30.4.05

Há 30 anos que os norte-americanos foram varridos de Saigão após uma pesada derrota militar



Os helicópteros norte-americanos abarrotados de gente a levantar do telhado da embaixada americana em Saigão, no Vietname a 30 de Abril de 1975 é a imagem mais forte da pesada derrota que os Estados Unidos sofreram no Vietname, e que correu mundo por via do cinema e da Tv, fazendo já parte da antologia visual da história contemporânea.

Eram quase 8 horas da manhã de uma quarta-feira, 30 de Abril de 1975. Um helicóptero gigante elevava-se lentamente por cima da embaixada americana. Com ele iam os últimos soldados norte-americanos e os vietnamitas colaboracionistas que tinham conseguido entrar no aparelho entre os muitos que forçaram o gradeamento do recinto da embaixada americana e entraram de rompante com o intuito evidente de fugir face ao avanço vitorioso da guerrilha comunista (vietcong) e das tropas norte-vietnamitas.

Os Estados Unidos deixavam para trás 58.202 mortos desde o início da guerra que se iniciara em 1961 com a chegada dos «conselheiros» norte-americanos a que se seguiu a invasão maciça das suas tropas. Uma guerra que foi uma autêntica carnificina: calcula-se que cerca de 1,1 milhões de militares norte-vietnamitas, 230 mil militares sul-vietnamitas e 4 milhões de civis tenham sido mortos como consequência da invasão, ocupação e sucessivos bombardeamento que o exérctio norte-americano sujeitou o Vietname durante os anos de 1962-1975.

A derrota do exército norte-americano representou também a derrota do exército mais bem equipado do mundo face à resistência e guerrilha dos vietnamitas, em particular dos comunistas, que possuíam equipamento rudimentar

Pequena cronologia:
1859 – França inicia a colonização da Indochina

1940 – Japão assume o controle da Indochina

1959 – A França é derrotada na batalha de Dien Bien Phu. O Vietname divide-se em Norte e Sul do paralelo 17

1959 – Infiltrações no Vietname do Sul

1962 – Os EUA instalam 12.000 «conselheiros» militares no Sul do Vietname

1963 – É deposto o presidente do Vietname do Sul num golpe apoiado pelos norte-americanos

1964 – Os EUS iniciam os bombardeamento ao Norte

1965 – Marines americanos desembarcam em força no Vietname

1967 – o número de tropas norte-americanas atinge os 500 mil militares.

1968 – Ofensiva do Tet. Guerrilha e tropas do norte atacam as posições americanas

1969 – O presidente norte-americano inicia a retirada de tropas.

1975 – Campanha Ho Chi Ming: as cidades do Sul caem umas atrás de outras até as forças comunistas tomarem Saigão, capital do Vietname do Sul, e expulsarem os norte-americanos em fuga.

29.4.05

A Insuficiência das Ruas



Texto de reflexão para activistas pouco teóricos
Originalmente publicado no “Libera”, boletim do Círculo de Estudos Libertários Ideal Peres


Libera, boletim informativo do Círculo de estudos libertários Ideal Peres – texto publicado no nº 112, Maio-Junho/2002
www.celip.cjb.net

As tradições revolucionárias sempre contaram ,para a sua fixação na memória social, com imagens de eventos, insurreições e levantamentos de rua. Dispomos desses fragmentos, devidamente acompanhados por propostas políticas, e que ajudam na formação de uma identidade ou “etnia ideológica” onde cabem não apenas os fenómenos com maior visibilidade mas também as propostas mais consequentes.
Após o Maio de 68 e, especialmente, com a ruína e queda do triste espectáculo circense-inquisitorial de má memória da antiga URSS, nos inícios dos anos 90, as esquerdas caíram numa aparente letargia. A tais factos se aplicou, para além de uma transitória farsa nipo-americana anunciando o fim da história, uma roupagem intelectual que se convencionou chamar pós-moderna.
O prefixo “pós” deste rótulo identitário sugeria a superação de uma realidade “moderna” e a sua substituição por uma nova fase de relativismo revestida de presságios de uma liberdade radical e de cidadania global. Esta evolução não tardou em revelar as duas faces bastante familiares ao mundo que acabava de ser exumado por força dos “novos tempos”.
Se, por uma lado, o pós-moderno, na sua acepção virulentamente liberal, lançava as necessidades das pessoas para o arbítrio do mercado e reforçava aquela particular relação global baseada na ética do lucro e das lógicas competitivas do mundo dos negócios; por outro, uma vertente de “esquerda”, ancorada em valores éticos diametralmente opostos aos liberais, buscava, também no relativismo, um modelo explicativo para a “nova” realidade.
Nesta última vertente de pensamento, influenciada também pelo espírito do tempo, podemos encontrar uma variada gama de teorias que, em maior ou menor intensidade, nutriram-se do património político forjado pelos anarquistas nas décadas anteriores ao fenómeno pós-moderno. Uma grande amálgama uniu, pelo menos tacticamente, situacionistas, pós-estruturalistas e libertários profundamente desconfiados das agremiações partidárias. A bandeira do anti-autoritarismo, tão coerentemente empunhada pelos bakuninistas, durante a Primeira Internacional, pareceu fornecer um ponto de consenso mínimo aos insubmissos “náufragos da modernidade”.
Partindo do pressuposto que a pós-modernidade, no seu sentido mais restrito, é má conselheira da revolução, torna-se necessário toda uma profunda discussão em torno dos problemas contemporâneos que afectam o anarquismo. Na verdade, os anarquistas carecem de fóruns onde se proceda a uma exaustiva discussão teórica em que possam amparar as suas atitudes públicas e as suas opções privadas.
As manifestações de rua, em que se destaca Seattle, deram ao anarquismo uma visibilidade incomum nos últimos anos. As vagas de jovens trajando de negro empunhando as emblemáticas bandeiras vermelhas e negras não deixam dúvidas acerca da participação significativa do pensamento libertário nas manifestações antiglobalização.
Acontece que, apesar de algumas tentativas em sentido contrário, os orgãos de comunicação social burgueses têm tido uma grande sucesso quando descrevem toda essa recente história do anarquismo, mais até do que os próprios protagonistas. Estimulados pelas imagens e pelos apelos sensacionalistas desses media, muitos jovens engrossam as passeatas antiglobalização motivados mais pela adrenalina, na busca inconsciente de um “ritual de passagem” (da adolescência - Nota do Tradutor), do que propriamente por uma atitude reflectida. Procedendo dessa forma, bem se pode dizer que, como num fenómeno de retroalimentação, uma boa parte desses activistas que engrossam as manifestações são, na verdade, recrutados pelos media burgueses e não pelo espírito libertário que deveria determinar o movimento.
Uma tal situação, caso não seja encarada com seriedade e muita reflexão, pode vir a transformar um movimento vigoroso em mais uma peça publicitária com fôlego e prazo de validade limitado. O abandono de uma atitude consequente e a sua substituição por um hedonismo pragmático servirá para a emergência de novos comportamentos e novas estéticas mas não para a construção de uma sociedade realmente diferente. O crescimento numérico das manifestações só será acompanhado do seu correspondente qualitativo se houver muito trabalho e organização. Caso contrário, estaremos a reforçar o estereótipo, disseminado principalmente pelo marxismo ( e pela ideologia dominante – Nota do tradutor), segundo o qual o anarquismo é coisa vaga e intuitiva.

28.4.05

70 propostas de actividades para substituir a TV

70 propostas de actividades para substituir a TV

- aprender a tocar um instrumento musical
-ir a concertos
-visitar uma biblioteca pública
-ouvir rádio
-escrever um texto (poesia ou narrativa, pouco importa)
-pintar uma quadro
- aprender a entender as árvores e flores
- plantar alguma coisa
- nadar
-ler um livro
- ler um livro a outra pessoa
-planear um passeio à serra ou à praia
-observar as aves, e aprender a reconhecê-las.
-oferecer alguma coisa
-fazer uma visita
-escrever uma carta
-aprender a fazer pão
-aprender a fazer compotas
-preparar licores caseiros
-gozar de um momento de silêncio
-entrar num grupo coral e cantar em conjunto
-arrumar o armário e levar a roupa desnecessária a quem a precisar
-começar a escrever um diário
- ir a um museu
- jogar as cartas
-visitar uma livraria
-construir um objecto artesanal
-observar o céu à noite
-saber ou tomar contacto com uma cultura ou civilização diferente
-tirar fotografias
-organizar as fotos
-assistir a um peça de teatro
-emtrar para um grupo de teatro
-fazer exercícios físicos
-repara ou deslocar algum móvel
-ler poesia e memorizar os versos que mais gosta
-dançar
-Assistir ao pôr de sol
-ir ai cinema
-reunirmo-nos e conviver com amigos/as
-organizar uma tertúlia
-tratar dos vasos de casa
- recolher plantar medicinais
- aprende os atributos das plantas medicinais
-ouvir música
- participar nalguma colectividade da zona ou bairro
-empenhar-se em acções ecologistas ou dos vários movimentos sociais
-preparar algum dossier temático
-aprender um idioma
-aprender a fazer sabão
- cozinhar
-fazer um inventário dos gastos e despesas supérfluas
-frequentar lojas de comércio justo
-visitar exposições
-construir uma pequena farmácia com remédios caseiros
-praticar sexo
-fazer ou retocar a tua própria roupa
-ler a imprensa
-desfrutar a vida sem fazer nada
-organiza uma dieta equilibrada
-passear
-organiza a tua bilbioteca
- troca livros e músicas com amigos/as
-estudar as matérias que te interessem
-praticar um desporto de equipa
-ver como se pode poupar energia na tua casa
-participar na defesa dos direitos humanos e sociais
-visitar uma cinemateca
-assistir a um colóquio ou debate
……

…e tudo o que te dê na real gana…

Uma semana sem TV (25/4 a 2/5)



A semana sem TV ( 25/4 a 2/5) lançada nos Estados Unidos pela conhecida revista Adbuster pretende fomentar uma reflexão crítica sobre o papel que a Tv desempenha hoje em dia nas nossas sociedades industrializadas, levando á reavaliação da sua exagerada importância no quotidiano e roubando tempo e energia que poderiam ser utilizadas noutras áreas e de forma mais construtiva.
Instrumento político, cultural, comercial, a televisão é um claro meio de controle social.

