1.12.05

Um fim de semana (2,3,4 de Dez.) de debates, expo e música no Porto

2,3,4 Dez. - um fim de semana de debates, expo e música no Porto
organizado pela Assoc. «Abril em Maio»
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Em novembro é de Abril e Maio que me lembro
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Fim de semana de debates, intervenções, grupos de discussão, filmes, exposições, música e bancas na Faculdade das Belas-Artes ( à Av. Rodrigues de Freitas, junto ao Jardim de S. Lázaro), no Porto, durante os dias 2, 3 e 4 de Dezembro, numa iniciativa da Associação «Abril em Maio».
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o que é isso de democracia?

arte e Política

como fazer recuar as fronteiras do possível?

se houver pão, o vinho e as rosas que se lixem?

a cultura é uma arma dos ofendidos ou uma indústria da consolação?

a arquitectura que temos está para a rua como os desígnios do céu para as toupeiras

a preguiça não é o objectivo maior de uma sociedade evoluída?

a escola não tem sido o instrumento de perpetuação das desigualdades sociais?

a propriedade não é um roubo?

se se está mais perto de um hospital não se tem mais hipóteses de se ficar doente?

não é quando se ouve falar de violência que se saca de um projecto cultural de bairro?

se se tolera o belicismo expansionista não é por lhe confiarmos a tarefa de defender o nosso belo modo de vida?

PROGRAMA

6ª feira (2 de Dez.)
17h. Abertura das exposições e bancas

18 h. Projecção de I PAISAN, de Giuseppe Morandi, com a presença do autor, de Peter Kammerer e Eduarda Dionísio

21h. Lançamento do jornal PREC, Põe, Rapa, Empurra, Cai

21.30h. Ana Deus canta dois temas de Kitchner

22 h. Arte e Política: com intervenções de Ângelo de Sousa, João Fernandes, Manuel António Pina, Rui Madeira

24h. Concertos e cantorias no Senhorio

Sábado ( 3 de Dez.)
14h. Arte e Política: grupos de discussão com Regina Guimarães, Pedro Rodrigues, e Saguenail.

16.30 h. António Preto mostra e comenta a exposição de poesia visual

17.30 COMO FAZER RECUAR AS FRONTEIRAS DO POSSÍVEL? Intervenções de António Maria Sousa, Giuseppe Morandi, Peter Kammerer, Saguenail

21.30h. Projecção do «O ÇUL VERÃO», antologia de imagens de 74/75 montadas por Amarante Abramovici, Tiago Afonso e Vítor Ribeiro
22h. QUE FRONTEIRAS DO POSSÌVEL? Grupos de discussão com António Preto, Rui Canário, Susana Mendes

24h. Concertos e cantorias no Senhorio

Domingo ( 4 de Dez.)
14h. O QUE É ISSO DE DEMOCRACIA? Intervenções de Gianfranco Azzali, Jean-Pierre Garnier, Madureiro Pinto

17h. O QUE É ISSO DE DEMOCRACIA? Grupos de discussão com Inês e Teresa Mendes, João Veloso, Renato Roque.

Mais info:
http://abrilemmaio.no.sapo.pt/

http://abrilemmaio.no.sapo.pt/Programa%20Porto%2005.htm

O Rali Lisboa-Dakar é um atentado ao nosso planeta e à consciência humana

Rali Lisboa-Dakar? Não, obrigado.



Hordas de carros, camiões e motas (240 motos, 188 automóveis, 80 camiões e 240 veículos de assistência) vão invadir, mais uma vez, ecossistemas frágeis ao longo de todo um percurso que vai partir, este ano, de Lisboa até chegar a Dakar, capital do Senegal, em plena África subsariana. Trata-se de um rali automóvel que espelha bem o modelo de sociedade consumista em que vivemos e que é responsável pela dissipação e esbanjamento de recursos.

