O governo de Saddam Hussein desintegrou-se e as forças de invasão e ocupação lideradas pelos Estados Unidos desencadearam um crime contra a história.
Contrabandistas profissionais ligados à máfia internacional de antiguidades conseguiram violar algumas das portas trancadas das salas de armazenamento do Museu de Bagdad.
Saquearam artefactos de valor incalculável, como a colecção inteira de selos cilíndricos do museu e um grande número de esculturas assírias de marfim.
Mais de 15 mil objectos foram levados. Vários deles foram contrabandeados para fora do Iraque e oferecidos no mercado.
Até agora, 3 mil foram recuperados em Bagdad, alguns devolvidos por cidadãos comuns, outros pela polícia. Além disso, mais de 1,6 mil objectos foram confiscados nos países vizinhos, cerca de 300 na Itália e mais de 600 nos Estados Unidos.
A maioria das peças roubadas não foi encontrada, mas alguns coleccionadores privados no Oriente Médio e na Europa admitiram possuir objectos com as iniciais IM (número de inventário do Museu do Iraque).
Sítios arqueológicos destruídos
Um número crescente de websites também oferece artefactos da Mesopotâmia - com até 7 mil anos - para venda.
Certamente que há objectos falsos apregoados na internet, mas a mera existência deste mercado estimulou o saque de sítios arqueológicos no sul do Iraque.
O quadro é horrendo. Mais de 150 sítios sumérios que datam do milênio 4 a.C. – tais como Umma, Umm al-Akkareb, Larsa e Tello – foram destruídos, transformados em crateras cheias de fragmentos de cerâmica e tijolos quebrados.
Se fosse, escavados de maneira apropriada, estes sítios - que, estima-se, cobrem 20 Km quadrados - poderiam ajudar a entender o desenvolvimento da raça humana.
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"Um selo cilíndrico ou uma tábua cuneiforme rendem menos de US$ 50 no local para o saqueador", explica o arqueólogo responsável pelo distrito de Nasiriya, Abdul Amir Hamadani.
"É um desastre o que todos estamos a assistir, mas que pouco podemos fazer para evitar."
Botas pesadas
As próprias forças de coligação de ocupantes danificaram sítios arqueológicos ao usá-los como bases militares.
A antiga Babilónia sofreu danos irreversíveis, apesar de ser uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Um relatório alarmante do administrador do departamento de Oriente Próximo do Museu Britânico, John Curtis, conta como áreas no meio de um sítio arqueológico sofreram terraplanagem para que se criasse uma área para helicópteros e estacionamento de veículos pesados.
"Eles causaram danos substanciais no Portão Ishtar, um dos monumentos mais famosos da antiguidade", escreveu Curtis.
"Veículos militares dos Estados Unidos esmagaram pavimentos de tijolos de 2,6 mil anos, fragmentos arqueológicos foram espalhados pelo sítio, mais de 12 trincheiras foram cavadas sobre depósitos da antiguidade e projectos militares de deslocamento de terra contaminaram o sítio para futuras gerações de cientistas."
"Soma-se a isso todo o dano causado a nove das figuras moldadas de tijolos de dragões no Portão de Ishtar por pessoas que tentaram remover os tijolos da parede."
Quanto mais tempo o Iraque ficar em estado de guerra, mais o berço da civilização estará ameaçado.
Fonte: BBC news (autora: Joanne Farchakh Bajjaly é uma arqueóloga independente e jornalista que cobre o Oriente Médio. Ela estuda o patrimônio histórico iraquiana há sete anos.)