26.6.08

Morreu Albert Cossery, um escritor de coisas simples e subversivas como a preguiça e a desobediência:escrevia para os seus leitores não irem trabalhar

"A vida é maravilhosa, mas é preciso uma pessoa saber desprender-se de tudo o que desgraçadamente dá felicidade aos imbecis"


"Dei-me sempre com pessoas que têm uma concepção original da vida, que não se deixam levar pelo que lêem nos jornais, sabendo muito bem ler nas entrelinhas. Tais pessoas são felizes. Eu fui sempre feliz. Comigo só trago o bilhete de identidade, ou melhor, o cartão de residente. É o único cartão que trago na carteira, não tenho cartão de crédito nem livro de cheques. A vida é maravilhosa, mas é preciso uma pessoa saber desprender-se de tudo isso que desgraçadamente dá felicidade aos imbecis."

"Se o mundo se transformou numa coisa mal-humorada, isso deve-se, sem dúvida, ao facto de agora ser preciso muito dinheiro para viver. A vida é muito simples, mas tudo conspira para a tornar complicada. É quando nos vemos livres da ambição do dinheiro, do orgulho ou do poder que a vida se revela formidável."


“Um idiota preguiçoso continua sempre a ser um idiota! E um preguiçoso inteligente é alguém que reflectiu acerca do mundo em que vive. Não se trata, pois, de preguiça. É tempo de reflexão. E quanto mais preguiçoso fores, mais tempo tens para reflectir. E é por isso que, no oriente, isso se designa por filosofia oriental…A maior parte das pessoas tem tempo. Quanto mais se desce para sul, mais encontramos profetas, magos, pessoas que reflectiram sobre o mundo.”

“No Oriente, as pessoas não tem pressa, dispõem de tempo para reflectir. Olhe, qualquer pé descalço, no Egipto, precisamente por ter tempo para reflectir, saí-se com coisas formidáveis. Porque a vida é muito simples, e tudo é feito para que pareça complicada.As personagens que descrevo viviam assim, como as descrevo. A partir do momento em que uma pessoa não tem qualquer ambição de dinheiro,de orgulho, ou de poder, a vida torna-se de repente formidável. Há quarenta e cinco anos que estou em França e nada fiz para que os meus livros fossem traduzidos. Nunca dei um passo para o sucesso. São os editores que vem ter comigo”.

“Nunca desejei ter um belo carro ou qualquer outra coisa a não ser eu mesmo. Posso ir para a rua com as mãos nos bolsos e sinto-me um príncipe."


O escritor egípcio Albert Cossery (1913-2008) morreu dia 22 de Junho, aos 94 anos, em Paris, onde vivia desde 1945.
Os oito livros publicados têm edições em português na Antígona: Mendigos e Altivos (1992), Mandriões no Vale Fértil (1999), A Violência e o Escárnio (1999), As Cores da Infâmia (2000) A Casa da Morte Certa (2001), Uma Conjura de Saltimbancos (2001), Os Homens Esquecidos de Deus (2002) e Uma Ambição no Deserto (2002).

Chamavam-lhe o «Voltaire do Nilo». As suas histórias do quotidiano de pessoas simples denunciavam os valores utilitaristas dominantes nas nossas sociedades modernas. Por isso elogiava a preguiça, a desobediência,e a vida; e opunha-se à vertigem da velocidade, do consumismo, à opressão e ao lucro.

Os seus livros sugerem uma resistência passiva, um anarquismo individualista face à grande desordem do mundo.

Era uma figura do bairro de Saint-Germain des Prés, onde vivia, desde 1945, num modesto hotel da Rue du Seine, chamado La Louisiane. Era possível vê-lo a passear diariamente nas ruas de Paris impecavelmente vestido, numa atitude de dandy e de alegria de viver, apesar das doenças que o não pouparam ( teve um cancro na garganta que lhe roubou a voz).

Os Homens Esquecidos de Deus, primeiro livro de Cossery, foi publicado no Cairo em 1927 e traduzido para várias línguas. Neste conjunto de cinco histórias, desenham-se já os temas predilectos que este autor viria depois a desenvolver: o olhar insólito sobre o poder, o despojamento, o ódio ao trabalho, a militância, etc. Ridicularizando os políticos e os poderosos do mundo, através do riso das suas personagens, Cossery abre já caminho para o verdadeiro lugar do escritor do século XXI, negação radical do pior que o século XX ofereceu aos homens e mulheres do seu tempo.