Estudos do John Watson Institute, no Colorado, afirmam que a Tv deve ser classificada como mais uma droga adictiva. Segundo o mesmo estudo o consumo de Tv preenche os requisitos que definem uma adicção:

- Utilização como sedativo
-visão indiscriminada
-sensação de perda de controle durante a visão
-sentir-se mal consigo mesmo por ter excedido no seu consumo
-incapacidade de deixar de olhar
-sentir-se débil quando não se está a olhar a Tv

A publicidade é a verdadeira justificação para a Tv. É ela que a financia e justifica todo o tipo de programas em busca de maior audiência. Aliás, a Tv já consegue fazer notícias como se fossem anúncios…

O consumo de televisão, com programação de baixíssima qualidade, reduz a actividade de pensamento e da imaginação. Incita, além do mais, a um tipo de consumo social ambientalmente insustentável ao recorrer sistemática e insidiosamente à manipulação dos desejos humanos.


Alguns dados:

- estudos feitos mostram que os pais falam com os seus filhos cerca de 40 minutos semanais, enquanto estes dedicam 1.680 minutos por semana a ver televisão, o que tem por consequência que 54% das crianças preferem a TV ainda que esta não os alimenta nem os defende.

- calcula-se que os jovens norte-americanos passem 900 horas na escola, durante os seus estudos secundários, ao passo que gastam 1.500 horas em frente do aparelho de TV.

- estima-se que o nº de assassinatos que uma criança viu quando termina a 4ª classe é de 8.000. Mas quando perfizer 18 anos já terá assistido a cerca de 200.000 actos de violência homicida.

- tendo em conta o tempo médio de vida de uma pessoa , calcula-se que a Tv ocupe entre 12 e 15 anos do tempo de um indivíduo nos países industrializados

- Segundo um inquérito feito junto dos jovens espanhóis entre 15 a 29 anos, o aparelho de Tv é o terceiro objecto mais importante das suas vidas depois da casa e do carro.

- Portugal e Espanha são os países europeus que mais tempo passam frente à TV, aproximando-se das 4 horas/dia dos norte-americanos.
.
fonte: ecologistas en accion

Agentes secretos belgas passam a estar desarmados por razões de segurança



Ao contrário de James Bond, agente secreto com licença para matar, os agentes secretos do Estado belga estão impedidos de uso e porte de arma segundo uma decisão do governo que acabou de ser anunciada. O motivo para uma atitude tão inesperada como esta reside no facto de no passado 12 de Março, nas instalações dos Serviços de Informações belgas, um dos agentes de informação ter ameaçado atirar contra um dos seus colegas. Segundo explicações dadas a conduta do agente deve-se ao facto deste possuir uma personalidade instável...
Ou seja, não regulava lá muito bem da cabeça.

Fonte:
www.lalibre.be/

O exército é o refúgio dos falhados ou a vida ordinária da torturadora Lynndie


Lynndie Rana England, a soldado-torturadora norte-americana que se vê nalgumas fotografias a torturar e humilhar prisioneiros iraquianos, é natural de uma aldeia perdida da Virginia Ocidental e alistou-se como reservista no exército estadual norte-americano depois de abandonar os estudos na escola secundária da sua localidade.
Nascida em 1982, Lynndie é o modelo da rapariga provinciana que, sem perspectivas, decidem entrar no exército para ter um objectivo: obedecer e humilhar os outros, quando não mesmo matar!!!

Jesus era terrorista para os invasores romanos e para os judeus da época. Por isso o crucificaram!




A figura histórica de Jesus é um bom exemplo de como a história é apropriada pelo poder secular ( político) e religioso ( Igreja) de forma a esvaziá-la de todo e qualquer conteúdo subversivo.

Na verdade, a figura histórica de um homem chamado Jesus que, apesar de ser judeu, traiu os seus ( os Judeus) e apelava à resistência pacífica contra os invasores romanos e denunciava fortemente o conluio e a corrupção das elites judaicas e romanas lançou aquela sociedade em polvorosa.

A sua acção directa em expulsar os vendilhões que negociavam dentro do próprio templo constituiu um acto de terrorismo e de insubordinação face ao poder religioso dos Sumo-sacerdotes que não podia ser ignorado nem podia ser deixado impune pelo aparelho da justiça religiosa.

O crime de blasfémia – um dos crimes mais graves para a época - de que o acusaram constituiu o corolário lógico da reacção do poder político e religioso.

Ao crime de blasfémia correspondia a pena capital e a tortura máxima da crucificação.


Pudesse este exemplo iluminar as mentes cristãs belicistas assim como as mentes dos militares-cruzados da Coligação anglo-americana e de todos os Rambos que pululam hoje por esse mundo fora.

Infelizmente, a esperança é pouca.

A força da droga da TV - e das contínuas lavagens ao cérebro - é ainda muito forte e torna os telespectadores pouco mais que papagaios do poder militar-económico-político.
Deles não será com certeza o Reino dos Céus.



27.4.05

Activistas ecologistas que barraram as portas da Vicaíma foram absolvidos



Os activistas da Greenpeace e da Quercos que barraram os portões de entrada da empresa de importação de madeiras Vicaíma, em protesto contra o abate ilegal de árvores da Amazónia e a sua utilização pela empresa de Vale de Cambra acabam de ser absolvidos pelo Tribunal judicial deste concelho.

Fonte: JN

Movimento anti-TV tem arma secreta



Uma associação contra a existência de aparelhos de TV em lugares públicos acabou de apresentar na Grã-Bretanha uma tele comando que é capaz de desligar tais aparelhos num raio d 17 metros. A associação «White Dot» (ponto branco) pôs à venda o telecomando com o nome de «TV-B-Gone» ( «Tv desaparece»), um invento do californiano Michel Altman.
fonte: JN

Doenças do cérebro nos portugueses


Um em cada 3 portugueses sofre de distúrbios mentais, seja do foro psiquiátrico ou neurológico. No estudo internacional agora divulgado sobre a matéria, Portugal ocupa o 12º lugar na lista de 28 países analisados, tendo 2,9 milhões de pessoas afectadas.

O neo-liberalismo europeu dá o dito pelo não dito e vira proteccionismo têxtil


A União Europeia prepara-se para invocar a cláusula de salvaguarda a fim de proteger a sua indústria têxtil face às importações maciças dos têxteis chineses desde o passado dia 1 de Janeiro, data a partir do qual o comércio internacional com a China foi liberalizado.
Esta é bem uma ilustração dos efeitos desastrosos do liberalismo e da desregulamentação económica do actual capitalismo desorganizado. Para que se saiba...

Funcionária morre em empresa do grupo Jerónimo Martins na Polónia



Uma funcionária de uma grande superfície, pertencente ao grupo económico português Jerónimo Martins, instalada na Polónia faleceu quando entrava no seu turno de trabalho.
Os delegados sindicais acusam a empresa de impôr horários de trabalho extremamente duros e de más condições de trabalho aos seus trabalhadores, e que estarão na origem da morte daquela funcionária.

Mostra da Oralidade em Paredes de Coura a 29 e 30 de Abril


Nos próximos dias 29 e 30 de Abril vai realizar-se uma Mostra da Oralidade Galaico-Portugues em Paredes de Coura que incluirá exposições, documentários, contos e lendas, cantares e todo um conjunto de manifestações da tradição oral popular.

«Eu, a Puta de Rembrandt»

Neste romance tudo é verdadeiro, nada é inventado, nem os processos, nem as receitas, nem os cheiros, nem o armário, nem o espelho... Nem as obras, nem a bondade”, afirma a sua autora, Sylvie Matton, que procurou, acima de tudo, a verdade para a redacção deste romance.
Baseada no destino injusto e atormentado de Hendricke Stoffels, mas também na beleza da sua pessoa, a autora constrói um romance simultaneamente belo e triste.

Rembrandt retratou e amou duas mulheres: Saskia, com quem casou, e Hendricke Stoffels, que viria a ser a mãe de Cornelia, mas que não chegou a desposar.

Esta situação de mancebia, na Holanda puritana da época, lançou a pior das acusações sobre uma jovem culpada, somente, de amar e admirar o homem que a imortalizará através da pintura.

“Eu, a Puta de Rembrandt” é uma obra cativante, escrita numa linguagem viva e expressiva, que transporta o leitor para uma atmosfera pejada de sentimentalismo e dor.

O progresso na perspectiva anarquista

Tudo é um (Abrãao) – nas sociedades da Antiguidade

Tudo é pecado (Jesus) – durante o Império Romano

Tudo é económico (Marx) – no século XIX

Tudo é sexual (Freud) – na passagem do século XIX para o século XX

Tudo é relativo (Einstein) – no século XX





26.4.05

O triste aniversário do acidente nuclear de tchernobyl

No dia 26 de Abril de 1986, aconteceu na central nuclear de Tchernobil o pior acidente nuclear em tempos de paz.
Uma explosão seguida de incêndio num reactor provocou uma perigosa contaminação cujas consequências são sentidas ainda hoje.

Tchernobil é uma cidade no centro da Ucrânia, onde foi construída uma central nuclear em meados dos anos 70, a 110 KM da capital, Kiev. O primeiro reactor foi activado em 1977, pela União Soviética. Nos anos seguintes, foram activados mais três.

Em 1985, um grave acidente nuclear num dos reactores diminuiu a potência da central em 25%.
A 26 abril de 1986, duas fortes explosões destruíram o reactor central, originando uma brecha no núcleo de mil toneladas. Seguiram-se outras explosões, provocadas pela libertação de vapor, espalhando uma gigantesca nuvem de radiação que contaminou 75% da Europa, da Irlanda do Norte à Grécia.

Nas imediações de Tchernobil, 31 bombeiros ou trabalhadores morreram naquele dia e 135 mil pessoas foram evacuadas.
A União Soviética tentou ocultar as proporções do acidente. Antes mesmo de Moscovo admitir a catástrofe oficialmente, a Suécia e a Finlândia já alertavam para o aumento da radiação.

Catástrofe aumentou cepticismo e contestação antinuclear

No sul da Alemanha, por exemplo, naquele dia, as medições no solo apontaram até 45 mil bequeréis de contaminação por césio 137 (o valor normal é 300 bequeréis). Apesar dos indícios evidentes de perigo, as fontes oficiais, como a Agência Internacional de Energia Atómica e o Fórum Nuclear Alemão, tentaram minimizar as consequências. Em todo o mundo, cresceu a polémica e a contestação em torno do uso e dos perigos da energia nuclear.

Após o acidente, milhares de soldados construíram uma protecção de aço e cimento, denominada sarcófago, para proteger o reactor destruído.
Em 1991, um incêndio de grandes proporções levou ao encerramento das actividades de outro dos reactores. A Agência Internacional de Energia Atómica inspeccionou a central em Março de 1994 e encontrou várias deficiências de segurança nos dois reactores ainda em funcionamento.
O sarcófago que sela o que resta do reactor explodido estava ruindo.

Em 1995, foi elaborado um protocolo de acordo entre a Ucrânia e as sete nações mais industrializadas para o encerramento das actividades da central nuclear de Tchernobil, em troca de assistência económica.

