30.5.05

Tchernobyl nos nossos pratos!



O lobby nuclear está a tentar modificar a regulamentação internacional de modo a ser autorizada a presença de poluentes radioactivos na nossa alimentação!!!
É incrível mas, infelizmente, é verdade!

Logo após a catástrofe de Tchernobyl em 26 de Abril de 1986 os governos elaboraram normas comuns para a gestão de futuros acidentes nucleares. A contaminação então gerada tinha apanhado os governos de surpresa, e cada qual definiu as suas próprias normas, que variavam conforme os gastos que cada Estado estava pronto a gastar para limitar a quantidade de radioactividade a ingerir por cada indivíduo. A variedade de limites fixados levou à interpelação dos responsáveis acerca das arbitragens efectuadas entre as autoridades de saúde e os interesses económicos. Situação incómoda que nenhum governo deseja naturalmente viver. Entre 1987 e 1989 a acção desenvolvida foi muito intensa. A nível europeu o trabalho foi efectuado no quadro do tratado do Euratom. A nível internacional, o dossier foi entregue à Comissão do Codex Alimentarius, uma estrutura dependente da Organização Mundial da Saúde e da FAO encarregada na elaboração de normas alimentares que regulem o comércio internacional.

A regulamentação saída destes trabalhos fixa os níveis de contaminação «aceitáveis» nos géneros alimentares durante as situações de crise. Os limites então fixados não são certamente muito protectores, mais a verdade é que apresentavam duas garantias fundamentais: tais «normas» só teriam validade numa situação pós-acidente e sempre com uma duração limitada - uma duração que, segundo o regulamento europeu, devia «ser tão breve quanto possível», e que «não devia ultrapassar os 3 meses». Ora assiste-se actualmente à tentativa por parte do lobby nuclear de fazer desaparecer estes limites temporais.

Tudo começou por iniciativa da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), um organismo das Nações Unidas com duas missões: controlar o nuclear militar e promover o nuclear civil.Em 2002, esta Agência instou a Comissão do Codex alimentarius a rever a regulamentação relativa ao comércio dos alimentos contaminados. A Comissão respondeu favoravelmente…tendo encarregado a própria AEIA (!!!) a elaborar um texto regulamentador sobre a matéria!

Resultado: a regulamentação preparada sob os auspícios da Agência de promoção do nuclear civil prevê limites de contaminação dos alimentos que serão, daqui para diante, sem qualquer limitação de tempo e o seu campo de aplicação estendido não só para as situações de crise mas ainda para a própria gestão dos despejos controlados das instalações nucleares. A lógica que se quer impor será não mais limitar por um tempo a contaminação provocada por uma crise nuclear, mas autorizar definitivamente a presença de poluentes radioactivos nos nossos alimentos.

Tratando-se de poluentes cancerígenos e mutogénicos reconhecidos, a AIEA não tinha outra solução senão reafirmar os seus riscos. De facto, o texto afirma claramente a inocuidade das novas disposições: os alimentos cuja contaminação não ultrapasse os limites fixados pela AIEA «devem ser considerados como seguros para consumo humano».

O problema é que, como valerá a pena verificar, os níveis por dose, logo de risco, são de 100 a 2.000 vezes superiores àquilo que pretendem os autores do projecto. Já não estamos no patamar do risco «negligenciável» mais bem pelo contrário nos níveis de risco completamente inadmissíveis.

A afirmação, segundo a qual o consumo dos alimentos contaminados abaixo dos limites está fora de risco, esquece de precisar que isso só é válido na condição expressa que eles não sejam mais que 0,1% da alimentação total de uma pessoa. Ora 0,1% representa menos de 10g. por dia para um adulto e menos de 2g. para uma criança pequena. Trata-se de um pequeno detalhe que faz toda a diferença.

E quando se fica a saber que o projecto regulamentar não prevê absolutamente nada para garantir o respeito destas percentagens, nem sequer que os consumidores fiquem em condições de identificar os produtos com tais contaminações, pode-se então avaliar o alcance do procedimento que está em vias de ser aprovado. Sob a referência ALINORM 04/27/12, o projecto da AIEA já passou sete das oito etapas exigidas para a adopção das normas oficiais do Codex alimentarius. A luz verde, correspondente à adopção definitiva do projecto, terá lugar no início de Julho em Roma.