Esta ocasião serve geralmente para que uma multidão de veículos todo-o-terreno, altamente poluidores, sejam lançados agressivamente a toda a velocidade por terras desconhecidas, e sejam objecto de uma estranha veneração mediática, quase que mitificados, numa operação propagandística com forte impacte e indutora, junto da população em geral, de comportamentos despesistas e contrários ao desenvolvimento sustentável.
Mas um tal Rali é duplamente chocante quando pensamos nas múltiplas carências que atingem o continente africano, que será atravessado por aquelas hostes motorizadas, numa deplorável atitude de arrogância e indiferença para com o sofrimento alheio. Uma caravana de engenhos motorizados rutilantes, atravessando os países mais desfavorecidos de África, é bem a triste imagem da «civilização» depredadora e injusta em que os países do Norte se revêem.

Não é, por isso, de todo extemporâneo, interrogarmo-nos sobre a razão de ser do ralli:

Será aceitável um evento deste género quando milhares de africanos se lançam desesperadamente, muitas vezes, numa viagem sem regresso, nos difíceis caminhos da emigração clandestina para os países europeus?

Será aceitável o desperdício de centenas de milhar de litros de combustível numa empresa que só serve para glorificar a rapacidade dos construtores de automóveis?

Será aceitável fomentar os padrões e atitudes próprios de uma mentalidade que se alimenta de valores como a velocidade, a agressividade e o risco na estrada, o poder e o domínio da máquina?

Será, enfim, aceitável tudo isto quando a África se afunda em fome, doença, má-nutrição e guerras?

Pelo facto de terem começado a encontrar uma viva contestação, os organizadores do Rali Paris-Dakar decidiram no ano passado transferir o ponto de partida para Barcelona. Mas também aqui vieram a deparar com críticas muito fortes que levou o governo da Catalunha a desinteressar-se pelo evento. Os promotores não tiveram outro remédio que ir bater a outra porta,. Encontraram então o apoio incondicional das figuras inefáveis que dão pelo nome de Santana Lopes ( então, primeiro-ministro) e Carmona Rodrigues ( enquanto presidente da autarquia) para que a cidade de Lisboa passasse a ser o ponto de saída.
É preciso não esquecer que, desde o seu aparecimento em 1979, este Rali já provocou mais de 30 mortos e que muitos poucos governos dos países europeus autorizariam a sua realização no seu território pelos efeitos catastróficos que provocaria no ambiente e em muitos outros domínios, sem esquecer os elevados riscos humanos que comportaria.

Como é possível assistirmos a este espectáculo indigno sem nos revoltarmos?

É altura de denunciar e pedir a supressão deste infeliz espectáculo, montado, todos os anos, pelos construtores de automóveis sem consciência ambiental e, ainda menos, cívica e planetária.


Já em 1988 René Dumont, o conhecido agrónomo e ecologista francês, dizia:
« Este Rallye é indecente. Comparo-o a um bando de estroinas que organizam uma bagunça, não na casa deles, mas que se permitem fazê-lo na casa de pobres, sem sequer partilhar com eles a patuscada(…) Ora a verdadeira aventura está, sim, na luta contra a fome” ( René Dumont)

O Rali Lisboa-Dakar é obsceno, indecente, e uma pouca-vergonha…

…porque percorre terras africanas atingidas pela fome, a seca, a sida, o sobre-endividamento, a corrupção, e as ditaduras

…porque em 15 dias o rallye gasta o equivalente ao orçamento para a saúde num país como o Mali, onde as carências e as necessidades são mais que muitas

…porque as multinacionais, não contentes de explorar o subsolo, os recursos naturais, e a mão-de-obra barata dos países pobres, querem para cúmulo explorar as suas paisagens e as suas belíssimas imagens, num desprezo completo pelo sofrimento dos africanos

…porque promove o todo-poderoso automóvel num momento onde se fazem sentir as consequências negativas das mudanças climáticas

…porque se realiza numa altura em que os preços do petróleo não param de crescer, dando indícios de uma cada vez maior carência energética

…porque passa por países onde os habitantes mal conseguem obter víveres para a sua alimentação diária

…porque arranca num país como Portugal onde o desemprego, a precariedade, a pobreza e os maus resultados financeiros constituem um vivo contraste a face ao luxo e desperdício de toda uma caravana motorizada , onde predominam os veículos 4x4

…porque não deixa de se assemelhar-se a uma empresa neo-colonial.

