18.10.08

Contra Salazar ( todos os textos anti-salazaristas de Fernando Pessoa reunidos num só livro, editado pela Angelus Novus)


Acabou de sair pela editora de Coimbra, «Angelus Novus», um volume reunindo todos os textos anti-salazaristas , em verso e em prosa, da autoria de Fernando Pessoa, organizado e prefaciado por António Apolinário Lourenço


Da contracapa:


Quando em 25 de Abril de 1974 a Revolução dos Cravos pôs termo ao regime totalitário de Marcelo Caetano, não era previsível que a escalpelização do espólio de Fernando Pessoa viesse revelar um anti-salazarista inesperado: o próprio Fernando Pessoa. Os textos reunidos em Contra Salazar revelam como foi profunda a aversão do autor da Mensagem ao ditador santacombadense, e, sobretudo, que o rancor que estes textos manifestam tinha na sua base motivações tão nobres como o repúdio do autoritarismo do Estado corporativo e a defesa da liberdade de expressão.

http://www.angelus-novus.com/livros/detalhe.php?id=178





COITADINHO DO TIRANINHO

Coitadinho
Do tiraninho!
Não bebe vinho,
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade,
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné,
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé,
E ninguém sabe porquê.

( poema de Fernando Pessoa)



Excerto da Introdução do livro ( retirado do site da editora):

Em 1926, Fernando Pessoa foi um dos inúmeros intelectuais portugueses que receberam com expectativa e até com esperança a chamada «Revolução Nacional» de 28 de Maio. A posição de Pessoa está perfeitamente expressa no opúsculo que publicou em 1928, intitulado O Interregno. Defesa e Justificação da Ditadura Militar em Portugal. A entrada em cena de Oliveira Salazar não alterou substancialmente a apreciação que o poeta fazia da situação. O lente de Coimbra não o empolgava, ao contrário do que havia sucedido com Sidónio Pais, mas apreciava o modo como, através da gestão política da sua acção nas finanças públicas, se havia transformado na figura carismática do novo regime.
O conservadorismo extremo de Salazar, sobretudo, nunca mereceu a simpatia de Fernando Pessoa, e a sua preocupação ia aumentando à medida que se apercebia da influência crescente na doutrina política do Estado Novo da ideologia do Integralismo Lusitano. Inquietava- o igualmente alguma macaqueação que ia sendo feita pelo poder político português de iniciativas e rituais próprios dos regimes totalitários da Itália e da Alemanha.
Em 1935, dois acontecimentos vêm acabar com todas as ilusões pessoanas relativamente a Salazar e ao Estado Novo: a aprovação, pela Assembleia Nacional, de um projecto de lei, apresentado pelo deputado José Cabral que proibia as Sociedades Secretas (como a Maçonaria) e a intervenção do Presidente do Conselho de Ministros na cerimónia de atribuição dos Prémios do Secretariado da Propaganda Nacional, em que a Mensagem foi um dos livros distinguidos, em 21 de Fevereiro.
A apresentação do projecto de José Cabral motivou da parte de Pessoa a redacção de um extenso artigo, intitulado «Sociedades secretas» e publicado em 4 de Fevereiro, no Diário de Lisboa. O resultado, no entanto, não foi o pretendido pelo autor de «Chuva Oblíqua». Em vez da compreensão que ingenuamente esperava, viu-se cruelmente criticado e insultado pela imprensa afecta ao regime.
Em 1934, Salazar tinha proibido o Movimento Nacional- -Sindicalista (da extrema-direita monárquica e católica), fundado por Rolão Preto em 1932 e apresentado publicamente em Fevereiro de 1933. O Chefe de Governo conseguira, no entanto, atrair para a órbita do Estado Novo uma parte significativa dos elementos desse grupo político, que, nos seus dias áureos, terá chegado a ter algumas dezenas de milhar de aderentes. Era justamente do grupo
nacio nal-sindicalista de Coimbra que provinha José Cabral.
Talvez esta circunstância permita compreender que tenha sido Rolão Preto, com muitos motivos para estar agastado com o seu antigo correligionário, a única voz a apoiar explicitamente — no Fradique — o protesto lavrado por Fernando Pessoa nas páginas do Diário de Lisboa.
Quanto à intervenção de Salazar, compreende-se pela leitura das cartas ou projectos de cartas ao Presidente da República e a Adolfo Casais Monteiro o motivo da irritação de Pessoa: a imposição de vexatórias directrizes políticas aos intelectuais portugueses. Refira-se, contudo, que Salazar se limitou a ler, na cerimónia, um excerto do prefácio do primeiro volume dos seus Discursos (1928- -1934), que seriam publicados pela Coimbra Editora, apelando realmente à responsabilidade social dos escritores.