Há toda a urgência nesta matéria. Se a nova norma for aprovada, não haverá possibilidade de recurso: nem para os produtores nem para os consumidores, nem mesmo para os Estados que se sujeitaram às penalizações da Organização Mundial do Comércio caso bloqueiem o comércio de alimentos «legalmente» contaminados!!! Ainda estamos a tempo de fazer fracassar o projecto daAIEA…desde que não fiquemos passivos.


(texto de Corinne Castagnier, directora da Comissão de investigação e informação independente sobre a Radioactividade, CRIIRAD, publicado en edição francesa da revista L’ecologist nº15, Avril 2005)

Há uma petição a correr pela Net.

Mais info:
www.criirad.org

Industrial Workers of the World (IWW) e o sindicalismo de acção directa



Em Chicago no dia 27 de Junho de 1905 teve lugar o congresso constitutivo do IWW contra as trade-unions, os sindicatos que foram denunciados, dois anos mais tarde, por Malatesta. Contra o corporatismo trade-unionista propunha-se um só sindicato para todos os trabalhadores, «One big Union for all workers».

Todas as tendências do movimento operário revolucionário estavam presentes em Chicago para defenderem que os trabalhadores se deviam organizar a fim de controlar os poderes económicos, os meios de produção, o conjunto da produção e da distribuição, e oporem-se ao capital.

O Congresso tinha sido precedido de reuniões em Chicago com o objectivo de criar um sindicato revolucionário, e um manifesto tinha sido enviado através dos Estados Unidos sob forma de convite para o Congresso do dia 27 de Junho. No manifesto, que se opunha à acção política, não era feita qualquer diferença de raças, de crenças ou de sexos entre os trabalhadores. O meio de emancipação da classe operária era a greve geral social.

O IWW propunha a solidariedade efectiva de todos os trabalhadores ( ao passo que as trade-unions estavam envolvidas na colaboração de classes e no corporativismo), e apresentava-se como a estrutura de um novo mundo.

O American Socialist Labor Party tenta transformar entretanto o IWW num sucursal da sua própria organização. As discussões internas entre os partidários da acção directa e aqueles que defendiam a acção política conduziram então à cisão por alturas do Congresso de 1908. O socialista De Leon, que queria introduzir o parlamentarismo nos objectivos programáticos do IWW, foi excluído do congresso, tendo fundado com os seus seguidores uma organização rival que seria a correia de transmissão do Socialist Labor Party. No jornal socialista The Weekly People, ele não se cansará até à morte de atacar os anarcosindicalistas do IWW.

Uma das primeiras tarefas do congresso de 1908, após o afastamento da fracção socialista, foi retirar toda a alusão à acção política no preâmbulo dos seus estatutos. A acção dos trabalhadores devia fazer-se no próprio local de trabalho. Será aí que se formarão as estruturas do mundo novo.
«O IWW, sindicato que reúne todos os operários, apropriar-se-á, pela greve geral, dos meios de produção, abolirá o salariato e estabelecerá uma nova ordem social».
Não obstante, as permanentes discussões internas, os ideais do IWW expandir-se-ão rapidamente por todos os Estados Unidos.
Foi na periferia de Nova Iorque que eclodiu em Dezembro de 1906 a primeira greve seguida de ocupação da fábrica nos Estados Unidos. Em Goldfield, no Nevada, uma greve desencadeada pelo IWW permitiu a fixação de um salário mínimo de 4,50 dólares diários. Em Portland, no Oregon, o IWW ajuda à conquista da jornada das 9 horas e um aumento do salário para os trabalhadores têxteis. Todo esses sucessos reforçam a popularidade do IWW no mundo do trabalho.

