5.4.05

A Economia não regista bem os prejuízos causados à natureza



Se não existir um tradução económica dos factos, dificilmente estes são levados em conta pelos políticos.
O relatório apresentado por 1.300 cientistas, sob a designação geral de « Avaliação dos ecossistemas para o Milénio», a pedido da ONU, sublinha claramente que « os sistemas de contabilidade nacionais tradicionais não conseguem medir a diminuição nem a degradação dos recursos naturais».
O que é tanto mais alarmante quanto é certo que a degradação de tais recursos naturais representam uma importante perda do património essencial para cada região e sociedade.
Em vários casos estudados, tais como o Equador, a Venezuela e o Kazaquistão, os investigadores concluíram que o crescimento do produto interno bruto dissimula uma claro défice se se tivesse em conta a diminuição dos recursos naturais no cálculo do produto.
Na falta de instrumentos que traduzam em termos económicos os danos e a degradação dos ecossistemas os responsáveis políticos não se sentem obrigados a adoptar medidas de preservação do ambiente e dos ecossistemas.
No fundo o que acontece é que as tradicionais metodologias de avaliação económica não se mostram adequadas e eficazes para medir os serviços naturais prestados pelos ecossistemas e a sua consequente degradação.

Diagnóstico dos ecossistemas do planeta



Segundo o relatório apresentado por 1.300 cientistas, sob a designação geral de « Avaliação dos ecossistemas para o Milénio», a pedido da ONU, são os seguinte pontos negativos que foram registados na situação planetária actual :

- A água doce está desigualmente distribuída
Não há penúria de água doce à escala mundial. Mas as reservas estão distribuídas de maneira muito desigual segundo as regiões. Um quarto de água utilizada ultrapassa o que as redes fluviais locais podem fornecer. A água é encaminhada para dispendiosas operações ou extraída de fontes subterrâneas que não são reabastecidas.

- Alerta para o pólen
Os insectos e os pássaros polinizadores sofrem um declínio, pelo menos, num pais ou numa região de cada um dos continentes. Tal facto traduz-se, não pela falta de produção dos frutos ou das sementes, mas pela diminuição do número de sementes produzidas ou da quantidade de frutos.

- Bosques e florestas tropicais em perigo
O fornecimento de madeira para construção e aquecimento representa um terço do valor dos serviços prestados aos homens pelas florestas. A capacidade de produção de madeira, que aumentou 60% no decurso dos últimos 40anos, varia conforme as regiões. A produção da madeira para aquecimento está presentemente em declínio, depois de ter atingido o seu máximo nos anos 90, graças ao aproveitamento de outras fontes de energia.

- O regresso das doenças infecciosas
O controle de certas doenças infecciosas foi perturbado pelas mudanças ocorridas nos ecossistemas. A construção de canais e a extensão de irrigação de terrenos agrícolas favoreceram o regresso de doenças infecciosas como o paludismo. O poder de outras infecções diminui graças às operações de combate levadas a cabo pelos homens.

- Reservas de pesca em níveis inquietantes
Em numerosos locais, a pesca ultrapassou largamente o limite para além do qual a natureza não consegue renovar os stocks de peixe de mar e de água doce

- Declínio do número de espécies
Em poucos anos, a actividade humana multiplicou as taxas de extinção das espécies animais e vegetais por 1.000. Cerca de 10% a 30% das espécies de aves e mamíferos e anfíbios estão ameaçadas. A diversidade dos ecossistemas reduz-se por força das invasões de espécies exóticas que levam ao desaparecimento das espécies indígenas

- O ar regenera-se cada vez menos
A capacidade da atmosfera de absorver os poluentes produzidos pelo homem diminui em cerca de 10% desde o processo de industrialização. Os ecossistemas contribuem para a absorção do amoníaco, dos óxidos de azoto, do dióxido de .. e do metano. Os cientistas desconhecem em que medida a degradação dos meios naturais contribui para reduzir as capacidades «reparadoras» da atmosfera.

-o clima é regulado pelo ecossistemas
Desde 1750 a concentração de CO2 na atmosfera aumentou em 34%. Acontece que 60% deste aumento produziu-se a partir de 1959 até ao presente, período este no decurso do qual o papel dos ecossistemas no ciclo do carbono inverteu-se. De produtores de CO2, por causa da desflorestação, eles tornaram-se em absorvedores graças à reflorestação, à melhor gestão da floresta ( no Norte dos USA, na Europa e na China), às mudanças verificadas nas práticas agrícolas e à fertilização pelo recurso do azoto no solo e o aumento da taxa de CO2 atmosférico. Os ecossistemas travam assim o aquecimento planetário.