No fim da II Guerra Mundial vai para Paris onde convive com nomes como Albert Camus, Jean Genet, Juliette Greco, Giacometti, Boris Vian ou Mouloudji.



Livros:


MENDIGOS E ALTIVOS é o primeiro livro de Albert Cossery publicado em língua portuguesa.
Gohar, professor universitário de Literatura e Filosofia, levado pelo nojo que a Universidade lhe inspira, decide tornar-se mendigo, conduzindo-nos, através das oscilantes ciladas da moral, a um conhecimento sumamente eufórico das peias com que a civilização modernizadora abafa quase à nascença a vida verdadeira.
Mendigos e Altivos, publicado pela primeira vez em 1955 e tido em geral como a obra-prima de Albert Cossery, foi já objecto de três adaptações: duas ao cinema e uma em banda desenhada.Autor traduzido em várias línguas e premiado em França, nascido no Cairo em 1913, Cossery é um profeta do prazer e da preguiça. As suas personagens, quase sempre oriundas das camadas socialmente marginais do Cairo, são apesar disso solares – a ausência de esperança é nelas o contrário do desespero.Mendigos e Altivos, por intermédio da personagem central, Gohar, ex-professor universitário de Literatura e Filosofia, mendigo por decisão própria, conduz-nos a uma visão do mundo civilizado, enquanto inutilidade orgânica, num explosivo cocktail de escárnio e reflexão.




MANDRIÕES NO VALE FÉRTIL
«Se o mundo se transformou numa coisa mal-humorada, isso deve-se, sem dúvida, ao facto de agora ser preciso muito dinheiro para viver. A vida é muito simples, mas tudo conspira para a tornar complicada. É quando nos vemos livres da ambição do dinheiro, do orgulho ou do poder que a vida se revela formidável.»
A mandriice, longe de ser um defeito, é cultivada como uma flor rara e preciosa pelas personagens deste livro. Galal, o filho mais velho, é considerado o mais sábio de todos porque passa a vida na cama desde há sete anos e só se levanta para ir à mesa. Rafik, o do meio, renuncia a casar-se com a mulher que ama temendo que ela perturbe para sempre a doce sonolência que reina lá em casa. Como terá Serag, o mais novo, a loucura de ir trabalhar para a cidade? Porque a verdade é esta: o trabalho só pode engendrar desordem e desgraça.
Cossery considera-se um escritor egípcio de língua francesa. Em 1990, aos setenta e sete anos, a Academia Francesa atribuiu-lhe, pelo conjunto da sua obra, o Grande Prémio da Francofonia - apesar de em quase sessenta anos de «carreira» literária apenas ter escrito oito livros: sete romances e uma colectânea de novelas. Porque, fiel à sua filosofia da indolência e do desprendimento, a rejeição do trabalho foi sempre para ele a grande luz.



A VIOLÊNCIA E O ESCÁRNIO
Numa cidade do Próximo Oriente, governada por um tirano grotesco, um pequeno grupo de contestatários, trocistas e cépticos, decide combatê-lo pondo-o a ridículo. Para isso, espalham por toda a cidade um belo cartaz contendo o retrato do governador e um texto tecendo os maires louvores à sua acção governativa. Inventam assim uma nova forma de acção política...


AS CORES DA INFÂMIA
Após um silêncio de quinze anos, Albert Cossery sai, enfim, com o seu último romance (último no sentido vasto do termo, pois declarou não escrever mais uma linha), cuja acção se desenrola no Cairo como habitualmente. Todos os temas predilectos do Autor são aí abordados: o olhar insólito sobre o poder, o ódio ao trabalho, a preguiça como actividade interior, o desejo de ver triunfar os únicos seres que merecem a sua consideração, isto é, aqueles que realizam a vida alheios à posse de bens materiais.