Vincent St John e Bill Haywood expuseram no Congresso de 1908 quais eram as tácticas de acção directa que inspiram toda a filosofia do IWW.
Um brochura definia a acção directa desta maneira:
«A acção directa significa a acção económica dos próprios trabalhadores, sem a ajuda interesseira e enganosa dos leaders reformistas ou dos políticos. Uma greve que seja decidida, controlada e dirigida pelos trabalhadores, é uma acção directa; acção directa é a acção conjunta no local de trabalho para melhoria das condições de trabalho.»
Era no seio dos trabalhadores que os militantes do IWW ensaiavam as suas tácticas de acção directa.
Assim em 1909, na Pensilvânia, em McKees’ Rocks, 6.000 empregados da Pressen Steel Car Company entraram em greve por melhores condições de trabalho e para terminar com o trabalho à peça. A maior parte dos trabalhadores eram imigrantes. Forma-se um comité de greve do IWW, e é ele que determina a estratégia de luta. Piquetes de greve impedem os fura-greves amarelos ( scabs) de dividir o movimento, são organizados meetings e uma manifestação para popularizar a greve. Um grevista é morto nos confrontos com a polícia, tendo comparecido no seu funeral mais de 5.000 pessoas de quinze nacionalidades diferentes.
O primeiro número do Solidarity, jornal do IWW, é impresso em Newcastle, na Pensilvânia. Anuncia a vitória. A greve de McKees’ Rocks tinha-se saldado por melhores condições de trabalho, e feito desaparecer as barreiras ainda existentes sobre o direito a greve, além de ter reforçado a reputação e a combatividade do IWW.

Para os wobbies ( os militantes IWW) a greve era um meio de luta contra o sistema capitalista e ao mesmo tempo uma ocasião para reforçar a solidariedade de classe. As greves seriam um treino para a grande greve geral que expropriaria os grandes exploradores. A greve geral é vista pelo IWW de forma pacífica. Os trabalhadores tomariam em mão os meios de produção ocupando os seus locais de trabalho.

A ideia foi retomada por um militante do IWW, Joseph Ettor, durante uma greve da industria têxtil, em 25 de Janeiro de 1912 em Lawrence: « Se todos os trabalhadores do mundo querem vencer, eles devem reforçar a sua solidariedade. Se cruzassem os braços, o mundo pararia. Os trabalhadores são mais poderosos, mesmo com as mãos nos bolsos, que todos os capitalistas. Através da resistência passiva, recusando-se a agir, e silenciosos, eles são mais poderosos que toda a classe possidente.». Para a greve geral, e até esta eclodir, era necessário desenvolver a «solidariedade, a consciência de classe e o militantismo».
As greves faziam parte do combate perpétuo entre a classe possidente e os trabalhadores, combate que, como se lembra no Preâmbulo dos estatutos do IWW, deve levar ao controle completo dos meios de produção por parte da classe operária, não sendo as greves somente uma forma para obter melhorias temporárias, ainda que necessárias. As tácticas de acção directa dos wobblies adaptavam-se às circunstâncias e às diferentes condições de trabalho. Acções curtas, mas decisivas, eram preferidas frequentemente, quando o IWW não se sentia capaz de apoiar financeiramente as greves longas. Greves de braços caídos, greves de zelo e a sabotagem eram diferentes formas para obter rapidamente certas concessões.
A utilização da sabotagem nas acções reivindicativas dos trabalhadores foi sempre objecto de grandes discussões.
A palavra sabotagem parece ter sido utilizada pela primeira vez publicamente por Pouget num Congresso CGT em 1897.
A palavra aparece pela primeira vez nos Estados Unidos no Solidarity de 4 de Julho de 1910 a propósito de um greve de 600 operários alfaiates que exigiam a reintegração de um dos seus camaradas. Recusaram trabalhar, e quando os fura-greves apareceram para os substituir, os trabalhadores das empresas Lann e Company começaram a sabotar o trabalho de tal modo que a empresa acedeu à maior parte das reivindicações dos grevistas.
A controvérsia atingiu o seu apogeu num congresso do partido socialista em 1912. O Socialist Labor Party não admitia membros que se opunham à acção política ou que eram partidários da sabotagem ou de qualquer outro meio violento a favor da emancipação do proletariado. Esta medida levou à exclusão da sua ala esquerda.
Um militante do IWW, Bill Haywood, teve a mesma sorte. Tinha sido delegado em 1919 ao congresso da II Internacional na Europa, e desiludido, resolve, no seu regresso, militar em prol de um socialismo de fato de trabalho, e a favor da acção directa e da greve geral. Nas publicações da IWW, os artigos sobre sabotagem são muito numerosos entre 1913 e 1917, altura em que a repressão se abateu sobre o IWW.
A partir de 1910 apareceram na imprensa do IWW muitas traduções de textos provenientes da Europa. A posição oficial do IWW demarcou-se, todavia, sempre da sabotagem.
Podia-se ler em 1913 no Industrial Worker: «O programa do IWW oferece a solução para o problema do salariato, solução com a violência reduzida ao mínimo». De qualquer modo, na literatura e nos jornais do IWW a sabotagem ficará sempre, junto com o gato negro, como o símbolo da acção directa.
Na realidade, as numerosas greves desencadeadas pelo IWW não recorreram à violência. Os patrões americanos é que, com receio por esta organização sindicalista revolucionária, organizaram as suas próprias milícias…A imprensa, por seu turno, manobrou a opinião pública apresentando os wobblies como terroristas, bombistas, sabotadores a soldo do kaiser alemão, e mancomunados com os bolchevistas e apostados em sovietizar os Estados Unidos.