- As populações estão cada vez mais expostas às catástrofes naturais
Os acontecimentos extremos causados pela natureza têm consequências cada vez maiores junto das populações em virtude do facto destas ocuparem cada vez mais espaço, o que aumenta a vulnerabilidade humana aos fenómenos naturais. Estes fenómenos traduzem-se por um elevado número de vítimas e de grandes prejuízos materiais. As práticas de cultura dos solos têm provocado grande erosão

Mas é possível encontrar pontos positivos no diagnóstico realizado:

- Aumento da produção agrícola
O principal serviço prestado pela natureza tem vindo claramente a aumentar nos últimos anos. Entre 1960 e 2000 o aprovisionamento alimentar mundial foi multiplicado por duas vezes e meia ao passo que a população mundial duplicava de 3 a 6 mil milhões d pessoas. Este melhoria é principalmente devida à extensão de terras ocupadas para a agricultura e à intensificação das culturas agrícolas.

- A aquacultura surge como nova fonte de alimentação
O desenvolvimento da aquacultura registou um forte aumento, representando hoje um terço da produção dos peixes e dos crustáceos no mundo.

Ecologia Social

Por Murray Bookchin
Porquê Ecologia Social?

É hoje impossível considerar pouco importantes, marginais ou "burgueses" os problemas ecológicos.

