19.8.10

As empresas gastam mais dinheiro em esverdear a sua imagem do que em medidas efectivas de combate à poluição

As empresas gastam mais dinheiro
em práticas de "esverdeamento" da imagem
do que em medidas efectivas de combate à poluição

Texto de Ricardo Coelho retirado de:


O Capitalismo lava mais verde

O mito da responsabilidade ambiental das empresas atinge hoje proporções alarmantes, com as empresas a gastar mais dinheiro em práticas de "esverdeamento" da imagem que em medidas de combate à poluição.

Nas últimas décadas, as campanhas de educação ambiental tiveram como resultado um aumento da procura por produtos ecológicos. Naturalmente, a maioria das empresas reagiu a esta evolução da procura investindo não na limpeza dos seus métodos produtivos mas antes em propaganda de limpeza de imagem. A prática tornou-se de tal forma generalizada que foi cunhado o termo "greenwash"(1) para a designar.

No conceito de "greenwash" cabem todas as práticas pelas quais uma empresa transmite a ideia de que está preocupada com o bem-estar do planeta quando na realidade nada faz para reduzir o seu impacto na natureza. A forma mais óbvia de "greenwash" é o investimento em propaganda enganosa, incluindo a falsa rotulagem de produtos como "amigos do ambiente". Exemplos correntes incluem uma empresa apresentar-se como consciente ambientalmente por tomar medidas que reduzem a sua pegada ecológica, quando essas medidas foram tomadas por imposição legal ou para reduzir custos ou por criar um produto "verde" sem mudar nada no processo de fabrico dos outros produtos. Mas também se pode incluir neste conceito a elaboração de relatórios ambientais, o patrocínio de eventos ou de associações ambientalistas, a distribuição de materiais de educação ambiental ou até a criação de fundações e associações supostamente ecologistas.

O mito da responsabilidade ambiental das empresas atinge hoje proporções alarmantes, com as empresas a gastar mais dinheiro em práticas de "esverdeamento" da imagem que em medidas de combate à poluição. Todos querem ocupar o pódio da empresa mais "verde" mas poucos se esforçam para o merecer.

Talvez o exemplo mais gritante a nível internacional seja o da BP. A petrolífera operou uma ambiciosa mudança de imagem em 2000, apresentando-se como "Beyond Petroleum"(2) e adoptando um logótipo verde. A campanha de 200 milhões de dólares acabou por dar alguns frutos, à medida que algumas associações ambientalistas mais corporativas passaram a encarar a BP como uma aliada na transição para um mundo sem petróleo. Há três anos atrás, por exemplo, a Quercus organizava um encontro sobre mobilidade sustentável patrocinado pela BP(3). À parte da propaganda, contudo, as práticas desta empresa em nada mudaram, tendo mantido o seu posto como um dos maiores inimigos do ambiente do mundo(4). O desastre no Golfo do México serviu para, de forma trágica, enfatizar uma evidência: a extracção de petróleo é um negócio sujo, muito sujo.

Outros exemplos indignantes de "greenwash" podem-se encontrar entre os fabricantes de automóveis. Quase todos os anúncios de automóveis hoje incluem a palavra "verde" ou uma imagem do automóvel no meio da natureza, como se o transporte privado pudesse alguma vez ser ecológico. Vendo estes anúncios, seríamos levados a crer que o consumo de combustível e as emissões de CO2 estão a descer consideravelmente, particularmente nas marcas que mais investem em carros "ecológicos"(5), como a Toyota, a Lexus ou a Ford. Nada poderia estar mais longe da realidade, contudo. O facto de estas empresas continuarem a gastar milhões em "lobbying" para tentar impedir as (fracas) regulações sobre consumo de combustível ou emissões de CO2 nos EUA e na UE mostra como o compromisso com o ambiente vale tanto como as promessas de Sócrates em época eleitoral.

Toda a empresa se pode tornar "verde", com o apoio de agências de publicidade e relações públicas e de ONGs que cumprem o mesmo papel destas agências, mesmo que o seu negócio central seja, pela sua natureza, anti-ecológico. Um exemplo português que se destaca é o da Sonae, uma empresa que se afirma como líder ambiental ao mesmo tempo que destrói a península de Tróia com um complexo turístico e preenche o território com centros comerciais e outros templos de consumismo. A Sonae Sierra, a empresa do grupo que opera os centros comerciais, aparece mesmo no segundo lugar de um ranking de responsabilidade ambiental elaborado pela Euronatura, uma ONG ambientalista com fortes ligações ao meio empresarial(6). Através de uma política de publicidade agressiva e de apoio a algumas ONGs ambientalistas, a Sonae consegue assim transmitir a ideia de que a exploração de centros comerciais pode ser um negócio ecológico, mesmo que estes espaços sejam monstros devoradores de energia e que a destruição do comércio de proximidade leve a um aumento das distâncias percorridas com automóvel particular.

