19.1.09

Conto instrutivo para uso daqueles que ainda não perceberam a jogada ministerial


Era uma vez uma equipa de futebol, cujo treinador resolveu, num dos seus momentos de delírio competitivo, implementar um sistema de avaliação de desempenho da função de jogador, o qual veio a chamar-se, após alguns retoques de pormenor, de sistema simplex ( para ser mais convincente), e que consistia fundamentalmente em os jogadores se avaliarem entre si, durante os jogos que efectuassem. Para o efeito, dividiu a equipa em duas bandas ( os pares e os ímpares, chamando a isso uma seriação pela experiência !) e estabeleceu como prémio o aumento do vencimento só para os três dos melhores classificados. Os outros jogadores, mesmo quando classificados com nível de Muito Bom, não teriam essa sorte, uma vez que o Numerus Clausus fixado era taxativo e não admitia aumentos de vencimento para além de três jogadores.

As singulares quanto inéditas propostas não tardaram a merecer uma viva reacção dos próprios jogadores que tentaram debalde mostrar que um tal sistema não só os impedia de jogar, já que as tarefas avaliativas lhes roubariam tempo e energia para o jogo jogado, como revelavam fatais para a motivação deles próprios, pois o mérito não seria premiado com justiça, porque o sistema de numerus clausus estabelecido ( o prémio só era dado a três jogadores) a isso impediria, para além de ter muitas outras consequências negativas, como a degradação de todo o ambiente relacional entre os elementos da equipa.

Contrariado nos seus propósito, e face às derrotas sucessivas que a equipa começou a averbar, o dito treinador lançou mão de uma cartada tão antiga como o mundo. Falou com o presidente do clube e convenceu-o a subir 40% do vencimento do capitão da equipa por forma a este elemento se tornar na «voz do dono» dentro do balneário, e dessa forma garantir a aplicação do tão contestado quanto inédito esquema de avaliação de desempenho.

Mas esta medida foi a gota de água que fez transbordar o copo da paciência daqueles estóicos atletas. Feridos na sua dignidade, alvo de uma manobra de bastidores, que transformava um deles ( o capitão) em executante odioso de uma estratégia alheia, reuniram em plenário e decidiram ali mesmo que nunca mais entrariam no campo de jogo, enquanto aquele treinador manipulador estivesse à frente da equipa.

Consta que, depois de algum tempo, e apesar de contrariado, o presidente do clube dispensou os serviços daquele sinistro treinador. Foi remédio santo, porque a equipa voltou às vitórias.