O aumento da temperatura do planeta em virtude do teor crescente de anidrido carbónico na atmosfera, a descoberta de enormes buracos na camada de ozono - atribuíveis ao uso exagerado de clorofluorcarbonetos - que permitem a passagem das radiações ultravioletas, a poluição maciça dos oceanos, do ar, da água potável e dos alimentos, a extensa desflorestação causada pelas chuvas ácidas e pelo abate incontrolado, a disseminação de material radioactivo ao longo de toda a cadeia alimentar... tudo isto conferiu à ecologia uma importância que não tinha no passado.
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A sociedade actual está a causar danos ao planeta a níveis que superam a sua capacidade de auto-depuração. Avizinhamo-nos do momento em que a Terra não terá condições de manter a espécie humana nem as complexas formas de vida não humana, que se desenvolveram ao longo de milhões de anos de evolução orgânica.
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Face a este cenário catastrófico há o risco, a julgar pelas tendências em curso na América do Norte e nalguns países da Europa ocidental, de se tentar curar os sintomas em vez das causas e de pessoas ecologicamente empenhadas procurarem soluções cosméticas em vez de respostas duradouras. O crescimento dos movimentos "verdes" um pouco por todo o mundo - inclusive no Terceiro Mundo - testemunha a existência de novo impulso para combater correctamente o desastre ecológico.
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Mas torna-se cada vez mais evidente que se necessita de bastante mais que de um "impulso". Por importante que seja deter a construção de centrais nucleares, de auto-estradas, de grandes aglomerações urbanas ou reduzir a utilização de produtos químicos na agricultura e na indústria alimentar, é necessário darmo-nos conta que as forças que conduzem a sociedade para a destruição planetária têm as suas raízes na economia mercantil do "cresce ou morres", num modo de produção que tem de expandir-se enquanto sistema concorrencial.
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O que está em causa não é a simples questão de "moralidade", de "psicologia" ou de "cobiça". Neste mundo competitivo em que cada um se acha reduzido a ser comprador ou vendedor e em que cada empresa se deve expandir para sobreviver, o crescimento limitado é inevitável. Adquiriu a inexorabilidade duma lei física, funcionando independentemente de intenções individuais, de propensões psicológicas ou de considerações éticas.
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A Hecatombe de Quarenta Milhões de Bisontes
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Atribuir toda a culpa dos nossos problemas ecológicos à tecnologia ou à "mentalidade tecnológica" e ao crescimento demográfico (para citar dois dos argumentos que mais frequentemente emergem) é como castigar a porta que nos trancou ou o cimento em que caímos e nos machucamos. A tecnologia - mesmo a má como os reactores nucleares - amplifica problemas existentes, não os cria.
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O crescimento populacional é um problema relativo, se efectivamente o é. Não é possível dizer com segurança quantas pessoas poderiam viver decentemente no planeta sem produzir transtornos ecológicos. Os Estados Unidos, na última metade do século XIX, chacinaram quarenta milhões de bisontes, exterminaram espécies como o pombo-correio, cujos bandos obscureciam o céu, destruíram vastas áreas de floresta original e entregaram à erosão terras cultiváveis com a superfície comparável à de um grande país europeu... e todos estes danos foram levados a cabo com uma população de menos de cem milhões de habitantes e uma tecnologia atrasada, pelos padrões actuais.
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Em suma, havia outros factores em jogo além da tecnologia e da pressão demográfica quando este drama se desenrolou. A praga que afligiu o continente americano era mais devastadora que uma praga de gafanhotos. Era uma ordem social que se deve chamar sem cerimónias pelo nome que tinha e tem: capitalismo, na sua versão privada a Ocidente e na sua forma burocrática a Oriente. Eufemismos como "sociedade tecnológica" ou "sociedade industrial", termos muito difundidos na literatura ecológica contemporânea, tendem a mascarar com expressões metafóricas a brutal realidade duma economia baseada na competição e não nas necessidades dos seres humanos e da vida não humana. Assim a tecnologia e a indústria são representadas como os protagonistas perversos deste drama, em vez do mercado e da ilimitada acumulação de capital, sistema de "crescimento" que por fim devorará toda a biosfera se para tanto se lhe consentir sobrevivência suficiente.
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Sem Hierarquia e Sem Classes
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Aos enormes problemas criados por esta ordem social devem juntar-se os criados por uma mentalidade que começou a desenvolver-se muito antes do nascimento do capitalismo e que este absorveu completamente. Refiro-me à mentalidade estruturada em torno de hierarquia e do domínio, em que o domínio do homem sobre o homem originou o conceito do domínio sobre a natureza como destino e necessidade da humanidade. É reconfortante que se haja insinuado no pensamento ecológico a ideia de que esta concepção do destino humano é perniciosa. Contudo, não se compreendeu claramente como surgiu, persiste e como pode ser eliminada esta concepção. E se se quer achar remédio para o cataclismo ecológico, deve procurar-se a origem da hierarquia e do domínio.
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O fato da hierarquia sob todas as formas -domínio do jovem pelo velho, da mulher pelo homem, do homem pelo homem na forma de subordinação de classe, de casta, de etnia ou de qualquer outra estratificação da sociedade - não haver sido identificada como tendo âmbito mais amplo que o mero domínio de classe, tem sido uma das carências cruciais do pensamento radical. Nenhuma libertação será completa, nenhuma tentativa de criar harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza poderá ter êxito se não forem erradicadas todas as hierarquias e não apenas a de classe, todas as formas de domínio e não apenas a exploração económica.