Cúmplices desta propaganda enganosa são também frequentemente os governos. A iniciativa "Business and Biodiversity", lançada pela UE e abraçada pelo ICNB, é um bom exemplo de como agências governamentais podem usar recursos públicos para limpar a imagem dos grandes poluidores. Do que se trata é de promover acordos voluntários com as empresas que impliquem um ganho para a biodiversidade, sem prejudicar os lucros das empresas. Ou seja, a preservação da biodiversidade depende da boa vontade das empresas que lucraram com a sua destruição. Parece ridículo - e é - mas o presidente do ICNB, Tito Rosa, consegue apresentar esta medida como uma receita mágica sem se rir.

Estes são apenas alguns exemplos possíveis de práticas de "greenwashing", uma estratégia de propaganda corrupta. Ao abrigo de uma responsabilidade ambiental que não é mais que uma miragem, as grandes empresas usam todos os meios ao seu dispor para tornar a sua imagem mais verde. Verde como a Natureza, mas também como o dinheiro, a única coisa a que dão realmente valor.

Notas:

1 - O termo foi formado a partir da palavra "whitewashing" (branqueamento), a qual define uma forma de censura e limpeza de imagem. Não existindo uma tradução para português, pode-se usar talvez como sinónimo o termo coloquial "esverdeamento".
2 - "Além do Petróleo", um nome que remete para uma total mudança na área de negócio da empresa.
3-
http://www.quercus.pt/scid/webquercus/defaultArticleViewOne.asp?category...
4 - Ver o dossier do Esquerda.net sobre a BP.
5 - Refiro-me aos híbridos. As aspas estão lá porque não vejo como um carro com dois motores, uma enorme bateria e um computador de bordo, com todo o uso de recursos que isso implica, possa ser ecológico.
6-
http://www.responsabilidadeclimatica.net/index.php?opcao=1215&ling=1. No site da campanha pode-se ver também que a Sonae Sierra é um dos seus patrocinadores. A expressão "conflito de interesses" não tem qualquer significado no mundo neo-liberal.

Assembleia Popular contra os cortes nos apoios sociais ( às 19h. do dia 20 de Agosto,na Cordoaria, Porto)

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Novo período negro de miséria… E tu?Aceita-lo?

Fonte: http://ait-sp.blogspot.com/
Comunicado da Secção AIT-SP - Porto

O governo anunciou, no passado domingo, 1 de Agosto, a entrada em vigor de vários cortes nos apoios sociais até aqui existentes.
Esses cortes atingem centenas de milhares de pessoas: trabalhadores de baixos rendimentos, desempregad@s, famílias com crianças, doentes e idosos a cargo e, em geral, todos os sectores mais carenciados da população.
Com tais medidas o governo pretende “poupar”cerca de 10% de tudo aquilo que ainda pretende “poupar” nos próximos tempos…

E como vai fazer para a “poupança” dos restantes 90% de “dinheiros públicos”que faltam?!... Será que vai cortar nos altos vencimentos de ministros, secretários de Estado, acessores e outros altos funcionários da administração pública central e local?... Será que vai cortar sobretudo nos fabulosos ganhos dos gestores e directores das grandes empresas e instituições bancárias?… Se tivermos em conta que têm sido e continuam a ser @s mais pobres, @s mais fragilizad@s, @s que têm menores rendimentos, a quem o governo tem ido buscar as suas “poupanças”, bem podemos substituir a palavra “poupança” por simples “ladroança”!

A partir de agora, pela mão do governo e com aplausos de todos os que o apoiam (ou dos que se lhe opõem apenas porque os querem vir a substituir na roubalheira…), famílias de desempregad@s, precári@s, inválid@s, reformad@s e outras pessoas até aqui apoiadas pela dita “Segurança Social” - por necessidade extrema, para poderem sobreviver – irão dormir para as ruas e irão engrossar as filas d@s que esperam comida nas carrinhas e refeitórios caritativos. Porque a dita “Segurança Social” diz…”não ter dinheiro”…

O QUE FAZER ENTÃO?...

Decerto que importa denunciar a hipocrisia e o cinismo – que não podiam ser maiores! – dos discursos eleitorais e das “lágrimas de crocodilo” de governantes e responsáveis de “fogos de vista” – como a comemoração do “ano europeu de combate à pobreza e exclusão social”…

Decerto que é legítimo indignar-se pela perversidade e sadismo dos governantes – que vêm agora retirar apoios sociais antes disponíveis para @s mais necessitad@s, e que continuam a afirmar-se pelo “estado previdência”!...

