Expressionismo Abstracto
Uma das consequências da II Grande Guerra foi a transferência do centro artístico de Paris para Nova Iorque que assistiu ao rápido florescimento da arte norte-americana por efeito de diversos factores entre os quais a emigração de artistas e a receptividade e potencialidades existentes nos EUA para as propostas mais experimentais.
Não admira que a chamada Escola de Nova Iorque tenha marcado a época, com nomes como Arshille Gorky (1904-1948), que utilizou o automatismo surrealista numa vertente mais abstracta a estabelecer a transição para o Expressionismo Abstracto, valorizando mais o processo que o produto do seu trabalho, assim como são de apontar nomes como Robert Motherwell (1915-), Willem de Kooning (1004-), que é uma das figuras mais proeminentes do Expressionismo Abstracto americano, e principalmente Jackson Pollock (1912-1956), este último por ter desenvolvido o automatismo pictórico, a action painting (pintura de acção), e novas técnicas como o dripping, que consistia em verter tinta ou deitar pingos e manchas sobre a tela.
Outros artistas como Barnett Newman (1905-1970), Mark Rothko (1903-1970), Franz Kline ( 1910-1962) e Clyfford Still (1904-1980) inspiraram-se mais nos princípios do abstraccionismo ( de Malevitch ou de Mondrian).
Arte Informal
Simultaneamente desenvolveu-se na Europa uma tendência igualmente abstracta e expressionista designada por Arte Informal, uma pintura sem formas, sem quaisquer referências figurativas ou geométricas. Dentro desta tendência encontramos o Tachismo ( do francês tache, mancha) de Henri Michaux (1899-1984) e Hans Harting (1904-1989) que traduzem o impulso criativo em manchas e em grafismo automáticos de inspiração oriental.
Outra linha artística foi desenvolvida pela «pintura matérica» de Jean Fautrier (1898-1964) e Jean Dubuffet (1901-1985) cujos processos expressivos misturam diversas matérias e substâncias sobre a tela
Dubuffet designou a sua pintura de Arte Bruta, não só pelo modo de emprego dos materiais, mas também por aspirar a uma arte «em bruto», primitiva, infantil, sem referência culturais ou artísticas.
Este mesmo espírito «brutalista», primitivista e existencialista presidiu à fundação do grupo CoBrA ( as iniciais de Copenhaga; Bruxelas e Amsterdão, cidades dos seus mentores) em 1948, por Karl Appel (1921-1949), Asger Jorn (1914-1973) e Pierre Alechinsky (1927-1958), entre outros. Inspiram-se no imaginário fantástico do folclore nórdico e na simbologia mística.
Novo Realismo
Nos finais da década de 50 surge em Paris uma reacção contra o gestualismo do Expressionismo Abstracto e as metamorfoses anamórficas da Arte Informal, apelando a uma relação mais próxima com a realidade e os assuntos do quotidiano.
O Novo Realismo foi a designação encontrada pelo crítico Pierre Restany para dar a conhecer o manifesto do Novo Realismo publicado em1960, defendendo «a apaixonante aventura do real captado em si mesmo e não através do prisma da transcrição conceptual ou imaginativa», e referindo-se aos trabalhos de Arman (1928-), César (1921-), Yves Klein (1928-1962) e Daniel Spoerri (1930-), entre outros, que se caracterizavam pela utilização de objects trouvés (objectos recolhidos no quotidiano) segundo a técnica de assemblage, isto é, composições de objectos e materiais desperdiçados, fragmentos montados e reorganizados, cartazes rasgados e descolados, numa experiência estética com fins poéticos que propunha uma reflexão nova sobre o objecto e sobre a vida.
Foi com fundamentos similares, e reabilitando igualmente a representação figurativa, que se desenvolveu a Pop Art ( abreviatura de popular art), um movimento que inspira o seu programa na cultura urbana, nos mass media e nos objectos produzidos pela sociedade de consumo. Se bem que tenha sido e Inglaterra que, em 1956, Richard Hamilton (1927-1967) apresentou «O que é que faz exactamente os lugares de hoje tão diferentes, tão atractivos?», uma collage de grande alcance crítico relativamente ao consumismo, foi nos EUA que a Pop Art exprimiu todo o seu significado.
A partir dos seus precursores, Robert Rauschenberg (1925-) e Jasper Jones (1930-) que ensaiaram a transformação de produtos banais em objectos artísticos, nomes como Tom Wesselmann (1931-) com os seus «Grandes Nus Americanos», James Rosenquist (1933-), reelaborando o universo de imagens estereotipadas da cultura urbana, Claes Oldenburg (1929-), com ampliações dos ícones americanos, Roy Lichtenstein (1923-1997), com o uso da Banda Desenhada, mas principalmente, Andy Warhol (1928-1987) converteram a Pop Art num fenómeno genuinamente pop, experimentando novas técnicas como a fotomontagem e a serigrafia, sempre com um sentido irónico.
Nos finais dos anos 60 surgia outra manifestação do realismo contemporâneo: o Hiper-realismo que acentua a sua aproximação ao mundo, reproduzindo-o meticulosamente com uma «objectividade fotográfica» ( a partir de colossais ampliações fotográficas), tornando a realidade insustentavelmente real. Nomes: Richard Estes, Chuck Close.