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Estas ideias constituem o núcleo essencial da minha concepção de ecologia social e do meu livro "A Ecologia da Liberdade". Sublinho cuidadosamente o uso que faço do termo "social", quando me ocupo de questões ecológicas, para introduzir outro conceito fundamental: nenhum dos principais problemas ecológicos que hoje defrontamos se pode resolver sem profunda mutação social.
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Esta é uma ideia cujas implicações não foram ainda plenamente assimiladas pelo movimento ecológico. Levada às suas conclusões lógicas significa que se não pode transformar a sociedade presente aos poucos, com pequenas alterações. Quando muito estas pequenas mudanças são entraves que apenas reduzem a velocidade louca a que se está a destruir a biosfera.
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Devemos certamente ganhar o máximo tempo possível nesta corrida contra o biocídio e fazer todo o possível para a deter. O biocídio prosseguirá, a menos que as pessoas se convençam da necessidade duma mudança radical e da de se organizarem para esse efeito. Deve aceitar-se a substituição da sociedade capitalista actual pelo que denomino "sociedade ecológica", isto é, por uma sociedade que implique as mutações sociais indispensáveis para eliminar os abusos ecológicos.
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É imprescindível reflectir e debater profundamente sobre a natureza de tal "sociedade ecológica". Algumas conclusões são quase óbvias. Uma sociedade ecológica deve ser não-hierárquica e sem classes, deve eliminar mesmo o conceito de domínio da natureza. A este propósito têm de se retomar os fundamentos do eco-anarquismo de Kropotkin e dos grandes ideais iluministas da razão, liberdade e força emancipadora da instrução, defendidos por Malatesta e Berneri. Melhor, os ideais humanistas que guiaram os pensadores anarquistas do passado devem ser recuperados na globalidade e transformados num humanismo ecológico que incarne nova racionalidade, nova ciência e nova tecnologia.
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O motivo pelo qual sublinhei os ideais iluministas libertários não é redutível aos meus gostos e predilecções ideológicas. Trata-se realmente de ideais que não podem dispensar atenta consideração de qualquer indivíduo empenhado ecologicamente. Oferecem-se, hoje em todo o mundo, alternativas inquietantes ao movimento ecológico. Por um lado vai-se difundindo, sobretudo na América do Norte, mas também na Europa, uma espécie de doença espiritual, uma atitude contra iluminista que, em nome do "regresso à natureza", evoca racionalismos atávicos, misticismos e religiosidade de índole "pagã". Culto de "divindades femininas", "tradições paleolíticas" (ou "neolíticas", consoante os gostos), rituais "ecológicos" (espécie de ecologia vudu da administração Reagan) vão tomando forma deste e do outro lado do Atlântico em nome duma nova "espiritualidade".
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Este revivalismo do primitivismo não é fenómeno inócuo: frequentemente está imbuído de um neo-malthusianismo pérfido que se propõe, no essencial, deixar morrer de fome os pobres, vítimas principais da carestia do Terceiro Mundo, com a finalidade de "reduzir a população". A Natureza, diz-se, deve ser deixada livre para "seguir o seu curso". A fome e a carestia não são causadas, diz-se, pelos negócios agrários, pelo saque levado a cabo pelas grandes empresas, pelas rivalidades imperialistas, pelas guerras civis nacionalistas, mas têm a sua origem na superpopulação. Deste modo o problema económico é completamente esvaziado de conteúdo social e reduzido à interacção mítica das forças naturais, frequentemente com forte carga racista de pendor fascizante.
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Por outro lado, está em construção o mito tecnocrático segundo o qual a ciência e a engenharia resolveriam todos os males ecológicos. Como nas utopias de H. G. Wells procura-se fazer acreditar na necessidade duma nova elite para planificar a solução da crise ecológica. Fantasias deste tipo estão implícitas na concepção da terra como "astronave" (segundo a grotesca metáfora de Buckiminister Fuller), que pode ser manipulada pela engenharia genética, nuclear electrónica e política (para dar um nome altissonante à burocracia). Fala-se da necessidade de maior centralização do Estado, desembocando na formação de "mega-Estados", em paralelo arrepiante com as empresas multinacionais. E como a mitologia se tornou popular entre os eco-místicos, promotores dum primitivismo em versão ecológica, o sistema tecnoburocrático logrou grande popularidade entre os "eco-tecnocratas", criadores dum futurismo em versão ecológica.
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Nos dois casos o ideal libertário do iluminismo - valorização da liberdade, da instrução, da autonomia individual - são negados pela pretensão de nos impedir a quatro patas para um "passado" obscuro, mistificado e sinistro, ou de nos catapultar como míssil para um "futuro" radioso, igualmente mistificante e sinistro.
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O Que É a Natureza
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A ecologia social, tal como a concebo, não é mensagem primitivista tecnocrática. Tenta definir o lugar da humanidade "na" natureza - posição singular, extraordinária - sem cair num mundo de cavernícolas anti-tecnológicos, nem levantar vôo do planeta com fantasiosas astronaves e estações orbitais de ficção científica. A Humanidade faz parte da Natureza, embora difira profundamente da vida não humana pela sua capacidade de pensar conceitualmente e de comunicar simbólicamente.
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A Natureza, por sua vez, não é simplesmente cena panorâmica a olhar passivamente através da janela, é a evolução na sua totalidade, tal como o indivíduo é a sua própria biografia e não a simples edição de dados numéricos que exprimem o seu peso, altura, talvez "inteligência" e assim por diante. Os seres humanos não são unicamente uma entre muitas formas de vida, forma especializada para ocupar um dos muitos nichos ecológicos no mundo natural. São seres que, pelo menos potencialmente, podem tornar auto-consciente e, por conseguinte, auto-dirigida a evolução biótica. Com isto não quero dizer que a Humanidade chegue a ter conhecimento suficiente da complexidade do mundo natural para poder ser o timoneiro da sua evolução, dirigindo-a à sua vontade.