…porque os outros países europeus não quiseram carregar em si a imagem negativa que a sua promoção e realização tem gerado

…porque a vida humana dos portugueses, as paisagens alentejanas e algarvias e a nossas terras não devem servir para um turismo motorizado, inimigo da natureza e da vida humana

Calar a nossa indignação é ser cúmplice deste abuso da indústria automóvel.

Encontro para ofertas gratuitas e doações públicas


Desde há 3 anos para cá, centenas de participantes reúnem-se na Pont-Marie, na cidade de Paris, à volta de um ideia muito simples: oferecer gratuitamente ( sem esperar nada em troca), aos desconhecidos que por ali passem, objectos domésticos, que os doadores desejam doar.
Os interessados encontram-se muito simplesmente, sem medo do «outro» nem a pensar em dinheiro e no valor monetário dos objectos.
É claro que os transeuntes ficam surpreendidos ao receber presentes imprevistos, oferecidos por desconhecidos. Outros sentem-se intimidados ao abordar desconhecidos que ali passam, tal é a estranheza que sentem pelo acto de «doar coisas» a estranhos.
Todavia, cada vez mais pessoas têm aparecido às convocatórias para partilhar esta ideia muito simples.
Outras cidades, além de Paris, têm também organizado reuniões em pleno espaço público com o mesmo objectivo: Brest, Toulouse, Marselha, Perpignan, Montpelier, Palermo, na Suíça, …
Este ano a reunião das doações e ofertas públicas («Grand Don») em Paris comemora-se pela terceira vez e foram convidados todos os interessados para o acto de oferta pública e festiva que se realizará no próximo dia 17 de Dezembro à 15 horas na Pont-Marie

Mais informação:
http://granddon.free.fr


Nota Importante:
Esta iniciativa insere-se na linha dos usos e costume e de um modo de vida, estudado por antropólogos e etnólogos, existente em muitas sociedades comunitárias, baseado nas doações e ofertas entre os seus elementos. Infelizmente, tais hábitos foram substituídos pela mercantilização crescente das relações sociais por via da introdução do dinheiro como intermediário económico.
Existem já vários estudos e investigações que tratam daquela realidade, que perdeu a importância com a penetração das estruturas capitalistas nas relações sociais das nossas sociedades, e que se perverteu com a «caridadezinha» e os «presentes» comerciais
O autor que mais dedicou atenção a esta faceta da vida das comunidades foi o sociólogo e etnólogo Marcel Mauss.

Fui para os bosques viver ( Thoreau)


Fui para os bosques porque desejava deliberadamente viver, enfrentar apenas os factos essenciais da vida, e ver se poderia aprender o que ela tinha para ensinar, em vez de, quando estivesse para morrer, descobrir que não tinha vivido.Não desejava viver o que não era vida, viver é algo de precioso; não desejava igualmente praticar a renúncia, a não ser que fosse absolutamente necessário. Queria viver e, profundidade e sugar toda a medula da vida, viver com tanto vigor e de modo tão espartano que conseguisse desbaratar tudo o que não fosse a vida, cortar uma larga trilha de trigo e ceifá-lo raso, empurrar a vida contra uma esquina; reduzi-la aos seus termos mais humildes, e, se eles provassem ser escassos, apreender a inteira e genuína mesquinhez dela, e apregoar a sua mesquinhez ao mundo; ou se ela fosse sublime, sabê-lo por experiência, e ser capaz de apresentar um relato verdadeiro dela na minha próxima excursão. É que a maioria dos homens, parece-me, encontram-se numa estranha incerteza acerca dela, se ela pertence ao diabo ou a Deus, e concluíram um pouco apressadamente que a principal finalidade do homem neste mundo é «glorificar Deus e gozá-lo para sempre»

Henry David Thoreau
In Walden


O que me tenho vindo a preparar para dizer é que na natureza selvagem reside a preservação do mundo…A vida consiste em vida selvagem. O mais vivo é o mais selvagem. Não estando ainda subjugado pelo homem, a sua presença retempera-o…Quando quero re-criar-me a mim próprio, procuro o mais sombrio bosque, o pântano mais espesso e, para o citadino, o mais triste. Entro aí como num lugar sagrado, num Sanctum sanctorum. Aí está a força, o tutano, da Natureza.
Em resumo, todas as boas coisas são selvagens e livres.