É - e será sempre - legítimo denunciar a cobardia, a mentira, a prepotência, a imoralidade e a injustiça dos que se julgam eternamente impunes no alto dos seus previlégios e que têm o desplante de tentar roubar o direito à vida precisamente aos sectores mais fragilizados da população, que pensam não lhes poder fazer frente – porque dependentes de uma assistência que não liberta mas condiciona e subjuga e de um Estado que ao menor sobressalto vomita “políticas sociais” desnorteadas, acreditando ser eterno e intocável…

Mas, denunciar e indignar-se à mesa do café ou em privado em casa já não basta!

Organizar-se, sair à rua, ocupar e boicotar os espaços de mentira e de “roubo social”, mostrar a nossa revolta não só é absolutamente necessário como urgente!

Apelamos a tod@s @s atingid@s por estas medidas a que se não deixem amedrontar – isso é o que os “cães grandes” querem ! – e às outras, sensíveis a este actual flagelo ( anti-)social e verdadeiramente solidárias, a que se comprometam com as causas d@s desempregad@s, precári@s, sem-abrigo e de tod@s @s “excluíd@s” em geral de forma a organizarmo-nos em grupos de acção solidária popular, que dinamizem assembleias populares nos meios de maior pobreza e desemprego – assembleias livres, funcionando em democracia directa, onde tod@ e qualquer afectad@ pelos problemas actuais – ou com ela/es solidári@ - possa ter a palavra, para ajudar a promover e organizar a contestação, a recusa e o boicote – pelos meios que cada assembleia local decidir serem os mais eficazes – de forma a travarmos estes autênticos roubos oficiais.

BASTA! NÃO AO CONFORMISMO ! NÃO Á MISÉRIA! NÃO AO ROUBO SOCIAL!
CHEGA DE REPRESENTANTES E REPRESENTAÇÕES ! ACÇÃO DIRECTA POPULAR!
PORTO, 3 DE AGOSTO DE 2010

Comunicado conjunto de:
- Associação Internacional d@s Trabalhadoras/es – Secção Portuguesa - Núcleo Porto (
sovaitporto@gmail.com ) SOV-Sindicato de Ofícios Vários – Porto - 967684816
- MPDP - Movimento Popular de Desempregad@s e Precári@s – PORTO (
mpdp.porto@gmail.com )

Se deixarmos, encerram a região! ( a propósito da gravíssima situação social vivida hoje no Alentejo)

No distrito de Portalegre as insolvências verificadas no 1º trimestre de 2010 cresceram 200%, em relação ao mesmo período do ano anterior.
Esta notícia divulgada por um jornal diário foi manchete em todos os órgãos de comunicação social do Norte Alentejano. E se é verdade que o número absoluto de empresas declaradas insolvente no período em análise foi de apenas de 15, não é menos verdade que a “morte” de 15 empresas numa região onde estas são escassas, será sempre, mais que um facto noticioso, uma situação de grande dramatismo para o distrito e as suas gentes.
Para o Presidente do Núcleo Empresarial de Portalegre. “ São a constatação de uma realidade trágica”. Mas para os trabalhadores e o seu Movimento Sindical o problema não pode ser visto com o simplismo de um número, maior ou menor, e muito menos como uma constatação da “má sina” de sermos Alentejanos.

O problema ultrapassa a mera constatação de ter sido o distrito de Portalegre aquele onde mais subiram as insolvências no primeiro trimestre do ano. O título de campeão das insolvências “ ganho” por um distrito onde (se excluirmos o concelho de Campo Maior) não funcionava já nenhuma empresa com mais de 250 trabalhadores seria já suficientemente dramático. Todavia, ele espelha a realidade imposta a todo o interior e à grande parte do Alentejo.

Segundo o Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social da Universidade da Beira Interior “os maiores acréscimos relativos de insolvências localizam-se sobretudo em Portalegre, Beja, Évora e também Guarda (+12.5% face a igual período do ano passado) …” e, constata, que e o número de empresas insolventes tem vindo a crescer nos dois últimos anos.
A evolução do número de insolvências nos três distritos alentejano nos períodos homólogos de 2009 e 2010 mostram o Alentejo como a região onde o número de empresas insolventes tem vindo a crescer incessantemente.