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As minhas reflexões sobre a espontaneidade sugerem prudência nas intervenções sobre o mundo natural, (sustentam que se requer) grande cautela nas modificações a empreender. Mas, como disse em "Pensar Ecologicamente", o que verdadeiramente nos faz únicos é podermos intervir na natureza com um grau de auto-consciência e flexibilidade desconhecido nas outras espécies. Que a intervenção seja criadora ou destrutiva é problema que devemos enfrentar em toda a reflexão sobre a nossa interacção com a natureza. Se as potencialidades humanas de auto-direcção consciente da natureza são enormes devemos contudo recordar que somos hoje ainda menos que humanos.
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A nossa espécie é uma espécie dividida - dividida antagonisticamente por idade, carácter, classe, rendimento, etnia, etc. - e não uma espécie unida. Falar de "Humanidade" em termos zoológicos, como fazem actualmente tantos ecologistas - inclusivamente tratar as pessoas como espécie e não como seres sociais que vivem em complexas criações institucionais - é ingenuamente absurdo. Uma Humanidade iluminada, reunida para se dar conta das suas plenas potencialidades numa sociedade ecologicamente harmoniosa, é apenas uma esperança e não apenas uma realidade, um "dever ser" e não um "ser".
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Enquanto não tivermos criado uma sociedade ecológica, a capacidade de nos matarmos uns aos outros e de devastar o planeta fará de nós - como efectivamente faz - uma espécie menos evoluída do que as outras. Não conseguir ver que atingir a humanidade plena é problema social que depende de mutações institucionais e culturais fundamentais é reduzir a ecologia radical à zoologia e tornar quimérica qualquer tentativa de realizar uma sociedade ecológica.
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Vínculos Comunitários
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Como é possível conseguir as transformações sociais de grande alcance que preconizo? Não creio que possam vir do aparelho de Estado, quer dizer, num sistema parlamentar de substituição dum partido por outro (por altamente inspirado que este último possa parecer durante o seu período heróico de formação). A minha experiência com o movimento verde alemão demonstrou-me (partindo do princípio que teria necessidade dessa demonstração) que o parlamentarismo é moralmente nocivo no melhor dos casos e totalmente corrupto na pior das hipóteses. A representação dos verdes no Bundestag confirmou, nestes últimos tempos, os meus piores temores: a sua maioria "realista" é favorável à participação da Alemanha Ocidental na NATO e apoia uma forma de "eco-capitalismo" (contradição nos termos) incompatível com qualquer abordagem ecológica radical.
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Além disso o parlamentarismo mina invariavelmente a participação popular na política, no significado que há muitos séculos lhe é atribuído. Para os antigos atenienses política significava a gestão da polis, isto é, da cidade, directamente pelos cidadãos reunidos em assembleia e não através de burocratas ou de representantes eleitos.
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É verdade que somente os homens eram cidadãos e que, além das mulheres, estrangeiros e escravos eram igualmente excluídos. É ainda verdade que os cidadãos ricos dispunham de recursos materiais e gozavam de privilégios recusados aos cidadãos pobres. Mas é também verdade que a antiga cidade mediterrânea não havia ainda alcançado, há dois mil e tantos anos, o seu pleno desenvolvimento, a "sua verdade" como diria Hegel. A liberdade do cidadão participar na vida política não dependia da tecnologia mas do trabalho: dos escravos, das mulheres e do seu próprio.
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Aristóteles não via qualquer dificuldade em admitir que quando os teares tecessem sozinhos os gregos não necessitariam de escravos, nem - acrescento eu - de explorar o trabalho alheio para dispor de tempo livre para si mesmos. Hoje as máquinas fazem o que Aristóteles dizia e muito mais. Podemos finalmente fruir o tempo livre necessário para nos desenvolvermos e participar amplamente na vida pública sem precisarmos de pôr em perigo o mundo natural nem explorar o trabalho alheio.
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A ecologia radical não pode ser indiferente ás relações sociais e económicas. O delicado equilíbrio entre o uso da tecnologia com fins libertadores e o seu uso com fins destrutivos para o planeta é matéria de apreciação social, mas tal apreciação é grandemente ofuscada quando ecologias sui generis denunciam a tecnologia como mal irrecuperável ou a exaltam como virtude indiscutível. Curiosamente, místicos e tecnocratas têm uma importante característica em comum: nem uns nem outros examinam a fundo os problemas nem seguem a lógica para além das premissas mais elementares e simplistas.
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Uma nova política deveria, quanto a mim, implicar a criação duma esfera pública "de base" extremamente participativa, a nível da cidade, do campo, das aldeias e bairros. O capitalismo provocou a destruição tanto dos vínculos comunitários como do mundo natural. Em ambos os casos encontramo-nos face a simplificação das relações humanas e não humanas, à sua redução a formas interactivas e comunitárias elementares. Mas onde existam ainda laços comunitários e onde - mesmo nas grandes cidades - possam nascer interesses comuns, esses devem ser cultivados e desenvolvidos.
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Estudei este tipo de política comunal (repito: entendo política no sentido helénico, não no seu significado actual que denomino "estatalidade") no meu livro "O Progresso da Urbanização e o Declínio da Cidadania". Por difícil que pareça, na Europa (e em menor grau, creio, nos Estados Unidos) acredito na possibilidade duma confederação de municípios livres como contra-poder de base à centralização crescente do poder por parte do Estado-nação. Quero fazer notar que, neste campo, a política ecológica é em muitos casos não apenas possível mas também coerente com a ecologia concebida como estudo da comunidade, quer humana quer não humana. Uma sociedade ecológica pressupõe formas participativas de base, comunitárias, que tal política se propõe realizar no futuro. A ecologia não é nada se não se ocupar do modo como interactuam as formas de vida para construir e se desenvolverem como comunidades (...).