H.D. Thoreau,
in «Thoreau’s visions: the major essays»

Dois mitos que mantêm a Pobreza

Por Vandana Shiva

Do cantor de rock Bob Geldof ao político inglês Gordon Brown, o mundo parece de repente estar cheio de pessoas de alta nível com intenções de erradicar a pobreza. Jeffrey Sachs não é um mero "benfeitor", mas um dos economistas líderes do mundo e chefe do Earth Institute e responsável na União Europeia pelo comité que promove o desenvolvimento rápido de países. Quando Sachs lançou o livro "O Fim da Pobreza",todo a imprensa lançou a notícia, sendo inclusive matéria de capa da Revista Times. Acontece, simplesmente, que existe um problema com o manual do fim da pobreza de Sachs. Ele não entende de onde vem a pobreza, e encara-a como um pecado original. "Há algumas gerações atrás, quase todo o mundo era pobre" diz ele e acrescenta: "A Revolução Industrial promoveu novos ricos, mas muitos no mundo foram deixados para trás." Essa é uma história totalmente falsa da pobreza. Os pobres não são aqueles "deixados para trás", são aqueles que foram roubados. A riqueza acumulada pela Europa e América do Norte é amplamente baseada nas riquezas retiradas da Ásia, África e América Latina. Sem a destruição da rica indústria têxtil indiana, sem a posse do mercado de especiarias, sem o genocídio das tribos americanas, sem a escravidão da África, a Revolução Industrial não resultaria em novos ricos para a Europa ou América do Norte. Foi essa possessão violenta sobre os recursos e mercados do Terceiro Mundo que geraram a riqueza do Norte e pobreza do Sul.

Dois dos grandes mitos económicos do nosso tempo permitem que as pessoas neguem esse elo intimidador e espalhem concepções erróneas sobre o que é a pobreza.
Primeiro, a responsabilidade sobre a destruição da Natureza e a habilidade das pessoas em cuidar de si mesmas são colocadas não no crescimento industrial e na economia colonialista, mas nessas mesmas pessoas. A pobreza foi instituída como uma das causas da destruição do meio ambiente. A doença então é oferecida como cura: o crescimento económico futuro resolveria os problemas da pobreza e do declínio ambiental. Essa é a mensagem-chave da análise de Sachs.
O segundo mito é que existe um consenso que se você consome o que você produz, você não produz de verdade, pelo menos economicamente falando. Se eu produzo o meu próprio alimento, e não o comercializo, quer dizer que não contribuo para o PIB e portanto não contribuo para o "crescimento". As pessoas são consideradas pobres por comerem o seu próprio alimento e não aquele que é comercialmente distribuído como "junk food" e que é vendido por empresas de agronegócio mundiais. São vistas como pobres se viverem em casas feitas por elas mesmas com materiais ecologicamente bem ambientados como o bambu e o barro ao invés de casas de tijolo e cimento. São vistas como pobres se usarem acessórios manufacturados feitos de fibras artesanais no lugar das sintéticas. A vida de subsistência, em relação à qual o rico do ocidente interpreta como pobre, não significa necessariamente menos qualidade de vida. Ao contrário, a sua economia natural baseada em subsistência garante uma alta qualidade de vida – se mensurarmos o acesso à comida e água de boa qualidade, à oportunidade de vida de subsistência, uma robusta identidade cultural e social e um sentido à vida das pessoas. Por esses pobres não dividirem nenhum dos benefícios percebidos pelo crescimento económico, são considerados como aqueles "deixados para trás".