Distrito 2009 2010 Variação
Beja 3 5 + 60%
Évora 14 20 + 70%
Portalegre 5 15 + 300%

O responsável do Observatório aponta como razões para esta situação:

“- A globalização com a abertura das fronteiras aos produtos chineses, indianos, e de outros países o que levou a que sectores tradicionais importantes como o têxtil e a confecção, entre outros, não resistissem à abertura das fronteiras e à concorrência dos produtos oriundos dos países emergentes com custos de produção muito mais baixos e com trabalhadores sem quaisquer direitos sociais;
- A concorrência das grandes superfícies que tem vindo a provocar o encerramento de inúmeras empresas do comércio por grosso e sobretudo a retalho (caso do comércio tradicional);
- A PAC – Política Agrícola Comum – da UE que favorece os grandes produtores da Europa central com produtividades muito mais elevadas conseguidas com propriedades de grandes dimensões e bons terrenos, mais agressivos, que tem conduzido ao encerramento de muitas PMEs e empresas familiares dos sectores agrícola e pecuário que predominam na metade norte do país;”

A situação imposta a todo o interior e que os dados em apreço são apenas parte dos seus resultados, é fruto não apenas da mera incompetência dos governantes nacionais e dos seus representantes a nível local mas sobretudo, da cínica aplicação de políticas em que o cunho de classe se sobrepõe a quaisquer interesses nacionais.

No Alentejo essa realidade é facilmente constatável.
À destruição do aparelho produtivo regional com o desmantelamento ou deslocalização de importantes unidades industriais juntou-se o esvaziar da região de serviços públicos essenciais à vida na região e em particular nos centros populacionais mais pequenos e afastados das suas principais cidades.

Hoje constamos que não apenas desapareceram (ou estão em grandes dificuldades) as indústrias corticeiras e de transformação dos granitos em Portalegre, as industrias dos mármores e do sector automóvel no distrito de Évora, o sector mineiro no Baixo Alentejo, ou as grandes unidades têxteis e de vestuário como a Finos de Portalegre e a Lee em Évora. Constatamos que a maior parte das nossas vilas e aldeias foi amputada de serviços de saúde, de correios, de transportes e, numa acção que continua, das escolas para as suas crianças.

Constatamos que o ódio de classe aos trabalhadores agrícolas que construíram nos campos do Alentejo uma nova agricultura não destruiu apenas a “reforma Agrária” e as suas unidades colectivas de produção, destruiu toda a agricultura e por arrastamento as unidades agro-alimentares e hoje, quando somos cada vez mais dependentes do exterior para garantirmos a alimentação dos portugueses, na nossa região, um punhado de famílias recebe muitos milhões de euros para manter as terras improdutivas.

Ora perante esta realidade não é aceitável que desvalorizemos a dimensão do desastre ou o aceitemos como fatalismo intransponível. Não! Por detrás de cada um dos milhares de cartazes que enchem as nossas cidades com a palavra “Vende-se” ou “Trespassa-se”, em cada rosto preocupado ou descrente dos mais de 30 mil desempregados na região, há responsáveis e beneficiários por tais situações e está a marca do capitalismo cujos defensores ocupam há mais de 3 décadas, ininterruptamente, os corredores do poder.

O movimento sindical da região tem vindo a bater-se por políticas capazes de inverter a marcha que nos empurra para o empobrecimento, para o despovoamento e para o envelhecimento populacional, tem-no feito, muitas vezes quase sozinho e com resultados que não têm sido suficientes para imporem a mudança necessária. Mas não pode desistir.

Nestes tempos em que por toda a Europa se anunciam como inovadoras as mais bafientas ideias do neoliberalismo e os seus fiéis se afadigam em destruir o modelo social criado com o trabalho o suor e o sangue de gerações de trabalhadores, importa que também aqui os trabalhadores mantenham audíveis os protestos e as propostas que permitam um Novo Rumo.
A luta desenvolvida já este ano e cujo ponto alto foi conseguido com o mar de gente que inundou Lisboa não pode, nem vai parar: no momento em que este texto é escrito, por toda a região cresce a azáfama que há-de encher as praças e avenidas de Beja, Évora e Portalegre com o afirmar do Dia Nacional de Protesto e Luta e cresce no coração de cada alentejano a determinação que também o Alentejo estará presente na luta já decidida pela Confederação Europeia de Sindicatos para 29 de Setembro.

Os Alentejanos conhecem bem os caminhos da resistência mas sabem que nos dias de hoje a resistência tem que ser feita em movimento. Hoje, no Alentejo são precisas posturas ofensivas.

A situação para onde nos empurraram é tal que não basta defender os direitos conquistados é, cada vez mais necessário poder exercê-los e garantir novos direitos para aqueles, muitos, que excluídos pelas lógicas do capitalismo são empurrados para a precariedade, para o desemprego ou obrigados a deixar a região.

Este é o combate que é necessário travar e vencer: na Região, no País e no Mundo.
Como sempre sucedeu, o Alentejo não fugirá a esse combate.

Diogo Serra
Publicado na Revista Alentejo