A CASA DA MORTE CERTA
A Casa da Morte Certa, o segundo livro do autor, foi publicado pela primeira vez em Paris, em 1942.
Nos livros de Cossery expõe-se uma concepção da vida que tende a formular um verdadeiro modelo filosófico. A ambição, no sentido quantitativo, é a causa de todas as desgraças do mundo. Aquele que só espera da vida o prazer de simplesmente fruir a existência, em si mesma, por si mesma, fica liberto de todas as preocupações invasoras, dificultando do mesmo passo as imposições dos poderosos.
Na Casa da Morte Certa, «as crianças dormem tranquilas. Nunca se queixam. O homem, esse, queixa-se porque percebe que é um escravo. Procura sair disso, grita, debate-se, mas nada acontece. As crianças são a força que se erguerá, um dia, da lama dos bairros populares. Uma força imensa e explosiva que nada mais poderá deter. Vinda do fundo das vielas submergirá as praças e as avenidas. Rebentará como um mar tempestuoso, atingindo, desta forma, o rio, as ilhas adormecidas, no esplendor dos palácios. Aí, deter-se-á, por fim. Respirará vigorosamente. Terá atingido o seu objectivo.»




UMA CONJURA DE SALTIMBANCOS
A leitura de Uma Conjura de Saltimbancos ajuda-nos a preservar a sanidade mental. São histórias de jovens que conspiram para se divertir, contrariando a roda infatigável do hábito e da rotina no quadro de uma cidade de província, onde aparentemente não se passa nada, mas no fundo fervilham mistérios e maravilhas.



OS HOMENS ESQUECIDOS DE DEUS
Os Homens Esquecidos de Deus, primeiro livro de Cossery, foi publicado no Cairo em 1927 e traduzido para várias línguas. Neste conjunto de cinco histórias, desenham-se já os temas predilectos que este autor viria depois a desenvolver: o olhar insólito sobre o poder, o despojamento, o ódio ao trabalho, a militância, etc.
Ridicularizando os políticos e os poderosos do mundo, através do riso das suas personagens, Cossery abre já caminho para o verdadeiro lugar do escritor do século XXI, negação radical do pior que o século XX ofereceu aos homens e mulheres do seu tempo.




UMA AMBIÇÃO NO DESERTO
O xeque Ben Kadem, Primeiro-ministro do emirado de Dofa, interroga-se sobre como conseguir um papel na cena internacional, encontrando-se ele à frente de um Estado miserável, completamente eclipsado pelos Estados vizinhos, produtores de petróleo. Inventa um estratagema: simular atentados à bomba, reivindicados por uma denominada Frente de Libertação fantasma. Tal medida corre o risco de fazer despertar a simpatia por parte de movimentos revolucionários internacionais e a inquietação dos grandes poderes tutelares. Para executar o seu plano, recorre a um jovem aventureiro, Shaat, que retira da prisão onde este cumpria pena por tráfico de ouro. Shaat passa a fabricar as bombas que Mohi se encarregará de fazer explodir. Mas o controlo desta falsa vaga de terrorismo escapa ao Primeiro-ministro, e Mohi - nem mais nem menos do que o seu próprio filho - é morto pela explosão prematura da bomba que transporta. Samantar, aristocrata marginal, e testemunha privilegiada no centro de todo este drama, encarna o cepticismo, a inteligência, a sabedoria e a preguiça, características tão caras a todos os heróis de Cossery.
Redescobrimos aqui, com prazer, o charme indolente, as personagens bizarras, o Oriente simultaneamente real e onírico que fizeram o sucesso do autor de Mendigos e Altivos.


CONVERSAS COM COSSERY
O escritor egípcio Albert Cossery conversou durante horas com Michel Mitrani acerca das origens da sua obra e das influências e amizades literárias que atravessaram a sua vida.
Nascido em 1913, Albert Cossery vive, desde 1945, em França, onde publicou a maior parte dos seus livros. Os escritos de Cossery lançam um forte desafio à preguiça e à reflexão neste mundo de superprodutividade. Com o seu incomparável olhar sobre os costumes e atitudes contemporâneos, Cossery convida o leitor ao despojamento e ao riso como forma de subverter os valores dominantes, que alienam e oprimem as mulheres e os homens do nosso tempo.
Estes diálogos, juntamente com excertos das obras, constituem um documento essencial acerca deste grande escritor. Foram registados com base nas conversas conduzidas por Michel Mitrani para o filme que realizou com Jean Labib na colecção «Les Hommes-livres» [Os Homens-livros], proposta por Jérôme Prieur e produzida pelo Instituto Nacional do Audiovisual.