Ucrânia aposta na energia nuclear

Com o seu fecho, a Ucrânia teria um déficit de 5% na produção de electricidade. O governo de Kiev só cedeu à pressão das nações ricas em troca de uma ajuda de US$ 2,3 milhões do Grupo dos Sete para a construção de dois novos reactores, o financiamento de programas sociais e o reforço da segurança das outras quatro centrais nucleares ucranianas.

As estimativas no final do século passado indicavam que cerca de três milhões de pessoas, entre as quais um milhão de crianças, ainda sofrem de doenças congénitas provocadas pelas radiações.

O processo de desmantelamento da central nuclear pode levar pelo menos 40 anos, pois é necessário esperar que a radioactividade diminua naturalmente. Tentativas para tornar a terra em volta de Tchernobil novamente segura para a agricultura incluem a raspagem de até quatro centímetros da superfície do solo. Em Dezembro de 2000, a central nuclear de Tchernobil encerrou oficialmente suas actividades.

O que preocupa é o mau estado de conservação do sarcófago, a estrutura que cobre as ruínas do reactor avariado em 1986. Ele está com rachaduras, ameaça ruir e há o risco de vazamento de cerca de 160 toneladas de combustível activo do núcleo do reactor.

Fonte: Deutschewelle

Radioactividade de Tchernobyl ainda contamina alimentos alemães

Passados 16 anos do acidente nuclear de Tchernobil, um nível elevado de radioactividade ainda é constatado em diversos alimentos silvestres e carnes de caça na Alemanha.
O Departamento Federal de Protecção contra Radioactividade (BfS) analisou diversos tipos de fungos comestíveis, de amoras silvestres e de carnes de caça, deparando com uma elevada contaminação restante, em especial de césio-137.
A região mais contaminada é a do sul da Alemanha, sobretudo a Floresta Bávara. O BfS chamou a atenção para a proibição em vigor de comercialização de alimentos que apresentem uma contaminação de césio-137 superior a 600 bequeréis por quilo. Os alimentos examinados apresentaram valores até cem vezes superiores a isto.


Fonte: Deutschewelle

Perderam-se 12.000 peças arqueológicas com a guerra do Iraque.

O governo de Saddam Hussein desintegrou-se e as forças de invasão e ocupação lideradas pelos Estados Unidos desencadearam um crime contra a história.

Contrabandistas profissionais ligados à máfia internacional de antiguidades conseguiram violar algumas das portas trancadas das salas de armazenamento do Museu de Bagdad.
Saquearam artefactos de valor incalculável, como a colecção inteira de selos cilíndricos do museu e um grande número de esculturas assírias de marfim.
Mais de 15 mil objectos foram levados. Vários deles foram contrabandeados para fora do Iraque e oferecidos no mercado.


Até agora, 3 mil foram recuperados em Bagdad, alguns devolvidos por cidadãos comuns, outros pela polícia. Além disso, mais de 1,6 mil objectos foram confiscados nos países vizinhos, cerca de 300 na Itália e mais de 600 nos Estados Unidos.
A maioria das peças roubadas não foi encontrada, mas alguns coleccionadores privados no Oriente Médio e na Europa admitiram possuir objectos com as iniciais IM (número de inventário do Museu do Iraque).
Sítios arqueológicos destruídos


Um número crescente de websites também oferece artefactos da Mesopotâmia - com até 7 mil anos - para venda.
Certamente que há objectos falsos apregoados na internet, mas a mera existência deste mercado estimulou o saque de sítios arqueológicos no sul do Iraque.



O quadro é horrendo. Mais de 150 sítios sumérios que datam do milênio 4 a.C. – tais como Umma, Umm al-Akkareb, Larsa e Tello – foram destruídos, transformados em crateras cheias de fragmentos de cerâmica e tijolos quebrados.

Se fosse, escavados de maneira apropriada, estes sítios - que, estima-se, cobrem 20 Km quadrados - poderiam ajudar a entender o desenvolvimento da raça humana.
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"Um selo cilíndrico ou uma tábua cuneiforme rendem menos de US$ 50 no local para o saqueador", explica o arqueólogo responsável pelo distrito de Nasiriya, Abdul Amir Hamadani.


"É um desastre o que todos estamos a assistir, mas que pouco podemos fazer para evitar."

Botas pesadas

As próprias forças de coligação de ocupantes danificaram sítios arqueológicos ao usá-los como bases militares.

A antiga Babilónia sofreu danos irreversíveis, apesar de ser uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Um relatório alarmante do administrador do departamento de Oriente Próximo do Museu Britânico, John Curtis, conta como áreas no meio de um sítio arqueológico sofreram terraplanagem para que se criasse uma área para helicópteros e estacionamento de veículos pesados.


"Eles causaram danos substanciais no Portão Ishtar, um dos monumentos mais famosos da antiguidade", escreveu Curtis.

"Veículos militares dos Estados Unidos esmagaram pavimentos de tijolos de 2,6 mil anos, fragmentos arqueológicos foram espalhados pelo sítio, mais de 12 trincheiras foram cavadas sobre depósitos da antiguidade e projectos militares de deslocamento de terra contaminaram o sítio para futuras gerações de cientistas."

"Soma-se a isso todo o dano causado a nove das figuras moldadas de tijolos de dragões no Portão de Ishtar por pessoas que tentaram remover os tijolos da parede."

Quanto mais tempo o Iraque ficar em estado de guerra, mais o berço da civilização estará ameaçado.

Fonte: BBC news (autora: Joanne Farchakh Bajjaly é uma arqueóloga independente e jornalista que cobre o Oriente Médio. Ela estuda o patrimônio histórico iraquiana há sete anos.)

25.4.05

As lágrimas de alegria do 25 de Abril




Hoje em que faz anos o 25 de Abril é preciso retomar o combate de sempre: ajudar a fazer a história dos mais fracos e dos mais explorados.
Porque o 25 de Abril não foi só o golpe militar que derrubou o regime salazarista do corporativismo fascista e que permitiu a descolonização e o regresso a casa dos militares empenhados nas três guerras coloniais.
O 25 de Abril foi também o momento histórico em que os homens e mulheres do triste e ledo Portugal começaram a abrir a boca, a chamar as coisas pelos nomes e a pedir justiça e dignidade para a sua vida.
O processo revolucionário que se lhe seguiu mostrou bem como é possível as pessoas tomarem o seu destino em mãos e lançarem-se em construir uma sociedade mais participativa e justa.
Qualquer que tenha sido o desfecho desse processo, a data do 25 de Abril ficará sempre associada à queda de um regime desacreditado, à libertação dos presos políticos, e à restauração das liberdades públicas que dão dignidade a um ser humano.
Aos jovens de então o 25 de Abril será muito mais que isso. Representa um marco da sua juventude e dos seus projectos existenciais, e uma brisa fresca da liberdade. Que só muito dificilmente se esquecerão. Sobretudo nos tempos malditos do regresso à ordem e à mentira institucionalizada.
Por isso é imperioso continuar aquele combate.

Muito poucos ainda o sabem, mas já faltou mais para o próximo 25 de Abril…

18.4.05

Consumidores de todos os países, uni-vos!



A greve selvagem dos trabalhadores da Opel ( nos meados do mês de Outubro de 2004) representa uma tragédia real que acaba por irromper nas nossa vidas e nos jornais das televisões: o afundamento de todo um sistema. Pode-se observar ao vivo uma das mudanças mais importantes da história do poder: o derrube da teoria clássica da dominação tal como foi exposta pelos textos de Max Weber – uma mudança que vai, aliás, permitir às empresas multinacionais maximizar o seu poder. Com efeito, o meio de pressão dos investidores já não é a ameaça de uma intervenção, mas antes a ameaça de uma não-intervenção, isto é, a ameaça de se retirarem. Daqui em diante, pior que a invasão pelas multinacionais, só a ameaça de não ser invadido por elas.
Uma tal forma de dominação não deriva da execução de certas ordens, mas da possibilidade de investimentos mais vantajosos noutros países, e, logo, a ameaça de não investir num certo local. O novo poder dos grandes grupos não repousa pois, como acontece com o Estado, no recurso à violência para obrigar alguém a actuar tal como se pretende. Daí se dizer que este poder é mito mais suave, pois não se exerce sobre um determinado lugar, mas é exercido em todo o mundo. O potencial da chantagem de que este poder se reveste adequa-se à lógica dos negócios económicos: dizer sempre não em todo o lado, não investir, e sem sentir sequer a necessidade de justificar publicamente os seus actos – este é a principal característica dos actuais actores da economia mundial.
E é isto que explica o descontentamento crescente que a política e a democracia suscitam: os eleitos que votamos ficam sentados como se fossem espectadores, impotentes e desamparados, enquanto aqueles que não foram eleitos tomam as decisões-chaves que influenciam as nossas vidas.
O chanceler alemão Schroder não é único a acusar os grupos multinacionais de adoptarem comportamentos antipatrióticos, mas a verdade é que esta acusação é absurda. Ela pertence a um mundo que já não é o actual e só mostra uma vez mais até que ponto os responsáveis políticos não conseguem compreender o seu papel nem o de todos nós, em plena modernidade deste mundo globalizado.
Grupos alemães como a Siemens e a BMW realizam dois terços ou três quartos do total do seu volume de negócios nos países estrangeiros – o que é bom para o emprego desses países, e mau para o emprego na Alemanha, bom para os lucros daqueles grupos, e mau para os impostos alemães. A ameaça de desemprego na Opel mostra involuntariamente o absurdo das políticas económicas nacionais. Apelar aos dirigentes políticos nacionais, nestas circunstâncias, significa pedir a estes para salvar os grandes grupos, os quais preferem transferir os empregos para o estrangeiro e baixar os custos de produção.
Os trabalhadores – que tentam revoltar-se contra a nova ordem económica mundial recorrendo à antiga arma , a greve, que se revela agora suicidaria - chama-nos a atenção para um facto cujo significado não pode ser negligenciado: enquanto persistirmos em adoptar uma perspectiva nacionalista, jamais compreenderemos o mundo. Os trabalhadores estão a descobrir dolorosamente que o mundial e o local estão directa e indefectivelmente ligados para além de todas as legislações e resoluções tomadas pelo Estado nacional. Por isso é que é preciso uma nova perspectiva – que eu designo por «um olhar cosmopolita» - para compreender estas importantes mudanças que se estão a produzir nas nossas vidas e que colocam em risco os nossos meios de subsistência.
Será possível construir um contra-poder ao capital que opera à escala global? Sim, é possível, através de um movimento social baseado no conceito de «consumidor político» Uma decisão de compra traduz-se hoje num boletim de voto com o qual o comprador-consumidor emite a sua opinião sobre a orientação e a política dos grandes grupos. O enorme poder das multinacionais de não investir tem um equivalente do outro lado, nas mãos dos indivíduos e dos movimentos internacionais de boicote, que é o de não comprar . Ora será fatal ao capital global que se mostra extremamente móvel o facto de não possuírem nenhuma estratégia para se oporem as crescente contra-poder dos consumidores. Os poderosos grupos mundiais mostram-se impotentes, pois não podem despedir os seus clientes! Ameaçar deslocalizar para outros países, em que os consumidores são ainda mais intervenientes, acabará por se revelar suicidário. Na verdade, organizadas em redes transnacionais, os consumidores podem constituir um poderoso conta-poder.
As empresas multinacionais obtêm grandes lucros graças à globalização do consumo, mas ao mesmo tempo este facto é o seu calcanhar de Aquiles. E Não será de espantar que estes movimentos sociais possam atacar a legitimidade destes lucros e acabar por impor certos acordos às multinacionais relativos às questões dos direitos do homem, do ambiente, da segurança social, e do emprego.
Estados ,municipalidades, sindicatos, trabalhadores devem retirar esta conclusão: actores sociais isolados, nacionais, revelam-se impotentes frente à empresas multinacionais. Só por meio da sua união através de uma estratégia internacional é que eles poderão recuperar o poder de outrora, que perderam com a globalização. Ora este acaba por ser também o segredo da União Europeia: a cooperação entre os Estados, não diminui o seu poder, antes o reforça. Ou seja, chegamos a este paradoxo: a renúncia à soberania acaba por fazer aumentá-la.

