos jornais anarquistas e sindicalistas criou um caldo denso que nunca deixou de ter no movimento social expressão privilegiada.
As 173 greves ocorridas em 1909, ano em que é registado maior número antes da República, assim como a crescente radicalização que agravava o processo de diferenciação entre socialistas e anarquistas no movimento sindical, aliás bem patente no Congresso operário de 1909, mostram bem como a instabilidade social, o desejo de melhorar a vida, constituiu um factor favorável à própria revolução republicana.
Este “despertar dos famintos”, que os anarquistas se encarregaram de ampliar e enquadrar no dealbar do século está, por isso, indissociavelmente ligado, por múltiplos poros e canais de comunicação, ao processo de desagregação e queda da Monarquia, mesmo que distintamente encarados.
1 Cit. por Edgar Rodrigues, O despertar operário em Portugal 1834-1911, Lisboa, Sementeira, 1980, p. 197
2 Cit.por Carlos da Fonseca, Para uma análise do movimento libertário e da sua história, Lisboa, Antígona, 1988, p. 24