7.4.08

Giordano Bruno: livre-pensador, filósofo maldito e rebelde libertário




No passado dia 3 de Março foi inaugurada em Berlim uma estátua evocativa de Giordano Bruno (1548-1600), filósofo maldito, livre-pensador perseguido pela Igreja , cujo Tribunal inquisitorial o condenou a morrer vivo na fogueira, como herético. A estátua inaugurada mostra Giordano Bruno de pernas para o ar, com isso pretendendo transmitir a ideia que um outro mundo é possível e que o mundo pode ser pensado de outras maneiras.

3 citações de Giordano Bruno:


“Aquele que deseje filosofar deve antes de mais duvidar de todas as coisas. Não pode tomar parte num debate antes de ter escutado as diversas opiniões, nem antes de avaliar e comparar as diversas opiniões, nem antes de avaliar e comparar as razões contrárias e a favor. Jamais deve julgar ou censurar um enunciado apenas pelo que ouviu, pela opinião da maioria, pela idade, pelo mérito ou pelo prestígio do orador, devendo por consequência agir de acordo com uma doutrina orgânica que se mantém fiel ao real e uma verdade que pode ser entendida à luz da razão.”


“Desejo que o mundo usufrua dos gloriosos frutos do meu trabalho, desejo despertar a alma e abrir o espírito dos que vivem privados dessa luz que, seguramente, não é invenção minha. Se estiver errado, não creio que o faça deliberadamente. E, ao falar e escrever deste modo, não sou impelido pelo desejo de sair vitorioso, pois que reconheço qualquer tipo de fama e conquista como inimigos de Deus, vãs e sem qualquer honra, se não forem verdadeiras; mas, por amor à sabedoria autêntica e num esforço para reflectir com justeza, fatigo-me, sofro, atormento-me”.

"Muito me debati. Julguei poder ganhar... Mas o destino e a natureza reprimiram os meus estudos e o meu vigor. Mas já é alguma coisa ter estado no campo de batalha, pois vejo que conseguir ganhar depende muito da sorte. Porém, fiz tudo o que podia e não creio que nenhuma geração vindoura o possa negar. Não tive medo da morte, jamais cedi perante os meus iguais, com firmeza de carácter, escolhi uma morte corajosa a uma vida de cobardia sem combate”.




Breve Biografia:


Giordano Bruno (Nola, perto de Nápoles,1548 — Roma, 17 de fevereiro de 1600) foi um teólogo, filósofo, astrónomo e matemático italiano; condenado por heresia pela Igreja Católica. Defendia a teoria do universo infinito e a multiplicidade de sistemas estelares, no que constitui uma ultrapassagem do heliocentrismo que ainda estava a dar os seus primeiro passos, e mesmo assim dentro uma visão fechada do universo, rejeitada por Bruno.

Filho do militar João Bruno e de Flaulissa Savolino,o seu nome de baptismo era Depois de estudos de literatura e filosofia, Filippo ingressa na Ordem Dominicana (no convento de Nápoles em 1566), adoptando então o nome de Giordano. Aí estudou profundamente a filosofia de Aristóteles e de São Tomás de Aquino, doutorando-se em Teologia. Apesar deste título académico que lhe poderia garantir a vida fácil para um erudito, o espírito de Bruno era demasiado rebelde para aceitar em silêncio os abusos da Igreja. Não tarda por isso a atrair contra si as censuras e admoestações dos dogmáticos e dos detentores do poder.

Em 1576 abandona o hábito eclesial ao ser acusado de heresia por duvidar da Santíssima Trindade. Foge de Nápoles, perseguido pela Inquisição, e começa uma errância de 15 anos, ocupado a ensinar e a escrever, bem como a divulgar as suas ideias «loucas»( como, por exemplo, a sua ideia de que as mulheres não são menos inteligentes que os homens).

Visita Génova (onde se converte ao calvinismo), Toulouse, Paris, Londres (onde este dois anos, entre 1583 e 1585), de novo Pais, antes de seguir para Marbourg, Wittenber, Praga, Helmstedt e Frankfurt, onde dá à estampa alguns dos seus escritos, num dos quais se pode ler: «Cristo? Um sedutor. A virgindade de Maria? Uma aberração. A missa? Uma blasfémia. A bilía? Um naco de mentiras». Afirmações como estas levaram à sua excomunhão pelos próprios calvinistas e luteranos.