A Fome no Mundo



Todos os dias, no Planeta, cerca de 100.000 pessoas morrem de fome e das consequências imediatas da fome. 826 milhões de pessoas estão, hoje em dia, crónica e gravemente subalimentadas; 34 milhões delas vivem nos países economicamente desenvolvidos do Norte;o maior número, 515 milhões, vive na Ásia, onde representa 24 % da população total. Mas se considerarmos a proporção das vítimas, é a África Subariana que paga o tributo mais pesado: 186 milhões de seres humanos vivem aí permanentemente mal alimentados, ou seja, 34% da população total da região.A maior parte deles sofre daquilo a que a FAO chama «fome extrema», situando-se em média a ração diária nas 300 calorias abaixo do regime de sobrevivência em condições suportáveis. Os países mais gravemente atingidos pela fome estão situados na África Subsariana (18 países), nas Caraíbas (Haiti) e na Ásia /Afeganistão, Bangladesh, Coreia do Norte e Mongólia.
Todos os 7 segundos, na Terra, uma criança abaixo dos 10 anos morre de fome.
Uma criança com carência de alimentos adequados em quantidade suficiente, desde o nascimento até aos 5 anos, sofrerá as sequelas do facto para o resto da vida. Por meio de terapias delicadas praticadas sob vigilância médica, consegue-se fazer recuperar uma existência normal a um adulto que tenha estado temporariamente subalimentado. Mas a uma criança de menos de 5 anos, é impossível. Privadas de alimentação, as células cerebrais sofreram danos irreparáveis. Reégis Debray chama a setas crianças «os crucificados à nascença».
A fome e a má nutrição crónica constituem uma maldição hereditária: todos os anos, dezenas de milhões gravemente subalimentados dão à luz dezenas de crianças irremediavelmente atingidas. Todas essas mães subalimentadas, e que, no entanto, dão à luz, lembram as mulheres malditas de Samuel Beckett, que «parem a cavalo num túmulo…»
A destruição de milhões de seres humanos pela fome efectua-se numa espécie de normalidade gelada, todos os dias, e num planeta a transbordar de riquezas.
No estádio alcançado pelos meios de produção agrícolas, a Terra poderia alimentar normalmente 12 milhões de seres humanos, ou seja, fornecer a cada indivíduo uma ração equivalente a 2.700 calorias por dia. Ora nós somos pouco mais do que uns 6 mil milhões de indivíduos sobre a Terra, e todos os anos 826 milhões sofrem de subalimentação crónica e mutilante.
A equação é simples: quem tem dinheiro, come e vive. Quem não tem, sofre, torna-se inválido e morre.
A fome persistente e a subalimentação crónica são criadas pela mão do homem. São devidas à ordem assassina do mundo. Todo aquele que morre de fome é vítima de uma assassínio.

Sobre estes biliões de pessoas, os senhores do capital globalizado exercem um direito de vida e de morte. Por meio das suas estratégias de investimento, das suas especulações monetárias, das alianças políticas que efectuam, decidem todos os dias quem tem direito a viver neste planeta e quem está condenado a morrer.
As suas armas são as fusões forçadas, as ofertas públicas de compra hostis, o estabelecimento de oligopólios, a destruição do adversário por meio do dumping ou das campanhas de calúnias ad hominem. O assassínio é mais raro, mas os senhores não hesitam em recorrer a ele, se necessário.
Mas assim que o sistema no seu todo, ou num dos seus segmentos essenciais, é ameaçado ou simplesmente contestado (…) os oligarcas e os seus mercenários constituem um bloco coeso. Movidos por uma vontade de poder, uma cupidez e uma embriaguez de comando sem limites, defendem então com unhas e dentes a privatização do mundo. Esta confere-lhes extravagantes privilégios, um sem -número de prebendas e de fortunas pessoais astronómicas. (…)
Walter Hollenweg, teólogo famoso da Universidade de Zurique, resume perfeitamente a situação: « A cupidez obsessiva e sem limites dos nossos ricos, aliada à corrupção praticada pelas elites dos países ditos em vias de desenvolvimento, constitui uma gigantesca conspiração criminosa…No mundo inteiro e todos os dias se reproduz o massacre dos inocentes de Belém».