Arte Cinética
A Arte Cinética ( do grego Kinesis,movimento) associa-se à obra de Alexander Calder ( 1898-1976), um escultor americano que, a partir dos anos 30, conferiu mobilidade às suas esculturas, suspendendo no tecto elementos metálicos unidos uns aos outros por arames. Os «mobiles» integravam o movimento como factor primordial de manifestação estética da obra.. Calder também executou estruturas apoiadas no solo, os «stabiles» que deixavam transparecer igualmente uma forte dinâmica através da articulação entre a forma e açor.
Op Art
Esta linha estética foi prosseguida com a Op Art ( abreviatura da Optical Art) por via dos trabalhos de Victor Vasarely (1908-) e Bridget Riley (1931-). Convocando a participação involuntária do espectador, estas obras privilegiam os elementos visuais sobre os expressivos, produzindo uma série de efeitos e ilusões ópticas, de modo a gerar sensações de movimento e a provocar a sua instabilidade perceptiva.
Minimalismo
Talvez como resposta à explosão iconográfica da sociedade de consumo e da cultura pop tenha emergido o silêncio e a acção mínima com a redução dos efeitos expressivos da obra à simplicidade extrema. Tal foi a proposta da Minimal Art, que se desenvolve nos EUA ao longo das décadas 60 e 70, e caracterizando-se pela apresentação de objectos unitários, repetição de estruturas primárias, matrizes lineares e grelhas com uma precisão matemática, cujas formas eram integradas e relacionadas com o espaço envolvente, invocando uma experiência física do espectador com a obra. Artistas como Donald Judd (1928-1994),Richard Morris (1938-), Dan Flavin (1933-), Rochard Serra (1939-), Carl André (1935-) e Sol LeWitt (1929-) privilegiaram a ordem, a clareza, e a simplicidade em trabalhos puramente abstractos, objectivos e anónimos, já que a indiferença do artista perante a obra é uma das características do Minimalismo.
Arte Conceptual
A utilização de meios mecânicos e das tecnologias modernas na produção artística distanciava cada vez mais os artistas da execução da obra, fazendo prevalecer a ideia ou o suporte conceptual que a gerara. Sol LeWitt fixa em 1968 o termo de Arte Conceptual para se referir a um projecto artístico no qual a «ideia» era mais importante do que «a obra» em si.
A Arte Conceptual tornou-se então num fenómeno artístico a partir de 1965 ao abolir radicalmente o «objecto artístico» e desviando a atenção para o processo, e toda a documentação que o acompanha, como textos, mapas, diagramas, vídeos, fotografias, perfomances que são exibidos numa galeria ou num local específico.
Este entendimento do «artista conceptual» como um fazedor de ideias mais do que objectos, tal como foi definido por Joseph Kosuth (1945-), Lawrence Weiner (1940-) ou Victor Burgin ( 1941-) veio fragilizar as noções tradicionais de artista e objecto artístico, questionando a própria linguagem da arte.
Land Art ( Artes da Terra)
Todo este questionamento provocou uma série de novas experiências artísticas que marcaram os finais dos anos 60 e inícios dos anos 70, e que rejeitando a impetuosidade do informalismo assim como o kitsch legitimado da Pop Art, pretendiam renovar e transgredir as normas e os conceitos estabelecidos, alargando a actividade artística a campos e a universos até então inexplorados. Estas novas expressões vão aspirar a uma liberdade total e a expandir a sua acção a operações de todo o género. Para tal apropriam-se das paisagens, dos ambientes, das tecnologias, dos materiais e de todas as linguagens para introduzir o puro acto estético. Estamos em pleno processo de desmaterialização do objecto artístico.
Um exemplo foi dado pela Land Art ( Artes da Terra), que abandonam o atelier e reformulam a linguagem da arte.. A Land Art tem como protagonistas, entre outros, Robert Smithson (1938-1970), Michael Heizer, Richard Long (1945-), Walter de Maria (1935-). Os seus earthworks (trabalhos da terra) caracterizam-se por intervenções de carácter efémero na paisagem, rural ou urbana, reelaborando a natureza e inscrevendo a sua presença física no território.
Arte Povera
A Arte Povera (Arte Pobre), de origem italiana, que emerge a partir de 1967, explora as propriedades físicas e químicas de materiais vulgares e insignificantes, numa tentativa de fundir a natureza com a cultura. Nomes como Mário Merz (1925-), Michelangelo Pistoletto (1933-), Giuseppe Penone ( 1947-) propuseram uma reflexão sobre a vida contemporânea e sobre a relação do home com a envolvente, numa atitude precária, anti-informal e anticomercial que se limitava à interpretação da matéria e das qualidades físicas do meio e dos elementos naturais.
Perfomances e Happenings
A ideia de que o objectivos da arte não é representar a vida mas sim fazer parte dela, constitui uma das novas e mais persistentes tendências contemporâneas.
Joseph Beuys (1921-1986) foi um dos pioneiros de «acções publicas» ou happenings, a forma mais incisiva de interferência artística na vida e no quotidiano. Beuys utilizava nas suas perfomances materiais insólitos e pouco ortodoxos, subvertendo-lhes o sentido e associando-os a ideias, conceitos, valores, etc.
O Happening (acontecimento) foi criado por Allan Kaprow (1927-) e praticado por artistas como Claes Oldenburg (1929-), Jim Dine (1935-), etc, consistindo numa representação teatral, improvisada ou encenada, integrando a envolvente e o próprio espectador na sua acção.
Body Art
Quando o artista integra o seu próprio corpo na perfomance temos a chamada Body Art, tal como acontece com os artistas Vito Acconci (1940-), Arnulf Rainer (1929-), Dennis Oppenheim (1938-).
(excertos do livro de Paulo Simões Nunes, História da Arte, ed. Lisboa)