Graças às suas pesquisas e influências que foi recebendo Giordano Bruno pensa o Universo, o Ser, a razão de uma perspectiva diversa da que estava consagrada nos dogmas e na doutrina.

Regressa a Itália em 1591 sob a protecção de um rico comerciante veneziano que o acaba por entregar à Inquisição . Após sete anos de prisão, de tortura, e recusando sempre abjurar das suas teses e convicções, Giordano Bruno é condenado à morte pelo Santo Ofício, acusado de «herético impenitentes e obstinado». Morreu supliciado na fogueira a 17 de Fevereiro de 1600, não sem antes lhe terem arrancado a língua por causa das palavras temerárias que havia corajosamente proferido.

Ao ser anunciada a sentença de que seria executado piamente, sem profusão de sangue (que em verdade significava a morte pela fogueira) Giordano Bruno teria declarado: "Teme mais a Força em pronunciar a sentença do que eu em escutá-la", com isso querendo dizer que a Força (a Igreja Católica) sabia bem do crime contra a humanidade que estaria a cometer ao criar um mártir do pensamento.

Defensor do humanismo, corrente filosófica do Renascimento (cujo principal representante é Erasmo), Bruno defendia o infinito cósmico e uma nova visão do homem. Defendeu teorias filosóficas que misturavam neo-platonismo místico e panteísmo. Acreditava que o Universo é infinito, que Deus é a alma universal do mundo e que todas as coisas materiais são manifestações deste príncipio infinito. Por tudo isso, Bruno é considerado um pioneiro da filosofia moderna, tendo influenciado decisivamente o filósofo holandês Baruch de Espinoza e o pensador alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz

Um dos pontos chaves de sua teoria é a cosmologia, segundo a qual o universo seria infinito, povoado por milhares de sistemas solares, e interligado com outros planetas contendo vida inteligente. Para esta perspectiva bebeu na fonte de Nicolau da Cusa, Copérnico e também de Giovanni Della Porta.

John Gribbin, no seu livro "Science: A History 1543-2001" explica que Bruno participava de um movimento chamado Hermetismo.

Nómada por natureza e modo de vida, Bruno baseou sua filosofia apoiado nas suas intuições e vivências fora dos cânones e dos lugares comuns.

Em 1889 foi construído um monumento em sua homenagem no local onde Giordano Bruno teria sido executado: no Campo de Fiori, em Roma ( Itália)

Obras:
Il Candelaio, em 1582
Cena de le Ceneri, em 1584
De l’infinito universo e mondi, em 1584
De la causa, principio e uno, em 1584
Gli eroici furori, em 1585





Consultar:


Programa da Conferência no Max Planck Institute for the History of Science, Berlin em 3 e 4 de Março de 2008 sob o tema "Turning Traditions Upside Down: Rethinking Giordano Bruno’s Enlightenment".:
http://www.mpiwg-berlin.mpg.de/PDF/Programm-Bruno.pdf



Monumento em homenagem a Giordano Bruno, da autoria do escultor Alexander Polzin, na Potsdamer Platz, em Berlim








Giordano Bruno, herético




Giordano Bruno, ateista





Giordano Bruno, o cosmos e a consciência



Outro documentário sobre G. Bruno


As rusgas da polícia num relato de Aquilino Ribeiro

Nas últimas noites, a bem da sanidade moral, as rusgas bateram Lisboa de ponta a ponta. Os melhores podengos da polícia, à hora que os arcos voltaicos tiritam na cacimba matutina afuroaram as alfurjas, as padieiras das casas, a sombra dos viadutos.

No fim da caçada contaram cento e sessenta cabeças que vão ser encaixotadas num porão e remetidas, como purgueira, para adubar a Guiné.
Tinham cara de fome, enxutos os bolsos, não usavam gravata, talvez na véspera houvessem bispado um lenço a burguês, que queriam?

Eram vadios? De modo algum a ordem social pode consentir este parasitismo baixo que se estruma pelas ruas aos pontapés das botas de verniz da gente rica. A ordem social é asseada como uma cocotte de Paris: moinantes só apadrinha aqueles que calçam luvas cor de canário, ostentam crachás, ou em ocasião crítica rapam de uma senha franquista.

Os que trazem uma andaina sebenta, bebem as amarguras das pobres toleradas en rascão barato, em vez de ser em beneditino, esses corre-os a pontapé.