Essa falsa distinção entre os factores que criam possibilidades e aqueles que criam pobreza está no centro da análise de Sachs. Por isso, as suas prescrições irão agravar e aumentar a pobreza ao invés de acabar com ela. Conceitos modernos de desenvolvimento económico, que Sachs enxerga como a "cura" para a pobreza, já foram utilizados apenas em pequenas partes da história da humanidade.
Durante séculos os princípios de subsistência permitiram às sociedades de todo o planeta sobreviver e até mesmo prosperar. Nessas sociedades os limites da natureza foram respeitados guiando os limites do consumo humano. Quando o relacionamento da sociedade com a natureza é baseado na subsistência, a natureza existe como forma de riqueza comum. Ela é redefinida como "recurso" apenas quando o lucro torna-se o princípio organizador da sociedade estabelecendo um imperativo de desenvolvimento e destruição de tais recursos pelo mercado. Contudo, muitos de nós escolhem esquecer e negar isso.
Todas as pessoas em todas as sociedades dependem da Natureza. Sem água limpa, solo fértil e diversidade genética, não é possível a sobrevivência da humanidade. Hoje o desenvolvimento económico está a destruir estes bens comuns, resultando na criação de uma nova contradição: o desenvolvimento priva aqueles que mais dizemos ajudar de suas tradições com a terra e do valor da subsistência, forçando-os a sobreviver num mundo de crescente erosão.
Um sistema baseado no crescimento económico, sabemos hoje, cria triliões de dólares de super lucro para corporações enquanto condena biliões de pessoas à pobreza. E a pobreza não é, como sugere Sachs, o estado inicial do progresso humano do qual todos saímos. A pobreza é o estagio final da queda de uma pessoa quando um lado desenvolvido destrói o sistema ecológico e social que manteve a vida, a saúde e a subsistência de pessoas e do próprio planeta ao longo de eras. A realidade é que as pessoas não morrem por falta de aquisições monetárias, elas morrem pela falta de acesso às riquezas de bem comum. Aqui também, Sachs erra ao dizer: "Num mundo de abundância, 1 bilião de pessoas estão tão pobres que as suas vidas correm perigo."
Os povos indígenas na Amazónia, as comunidades na montanhas dos Himalaias, camponeses de toda a parte cujas terras não foram apropriadas, cuja água e biodiversidade não foram destruídas pela agroindústria geradora de débito, são ecologicamente ricos, mesmo ganhando menos que $1,00 dólar por dia. Por outro lado, as pessoas são pobres se tiverem que comprar as suas necessidades básicas a altos preços não importando quanto ganhem. Veja-se o caso da Índia: por causa do dumping sobre os alimentos e fibras mais baratos feito pelas nações desenvolvidas e pela diminuição das protecções de mercado decretadas pelo Governo, os preços na agricultura da Índia estão caindo, significando que os camponeses do país estão perdendo $26 biliões de dólares ao ano. Impossibilitados de sobreviver sob essas novas condições económicas, muitos camponeses agora foram golpeados pela pobreza e milhares cometem suicídio todo o ano. Em diversos locais do mundo, o acto de beber água foi privatizado de uma forma que agora as grandes corporações podem lucrar 1 trilião de dólares por ano vendendo um recurso essencial aos pobres que antes eram gratuitos.
Sendo assim os $50 biliões de ajuda humanitária do Norte para o Sul são apenas um décimo dos $500 biliões que são sugados na outra direcção através de parcelas de pagamentos e outros mecanismos injustos da economia global imposta pelo Banco Central e pelo FMI. Se realmente estamos dispostos a acabar com a pobreza , temos que estar dispostos a dar fim ao sistema que cria a pobreza tomando as riquezas de bem comum, a subsistência e os ganhos.
Antes de fazermos a pobreza uma parte da história, precisamos entender correctamente a história da pobreza. Não é o quanto as nações ricas podem dar, nem tão pouco o quanto menos podem levar.

Vandana Shiva

Texto publicado em The Ecologist (July/August 2005)
www.theecologist.org


Vandana Shiva é fisica e uma destacada activista ambiental da Índia. Fundadora da Navdanya, um movimento pela conservação da biodiversidade e pelo direito de camponeses e agricultores. Diretora do Research Foundation for Science, Technology and Natural Resource Policy.