Propaganda e Greves

Apesar de toda a campanha de imprensa dirigida contra eles, o IWW continuaram a estender a sua influência e a propagar a sua ideia: «One big union for all workers». Muitos dos seus militantes eram trabalhadores sazonais e difundiram o Little Red Book ( canções para inflamar as chamas do descontentamento), que era uma recolha de canções revolucionárias que contribuíram para popularizar o movimento IWW no seio da classe operária.
Aliás, as principais ideias do IWW estavam incluídas nas canções quer por via de músicas originais quer a partir de ritmos e sons já conhecidos, mas com novos versos. Joe Hill, membro do IWW, foi um dos bardos itinerantes que atravessaram os Estados Unidos em busca de emprego, e que iam de uma união local IWW para outra. Segundo o estudioso de folklore John Greenway, essa pequena recolha de canções foi «a primeira grande colecção de canções de trabalho». Fora editado pela união loal IWW de Spokane; muitos operários eram obrigados pelo seu trabalho sazonal a percorrer continuamente o território americano e puderam assim divulgar por todo o lado o ideal do IWW.
Uma outra forma de acção directa desenvolvida pelo IWW foi o uso da palavra em plena rua, conhecida pelo nome de «soap box speeches» pois, para falar, o orador subia para cima de uma caixa ( soap box). De resto, para obterem o direito de se exprimirem nas ruas, os militantes do IWW levaram a efeito rudes campanhas entre 1908 a 1916.
Esta forma de intervir era vital para o IWW, pois permitia-lhes contrariar as agências de emprego e organizar boicotes contra elas. Os empregadores deveriam antes passar pelo sindicato, pela união local IWW, que assumiria então as funções de Bolsa de trabalho.
Através das suas campanhas, as uniões locais, como a de Spokane, obtiveram o direito à expressão pela palavra, e ainda o terem um local como ainda poderem publicar um jornal. Nas regiões em que não estavam ainda implantados, o IWW recrutavam novos membros pelo recurso ao «soap box speeches».
Tratava-se assim não de um método de acção directa como um importante e vital direito de expressão.
Poder-se-á pensar que o IWW só poderia influenciar os trabalhadores sazonais como os trabalhadores rurais da apanha da fruta, e os lenhadores. É certo que a propaganda do IWW teve principalmente eco nestes grupos de trabalhadores, que se encontravam à mercê dos empregadores. Recorde-se que para a colheita da fruta, os angariadores faziam vir duas vezes mais trabalhadores que necessitavam, o que lhes permitia a descida brutal dos salários…
Mas a verdade é que a influência do IWW abrangeu ainda os centros industriais.
Assim, em Janeiro de 1912, 25.000 operários da fiação de Lawrence desencadearam uma greve de 10 semanas onde assumiam as palavras de ordem do IWW. Note-se que Lawrence era o maior centro têxtil dos Estados Unidos, superando pela sua produção todos os outros. As principais fiações pertenciam à American Woolen Company ( com 34 fábricas na Nova Inglaterra) e apresentavam um lucro anual de 45 milhões de dólares.
As fiações de algodão e de lã empregavam mais de 40.000 operários, que eram na maior parte não-qualificados, vindos muitos deles da Europa, atraídos pelas promessas dos «enviados» dos industriais têxteis norte-americanos. Apesar de algumas medidas proteccionistas, os salários e as condições de vida dos trabalhadores da lã não paravam de se deteriorar desde 1905.
Nas fiações fora introduzido um novo sistema de fiar ( o two-loomsystem) que duplicava o trabalho, e tornava-o mais penoso, especialmente para as mulheres e crianças que lá trabalhavam. Seguiu-se o desemprego, ao mesmo tempo que o custo de vida disparava em Lawrence, sendo o mais elevado em toda a Nova Inglaterra, com rendas altas e preços exorbitantes.
Segundo a comissão de fiscalização do Ministério do Trabalho, havia cerca de 22.000 operários, sendo mais de metade mulheres e crianças. A metade dos empregados das quatro fiações de Lawrence da American Woolen Company eram jovens raparigas entre os 14 e 18 anos.