ÍNDICE do livro

INTRODUÇÃO

POESIA

LIBERDADE

[António de Oliveira Salazar]
[Este senhor Salazar]
[Coitadinho do tiraninho]
[Mata os piolhos maiores]
[Vai p’ra o seminário]

À EMISSORA NACIONAL
[Solenemente]
[O rei reside em segredo]
[E o Salazar, artefacto]
[Salazar é mealheiro]

ELEGIA NA SOMBRA
[Sim, é o estado novo, e o povo]
[Dizem que o Jardim Zoológico]
[Meu pobre Portugal]

POEMA DE AMOR EM ESTADO NOVO
[Eu falei do «Mar Salgado»]

FADO DA CENSURA

PROSA
[A tese do prof. Salazar]
[Este movimento político representa uma
imoralidade]

ASSOCIAÇÕES SECRETA
[Sou situacionista por aceitação]
[Tudo isto é com a patroa]
[O reaccionário prático, o reaccionário teórico
e o reaccionário a fingir]
[Sarampo das novas épocas]
[Não publico porque não posso]
[Censura]
[O Estado Novo existe. O Interregno cessou]
[Ditadura à Mussolini]
[O argumenta essencial contra uma Ditadura
é que ela é Ditadura]
[Nacionalismo e Liberalismo]
[Civilização Cristã]
[Um cadáver emotivo]
[O Chefe do Governo não é um estadista: é
um arrumador]
[Salazar é Deus]

CARTAS
[A Adolfo Casais Monteiro]
[A Marques Matias]
[Ao Presidente da República]

NOTAS







A economia está a matar a Terra: afinal, eles (os economistas e os políticos) são irresponsáveis e loucos obsessivos ( segundo a New Scientist)

Se foi preciso apenas alguns dias para que os governos da Grã-Bretanha e dos EUA abandonassem décadas de doutrinas económicas liberais ortodoxas (a favor do mercado e da não-intervenção do Estado), para tentar salvar o sistema financeiro capitalista de um colapso, por que se há-de demorar mais tempo para se introduzir um plano para parar o colapso do planeta provocado por uma gestão e política irresponsável que poderiamos apelidar por obsessão pelo crescimento?



Em plena crise global com os governos e os mercados financeiros preocupados com uma possível recessão mundial, a revista científica britânica New Scientist dedica a capa da sua última edição à obsessão e irresponsabilidade demonstrada pelos políticos e economistas em continuarem apostados no crescimento económico quando tal se torna comprovadamente impossível pelo um cenário de recursos finitos o que tem como efeito que a procura obsessiva por mais crescimento económico está a matar o planeta.

Por via de série de entrevistas e artigos de especialistas em desenvolvimento sustentável, a revista New Scientist no seu último número, publicado nesta semana, traça um quadro em que todos os esforços para desenvolver combustíveis limpos, reduzir as emissões de carbono e buscar fontes de energia renováveis podem ser inúteis enquanto o nosso sistema económico continuar apostado no crescimento económico.

“A Ciência diz-nos que se for para levarmos a sério as tentativas para salvar o planeta, temos que reformar a nossa economia”, afirma a revista.

Segundo os analistas consultados pela publicação, o grande problema na equação do crescimento económico está no facto de que, enquanto a economia busca um crescimento infinito, os recursos naturais da Terra são limitados.

“Os economistas não perceberam um facto simples que para os cientistas é óbvio: o tamanho da Terra é fixo, nem sua massa nem a extensão da superfície variam. O mesmo vale para a energia, água, terra, ar, minerais e outros recursos presentes no planeta. A Terra já não está conseguindo sustentar a economia existente, muito menos uma que continue crescendo”, afirma num artigo o economista Herman Daly, professor da Universidade de Maryland e ex-consultor do departamento para o meio ambiente do Banco Mundial.

Para Daly, o facto do nosso sistema económico ser baseado na busca do crescimento acima de tudo o mais, faz com que o mundo estejamos a caminhar para um desastre ecológico e também económico, dadas as limitações dos recursos.

“Para evitar este desastre, precisamos de mudar a nossa aposta no crescimento quantitativo para um qualitativo e impôr limites nas taxas de consumo dos recursos naturais da Terra”, escreve.

“Nesta economia de estado sólido, os valores das mercadorias ainda podem aumentar, por exemplo, por causa de inovações tecnológicas ou melhor distribuição. Mas o tamanho físico dessa economia deve ser mantido num nível que o planeta consiga sustentar”, conclui Daly, que compara a actual economia a um avião em alta velocidade e a sua proposta a um helicóptero, capaz de voar sem se mover.

