7.4.05

O «Consenso de Washington» é o guião ideológico dos senhores do capital



O chamado «Consenso de Washington» ( ou «Washington consensus») é o guião ideológico que enuncia a doutrina que orienta e inspira as políticas neo-liberais e esclarece as práticas actuais dos capitalistas e especuladores que dominam hoje os mercados mundiais.
O «Consenso de Washington» é um conjunto de acordos informais, de gentleman agreements, concluídos ao longo dos anos 80 e 90 entre as principais sociedades transcontinentais, bancos da Wall Street, o Federal Reserve Bank americano e os organismos financeiros internacionais ( Banco Mundial, FMI,etc)
Em 1989, John Williamson, economista-chefe e vice-presidente do Banco Mundial, formalizou o «consenso».Os princípios fundadores são aplicáveis a qulaquer período da história, a qualquer economia, em qualquer continente. Visam obter, o mais rapidamente possível, a liquidação de qualquer instância reguladora, estatal ou não, a liberalização mais total e mais rápida possível de todos os mercados ( de bens, de capitais, de serviços, de patentes, etc) e a instauração a prazo de uma stateless global governance, isto é, de um governo global não-estatal através de um mercado mundial unificado e totalmente auto-regulado.

O «consenso de Washington» visa a privatização do mundo.
Eis os princípios em que assenta:

1 – Em cada país devedor, é preciso dar início a uma reforma fiscal, segundo dois critérios: a diminuição da carga fiscal dos rendimentos mais elevados, a fim de incitar os ricos a efectuarem investimentos produtivos, alargamento da base dos contribuintes; em suma: supressão das excepções fiscais em relação aos mais pobres, a fim de aumentar o volume do imposto

2 – Liberalização o mais rápida e completa possível dos mercados financeiros

3 – Garantia da igualdade de tratamento entre investimentos autóctones e investimentos estrangeiros, a fim de aumentar a segurança e, por consequência, o volume destes últimos.

4 – Desmantelamento, na medida do possível, do sector público; proceder-se-á a privatização, nomeadamente, de todas as empresas cujo proprietário é o Estado ou uma entidade para-estatal.

5 – Desregulação máxima da economia do país, a fim de garantir o livre jogo da concorrência entre as diferentes formas económicas em presença.

6 – Protecção reforçada da propriedade privada

7 – Promoção da liberalização das trocas ao ritmo mais apoiado possível, sendo o objectivo a baixa das taxas alfandegárias em 10 % ao ano.

8 – Progredindo o comércio livre através das exportações, é preciso prioritariamente, beneficiar o desenvolvimento dos sectores económicos capazes de exportar os próprios bens.

9 – Limitação do défice orçamental

10 – Criação da transparência do mercado: os subsídios do Estado aos operadores privados devem ser suprimidos em toda a parte. Os estados do Terceiro Mundo que subsidiam, a fim de mantê-los a baixo nível, os preços dos alimentos correntes, devem renunciar a essa política. No que se refere às despesas do estado, as relacionadas com o reforço das infra-estruturas devem sobrepor-se às outras.

Tais são os princípios sagrados da ideologia neo-liberal que hoje domina o mundo.

Sobre o neo-liberalismo capitalista o sociólogo francês Pierre Bourdieu escreve:
«O neo-liberalismo é uma arma de conquista. Ele anuncia um fatalismo esconómico contra a qual qualquer resistência parece vã (…)
O fatalismo das leis económicas mascara, na realidade, uma política, completamente paradoxal, dado tratar-se de uma política de despolitização; uma política que visa conferir um poder total às forças económicas, libertando-as de todo o controle e de todo o constrangimento, ao mesmo tempo que visa obter a submissão dos governos e dos cidadãos às forças económicas e sociais assim libertadas (…)
Tudo quanto se descreve sob o nome simultaneamente descritivo e normativo de globalização capitalista é a consequência de uma política consciente e deliberada, da política que levou os governos liberais e mesmo sociais-democratas de um conjunto de países economicamente avançados a abdicar do poder de controlar as forças económicas (…)»