A 25 de Junho de 1793, na Convenção de Paris,o padre Jacques Roux leu o seu Manifesto dos Enraivecidos. Nele se pedia que fosse efectuada uma revolução económica e social contra o comércio e a propriedade privada quando estes «consistem em fazer morrer de miséria e de inanidade os seus semelhantes».

Franz Kafka escreveu esta frase enigmática: «Longe, longe de ti desenrola-se a história mundial da tua alma.»

Eu sou o Outro, o Outro sou Eu. Ele é o espelho que permite ao Eu reconhecer-se. A sua destruição destrói a humanidade em mim. O sofrimento dele, mesmo que não me atinja, faz-me sofrer.

O predador é a figura central do mercado capitalista globalizado, a avidez é o seu motor. Ele acumula o dinheiro, destrói o Estado, devasta a natureza e os seres humanos, e apodrece pela corrupção os agentes de cujos serviços se assegura no seio dos povos que domina. Ele fomenta no Planeta paraísos fiscais reservados ao seu próprio uso. Mercenários devotados e eficazes servem a ordem dos predadores

(retirado de «Os Novos senhores do mundo e os seus opositores» de Jean Ziegler, ed. Terramar,2003, com tradução de Magda Bigotte de Figueiredo a partir das Éditions Fayard de 2002)

Pedido de socorro



O dia anunciava-se esplêndido. Era um 3 de Agosto, às 6,15 h. NO Aeroporto de Bruxelas-Zaventen, um Sol vermelho subia no céu. O Boeing 747 da Sabena aterrou à hora. Enquanto os passageiros, com os olhos ainda cheios de sono, desciam as escadas para entrar no autocarro, um controlador de fato-macaco branco deu a volta ao aparelho.Da caixa esquerda do trem de aterragem saíam três dedos de uma mão, agarrados à divisória. O controlador aproximou-se mais. No trem de aterragem, descobriu dois corpos de adolescentes, negros e frágeis, encolhidos, as feições paralisadas pelo medo. Eram os corpos de Fodé Touré Keita e de Alacine Keita, dois guineenses de 15 e 14 anos, vestidos com uns simples calções, umas sandálias e uma camisa de manga curta.
A caixa principal do trem de aterragem de um Boeing 747 contém dezasseis rodas grandes. O compartimento é vasto, com dois metros de altura. A caixa só é aberta a partir da cabina de pilotagem. Mas quando o avião está na pista, qualquer pessoas – desde que consiga esgueirar-se por entre o pessoal da manutenção – pode trepar para dentro da caixa.
À velocidade de cruzeiro, um Boeing 747 voa a cerca de 11.000 metros e, a essa altitude, a temperatura exterior é de -50º.
Os dois adolescentes terão provavelmente subido para a caixa do trem de aterragem na escala de Conacri.
No bolso da camisa de Fodé, o controlador encontrou uma folha cuidadosamente dobrada, com uma caligrafia incipiente:
«Portanto se virem que nos sacrificamos e arriscamos a vida, é porque sofremos de mais em África e precisamos de vocês para lutar contra a pobreza e para pôr fim à guerra em África. Porém, nós queremos estudar e pedimos que nos ajudem a estudar para sermos como vocês, em África…
Finalmente, pedimos imensa desculpa por termos ousado descrever esta carta a pessoas como os senhores, pessoas tão importantes por quem temos muito respeito. E não se esqueçam de que é a vocês que devemos queixamo-nos da fraqueza da nossa força em África.»