Mas essas mudanças no sistema não serão fáceis. Na entrevista à revista, James Gustav Speth, ex-conselheiro do governo Jimmy Carter (1977-1981) e da ONU, afirma que o movimento ambiental nunca conseguirá vencer dentro do actual sistema capitalista.

“A única solução é reformarmos o capitalismo actual. Os Estados Unidos cresceram entre 3% e 3,5% por um bom tempo. Há algum dividendo deste crescimento? Existem melhores condições sociais? Não. Os Estados Unidos têm que apostar em indústrias sustentáveis, necessidades sociais, tecnologias e atendimento médico decente, e não sacrificar isso para fazer a economia crescer.”, diz.

“A comunidade ambientalista, pelo menos nos Estados Unidos, é muito fraca quando falamos sobre mudança de estilo de vida, consumo e sobre sua relutância em desafiar o crescimento ou o poder das corporações. Nós precisamos de um novo movimento político nos EUA. Cabe aos cidadãos injectarem valores que reflictam as aspirações humanas, e não apenas fazer mais dinheiro.

Obsessão pelo crescimento

A revista também traz um artigo que discute o argumento de que o crescimento económico é necessário para erradicar a pobreza e que quanto mais ricos ficam alguns, a vida dos mais pobres também melhora. É a chamada Teoria do Gotejamento.

Segundo Andrew Simms, diretor da New Economics Foundation, em Londres, este argumento, além de “não ser sincero”, sob qualquer avaliação, é “ impossível”.

“Durante os anos 1980, para cada 100 dólares adicionados na economia global, cerca de 2,20 dólares chegavam àqueles que estavam abaixo da linha de pobreza. Durante a década de 1990, esse valor passou para US$ 0,60. Essa desigualdade significa que para que os pobres estão a tornarem-se cada vez mais pobres e os ricos a ficar muito mais ricos”.

“A humanidade está indo para além da capacidade da biosfera ao sustentar as actuais actividades anuais desde meados dos anos 1980. Em 2008, nós ultrapassamos essa capacidade anual em 23 de Setembro, cinco dias antes do ano anterior”.

Ele ainda afirma ser impossível que um dia toda a humanidade tenha o padrão de vida dos países desenvolvidos.

“Seriam necessários pelo menos três planetas Terra para sustentar essas necessidades se todos vivessem nos padrões da Grã-Bretanha. Cinco se vivêssemos como os americanos”.

Para Simms, a Terra estaria inabitável há muito tempo antes que o crescimento económico pudesse erradicar a pobreza.

Para que o mundo possa ter uma economia ecologicamente sustentável, segundo Simms, é preciso acabar com o preconceito de alguns em relação ao conceito de “redistribuição”, que, para ele, é o único modo viável de acabar com a pobreza.

“Só foi preciso alguns dias para que os governos da Grã-Bretanha e dos EUA abandonassem décadas de doutrinas económicas para tentar resgatar o sistema financeiro de um colapso. Por que tem que demorar mais para introduzirem um plano para deter o colapso do planeta trazido por uma conduta irresponsável e ainda mais perigosa chamada obsessão pelo crescimento?”.


Fonte:
BBC Brasil




Boletim da Federação dos trabalhadores(as) da educação da CNT francesa fala da luta dos professores portugueses


Por via do blogue http://delutoeemluta.blogspot.com/2008/10/luttes-au-portugal-sinistra-ministra.html tomamos conhecimento de uma referência às lutas dos professores(as) portugueses (as) no último boletim da Federação dos(as) trabalhadores (as) da educação pertencente à CNT francesa ( de inspiração anarco-sindicalista). O boletim pode ser descarregado aqui e tem como título « Classes en lutte » - Por uma revolução social, educativa e pedagógica


Reproduzimos a seguir o original ( em francês):



