15.6.12

Leitura de textos curtos de Julio Cortázar na livraria-café Gato Vadio (dia 16 de Junho, pelas 17h.)


Leitura de textos curtos de JULIO CORTÁZAR, por Javier Garcia e Rui Manuel Amaral

no Sábado, dia 16 de Junho, pelas 17h.

Local: livraria-café Gato Vadio (R. do Rosário, 281, Porto)



Julio Cortázar é um dos mais destacados escritores argentinos, e um nome grande não só da literatura da América Latina mas ainda da literatura mundial. São dele alguns dos contos que são considerados os mais bem conseguidos do seu género. Escreveu a novela Rayuela, que lhe deu notoriedade, e é dele o conto Blow-Up que serviu de inspiração para o filme com o mesmo título de Antonioni.

É considerado um dos autores mais inovadores e originais de seu tempo, mestre do conto curto e da prosa poética. Foi o criador de novelas que inauguraram uma nova forma de fazer literatura na América Latina, rompendo os moldes clássicos mediante narrações que escapam da linearidade temporal e onde os personagens adquirem autonomia e profundidade psicológica inéditas. Seu livro mais conhecido é Rayuela (O Jogo da Amarelinha), de 1963, que permite várias leituras orientadas pelo próprio autor. Cortázar inspirou um grande número de cineastas, entre eles o italiano Antonioni, cujo longa-metragem Blow-up foi baseado no conto As Babas do Diabo (do livro As Armas Secretas).

"Yo creo que desde muy pequeño mi desdicha y mi dicha al mismo tiempo fue el no aceptar las cosas como dadas. A mí no me bastaba con que me dijeran que eso era una mesa, o que la palabra "madre" era la palabra "madre" y ahí se acaba todo. Al contrario, en el objeto mesa y en la palabra madre empezaba para mi un itinerario misterioso que a veces llegaba a franquear y en el que a veces me estrellaba.
En suma, desde pequeño, mi relación con las palabras, con la escritura, no se diferencia de mi relación con el mundo en general. Yo parezco haber nacido para no aceptar las co- sas tal como me son dadas."






Que sorte excepcional ser sul-americano, e ainda por cima argentino, e não sentir-me obrigado a escrever a sério, a ser sério, a sentar-me diante da máquina com os sapatos engraxados e uma noção sepulcral da gravidade do instante. Das frases que mais amei premonitoriamente na infância figura a de um colega de carteira: "Que risada, toda a gente chorava!" Nada mais cómico do que a seriedade entendida como valor prévio a toda a literatura importante (outra noção infinitamente cómica quando postulada), essa seriedade do indivíduo que escreve como quem vai a um velório por obrigação ou dá uma massagem a um padre.
Julio Cortázar, A volta ao dia em 80 mundos. Tradução de Alberto Simões.

"Um homem apanha o eléctrico depois de comprar o jornal e de o pôr debaixo do braço. Meia hora depois sai do eléctrico com o mesmo jornal debaixo do mesmo braço. Mas já não é o mesmo jornal, agora é um montão de folhas impressas que o homem abandona num banco de um jardim. Assim que fica sozinho no banco, o montão de folhas impressas converte-se outra vez num jornal, até que um rapaz o vê, lê e o abandona convertido num montão de folhas impressas. Assim que se apanha sozinho no banco, o montão de folhas impressas converte-se novamente num jornal, até que uma velhota o encontra, o lê e deixa convertido num montão de folhas impressas. Depois leva-o para casa e no caminho usa-o para embrulhar meio quilo de nabos, que é para o que os jornais servem depois destas excitantes metamorfoses."
Julio Cortázar, Histórias de Cronópios e de Famas. Tradução de Alfacinha da Silva.