Os números da globalização capitalista


9 milhões de pessoas morrem de fome todos os anos, apesar de existirem recursos suficientes para alimentar mais de 12 mil milhões de indivíduos.

9 milhões são igualmente o número de milionários que vivem nos Estados Unidos, país a que pertence a empresa Microsoft que no passado ano de 2004 obteve lucros no valor de 12 mil milhões de dólares.

Os 200 homens mais ricos do mundo possuem tanto que 2 mil e trezentos milhões de indivíduos

Cada vaca da União Europeia recebe 3 euros de subsídios por dia, enquanto 46% dos africanos vivem com menos de 1 euro por dia.

No ano de 2003 o branqueamento de dinheiro foi da ordem dos 500 mil milhões a 1 bilião de euros.

500 mil milhões de dólares é o montante médio das despesas publicitárias dos países ricos.

100.0000.000.000 é o orçamento militar anual de todos os países do mundo

MANIFESTO DOS 37


Aos 37 anos, José Mário Branco escreveu o "FMI". Aos 37 anos, apetece-me dizer com os situacionistas que "nada queremos de um mundo no qual a garantia de não morrer de fome se troca pelo risco de morrer de tédio"(1).
Apetece-me dizer com André Breton que "a ideia de revolução é a melhor e mais eficaz salvaguarda do individuo"(2).Apetece-me estar com a subversão. Com a crítica radical à ditadura do consumível, da mercadoria, do quantitativo, do défice.Apetece-me estar do lado da liberdade, da liberdade absoluta contra a ilusão da liberdade de compra e venda, da sobrevivência, da "sobrevida" que substitui a vida, do quotidiano insuportável, do tédio.Apetece-me estar com os poetas malditos. Com Rimbaud, com Baudelaire, com Nietzsche, com Sade, com Lautréamont a infernizar tudo quanto é direitinho, conforme às normas, castração.Apetece-me estar contra todas as formas de autoridade, opressão e dominação.
Apetece-me estar do lado da rebelião.Apetece-me dizer que já pouco acredito nos partidos, mesmo nos de esquerda. Que lutar por lugares dentro da democracia burguesa é aceitar como irreversível a democracia burguesa e, portanto, afastar totalmente do horizonte a revolução, mesmo que se continue a falar na construção da sociedade socialista. E não há transições pacíficas para o socialismo. Como escreve António José Forte (3):"Que diálogo pode haver entre o condenado à morte e o carrasco que o conduz ao patíbulo?".Apetece-me dizer que acredito na poesia e no amor como formas subversivas. Que acredito em actos provocatórios, em agitações espontâneas que ridicularizem o instituído, no terrorismo poético. Que a criatividade é o último reduto da rebelião.
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António Pedro Ribeiro,
Frente Nietzscheana Revolucionária.
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(1)- Raoul Vaneigem, "A Arte de Viver para a Geração Nova".
(2)- "La Révolution Surrealiste, nº4".
(3)- António José Forte, "Uma Faca nos Dentes".

O Imperialismo Simbólico


Em todos os países avançados patrões, altos funcionários internacionais, intelectuais de projecção nos media e jornalistas do top estão de acordo em falar uma estranha novilíngua cujo vocabulário, aparentemente sem origem, circula por todas as bocas: "globalização", "flexibilidade", "governabilidade" e "empregabilidade", "underclass" e "exclusão", "nova economia" e "tolerância zero", "comunitarismo", "multiculturalismo" e os seus primos "pós-modernos", "etnicidade", "minoridade", "fragmentação", etc.
A difusão dessa nova vulgata planetária - da qual se encontram notavelmente ausentes "capitalismo", "classe", "exploração", "dominação", "desigualdade" e tantos outros vocábulos decisivamente revogados sob pretexto de obsolência ou de uma presumível falta de pertinência- é produto de um imperialismo apropriadamente simbólico.

Pierre Bordieu