Ulrich Beck, sociólogo alemão, professor na Universidade de Munique e da London School of Economics, e autor do conhecido ensaio “ A sociedade do risco”.

As Escolas e as Universidades de obediência



Ao lado das Universidades de prestígio que formam cientistas e intelectuais, com espírito crítico, inventivo e inconformista, é possível encontrar outro tipo de escolas, com receitas mais modestas e de currículo universal, que se dedicam a ministrar cursos de obediência. Nestas últimas escolas, os alunos aprendem o aceitar o conformismo.
Quando «ladram», o(a) professor(a) mimoseia-os com todo o tipo de castigos e ameaças. E quando se calam, têm logo direito a guloseimas e rebuçados.
Assim se ensina as habilidades e competências da obediência e da submissão…

As 5 árvores mais antigas de Espanha



O livro Árboles monumentales de España de Bernabé Moya, José Plumed e José Vicente Moya indica quais são as árvores mais antigas e as que constituem verdadeiros monumentos do património natural da Península Ibérica.
Aqueles autores apontam como a árvore espanhola mais antiga de todas as que encontraram no decurso do seu estudo como sendo uma oliveira (olea europaea), conhecida localmente pelo nome de Lo Parot, comum perímetro de 9 metros, existente na Horta de San Juan, em Tarragona.
Outro espécime monumental é o ciprestte ( Cupressus sempervirens) existente no Mosteiro da Anunciada, situado em Villafranca del Bierzo (Léon), que tem 33 metros de altura e é considerado um dos mais altos ciprestes da Europa, e segundo rezam as crónicas foi plantada em 1606 por ocasião da fundação daquela comunidade.
Outra árvore monumental é a azinheira (Quercus ilex) situada na aldeia da Província de Cáceres, Zarza de Montánchez, conhecida pelos aldeões pelo nome de La Terrona. Trata-se de uma prodigiosa árvore de 7,80 metros de perímetro, 16,50 metros de altura e uns 800 anos de idade. O seu proprietário e vizinhos queixam-se que a árvore está a ser prejudicada com a afluência de curisosos ao local que não sabem comportar-se devidamente face àquela raridade.
O castanheiro (Castanea sativa) mais espectacular do país vizinho, uma mastodôntica árvore com mais de 14 metros de perímetro, está situado em Villar deAcero (na Província de Léon).
Mas a árvore mais alta de Espanha-e possivelmente da Península Ibérica - encontra-se num bosque da Província galega de Lugo e é conhecido pelo «Avô de Chavín». Trata-se de um eucalipto ( da espécie dos eucaliptos azuis Eucaliptus globulus) com 67 metros de altura (correspondente a um edifício com 20 andares), e 10,50 metros de cintura, e está situado em Chavín, no concelho de Viveiro, na Província de Lugo.

A McDonaldização das Escolas, a Desumanização da Vida Social e a Acção e Formação dos Professores

1. INTRODUÇÃO

O ensaio que ora se apresenta pretende ser uma (auto-)análise do que é ser hoje professor. O acriticismo dominante nestes «tempos malditos» obriga-nos a um constante exercício de crítica sob pena de uma «funcionalização» docente que a lógica organizacional, estadual ou não, tende sempre a gerar. Daí a razão de ser para a escolha de uma temática como a McDonaldização da sociedade e das organizações escolares.
As abordagens e estudos no campo educativo têm oscilado entre a produção de obras profundamente herméticas, e enfaticamente discursivas, cujo sentido é pouco mais que inócuo por défice de realismo, e a escrita de outros textos abaixo da «linha da água», que o mesmo é dizer, imersos na realidade quotidiana e que dificilmente conseguem lançar uma visão crítica e construtiva sobre aquilo que pretendem investigar. Se a isto somarmos o pretensiosismo e arrogância científica que pretende converter tudo o que seja reflexão teórica, por vezes sob a roupagem de uma pseudo-metodologia científica, fica-se com uma ideia aproximada do que se vai passando em Portugal no âmbito das auto-proclamadas Ciências da Educação.
O caminho que adoptámos, e que pretendemos seguir, tem a ver com uma saudável postura crítica capaz de produzir textos teóricos estimulantes para uma reflexão dos interessados em matéria de educação. Tratar-se-á sempre de textos inconclusivos e em elaboração contínua. A educação não se reconduzindo definitivamente a uma qualquer ciência (no singular ou em pluralidade disciplinar) requer e exige uma reflexão teórica permanente.
O presente texto mais não é que um modesto contributo no sentido deste questionamento incessante a que a educação deve estar sujeita. Estamos cientes que os meios utilizados nem sempre estiveram à altura dos nossos propósitos. Como quer que seja a sensação é a do dever cumprido.
A primeira rubrica debruça-se sobre o fenómeno da McDonaldização das sociedades contemporâneas utilizando a linguagem e a grelha de análise proposta por Ritzer, a que juntámos alguns dados pontuais de outras perspectivas teóricas.
Segue-se uma rubrica acerca da formação e acção de agentes educativos, maxime os professores, baseada em elementos recolhidos nas várias correntes teóricas da perspectiva institucional. Pretende-se afirmar uma clara intenção de transformação social e educacional, mas ainda lançar luz sobre os modos pelos quais será possível delinear uma estratégia educacional ( incidentalmente ligada à problemática da acção e formação de professores) que não passe pelos modelos hegemónicos do Estado ou do Mercado.
Optamos por um estilo ensaístico que, sem prejuízo da pertinência de análise, seja portador de uma legibilidade reflexiva para o leitor. Se este se sentir surpreendido, e obrigado a romper com lugares comuns, julgamos que não terá sido em vão o nosso esforço.