Au Portugal, ces trois dernières années, le gouvernement Sócrates (PS), et la ministre de l’éducation, Maria de Lurdes Rodrigues, ont lancé plusieurs offensives contre l’école publique.
Les réformes ont provoqué une dégradation sans précédent de l’enseignement, et créé un profond mal-être chez les professeurs . Le 8 mars 2008, 100 000 enseignants (un sur trois) vêtus de noir en signe de deuil ont défilé dans les rues de Lisbonne. Ce fut le plus grand mouvement de protestation des enseignants qui ait jamais eu lieu au Portugal.
Cette manifestation a été le point culminant de semaines de lutte et de contestation nées au sein même des écoles contre les nouvelles modalités d’évaluation des enseignants, unanimement rejetées à cause de leur contenu irrationel et de leurs objectifs purement économiques. Ces modalités d’évaluation découlent du Statut de Carrière des enseignants, que le gouvernement a imposé contre la volonté des professeurs et qui a donné lieu a une énorme contestation.
Les centaines de rassemblements, manifestations, et “vigílias” qui ont précédé la mega-manifestation furent très souvent conduites par des groupes de professeurs qui s’étaient organisés à l’intérieur des établissements. Beaucoup de rendez-vous ont circulé anonymement par sms ou par internet. Ces mouvements de contestation de la base, nés en dehors des structures syndicales enseignantes, ont mis la pression sur les syndicats de professeurs.
Ce mécontentement est la réponse naturelle à des années de réformes économiques qui ont gravement mis en cause la qualité du travail enseignant, et qui ont contribué à la dégradation de l’école publique au Portugal. Ces réformes ont mené à la fermeture de nombreuses écoles , ont modifié la nature des programmes et ont réduit la participation des enseignants aux instances dirigeantes des établissements. L’enseignement spécialisé et l’enseignement artistique ont également subi de graves attaques, qui ont sérieusement mis à mal les principes de l’école pour tous (“inclusive”). Le plan qui est en marche vise au désengagement progressif de l’État du secteur éducatif pour le transférer aux municipalités et ouvrir ainsi la porte à une future privatisation de l’enseignement. Ce plan, qui a débuté par la remise aux collectivités locales de la gestion du parc scolaire, pour ensuite être éventuellement confiée a l’Eglise, menace maintenant d’être étendu aux travailleurs non-enseignants ainsi qu’aux professeurs eux- mêmes qui courent le risque de changer de ministère de tutelle et de perdre leurs droits . Un récent projet de loi ouvre la porte au passage des professeurs sous la dépendance des municipalités. (1)
Au Portugal le réseau public d’enseignement aurait perdu entre 16 et 23 000 enseignants ces trois dernières années.(2) Ces réductions ne sont pas causées par la diminution du nombre d’élèves, comme le gouvernement a voulu le faire croire, mais plutôt à la fermeture d’écoles et à l’augmentation des horaires de travail.
Le Plan de fermetures d’écoles mis en place dès l’entrée en fonctions du gouvernement Sócrates prévoyait de fermer environ 4000 écoles primaires jusqu’au terme de la législature en 2009 (3). Rien qu’au début de l’année scolaire 2006/2007, 1500 écoles ont été fermées, la fermeture de 900 écoles supplémentaires étant prévue pour l’année suivante. Ces fermetures touchent surtout les zones de l’intérieur nord et du centre du Portugal, déjà largement désertifiées et elles vont naturellement accentuer cette tendance. Les élèves des écoles primaires fermées sont aujourd’hui obligés de rester la journée entière loin de leur domicile et perdent de longues heures dans les transports. Le réseau de transports scolaires, dépendant des municipalités, fonctionne avec de graves déficiences. Des enfants très jeunes sont ainsi obligés d’utiliser les transports publics sans que la surveillance adéquate ne soit garantie, ce qui a déjà provoqué des morts.(4)
L’enseignement spécialisé (pour handicapés) est un autre secteur qui a subi des assauts qui ont mis en danger les principes de l’école « inclusive ». La disparition des Équipes de l’Éducation Spécialisée et de leurs coordinations régionales a laissé les enseignants du secteur isolés dans les écoles. Le gouvernement a imposé un plan de restructuration qui prévoit uniquement un soutien aux handicapés (déficients), laissant de côté des milliers d’élèves dyslexiques, hyperactifs et ayant des problèmes de comportement et d’apprentissage. Ceux-ci courent le risque de se perdre et d’être envoyés dans les “circuits alternatifs” perdant ainsi toute possibilité de progresser a l’intérieur du système éducatif.(5)(6)
L’enseignement artistique, qui était déjà le parent pauvre, n’a pas non plus été épargné par les réformes. À l’école primaire, il a même été retiré du programme obligatoire tout comme l’éducation physique. Ces activités sont maintenant inclues dans les “prolongement d’horaires” et laissées à des moniteurs sans qualification apropriée , engagés sous contract précaire et mal payés par les municipalités(7).
Le système éducatif Portugais se trouve donc dans une situation réellement préoccupante. Le profond mal-être causé par les réformes du gouvernement actuel et menées à bien par la ministre Maria de Lurdes Rodrigues lui font pleinement mériter son surnom de “ Sinistre Ministre”.
José António Antunes .



Blogues de interesse :
A Sinistra Ministra (com participação de companheiros libertários)
http://sinistraministra.blogspot.com/


Movimento dos Professores Revoltadoshttp://movimentoprofessoresrevoltados.blogspot.com/


Em defesa da Escola Pública

http://www.movimentoescolapublica.blogspot.com/