A mortalidade era também muito elevada. Nessa época, a dra Elizabeth Shapleigh escrevia: «Um número considerável de rapazes e raparigas morrem nos dois ou três primeiros anos de trabalho, e um terço dos homens e mulheres que trabalhavam nas fiações morrem antes dos vinte e cinco anos.» Em 1 de Janeiro de 1912 os legisladores do Estado do Massachusttes aprovaram uma lei que reduzia a semana de trabalho de 56 para 54 horas para as mulheres e crianças, reduzindo ainda os respectivos salários.
Desde 1907 que o IWW organizaram em Lawrence os trabalhadores estrangeiros, e tinham perto de um milhar de aderentes. Em AFL United Textiles Workers que encontravam-se 2.500 operários qualificados de língua inglesa. Os tecedores polacos das fiações de algodão de Everett foram os primeiros a parar em 11 de Janeiro quando souberam da redução em 11% das suas remunerações. Em toda a Lawrence os trabalhadores paralisaram e, pela primeira vez em toda a história da região, os sinos tocaram a rebate.
De Nova Iorque veio Joseph Ettor do secretário executivo do IWW. Tinha 25 anos, falava inglês, e compreendia o húngaro e o yiddish. Sob o seu impulso, a greve foi coordenada, formando-se um comité de greve, eleito pelos trabalhadores. Cada nacionalidade elegia dois representantes, e cada manhã o comité reunia-se para tratar dos assuntos relativos á greve.
As reivindicações eram: 15% de aumento, 50 horas de trabalho por semana, pagamento em dobro das horas suplementares, e extinção de qualquer represália para os grevistas. O presidente da câmara local exprimia assim o seu pensamento: « A greve devia parar nas próximas 24 horas. A milícia e a polícia deveriam ser autorizadas a disparar. Era o método empregue por Napoleão». Mas as famílias acabaram por receber 2 a 5 dólares a mais por semana.
As dez semanas de greve e, Lawrence foram exemplares. Foi também a primeira vez que tantos trabalhadores não qualificados se reconheceram nos ideais do IWW. John Golden, presidente da AFL United Textile Workers denunciou a táctica da acção directa do IWW como «revolucionária» e «anarquista», tentando sem sucesso liderar a greve. Os líderes do IWWW, Enor e Giovannitti (socialista italiano) foram preso com o único objectivo de quebrar a greve.
Mas o IWW enviaram prontamente para Lawrence, Bill Haywood, William Trautmann, Elizabeth Gurley Flynn e, mais tarde, Carlos Tresca, um anarquista italiano.
Estiveram mais de 15.000 grevista na estação de comboios a acolherem Haywwod e os seus companheiros.
A repressão endureceu, ao mesmo tempo que a greve adoptava novas formas.
Por exemplo, um piquete de greve de milhares de trabalhadores marchou por entre as tecedeiras com panos onde se lia «Don’t be a scab» (Não sejas um amarelo). Quando esta táctica foi interrompida pela polícia, os manifestantes começaram um vai-e-vém incessante nas lojas, sem nada comprar, o que enervava os comerciantes.
Em meados de Fevereiro de 1912 os filhos dos grevistas foram enviados para famílias amigas em Nova Iorque e Filadélfia. A opinião pública foi sensibilizada, não obstante o boicote da imprensa, e como a combatividade dos trabalhadores não esmorecia, a American Woolen Company acabou por aceitar todas as reivindicações dos grevista em 12 de Março de 1912. Em toda a Nova Inglaterra os salários de todos os trabalhadores têxteis foram aumentados.
Lawrence não foi a única grande greve em que o IWW estiveram presentes: Paterson em 1913 ( onde os grevistas representaram uma peça de teatro no Madison Square Garden); a greve dos trabalhadores do talho em 1917 que paralisou a produção no sudoeste dos Estados Unidos, as greves nas minas de cobre no Arizona, foram talvez as mais célebres, entre muitas outras.
A influência do IWW ultrapassava largamente o número dos seus aderentes ( o número de aderentes do IWW nunca passou dos 100.000 membros), mas eram eles que tinham a iniciativa, eram eles que estavam na pinha do combate.