2.McDONALDIZAÇÃO



A globalização do localismo americano, a que se assiste hoje na vida social, tem tradução prática no quotidiano dos indivíduos e das organizações. Segundo G. Ritzer (1993) o fenómeno pode ser designado por McDonaldização, e que se manifesta principalmente na excessiva ênfase dada à disciplina, à ordem, sistematização, formalização, rotina e estabilidade, e ainda num determinado modo de comportamento. Um estilo de vida - “way of life” - com estes predicados pode certamente contribuir para a segurança como permitirá sem dúvida a previsão dos comportamentos e acontecimentos futuros, mas significa, ao mesmo tempo, uma vida sem surpresas nem aventuras. Trata-se-ia de uma vida formatada segundo esquemas e modos estereotipados que tem por consequência uma rejeição a tudo o que é diferente dos rituais padronizados estabelecidos. Uma educação escolar segundo tais moldes não deixaria de ter importantes consequências no favorecimento da exclusão social, da factura social, e até no mais que previsível aumento de problemas no âmbito interrelacional, mormente por quem assuma uma qualquer diferença filosófica, existencial ou até comportamental. Problemas como aceitação/ rejeição do Outro, tolerância/intolerância, fobias, preconceitos e estereótipos tornar-se-iam em questões centrais neste tipo de sociabilidade em fase de emergência.
Com efeito poderíamos recensear as consequências graves para a vida social deste processo de McDonaldização através dos seguintes mecanismos:
i) Tendência para a eficácia a qualquer preço
ii) Postura de cálculo, isto é, algo que privilegia a avaliação quantitativa à avaliação qualitativa, e em que a acção humana não é desencadeada não sem antes se fazer um juízo prévio quanto aos benefícios que daí resultar ( que interesse isso tem para mim? o que é que ganharei com isso?).
iii) Organização da vida social manipuladora dos seres humanos e substituição destes e do seu trabalho por máquinas e robots
iv) Racionalidade enquanto traço característico dominante dos comportamentos sociais. Claro está que uma tal racionalidade nada têm a ver com o racionalismo clássico enquanto uso dos atributos da razão, mas antes com uma espécie de «racionalismo irracional» larvar e cujo princípio capital é a maximização da acção humana segundo a divisa «mínimo de esforços para um máximo de benefícios»
Acontece que uma tal racionalidade, embora garantindo porventura a estabilidade de uma sociedade racional e perfeita, traduz-se na prática pela desumanização das relações sociais e interpessoais. Este paradoxo da racionalidade transforma a sociedade orientada para a quantidade, o cálculo, a previsibilidade e a eficácia numa ilusão de abundância, eliminando os comportamentos criativos, atípicos, não-esquemáticos e não-rentáveis. Uma tal racionalidade serviria de critério aleatório para escolher o que é rentável segundo o binómio custos/benefícios. Este comportamento, aparentemente racional, torna-se irracional pela simples razão das opções assim feitas não garantirem a tão proclamada eficácia, além de favorecerem os aspectos mais superficiais e aparentes das relações sociais.
A tese de Ritzer consiste, seguindo de perto os trabalhos de Weber acerca das organizações burocráticas como arquétipos da racionalidade moderna, em considerar os restaurantes de fast-food como representantes contemporâneos do actual paradigma da racionalidade formal. O que ontem representavam as burocracias para Weber, hoje o seu lugar foi ocupado pelos modelos organizacionais dos restaurantes de fast-food na tese da McDonaldização. Com isto pretende-se justamente demonstrar até que ponto no mundo actual a racionalidade formal representa uma componente-chave incontornável e de primacial importância. (Ritzer, 1996: 443)
O próprio Ritzer (1998: 154) refere-se às Universidades de amanhã designando-as de “McUniversity” e colocando-as em paralelo com os restaurantes fast-food. Aponta inclusivamente como modelos das futuras Universidades a “McDonald’s Hamburger University” ( com o Bacheralato em Hamburgerologia ) ou a “Disney University” ( sediada em Orlando, USA, apetrechada com 60 cursos de educação para adultos) e que, ao contrário das universidades tradicionais, se têm tornado não só extremamente populares, como a oferta dos seus graus académicos pretende garantir postos de emprego nas indústrias actualmente mais florescentes o que não deixa de constituir, como não é difícil de antever, um poderoso motivo de atracção para os consumidores de graus académicos.
Nestes modelos a Universidade é concebida como um meio de consumo de serviços educacionais o que transforma os estudantes em seus consumidores e nos principais interessados na aquisição das suas mercadorias - as credenciais e os graus académicos.
Na Sociedade de Consumo onde vivemos ( ou para onde nos conduz o turbocapitalismo contemporâneo) a Universidade tradicional, tal como a conhecemos, torna-se, então, pouco menos que decrépita se a cotejarmos com outros e mais funcionais meios de consumo. Donde a tendência de a reconstruir segundo os mesmos princípios organizacionais das actuais catedrais de consumo como são os centros comerciais ou os restaurantes fast-food, ou seja, em centros de prestação de serviços e aquisição consumista de títulos . académicos. E não é certamente por acaso que circula já hoje a ideia que as Universidades se transformaram em algo muito parecido com «estufas» de mestres, licenciados, e bacharéis. A Universidade está-se a transformar rapidamente em pouco mais que uma outra componente da Sociedade do Consumo, e os estudantes (ou melhor dizendo, os seus encarregados de educação) assumem-se cada vez mais como consumidores. Os dados empíricos recolhidos mostram-nos que os estudantes, quando escolhem a escola a fim de se matricularem, fazem-no em função dos custos, qualidade e benefícios que daí podem recolher.Isto é, procuram o melhor produto para o seu dinheiro. Um recente estudo (Levine, 1993) levado a cabo nos Estados Unidos chegou a estas surpreendentes conclusões:
-Os estudos universitários não são mais o eixo em torno do qual gira o quotidiano do estudante, nem sequer a sua principal actividade, mas tão-só uma parcela do quotidiano estudantil.
-Os estudantes desejam que as suas universidades funcionem como os Bancos ou os restaurantes fast-food:
«They want education to be nearby and to operate during convenient hours - preferably around the clock. They want to avoid traffic jams, to have easy, accessible and low cost parking, short lines, and polite and efficient personnel and services. they also want high-quality products but are eager for low costs. They are willing to comparison shop - placing a premium on time and money.» (Levine, 1993:4)
-Os estudantes não desejam actividades extras nas escolas; esperam apenas um produto devidamente formatado, qualquer coisa como um “McDonald’s meal”.
-Em conclusão: “ All they want of higher education is simple procedures, good service, quality courses, and low costs...They are bringing to higher education exactly the same consumer expectations that they have for every other commercial enterprise which they deal with” (Levine, 1993).
Não será despiciendo citar aqui, por contraste, o sociólogo português Boaventura Sousa Santos, estudioso da instituição universitária quando este escreve: “...é necessário submeter as barreiras disciplinares e organizativas a uma pressão constante. A Universidade só resolverá a sua crise institucional na medida em que for uma anarquia organizada, feita de hierarquias suaves e nunca sobrepostas. Por exemplo, se os mais jovens por falta de experiência, não podem dominar as hierarquias científicas, devem poder, pelo seu dinamismo, dominar as hierarquias administrativas(...) A Universidade é a instituição que nas sociedades contemporâneas melhor pode assumir o papel de empresário schumpeteriano, o empreendedor cujo sucesso reside na capacidade de fazer as coisas diferentemente (...) Para cultivar estes novos interesses, imagino uma escola pragmática, a qual consistirá de duas classes. Na primeira, chamada consciência do excesso, aprendemos a não desejar tudo o que é possível só porque é possível. Na segunda classe, chamada consciência do défice, aprendemos a desejar também o impossível” (Santos, 1994: 95)
Conforme nos dizem os estudos de Sociologia das Organizações (Burrell, Morgan, 1979) as escolas podem ser analisadas segundo modelos organizacionais distintos: enquanto organizações burocráticas, ou como arenas políticas onde se elaboram estratégias de poder entre as relações sociais, ou ainda como anarquias organizadas. Claro está que como modelos ideais, estes nunca têm uma tradução prática pura. Na realidade, as escolas são no concreto, tudo isto ao mesmo tempo. O que cuidamos apurar é saber qual dos vários modelos organizacionais assume maior prevalência. E aqui os autores divergem abertamente. A nossa hipótese teórica é claramente a de subsumir a organização escolar ao modelo burocrático e daí retirar as devidas consequências: “”We argue that educational bureaucracies emerge as personnel-certifying agencies in modern societies. They use standard types of curricular topics and teachers to produce standardized types of graduates, who are then allocated to places in the economic and stratification system on the basis of their certified educational background.(...) The reason for this is that the standardized categories of teachers, students, and curricular topics give meaning and definiton to the internal activities of the school.These elements are institutionalized in the legal and normative rules of the wider society. In fact, the ritual classifications are the basic components of the theory (or ideology) of education used by modern societies, and schools gain enormous resources by conforming to them, incorporating them, and controlling them. ( Meyer,J.; Rowan:1990: 88)
Para Merton a organização burocrática processa um deslocamento de finalidades, levando o burocrata a interiorizar uma disciplina assente numa atitude ritualista face às normas, transformando estas, inicialmente concebidas como meios de administração, em fins administrativos.(Merton, 1978: 113). Uma organização burocrática, como a definiu Weber, assenta em diversas dimensões: a legalidade, a especialização, a hierarquia, a impessoalidade e a racionalidade. Uma das consequências mais estudadas do funcionamento burocrático são as rotinas que constituem os comportamentos padronizados. Rotinas essas que, por sua vez, são igualmente induzidas pela subcultura ocupacional do grupo em causa.
Mas a verdade é que esta caracterização sociológica das organizações burocráticas não explica tudo o que hoje se passa nos sistemas de educação estatais e nas escolas contemporâneas. O paradigma burocrático está vindo a ser substituído pelo fenómeno da McDonaldização social que, mais tarde ou mais cedo, logo terá a sua versão acabada na educação escolar pronta para consumo dos interessados.
Numa visão mais acutilante escreve Illich: “Not only but social reality itself has become schooled. It costs roughly the same to school both rich and poor in the same dependency. (...)Rich and poor alike depend on schools and hospitals which guide theis lives, form their world view, and define for them what is legitimate and what is not. Both view doctoring oneself as irresponsible, learning on one’s own as unreliable, and community organization, when not paid for those in authority, as a form of aggression or subversion The progressive underdevelopment of self - and community - reliance is even more typical in Westchester than it is in thee northeast of Brasil. Everyone not only education but society as a whole needs «deschooling»” (Illich: s/d)