Contra a legalização da precariedade laboral que representa a revisão do código do trabalho acordada entre os patrões, o governo e os amarelos da UGT

Um grupo de jovens trabalhadores precários esperou hoje pelo governo junto à sede da concertação social para manifestar o seu protesto pelas medidas de combate à precariedade previstas na proposta da revisão do Código de Trabalho.

"Estamos aqui para tentar entregar um documento ao primeiro-ministro com a nossa posição sobre a revisão do Código de Trabalho, sobretudo para assinalar que a proposta do governo não resolve o problema da precariedade, mas contribui para a sua legalização", disse à agência Lusa Pedro Rodrigues, do Movimento Precários Inflexíveis que promoveu a acção de protesto.

Os jovens precários, estacionados em frente à sede do Conselho Económico e Social, empunhavam uma faixa que dizia "não há acordo para a precariedade".

Entregaram o seu documento ao presidente da CIP (Confederação da Indústria Portuguesa), Francisco Van Zeller, ao ministro do Trabalho e Solidariedade Social, Vieira da Silva, e a um dos assessores do primeiro-ministro.

No documento, os jovens precários fazem uma leitura crítica da proposta governamental da revisão do Código de Trabalho.

No texto acusam o governo de adoptar "a estratégia de precariedade e do desemprego, facilitando e legalizando ambos".

"O governo legaliza ou no mínimo legitima a precariedade", reforça o documento, acrescentando que "os patrões sabem fazer contas e sabem bem que é o descartável que fica mais barato".

Um dos eixos da proposta do governo é o combate à precariedade e nesse âmbito propõe a aplicação de uma taxa de cinco por cento às empresas que tenham ao seu serviço trabalhadores a recibo verde e o agravamento em três por cento na taxa social única que as empresas pagam pelos contratados a prazo




COMUNICADO DE IMPRENSA DOS PRECÁRIOS-INFLEXÍVEIS

Não há acordo para a precariedade

Os Precários-Inflexíveis lançaram esta manhã a sua versão da tradução para português das propostas do Governo, distribuindo-a à porta da Concertação Social, em Belém Ora cá está uma Concertação Socialzinha desafinada e em registo de Verão, própria da "silly season". Com alguns solistas e desprezo pela orquestra.

Para os Precários-Inflexíveis (PI) e para a maior parte dos trabalhadores e trabalhadoras não há acordo. O código Sócrates só serve quem quer ter a mão-de-obra pela trela.

Os Precários-Inflexíveis pateiam, batem palmas e riem, porque de desespero já estão cheios. Praia? Férias? Subsídio de desemprego? Salários certos? Protecção na doença, na paternidade ou na maternidade? Democracia? Isso parecem ser luxos para cada vez menos cidadãos, facto que este novo Código Laboral só vem consagrar e agravar.

Alguém tem dúvidas? Então que leia a nossa tradução (segue em anexo, acompanhada do documento original do Governo).

http://www.precariosinflexiveis.blogspot.com/



O documento entregue hoje de manhã ao Ministro
(quando ainda não estava assinado o"acordo" que já toda a gente sabia que ia existir)

REFORMA DAS RELAÇÕES LABORAIS
Uma leitura / tradução para português das propostas do Governo em sede de concertação social, no âmbito da revisão (em baixa) do Código do Trabalho


EXECUÇÃO SUMÁRIA
dos direitos no trabalho, das vidas precárias e outr@s explorad@s
(com ou sem “acordo”)
tradução da revisão em baixa do código de trabalho




Debate: Transgénicos: sim ou não? ( 27 de Junho às 18h. no bar Os Bacalhoeiros)


27 de Junho Sexta-Feira 18h

Debate: Transgénicos: sim ou não?

Com a participação de:
Jorge Nascimento Fernandes (biólogo);
Paula Tavares (bióloga);
Fernando Ramalho (moderador).

Entrada livre.

Organização: Le Monde diplomatique - edição portuguesa

Os Bacalhoeiros (R. dos Bacalhoeiros, 125, Lisboa - junto à Casa dos Bicos)