A ideologia dos senhores do mundo do capital é tanto mais perigosa quanto ela se reclama de um racionalismo rigoroso. Com efeito, ela resulta de um golpe de magia que faz acreditar numa equivalência entre o rigor científico e o rigor das «leis do mercado»
Nada de mais mistificador. Ou como o próprio Bourdieu diz: «O obscurantismo está de volta. Mas desta vez estamos perante gente que se reclama da razão»

Esta pseudo-racionalidade comporta um outro perigo: ao refugiar-se atrás das «leis do mercado», cegas e anónimas, a ditadura do capital impõe a visão de um mundo fechado e doravante imutável. Ela recusa qualquer acção humana fora do seu modelo e do seu enquadramento normativo. No fundo, a ditadura do mercado exclui o futuro.




Nota 1 – o conceito de «stateless global governance» foi concebido pelos teóricos da sociedade de informação como Alvin Toffler e Nicholas Negroponte. O conceito foi posteriormente retomado pelos autores da escola monetarista de Chicago.


Nota 2 – Para mis informações sobre o «Consenso de Washington» pode-se consultar:
Beaud, Michel, Mondialisations, les mots et les choses, éditions Karthala, 1999
Reich, Robert, Globalised Economics

Amor, liberdade e Fourier

Para Fourier, a bússola social que conduz à harmonia universal tem por nome "Teoria da Associação Natural e da Atracção Apaixonada". A nova ordem societária substituirá a ordem incoerente e fragmentada, formada por famílias isoladas umas das outras e vivendo sob coacção. Profeta do insólito e do desejo, Fourier antecipa-se a Freud ao erigir a atracção apaixonada em lei do funcionamento colectivo. Em toda a parte, os seres humanos são movidos pelo prazer, pelo que a ordem societária aliará o interesse geral ao particular utilizando um mecanismo de "paixões afectivas", erradamente consideradas pelos "civilizados" como "tigres à solta", ou "enigmas incompreensíveis" que é necessário reprimir ou asfixiar. A atracção passional, que estimula a interacção contínua entre todas as idades e sexos e também entre os grupos sociais, mitiga a exigência da luta entre os mais ricos e os mais pobres. "Harmonia" é o resultado da seriação de paixões que julgávamos inimigas da concórdia. As paixões conjugam-se tanto mais facilmente quanto mais vivas e numerosas são, implicando, obrigatoriamente, seres livres. Não há atracção passional sem prévia emancipação de todos os escravos e libertação das mulheres, asfixiadas pelas «tarefas domésticas fragmentadas». A degradação da mulher em civilização é negativa para os dois sexos. Não há destino social para os homens independente do das mulheres. Logo, se a liberdade está vedada a um dos sexos, está fatalmente vedada ao outro: «a lida doméstica simplificada pela combinação geral dos trabalhos emancipará a grande maioria das mulheres, que poderão, assim, participar nas magníficas recompensas reservadas pelas ciências e pelas artes, e deixar de se esgotar na arte de mexer a panela e remendar as ceroulas velhas...».
(in "Teoria da Unidade Universal", 1841)

Índios brasileiros lutam contra a penetração do capitalismo na sua terra

Mais que 3.000 índios Guaranis e Caiuás há uma ano atrás travaram combates corpo a corpo contra os fazendeiros em Japorá a 464 Km de Campo Grande, no Estado de Mato Grosso do Sul, no Brasil.
A luta dos índios deve-se à sua reivindicação pela propriedade de terrenos que o Governo lhes haviam concedido e que lhes foi apropriada pelos fazendeiros, mediante a sua "privatização" com a conivência de políticos, juízes e polícias locais.
Os índios alegam que a superfície de 9.400 hectares de terra que lhes haviam sido concedidas estão hoje reduzidas a 1.600 hectares por efeito da acção privatizadora dos fazendeiros, e que o Governo nada tem feito para salvaguardar os seus direitos .
Daí que tenham decidido invadir e ocupar as fazendas que se constituíram ilegalmente dentro do seu território.
Entretanto, um enorme contingente policial e militar, que inclui helicópteros e armamento pesado, foi deslocado para a região aparentemente com o objectivo de...desalojar os índios da sua terra !!!

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