3.Formação e Acção dos Professores e Agentes Educativos

Perante este cenário salta à vista a grande questão que ora interessa discutir: qual é o tipo de formação dos agentes educativos, maxime para os professores, que se mostra mais útil e mais adaptada para minimizar os efeitos catastróficos do processo de globalização/McDonaldização?
Com efeito aquelas tendências negativas do processo de globalização, tanto do ponto de vista individual como colectivo, poderão vir a ser neutralizadas (ou minimizadas ) pela adopção de uma concepção relacional do trabalho social e educativo por parte dos agentes educativos enquanto componente constitutiva fundamental das instituições sociais como são as escolas. Preconiza-se pois uma perspectiva institucional e relacional. Uma concepção deste género, baseada nas premissas do respeito pela diversidade, da mudança social e do reconhecimento da dimensão simbólica da vida, encontra-se com toda a certeza nos antípodas daquela outra para a qual o mundo exterior é olhado como uma realidade rotineira, previsível e racionalizada.
Recorde-se que para Ardoino e Lourau a formação é um processo dinâmico constituinte da instituição a criar ou em desenvolvimento. A formação não se reconduz pois unicamente à simples transmissão dos saberes ou à aprendizagem de um certo comportamento-padrão, tratar-se -á antes de um processo de aquisição de experiências que é, ao cabo e ao resto, uma preparação para a análise e reflexão sobre a prática, sobre a realidade dentro da qual os agentes devem agir, assim como uma reflexão sobre eles próprios, num contexto social dado. A Instituição seria, neste sentido, algo em constante formação e em desenvolvimento
Como se sabe foram sobretudo G. Lapassade e R. Lourau que reflectiram sobre o conceito de Instituição e difundiram a perspectiva institucional. Não é este o momento para grandes derivas acerca do historial das correntes e dos autores que se abrigam debaixo desta perspectiva teórica. Retenha-se apenas a noção dialéctica da instituição - portadora de múltiplos sentidos, logo polissémica, equívoca e problemática - como uma globalidade que informa as realidades particulares não deixando ao mesmo tempo de ser uma resultante na medida em que é a cristalização de um passado e/ou presente das forças em movimento. Lourau resume esta ideia da seguinte forma: “ à «introjecção» das formas instituídas da vida social deve-se acrescentar a «projecção» das vontades instituintes, se quisermos que as instituições nasçam e se mantenham” (Lourau: 1970: 60). Esta ideia reveste-se da maior importância para a sociologia já que esta incide, nas palavras de Ardoino ( 1977: 156), na “ articulação do microsocial e do microeconómico com o macrosocial e o macroeconómico”.
Outro ponto a que não podemos escapar liga-se à distinção entre Instituição e Organização que são geralmente associadas a distintos modelos de análise sociológica. Não é o nosso caso pois para a perspectiva que temos vindo a desenvolver a instituição informa a organização ao passo que a organização significará a própria instituição. Para Ardoino as instituições apresentam-se-nos como “significações simbólicas sociais” ao passo que às organizações cabe a função de desocultar a instituição, de a tornar visível. Isto é, pode-se alcançar a instituição através da análise da organização. Daí advêm a importância da organização pedagógica das escolas uma vez que por seu intermédio será possível descortinar uma ideologia, e uma determinada concepção das relações sociais. O objectivo da pedagogia institucional seria aliás operar esse desocultamento institucional que se esconde por detrás da organização.
Por seu turno, para Castoriadis a instituição é - recordemo-lo - uma rede (um espaço) simbólica, sancionada socialmente onde se entrecruzam elementos imaginários e reais nas relações mais diversas. Este autor acrescenta às dimensões económica e funcional da noção de instituição outras duas dimensões, a simbólica e a imaginária. A escola e a sociedade estariam assim em estreita relação, dado que, por exemplo, a maneira de ensinar constituiria um reenvio implícito à «fábrica» política da sociedade, e inversamente..
Para rematar nada melhor que reproduzir a definição que R. Barbier (1977: 107) dá de instituição: “...est la cellule symbolique, matrice des habitus, à la dynamique dialectique instituée et instituante, à la structure occultée et occultante, inscrite dans la temporalité et socialement sanctionnée, visant au contrôle de l’historicité en agissant d’une manière fonctionnelle et imaginaire, qu’instaurent les rapports sociaux nécessairement conflictuels nés de l’activité transformatrice des groupes humains ( avec son principe de realité), de leur production désirante ( avec son principe de plaisir) et de leur double imaginaire social ( avec son principe d’esperance et son principe d’illusion). Elle est, à la fois, la resultante globale et le cadre singulier, souvent matérialisée et spatialisé, de l’état toujours dialectique des rapports de force entre les groupes sociaux, les classes ou fractions de classes sociales qui s’affrontent, dans l’espace et le temps historiques de la société considerée, aux trois niveaux étroitement imbriqués: économique, idéologique et politique.”
Se considerarmos que a actividade social, sobretudo na sua dimensão socio-pedagógica, consiste numa estruturação do presente pelo futuro, na atribuição de um sentido antecipatório à própria evolução social, fica sempre em aberto a possibilidade de uma realidade outra, não deterministicamente gerada pelas tendências dominantes actuais.
A actividade social é estruturada por um conjunto de questões que ajudam a definir uma situação, descrevê-la, explicá-la, dar-lhe um sentido, analisá-la no seu contexto, e orientar a acção ao mesmo tempo que exprimem os seus objectivos e a razão das suas escolhas.
E no que respeita à acção educativa pode-se ( e deve-se) discutir se esta deve ter uma orientação para o mercado, preocupando-se então com os resultados individuais, o êxito num processo de natureza competitiva, a reprodução da estratificação social ou, pelo contrário, orientada fundamentalmente para a pessoa, para o seu desenvolvimento individual, a integração e cooperação interpessoal, assim como para a mudança. A questão que subjaz a este dilema - e, de resto, a todo o debate em torno do modelo de educação - é a de saber que sociedade queremos, ou melhor, para que tipo de sociedade devemos formar os agentes educativos, nomeadamente os professores.
No essencial podemos fazer a destrinça de dois tipos de formação: o que permite a rápida aquisição de conhecimentos, aptidões e competências capazes de apetrechar os professores dos instrumentos “prêt-à-porter” para o exercício das suas funções profissionais, formação essa que acaba por responder às expectativas dos principais interessados segundo uma lógica de mercado, que pretende a incorporação de profissionais competentes aptos para o simples desempenho das funções que lhes foram atribuídas; ou um outro tipo de formação alternativo assente no desenvolvimento, reflexão, análise e construção dos referentes necessários para a identificação dos problemas, o estudo do seu contexto, bem assim a interpelação dos próprios interessados face aos outros nas diversas situações em que são confrontados. Escusado será dizer que a opção por um ou outro tipo destes modelos de formação dos agentes educativos determinará substancialmente todo o conteúdo e a forma dos currículos e programas formativos a implementar.
A proposta atraente de ligar a formação à investigação como forma de alcançar aquele desiderato de reflexão crítica por parte dos professores é ( e continua) válida no essencial, mas a sua concretização não sendo fácil na sua tradução prática, torna-se ainda mais problemática se pensarmos no género de expectativas que alimentam crescentemente a vida social e que estão sujeitas aos processos sociais dominantes acima apontados: utilidade, eficácia, rapidez ( isto é, à Mcdonaldização social)
A concepção formadora baseada na “Investigação-Acção(Participação)-Formação permite articular uma tríade de elementos: i) a Investigação para cuja área se reconduz a identificação dos problemas e a sua tentativa de explicação; ii) a Acção/Participação; iii) e a Formação, a qual é chamada a desempenhar várias funções. Em primeiro lugar pode constituir-se como preparação para o agir no próprio campo socio-educativo.. Em segundo, pode inspirar novas investigações. E, finalmente, pode servir de factor propiciador da reflexão sobre a prática, graças à distância adoptada em relação a esta ao longo do próprio processo de investigação. Além do mais, um tal tipo de formação, quando experienciado por profissionais no terreno, permitirá certamente a construção de uma identidade individual e institucional através do questionamento do papel desempenhado na instituição pelo próprio sujeito. No limite, seria concebível a elaboração das suas “próprias regras” depois da interiorização das que regem o organismo escolar. Nesta construção seria indispensável a mobilização de um saber transversal com referências várias de natureza filosófica, axiológica, política, e científica.
Uma formação assim concebida volve-se sobretudo numa formação da pessoa. À realização dos estudos pelo formando-professor, com vista à aquisição de conhecimentos, não é alheia a experiência do quotidiano do sujeito. E a ideia proposta por E. Morin da “ unitas multiplex” ( unidade na pluralidade) pode ser suficientemente sugestiva para inspirar uma formação baseada no respeito pelo que é diferente e na busca do que é comum a todos, ao arrepio dos efeitos da massificação e homogeneização que a Macdonaldização traz consigo.
Mesmo os autores como Perrenoud que recusam analisar a conformidade dos professores com um modelo de racionalidade reconhecem que “...os profissionais cuja utilização do tempo e métodos estão a ser analisados sentir-se-ão postos em causa, em termos de eficiência e racionalidade, valores dominantes no mundo do trabalho e, de uma maneira geral, na nossa sociedade” (Perrenoud, 1993: 55). É certo que os professores são “os mediadores do Programa”, ou seja, “cada professor dá de certa maneira o seu programa” (Matos, 1999:73). Mas não é verdade que o habitus do professor é alimentado por toda uma constelação de elementos culturais e práticas estabelecidas? Como sair então deste círculo vicioso? A resposta talvez resida na “problematização das práticas, isto é, através duma atitude de interpelação da realidade que nos afronta, admitindo, portanto que ela pode ser de outro modo” (Matos, 1999: 74), o que exige certamente alguma dose de voluntarismo idealista mas principalmente um trabalho teórico de pesquisa (se se quiser, uma prática teórica). Sem isto, dificilmente os agentes educativos conseguirão desenvencilhar-se do pragmatismo empirista que tolhe os seus horizontes e lhes inocula a postura do funcionalismo servil, transformando a sua profissão numa penosa rotina reprodutora de cidadãos credenciados mas sem espírito crítico, nem sequer - quantas vezes - capacitados com os conteúdos cognitivos dos currícula oficiais ( não será despropositado interrogarmo-nos quantos professores terão lido ou consultado uma obra de carácter pedagógico, ou quantos professores de Português terão lido poesia, ou autores das vanguardas literárias do século XX).
Dúvidas não temos para afirmar que os professores têm de se estar dotados de um carácter prospectivo, audaz, dinâmico e tolerante, e que tudo isto se apoie numa formação continuada, e numa metodologia formativa mais apropriada para a realidade com que se vão confrontando. Do professor exige-se que:
- assuma uma atitude que lhe permita captar a realidade em que actua ou que irá actuar
- esteja na posse dos conteúdos cognitivos em que pretenda trabalhar
- uma ampla informação e conhecimento sobre os jovens em geral e as pessoas em particular com quem irá interagir.
Ou seja, na medida em que o saber pode ser subversivo e constituir-se um perigo para o saber-poder instalado ( o saber tanto se constitui num poder como num antipoder, na linha de um Foucault que vê o saber como uma relação de poder) o agente educativo será tanto mais um agente de transformação cognitiva e social quanto mais for capaz de se realizar nestes 4 círculos:
- Saber ( círculo cognitivo)
-Saber fazer ( círculo operativo)
-Saber ser (círculo relacional)
-Saber escutar/ ou esperar ( Círculo de continuidade)
Os traços pessoais dos professores aliados às qualidades científicas mais a mobilização das metodologias construtivistas num quadro teleológico de emancipação dos sujeitos poderão no nosso entendimento ser as chaves fundamentais para uma pedagogia de resistência ao processo de McDonaldização a que se assiste hoje no mundo actual. Converter a educação numa simples técnica operatória de teor pedagogista, ou transformá-la numa área científica soçobrando aos braços do cientismo dominante não são certamente as tarefas mais apropriadas. Investigar e teorizar as práticas educativas instituídas e instituintes constituirão antes uma linha muito mais produtiva, para além de abrir horizontes de reflexão, trabalho esse em relação ao qual os agentes educativos só terão a ganhar.

5. Conclusão


Julgámos ter mostrado ao longo deste curto ensaio as grandes linhas que estruturam hoje o mundo contemporâneo em rápido processo de globalização capitalista. Surpreendemos as suas principais ideias-força recorrendo à imagem dos restaurantes de fast-food. Trata-se de um processo em curso que exige uma teorização capaz de o tornar visível aos olhos de todos nós.
Cuidámos também de relacionar esse processo com o campo educativo tanto na sua vertente organizacional como através da progressiva institucionalização de estruturas educativas moldadas segundo aquelas linhas que fazem hoje escola nas sociedades capitalistas.
Uma vez que na tensão entre instituído e instituinte nada se dá por inevitável procuramos abreviadamente esboçar uma pedagogia de resistência por via da formação e acção dos professores, operacionalizada no triangulo Investigação-Acção-Formação, e potenciadora de uma reflexão emancipatória dos educadores como dos que estão implicados no processo de formação.