De entre os presos das últimas noites , alguns mostravam calos nas mãos, áscuas da forja no rosto, mas que haviam cometido o desleixo de não ir dormir a palácio, nem de trazer na botoeira a gardénia murcha da orgia.

Outros, eram os pequenos esfarrapados, cuja mãe é a rua, qua gastam os pulmões a pregoar os algoritmos da Santa Casa, moem as pernas a fazer recados e pernoitam ao sereno como os pardais.

Tinham perpetrado, todos, o crime de não trazer colarinho da moda, de terem cara de miséria e não serem sequer primos de um conselheiro, desses pares marcantes da contradança monárquica.

Massa amorfa, foram arrebanhados para um calabouço como para uma ménagerie, varridos das calçadas como o cisco pela agulheta municipal.

Quem se importa do cisco que vai para a sarjeta e daí para os lodaçais do mar?

As cento e sessenta cabeças arrebanhadas vão pagar a sua pouca filosofia da vida. Arrombassem o erário, mas não furtassem um chavo a um burguês, fanassem, mas de luva branca, monóculo de viseira, explorassem as mulheres mas com tom, com linha, com arte.

Vão para a Guiné; as casas de correcção continuarão sendo colégios de meninos amparados. No sol dos trópicos hão-de os vagabundos achar a terapêutica dos seus vícios. E as pretas da Guiné será a boa estrela redentora destes porcos rufiões que bebem o sangue das amantes em vinho feito a martelo.

( crónica de Aquilino Ribeiro publicada no jornal A Vanguarda, de 28/9/1907)

Léxico:
Afuroar = pesquisar
Alfurja = saguão
Padieira = Ombreira

17º Festival Intercéltico do Porto (11 e 12 de Abril)


O 17º Festival Intercéltico do Porto vai decorrer entre os dias 11 e 12 de Abril no Cinema Batalha da cidade do Porto.


Portugueses, galegos e irlandeses vão fazer a festa no mais antigo festival de música desta cidade.


Assim os portugueses Encontros da Eira, abrem o festival na noite de 11, que terá na segunda parte os irlandeses Beoga uma das bandas sensação da folk actual.


Dia 12, de novo se inicia em português, com os Galandum Galundaina, encerrando o festival com o grupo do prestigiado gaiteiro galego Xosé Manuel Budiño que acaba de editar o seu mais recente e excelente trabalho.


Os celtas chegam de novo em Abril com a alegria e a força da sua música que não vai deixar ninguém indiferente.


As Noites Intercélticas vão acontecer paralelamente na Casa das Artes de Arcos de Valdevez onde dia 11 actuam os Galandum Galundaina e dia 12 os Beoga.

O Sonho de uma noite de Verão, de Shakespeare - pelo Teatro Universitário do Porto (TUP), entre 9 e 14 de Abril


9 a 14 de Abril, às 21h30, nas instalações do TUP


SINOPSE
Prestes estão as bodas de Teseu e Hipólita, mas nem tudo vai bem na corte de Atenas: Hérmia recusa ceder ao pulso do pai e planeia a fuga com o seu bem-amado Lisandro; Demétrio, o noivo preterido, segue no seu encalço perseguido por Helena, que o ama apesar de sofrer persistentemente o seu desdém. Quando todos se perdem na floresta, os fulgores da desobediência, do amor e do ciúme ficam à mercê dos arrufos de Titânia e Oberon, reis das fadas desavindos. Os seus caprichos mandam, desmandam, dão o compasso ao latejar nocturno da floresta e reordenam a vida à superfície.

FICHA TÉCNICA

"O Sonho de uma Noite de Verão"
de: William Shakespeare
Tradução: Cândida Zamith

Encenação: Rosa Quiroga
Cenografia e figurinos: Carla Capela e Emanuel Santos
Desenho de Luz: Nuno Meira
Assistência de encenação: Diana Meireles
Apoio dramatúrgico: Constança Carvalho Homem
Apoio de movimento: Sónia Cunha
Banda sonora: Constança Carvalho Homem
Operação de Luz e Som: Rui Almeida
Interpretação: Amana Duarte, Bárbara Sá, Bruno Dias, Carla Capela, Daniel Viana, Emanuel Santos, Joana Martinho, Nuno Campos, Marco Barbosa, Sara Montalvão, Tiago Vouga
Produção: Inês Gregório e Constança Carvalho Homem.

INFORMAÇÕES E RESERVAS: 919 966 196
tupporto@gmail.com