20 teses contra o capitalism verde, de Tadzio Mueller e Alexis Passadakis:
(1) a actual crise económica mundial marca o fim da fase neoliberal do capitalismo;
(2) além das crises económica, política e climática, existe uma nova crise atormentando o mundo: a "biocrise", que é o resultado da mistura suicida entre o ecossistema que garante a vida humana e a necessidade constante de expansão do capital;
(3) A "biocrise" fornece aos movimentos sociais uma oportunidade histórica: a de expor a jugular do capitalismo, ou seja, a sua incessante e destrutiva necessidade de se expandir;
(4) o "New Deal" verde já não o da agricultura orgânica e do "faça você mesmo", mas sim uma proposta de que esta fase "verde" do capitalismo deve continuar gerando lucros através da modernização de certas áreas de produção (carros, energia, etc);
(5) esta seguranda versão do capitalismo verde não será capaz de resolver a "biocrise" (mudanças climáticas e outros problemas ecológicos como a redução da biodiversidade), mas conseguirá lucrar com ela, o que em nada altera a rota de colisão entre as economias de mercado e a biosfera;
(6) o "Green Deal" discutido por Obama, pelos partidos verdes e pelas corporações multinacionais está mais relacionado com o bem-estar das corporações do que das pessoas;
(7)o "Capitalismo Verde" não vai pôr em questão o poder daqueles que mais poluem, mas vai despejar mais dinheiro nessas empresas, para ajudá-las a manter os seus lucros mediante pequenas mudanças ecológicas, que serão muito pequenas e tomadas muito tarde;
(8) num mundo configurado pelo "capitalismo verde", os salários irão estagnar ou cair para cobrir os custos da "modernização ecológica";
(9) justificado pela ameaça de crise ecológica, o Estado do "capitalismo verde" será autoritário, irá gerir as agitações sociais que necessariamente irão emergir do aumento do custo de vida (comida, energia, etc) e do decréscimo dos salários;
(10) no "capitalismo verde", os pobres serão excluídos do consumo, enquanto os mais ricos terão que "ajustar" o seu comportamento destrutitvo indo às compras e salvando o planeta ao mesmo tempo;
(11) do ponto de vista da emancipação social e ecológica, o "capitalismo verde" será um desastre do qual não conseguiremos recuperar;
(12) os grandes grupos ambientais passarão a desempenhar o mesmo papel que os sindicados desempenharam na era Fordista - agir como válvulas de escape para assegurar que as exigências de mudança social e que a nossa raiva ficarão contidas dentro dos limites estabelecidos pelo capital e pelos governos;
(13) na década passada, apesar de Kyoto, não só cresceu a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, como ainda foi aumentada a taxa de crescimento destas emissões;
(14) longe de resolver crises, o comércio de carbono e as medidas a ele associadas servem apenas como escudo político para que as emissões de gases de efeito estufa continuem a ser feitas impunemente;
(15) para muitas comunidades do Sul do planeta, estas falsas soluções (biocombustíveis, "desertos verdes" e comércio de carbono) muitas vezes configuram uma ameaça maior do que as próprias mudanças climáticas;
(16) soluções reais para a crise climática não vêm de governos e corporações, vêm de baixo, da sociedade global e dos movimentos que lutam por justiça climática;
(17) estas soluções incluem não aos acordos de livre comércio, não às privatizações, não à flexibilização dos mecanismos de controle mas sim à soberania alimentar, sim ao decrescimento, sim à democracia radical e sim a deixar os recursos naturais onde eles se encontram;
(18) configurados como um movimento emergente por justiça global, devemos lutar contra dois inimigos - as mudanças climáticas e o capitalismo "fossílico" responsável por elas e, por outro lado, também será preciso lutar contra o emergente "capitalismo verde", que não vai interromper o processo destrutivo, mas sim limitar a nossa capacidade de actuar para a impedir a destruição;
(19) mudanças climáticas e acordos de livre comércio não são a mesma coisa, mas o protocolo de Copenhagen será uma instância regulatória, da mesma forma que a OMC foi central para o capitalismo neoliberal; então, como relacionar as duas coisas? o grupo dinamarquês KlimaX argumenta: um bom acordo é melhor do que nenhum acordo - mas nenhum acordo é melhor do que um mal acordo;
(20) a chance dos governos sairem de Copenhagem com um "bom acordo" é praticamente zero; o nosso objectivo deve ser exigir soluções reais, se isso não for possível, devemos esquecer Kyoto e impedir Copenhagem.
Fonte original: aqui e aqui
O texto de que se fala acima é uma tradução livre das “20 Theses against green capitalism”, de Tadzio Mueller e Alexis Passadakis, encontrado no Nowtopia de Chris Carlsson.
Alexis é membro da ATTAC Alemanha e Tadzio faz parte do coletivo editorial Turbulence.
Paródia ao «eco-consumismo» e à sustentibilidade capitalista