6.Bibliografia

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Santos, Boaventura Sousa (1994) Pela Mão de Alice. Porto: Afrontamento

17.4.05

O Jazz, guardião da consciência negra



A grande ruptura com a corrente geral da música americana dá-se depois da Segunda Guerra Mundial, com os músicos do «bebop» - Charlie PARKER, Thelonius Monk, Dizzy Gillespie e outros. A sua particular maneira de «africanizar» o jazz afro-americano - através da acentuação dos polirrítmos contrastados, a desvalorização da melodia e aumento da vocalização do saxofone – não representa apenas uma reacção ao «swing jazz»dominado pelos brancos e obcecado com a melodia; era também uma resposta musical criativa a uma mudança nas sensibilidades e humores da América Negra. Pela sua mestria e virtuosidade, os músicos do bebop exprimem o aumento das tensões e das frustrações, enfim, de todas as emoções de uma população que se torna reivindicativa ainda que continue temerosa.
Já não é hoje em dia, mas nessa época o bebop era uma música popular, cantarolada nas ruas pelos engraxadores e dançada nas comunidades negras urbanas. Tal como Thomas Pynchon, estes músicos evitavam a publicidade. E tal como os artistas do fim do século XIX tinam igualmente uma atitude radicalmente não conformista, não raras vezes mal compreendida, mas que se resumia numa famosa expressão: «Ouçam ou não a música, há sempre troça da grande». Ou seja, para eles, em virtude da origem negra da sua música, os negros nunca deixariam de os ouvir, ao passo que os outros só com um certo esforço conseguiam ouvi-la.
O bebop teve uma curta duração uma vez que se transformou progressivamente no estilo «cool» do início dos anos 50, mas deixou uma marca impagável na música popular afro-americana. Apesar do ascendente de artistas cool como Miles Davis ( o do início de carreira), John Lewis, nos negros, e de Chet Baker e David Brubeck nos brancos, a inspiração dos blues espirituais afro-americanos (sempre bem viva no eterno grupo de Count Basie) rapidamente se misturou com os sons de Charles Mingus, de Ray Charles e dos Jazz Messengers de Art Blakey, com o seu bebop hard que nos levaria à era do «soul» e do «funk»
Os anos 50 a maior parte dos Negros escutavam semanalmente música espiritual e «gospel» nas igrejas.Com o afluxo dos Negros aos centros urbanos o sentido profano e, com ele, a atracção pelo dinheiro impregnou um tipo de música ao mesmo tempo não-religiosa e não-jazz.Por uma parte, sob a influência de John Coltrane, Miles Davis, Ornette Coleman…, o jazz tornou-se numa espécie de música de «avant-garde» clássica snob – que era o que os seus fundadores detestavam. Por outro lado, as Igrejas negras denunciavam a «música do diabo» ( tradicionalmente, o blues) de forma que a música religiosa negra se marginalizava cada vez mais. Estavam reunidas as condições para uma música popular que não era nem jazz ne gospel: a soul music.
Esta era mais que um gospel secularizado ou um jazz funkizisado. Era sobretudo uma forma particular de africanização concebido para seduzir as massas negras que têm o hábito de se reunir para dançar e tocar música. A «soul music» era uma aplicação populista do bebop que visava despertar nos Negros uma consciência racial, graças à sua rica herança musical. Os dois principais artistas da soul – James Brown e Aretha Franklin – reuniam numa mesma partilha p povo da cidade e da província, o sub-proletariado e os tranbalhadores, os crentes e os não crentes. Só os Negros da classe média e a maior parte dos Brancos o rejeitou.

Permanência do Blues espiritual

Com o boom dos nascimento e o crescimento dos negócios entre os Negros, tornou-se evidente que havia um mercado para uma indústria do disco negro.Quando em 1958, Berry Gordy, operário de cor na Ford em Detroit, criou a marca Motown, a música popular negra pôde dar uma grande passo.
Motown, centro da música popular afro-americana nos anos 60 e inícios dos 70, teve um imenso sucesso. O génio musical de Stevie Wonder, Michael Jackson e Lionel Richie, os dons de escrita de autores como Smokey Robinson, Nicholas Ashford e tantos outros, colocaram-na muito à frente de todas as firmas que produziam música popular afro-americana.
Motown fez-se à imagem da classe de trabalhadores negros que, à época, era estável, perseverante e empenhada na ascensão social. No apogeu da sua glória, a marca produzia ritmos lentos e sincopados, e não poliritmos funky ( como James BROWN OU The Watts 103rd Street Rythm Band); formas retidas de apelo-e-resposta, e não estilos antifunários antinómicos ( como acontecia com Aretha Franklin ou Donny Hanthaway); líricas de inspiração romântica e não uma música de protesto social contra o racismo ( como a de Gil Scott Heron ou de Archie Shepp). Não obstante, Motown manteve com persistência e garra, dentro dos movimentos do blues e dos espirituais afro-americanos. Mas à medida que conhecia o sucesso comercial e alargava a sua audiência junto dos Brancos, Motown começa a perder terreno entre os Negros. Confrontava-se ainda com um sério desafio sobre duas frentes musicais – as do «funk rápido» e a do «soul mellow». Com o aparecimento nomercado de Kunkadelic e de Parliamente, de George Clinton, afirma-se uma uma nova vaga de «funk»: o «technofunk». Nunca os negros tinham escutado vozes tão voluntariamente deformadas, nem sequer conheciam efeitos rítmicos em contraponto, filtrados através de instrumentos electrónicos. As canções de Kunkadelic, I wanna Know if it’s Good to You, Loose Booty, Standing on the vergeof getting it on ressoavam como uma música revolucionária aos seus ouvidos.
No começo dos anos 70, a música popular negra assume entoações um pouco mais políticas. Assim por mais espantoso que possa parecer, a febre política do fim dos anos 60 não tinham suscitado reacções marcantes da parte dos músicos populares afro-americanos, à excepção de Say it Loud, I’m Black and I’m Proud, de James Brown. Com a intensificação da Guerra do Vietname (mais de 28% das vítimas americanas eram Negros), a cultura da droga expande-se ao mesmo tempo que os eleitos negros aumentava. Registos como Ball of Confusion, dos Temptations, Give More Power to the People, dos Chi-Lites, Funky President (people it’s Bad), de James Brown, e Fight the Power, dos Irmão Isley, testemunham um interesse acrescido pela vida pública e um certo sucesso político dos Afro-americanos.
Este interesse teve a maior ilustração no maior álbum editado pela Motown: JWhat’s going on de Marvin Gaye. Fiéis à suas rizes religiosas, músicos e escritores negros populares traduziam as suas preocupações em termos moralistas, divorciados das realidades políticas concretas.
A grande mudança dá-se em 1975. Pela primeira vez, o «funk rápido» substitui o «soul mellow» à cabeça do cartaz. Com a voga da música de dança non-stop nas discotecas nos começos dos anos 70 e o declínio que se seguiu da «slow danse» a favor do «soul mellow», a música de dança negra conquista um lugar proeminente na música popular afro-americana. As músicas a um tempo fraco («upbeat») e sensuais de Barry White, as síncopes repetitivas de de Brass Construction, o funk de Jersey, característico de Kool and the Gang, e o «chic Chic» de Nile Rogers e Bernard Edwards foram as respostas exemplares à voga do disco. Entretanto, a grande novidade produzia-se em 1975 quando George Clinton e William «Bootsy» Collins lançaram os álbuns Chocolate City e Mothership Connection, de Parliament.
Apoiando-se directamente em Funkadelic de Clinton, por exemplo, e até com os mesmos músicos, Parliament inaugura a era do «technofunk» negro, encontro criativo entre o movimento de blues espirituais e os instrumentos mais sofisticados da tecnologia moderna.
Produto do génio de George Clinton, o «technofunk» marca a segunda grande ruptura dos músicos negros com a corrente geral da música americana. Tal como aconteceu com o bebop de Charlie Parker, ele dá um carácter especificamente africano e tecnológico à música popular afro-americana na base de polirrítmos sobre polirrítmos, ausência de melodia e partes cantadas deformadas, com efeitos electrónicos bizarros. Primo direito do bebop, o «technofunk» exacerba e acentua sem pudor o carácter negro da música negra, naquilo que ela tem de mais irredutível, de mais inimitável e único. Com Funkadelic e Parliament o «technofunk» afirma-se como expressão característica da música popular negra pós-moderna; com ele, o movimento dos blues espirituais pode prolongar-se no reino universal do ordenador e até ao estádio hedonista da sociedade capitalista americana. Mas a sua atracção não se limitou a este aspecto. Conseguiu ainda revigorar a classe média Negra politizada que atravessava uma profunda crise de identidade mas também a dos trabalhadores, recém chegados dos «ghettos» recheados de blues, os pobres desejosos de evasão transcendental e os que se encontravam na escala social mais baixa e que dependiam da droga.
Em 1978 a capa do álbum de Funkadelic, de George Clinton, representava os Negros de todas as origens sociais em vias de levantar a bandeira da libertação afro-americana (cores vermelhas, negras e verdes) com um R & B impresso em cima, R & B que não significava Rhythm and Blues mas antes Rhytm and Business. À maneira tradicional do nacionalismo negro patriarcal, o interior do álbum vinha com a imagem de uma bela mulher negra, nua, estendida sobre as costas, simbolizando a fonte biológica e a coluna vertebral social da nação negra. Aconteceu ao «technofunk» o mesmo que ao bebop: teve curta duração. A suas características africanas e tecnológicas diluíram-se rapidamente em contacto com outras correntes musicais não negras, como por exemplo, o «freakazoid funk» de Prince e dos Midnight Star de Minneapolis.
Assinalam-se depois de 1975 outras tendências: a invasão dos músicos de jazz de vanguarda, a ascensão fulgurante de Michael Jackson ( ajudado por Rod Temperton e Quincy Jones) como artista solo, o regresso vivificante dos «gospels» e a exuberância do rap.
O álbum de Miles Davis Bitches Brew de 1970 tinha mostrado já a influência do soul no jazz, mas por volta dos fins dos anos 70, a chegada de verdadeiros músicos de jazz – especialmente de George Benson, Quicy Jones; Herbie Hancok e Donald Byrd – foi um acontecimento espantoso que traduz a vitalidade e o vigor das origens no seio de uma sociedade e de uma cultura americana e capitalista: o seu sucesso legitimava a música das massas negras.
Reafirmavam, no fundo, a visão original dessa grande figura revolucionária do jazz que foi Louis Armstrong. O talento de Michael Jackson ( Off the wall,1979; Thriller, 1983) teve a particularidade de combinar o estilo vedeta de James Brown, a intensidade lírica e afectiva de smokey Robinson, a sedução transracial de Dionne Warwick e o «technofunk» agressivo, ainda que moderado, dos irmãos Isley. Sobre este aspecto, o artista ultrapassa de longe os seus contemporâneos. É o motor da sua geração.
Num outro plano, a explosão do «gospel» deve-se em parte à crescente força do movimento Pentecostista na comunidade religiosa negra. Mas também à saída em 1972 do duplo álbum Amazing Grace onde James Cleveland e Aretha Franklin cruzam os seus talentos.Os álbuns superbos Take me back de Andae Croch, LOve Alive de Wakter Hawkin ( o irmão de Edwin) e Love Alive II só lhes dão razão.
Mas o movimento mais importante aparecido depois de 1979 foi, sem dúvida, a música rap negra, que já era tocada há anos nas ruas dos «ghettos» ou nos intervalos dos concertos negros. Em 1979, Sylvia Robinson, auotra principal das canções do grupo de música «soul mellow», The Moments, decide registar e lançar Rapper’s Delight, de Sugarhill Gang de Harlem. Poucos meses depois as produções rap enchiam as lojas de discos em todos os Estados Unidos.
Com o aparecimento de artistas rap mais sofisticados, como Kurtis Blow, Grandmaster Flasch e Furious Five a música tornou-se mais original e as canções mais próximas da vida do «gehtto» negro. Ilustram este facto os discos The Breaks e 125th Street, de Kurtis Blow, e The Message e New York, New York, de Grandmaster Flash e Furious Five.
Por sua vez, e depois do «bebop» e do «technofunk», a música rap negra testemunha bem uma mudança de sensibilidade e de humor nos Negros norte-americanos. Com efeito, ela acaba por «africanizar» a música popular – acentuando os polirrítmos sincopados, a expressão vernácula da linguagem e a expressão sensual de uma forma refinada e directa – enquanto que a sua virtuosidade não está tanto na técnica quanto na rapidez e na riqueza da fala comum da rua.
Neste sentido, e tal como com o «bebop» e o «technofunk», o rap presta-se dificilmente à reprodução por músicos não-negros, mesmo se ele suscitou bastantes imitações. Porém, ao contrários dos outros dois, o rap é sobretudo a expressão musical de um grito de desespero levado ao paroxismo para invocar os mais deserdados, um grito que reconhece e afronta abertamente a onda de crueldade criminosa e de desespero existencial nos «guettos». Desta vez trata-se de um forma de expressão que toca classes específicas onde a dimensão utópica foi reduzida ao silêncio.
É necessário também referir que há no rap negro, sobretudo nos ritmos lentos ( «upbeat») africanos, aspirações utópicas sem as quais não há luta, sem esperança, nem sentido. Mas esta expressão coexiste ao mesmo tempo com a expressão lírica do desespero dos oprimidos. Sem dúvida que os ritmos funk têm principalmente uma função ritual: é uma música para a distensão nos «boums» e nas danças.
Em suma, até os ritmos trazem as marcas dos fenómenos que pontuam a vida dos negros norte-americanos: os efeitos lentos, mas destruidores, sobre as classes negras mais desfavorecidas, da recente evolução da sociedade capitalista americana, e a incapacidade dos negros pobres a unir os seus recursos para sobreviverem. Isto é sobretudo válido para os jovens: a taxa de suicídio nos Negros, nas camadas entre os 18-30 anos, quadruplicou em vinte anos; neles, o homicídio continua a ser a principal causa de morte; mais de 50% das suas casas são geridas por jovens mulheres abandonadas e vítimas de abusos e violências; nas prisões a população negra é esmagadora.