(retirado de «Os Novos senhores do mundo e os seus opositores» de Jean Ziegler, ed. Terramar,2003, com tradução de Magda Bigotte de Figueiredo a partir das Éditions Fayard de 2002)

Tratado de Ateologia, de Michel Onfray ( citações)



O filósofo francês Michel Onfray acabou de publicar um novo livro - «Traité d’Athéologie», ed. Grasset, 2005- de onde retiramos algumas citações:



«porque Deus não morreu nem é perecível – contrariamente ao que dizem Nietzsche e Hine. Nem morto nem perecível ele é, porque não é mortal. Um ficção não morre, nem uma ilusão se trespassa, nem muito menos se vai refutar um conto infantil»

(…)

«Deus releva do bestiário mitológico, como milhares de outras criaturas repertoriadas nos dicionários com inúmeras entradas, desde Démeter até Dionísios»

(…)

«O silêncio de Deus convida à conversa da treta dos seus ministros que usam e abusam do epíteto: quem quer que não creia em Deus, torna-se logo um ateu. No pior dos homens, no imoralista, no detestado, no imundo e na incarnação do mal.
Difícil por isso dizer-se ateu…Quando se diz tal, é sempre na perspectiva insultuosa de uma autoridade preocupada em banir, e em marginalizar e condenar»

(…)

«(o primeiro verdadeiro ateu:) Agrada-se que esta genealogia filosófica proceda de um padre: Meslier, santo, herói e mártir da causa ateia…»


(…)

«o ensino da religião reintroduz o coelho na cartola: o que os padres não podem fazer abertamente, podem agora fazê-lo docemente, ao ensinar as fábulas do Antigo e Novo Testamento, as do Corão e dos Hadiths, sob pretexto de permitir os alunos aceder mais facilmente a Marc Chagall, à Divina Comédia e à Capela Sistina ou à música de Ziryab…»

(…)

«ensinar o ateísmo supõe uma arqueologia do sentimento religioso: o medo, a incapacidade de olhar a morte, a impossível consciência da incompletude e da finitude nos homens, a função e o motor que é a angústia existencial. A religião, esta criação ficcional, exige uma desmontagem em boa forma dos placebos ontológicos – como em filosofia se fala da bruxaria e da loucura para produzir uma definição da razão»

(…)

« A época parece ateia, mas somente aos olhos dos cristãos e dos crentes. De facto, ela é niilista.
Os padroeiros de ontem e da véspera têm todo o interesse em fazer passar o pior e a negatividade contemporânea por um produto do ateísmo»

(…)

«Três milénios testemunham dos primeiros textos até hoje: a afirmação de um Deus único, violento, invejoso, quezilento, intolerante, belicoso, que gerou mais ódio, sangue, mortos, brutalidade do que paz…»

(…)

«Que eu saiba nem os Papas, s Princípes, os Reis, os Califas, os Emires brilharam tanto na virtude como Moisés, Paulo, Mahomé brilharam na mortícinio, na venda de tabaco ou nas razzias»

(…)

«os teístas realizam inimagináveis contorções para justificar o mal à superfície do planeta, não deixando nunca de afirmar a existência de Deus a quem nada escapa. Os deístas são um pouco menos cegos, já os ateus parecem já bem mais lúcidos»

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«A missa dominical nunca primou como momento de reflexão, de análise, de cultura e de saber difundido e trocado, e quanto ao catecismo, muito menos. O mesmo se passa nas outras religiões monoteístas. Quer nas orações junto do Muro das lamentações ou nas Cinco Ocasiões diárias dos muçulmanos ora-se, pratica-se as invocações, exerce-se a memória, mas nunca a inteligência»

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«trata-se daqui para diante de conseguir aquilo que Deleuze chama de ateísmo tranquilo, a saber, um cuidado não tanto na negação estática ou de combate a Deus, mas num método dinâmico que desemboque numa proposição positiva destinada a construir após o combate»

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« a superação deste ateísmo cristão – não muito ateu e ainda bastante cristão para meu gosto –permite encarar sem redundância de assim o nomear, um autêntico ateísmo ateu…Este quase que pleonasmo serve para significar uma negação de Deus em conjunto a uma negação de uma parte dos valores que daí resultam, mas ainda(…) para colocar a moral e a política noutras bases que não sejam niilistas, mas pós-cristãs»

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«desconstruir os monoteísmos, desmistificar o judaico-cristianismo – mas também o Islão – para depois desmontar a teocracia , eis as três tarefas inaugurais da ateologia.
Trabalhar em seguida para uma nova ética e criar as condições de uma verdadeira moral pós-cristã, onde o corpo deixe de ser uma punição, a terra um vale de lágrimas, a vida uma catástrofe, o prazer um pecado, as mulheres uma maldição, a inteligência uma presunção, e a vontade uma danação»

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«não se mata um sonho, nem se assassina um subterfúgio. Serão antes estes que nos matam, pois Deus empurra para a morte tudo o que lhe resiste. Em primeiro lugar a razão, depois a inteligência e o espírito crítico»


Citações retiradas do livro de Michel Onfray, «Traité d'athéologie, physique de la métaphysique» (Grasset)