O Declínio do Movimento

Logo no início da Primeira Grande Guerra Mundial o IWW fez saber solenemente que era contra a guerra: «Não sejas um soldado, sê um homem. Junta-te ao IWW e aos combates pelo trabalho e pela tua classe», dizia um cartaz do IWW em 1916.
Esta posição corajosa valeu ao IWW serem declarados «fora de lei».
Um campanha de imprensa, habilmente conduzida, acusava-os de serem agentes do kaiser. A repressão abateu-se então com toda a sua força. Pode-se dizer que o movimento IWW foi decapitado durante a guerra, tantos foram os militantes assassinados pelas milícias patronais. Em França, o governo mandava as tropas. Mas nos Estados Unidos era o próprio patronato que financiava os bandos de assassinos, sem sequer apelar à acção governamental.
Em 1918 o conteúdos do editorial de um grande jornal de Oklahoma, o Daily World, era assaz significativo: «O primeiro passo para a derrota da Alemanha é o esmagamento do IWW. Matai-os como se matam serpentes. Não há tempo, nem dinheiros, a perder com processos.»
Na Primavera de 1917, o Ministério da Guerra, sob pressão do capitalismo americano, tinha dado o sinal, ao permitir a prisão dos membros do IWW que «usassem a violência ou tivessem intenção de a usar». Durante o Verão de 1917, bandos armados dispersavam os meetings do IWW, e vandalizavam as suas sedes. Em 23 Estados foram então aprovadas leis contra o «sindicalismo criminal» e a interditar toda a actividade do IWW.
A revolução russa foi então para alguns dos militantes do IWW um imensa esperança que, depressa se desfaz em 1921 face às posições da Internacional dos sindicatos vermelhos: os comunistas russos não eram muitos diferentes dos políticos do Socialist Labour Party.
O nascimento do Partido Comunista ( em 1919) provocou um cisão no IWW em 1924. A organização, já de si muito fragilizada com a guerra, não conseguiu superar mais esta crise. Outros factores poderiam ainda ser referidos.
Saliente-se apenas que, no período entre as duas guerras, os comunistas apoiaram as leis anti-greve adoptadas pelo governo. O IWW teve que retomar todo o seu trabalho contra as trade unions que passaram a aceitar a filiação dos trabalhadores não qualificados.
O movimento IWW reaparece hoje sobretudo por altura das greves selvagens, e o seu jornal mensal, Industrial Worker, reflecte a vida dos trabalhadores norte-americanos, e não apresenta aquele aspecto deprimente daquelas publicações, cujas organizações vivem das recordações de um passado glorioso.
A possibilidade que lhes é dada de fazer propaganda legal será aproveitada? Como quer que seja cabe aos militantes da IWW de fazer da sua organização o ponta de lança da classe operária.
O IWW deixou a sua marca em toda a cultura norte-americana, assim como em todo o mundo.

O milagre americano = mais milionários e mais pobreza


Mais milionários e mais pessoas em situação de pobreza eis o que é, resumidamente, o milagre norte-americano

O número de milionário nos USA em 2004 aumentou 21%, ao alcançar os 7,5 milhões de famílias que possuíam um património líquido de um milhão de dólares, o que constitui o maior aumento de milionários desde há muitos anos.
Recorde-se já agora que, no mesmo período de tempo, se registou um redução real dos salários dos trabalhadores não administrativos.
Segundo as mesmas estatísticas houve também um aumento de 3,7 % de norte-americanos em situação de pobreza em 2003
Os mais ricos foram também os que mais cresceram: as famílias com um património líquido de 5 milhões de dólares cresceram em 38%
Um factor que explica isto são as grandes reduções de impostos que têm favorecidos os ricos. Ninguém duvida que o ano de 2004 foi um óptimo ano para os ricos.
Há umas semanas atrás a revista Forbes já informara que o número de multimilionários ( com um fortuna de mais de mil milhões ) tinha alcançado as 691 pessoas, um acréscimo de 17% relativamente ao ano anterior.
Desgraçadamente o ano de 2004 também foi «um bom ano» para a pobreza. Segundo a revista Time, de há umas semanas atrás, quase metade dos habitantes da Terra são pobres, isto é, mais de mil milhões pessoas sobrevivem com menos um dólar por dia.