Cornel West

(reprodução e tradução de um texto publicado no Le Monde Diplomatique de Novembro de 1983)


O lixo no Grande Porto


Diariamente a cidade do Porto produz 450 toneladas de resíduos sólidos urbanos, vulgo lixo. Dos quais 24 toneladas são recolhidas nas ruas pelos funcionários de limpeza, também conhecidos por varredores.

Deste total só 12% ( isto é, 16.337 toneladas) do total do lixo recolhido teve como destino a reciclagem, o que revela que não tem havido recolha selectiva que permita aquela operação de reciclagem.

Fonte. JN

15.4.05

Testemunho dos jovens de Hiroshima (I)




Testemunho de Tokuo Nakajima, rapaz, estava na 1ª classe em 1945


Estava ainda na cama, no dia 6 de Agosto, no momento em que a bomba caiu. Quando se ouviu a explosão, não consegui imaginar o que acontecera e ergui-me para ver. Tudo se encontrava na escuridão. Não consegui descobrir o que se passara e tentei sentar-me. Nesse mesmo momento as telhas do telhado tombaram e, pensando que alguma coisa sucedera, levantei-me. Nessa altura tanto o telhado como o tecto tinham desaparecido.
Uma das vizinhas aproximou-se e disse: «Queimar-te-ás até morreres se não fugires». Assim, fugi.
No caminho, a coragem faltou-me e parei. De súbito, compreendi que a minha mãe não se encontrava ali. Pensei que devia contar isto à minha mãe, e voltei pelo caminho por onde viera. Quando olhei para a nossa casa vi que desabara sobre o solo. A minha mãe deve estar fora, pensei; chamei mas não havia resposta. Tentei imaginar o que lhe acontecera.
Nesse mesmo momento surgiu outra senhora e perguntei: «Viu a minha mãe?»
Quando ela respondeu: «Não, não vi», fiquei desesperado.
Um homem que passava disse: «Se não te afastas depressa daqui queimar-te-ás até morreres. Vem afastemo-nos imediatamente».
Poré, procurava a minha mãe. No entanto, não a consegui encontrar em parte alguma, e enquanto tentava pensar no que devia fazer o mesmo homem disse:
«Procurá-la-ei por ti amanhã de manhã. Vamos.»
Tardei a encontrar uma resposta. Contudo, se não fosse, seria queimado até morrer; assim, fui por fim com ele.
«De momento, ficaremos bem se conseguirmos alcançar Elba», disse ele.

Alcançamos o vale e a ponte.
Em Eba, cresciam muitos tomates. Como não havia água toda a gente comia tomates.
Disse, como se falasse para mim mesmo: « Desejava muito encontrar bem cedo a Mãe».
Olhei em redor. Vi que o céu estava completamente escuro, que as casas estavam esmagadas e que as telhas tinham sido arrancadas pela força da explosão.
De todos os lados, vozes gritavam: «Socorro, salvem-me!»
Pessoas tão feridas que não lhes conseguia reconhecer a cara, clamavam: «Água, água!»
Naquela noite, adormeci por fim na colina. A cidade ardia intensamente e no céu a Lua parecia uma lanterna vermelha.
Na manhã seguinte voltei ao lugar onde estivera a nossa casa. Fiquei ali longo tempo, pensando que talvez a mãe, preocupada algures com o que me pudesse ter acontecido, voltasse aqui. E não vi a Mãe.
Os moribundos e os mortos estavam em Funairi. Pensei que talvez a Mãe se encontrasse entre eles e deu uma volta olhando cuidadosamente para a cara de todos, uma por uma, mas a Mãe não estava ali. Depois de ter vagueado durante longo tempo chguei à ponte de Meiji. Estava cheia de mortos, que jaziam por todo o lado. Não vi sinais da Mãe ali.
Cheguei à beira do rio. Esperei, chorando, mas por mais que esperasse não voltou. No rio, pessoas mortas flutuavam, chocando umas com as outras.
Passaram seis anos desde então. Agora, vivo em Matsubara.
Tenho o meu quinhão de guerra. Desejo apenas que façam a paz para ela permanecer para sempre no mundo.

Texto escrito em 1951, por Tokuo Nakajima

Reproduzido do livro « Testemunho dos Jovens de Hiroxima», ed. Portugália, 1965, tradução portuguesa do original «Children of the A-Bomb, the testamento f the boys and girls of Hiroshima»

14.4.05

Lutas dos trabalhadores



As 70 trabalhadoras da empresa Duarte e Irmão, Lda de Tamel s. Veríssimo, Barcelos já vão no seu 14º dia de vigilância junto as instalações que encerrou as portas no fim de Março. Segundo as trabalhadoras a falência da empresa esconde um motivo fraudulento, tanto mais que têm provas que a sua entidade patronal abriu nova empresa numa freguesia vizinha.


A empresa de capital japonês Yasaki Saltano de Ovar anunciou o despedimento de 500 trabalhadores até ao Verão e, segundo fontes junto dos trabalhadores, ao facto está ligada a decisão da empresa de deslocalizar algumas linhas de montagem para a Eslováquia e Turquia. Actualmente a empresa emprega 1500 assalariados, mas o seu número já atingiu em anos anteriores 3400 trabalhadores


As trabalhadoras da Alcoa, ex-Indelma, no Casal do Marco, realizaram na semana passada uma manifestação junto à fábrica, apelando à participação solidária da população do concelho do Seixal e do distrito de Setúbal. A multinacional norte-americana quer mandar funcionários para o desemprego, transferindo trabalho da Alcoa Fujikura portuguesa para outros países.A decisão de avançar para esta manif foi tomada durante o plenário que se realizou na quinta-feira, 31 de Março. Os trabalhadores – mulheres, na sua grande maioria, como é habitual no sector de fabricação de material eléctrico – pararam o trabalho a seguir ao almoço, concentrando-se de seguida junto aos portões da fábrica.
A luta em defesa dos postos de trabalho e em protesto contra a deslocalização da produção para a República Checa, já passar antes por paralisações em 18, 21 e 22 de Fevereiro e 17 de Março

Enquanto os salários estagnam, dividendos triplicam



Segundo previsões feitas pela Comissão Europeia e publicados nos vários jornais económicos os reduzidíssimos aumentos salariais dos trablhadores protugueses vão ser neutralizados por efeito dos aumento dos preços ao consumidor, isto é, pela inflação. Enquanto isso, a mesma imprensa económica especializada dava conta que os dividendos, oferecidos pelas empresas que fazem parte do índice bolsista PSI 20, aumentaram em média 65,37 %.

Fonte: JN

Rover despede 6100 trabalhadores no Reino Unido



A conhecida empresa de produção de automóveis inglesa acaba de anunciar a suspensão do seu funcionamento com o consequente despedimento de 6100 trabalhadores.
Fonte: JN

Portugal tem a mão-de-obra mais barata

O preço de 1/hora de trabalho assalariado.
Para que se saiba quanto se é explorado em Portugal, e como o rendimento é tão mal distribuído no nosso país, que também é o país onde se trabalha mais com maior número de horas de trabalho!!!!


O custo de trabalho em Portugal ascendia aos 8,13 euros/hora em 2000, o valor mais baixo entre os países da União Europeia. Os dados são do Eurostat.

Segundo um estudo do Eurostat, revelado recentemente, o custo médio horário da mão-de-obra na indústria e nos serviços variava, em 2000, entre os 8,13 euros em Portugal e os 28,56 euros na Suécia.
A média europeia era de 22,70 euros/hora.

Depois de Portugal, os custos laborais mais baixos pertencem à Grécia (10,40 euros/hora), Espanha (14,22 euros/hora) e à Irlanda (17,34 euros/hora). Os custos mais elevados, por sua vez, ocorrem na Suécia e Dinamarca (ambos com 27,10 euros/hora) e na Alemanha (26,54 euros/hora).

O Eurostat salienta, ainda, que o custo de mão-de-obra em Portugal, durante o período em análise, chegou a ser mais barato do que em alguns países candidatos à adesão. O Chipre (10,74 euros/hora) e a Eslovénia (8,98 euros/hora) são dois exemplos apontados.

O custo médio por hora de trabalho dos países de adesão situava-se nos 4,21 euros.

fonte: TSF