13.1.09

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No dia 15 de Janeiro passam 200 anos do nascimento de Proudhon: breve incursão no pensamento daquele que é visto como o pai do anarquismo


No próximo dia 15 de Janeiro passam 200 anos do nascimento de Pierre-Joseph Proudhon . Traduzimos aqui para portugês um texto de Bruno Préposiet sobre Proudhon publicado no Le Monde Libertaire.



Capital, Estado, Deus… Proudhon dedicou-se a derrubar os ídolos do autoritarismo. Depois disso, constrói a sua filosofia na base do contrato recíproco, aceite por todos, com vista a associar socialismo com liberdade. A obra de Proudhon tem fama de ser confusa e contraditória, o que até se poderia confirmar pela variedade de correntes de pensamento que se afirmam como devedoras das ideias daquele autodidacta de origem francesa, que vão desde a Action Française aos anarquistas, passando pelos socialistas e os sindicalistas que se revêem em Proudhon. Mas a verdade é que uma análise mais cuidada dos temas formulados por esses «continuadores» de Prooudhon pode levar-nos a verificar algum ocultamento das análises proudhonianas a favor de um determinado aspecto retirado do seu contexto.

O Cercle Proudhon, por exemplo, fundado em 1911, por iniciativa dos membros da Action Française e de sindicalistas, reivindica um Proudhon mítico, francês, anti-democrata e apolítico, visão que não resiste, no entanto, a um exame mais sério. Os socialistas, por sua vez, trataram de recuperar Proudhon, insistindo na sua oposição a Marx, ou misturando soluções proudhonianas mais imediatas com princípios reformistas. Para completar esta enumeração das diversas interpretações do proudhonismo, parece que se é certo que os sindicalistas revolucionários têm todo o direito a reclamar para si o legado de Proudhon, evitando as suas opções políticas, é, todavia, o movimento anarquista no seu sentido mais amplo, isto é, a filosofia libertária em geral, quem parece dar o testemunho mais sincero do trabalho empreendido por aquele que os historiadores ou teóricos libertários qualificam de «pai da anarquia».

Esta designação não seria certamente do agrado de Proudhon que sempre se mostrou avesso a discípulos, e nunca escondeu a desconfiança para com as organizações. Num sentido filosófico, a designação não é convincente, porque a essência do pensamento proudhoniano, aquela que interessa aos anarquistas, não faz de Proudhon um mestre e não se coíbe de lhe fazer algumas críticas a algumas das suas análises, com um espírito que ele não deixaria de aderir.

Digamos assim que o anarquismo se articula sobre um conjunto de elementos que formam a ossatura do pensamento proudhoniano e fazem dele um sólido sistema em que cada aspecto clarifica o do lado:

- rejeição da propriedade privada no terreno económico
-rejeição do Estado no terreno político
-rejeição da Igreja no terreno moral
- organização da produção e da vida social, da base para cima, por meio do apoio mútuo e do federalismo
- revolução permanente e rejeição da ideia do fim da história

Destruir

«Se tivesse que responder à pergunta «o que é a escravatura?» com um só frase, eu diria que é um assassinato, e teria assim expresso o meu pensamento.
Porque é que então à outra pergunta sobre o que é a propriedade não posso eu responder que é um roubo, sem ter a certeza de ser bem compreendido, quando uma tal afirmação equivale simplesmente à afirmação anterior» (1)

Quando aparece o seu primeiro texto sobre a propriedade, em 1849, Proudhon estava a falar de um tema tabu. Mas não era o primeiro a tratar do assunto. Alguns economistas, como Adam Smith, David Ricardo ou Jean-Baptiste Say já tinham lançado as bases da ciência económica. Saint-Simon, Fourier ou Robert Owen já tinham tratado da questão, bem como os herdeiros de Gracchus Babeuf, com Étienne Cabet à cabeça, ao preconizarem a propriedade comum.
Depois dos declarações dos seus antecessores, o que sobressai em Proudhon é a existência de seres colectivos e da força colectiva, que não é levada em consideração pelo capitalista na fixação do salário. O capitalista paga, com efeito, apenas uma parte da jornada de trabalho dos operários. Não paga o trabalho resultante da força colectiva. Esse é justamente o interesse maior do capital, aquilo que Marx há-de chamar a mais-valia.

«Essa força imensa que resulta da união e da harmonia dos trabalhadores, da convergência e da simultaneidade de todos os seus esforços, não é paga, em absoluto.»(1)

A sociedade capitalista está, portanto, baseada no roubo. A apropriação da força colectiva para o benefício exclusivo do capitalismo coloca o produtor numa situação de dependência. E se Proudhon rejeita essa apropriação da força colectiva pelo capitalismo, rejeita da mesma maneira aquela outra apropriação que vem do Estado, e que o vai distanciar-se do socialismo estatal, e faz dele um dos fundadores do socialismo libertário.

«A política é a ciência da liberdade. O governo do homem pelo homem, sob qualquer que seja o disfarce em que se oculta, é opressão: a mais elevada perfeição da sociedade encontra-se na união da ordem e da anarquia.» (1)

À rejeição da propriedade no terreno económico corresponde a rejeição do Estado no domino político. O Estado, tal como o capital, nega os seres colectivos. A sociedade não é considerada uma ser colectivo, mas antes uma soma de indivíduos com interesses divergentes, em que a função do Estado consiste em arbitrar os conflitos, em soldar a sociedade. Proudhon rejeita esta concepção herdeira de Rousseau e da Revolução Francesa: «Em lugar da liberdade económica, a Revolução legou-nos, a benefício de inventário, a autoridade e a subordinação política. A república terá que fundar a sociedade. Não se pensou outra coisa que não seja em governar (…) Ora é necessário uma nova revolução, organizadora e reparadora, para preencher o vazio criado pela primeira» (2)

Recusa também as teorias comunistas que vêem o Estado como um instrumento de transformação social. A transformação social não ser feita pelo Estado, mas pela própria sociedade, na sua base.

«O governante é contra-revolucionário por natureza, ou resiste e oprime, ou se corrompe e reprime. O governo não sabe , nem pode, e não quererá nunca outra coisa. Ponham um São Vicente de Paulo no poder e será como Guizot ou Talleyrand.» (3)

Este anti-estatismo, presente no conjunto da obra de Proudhon, será retomado por Bakounine e o conjunto do movimento anarquista, e essa distinção entre revolução social e revolução política dará lugar à cisão do movimento socialista em dois ramos: os autoritários e os libertários.

Resta um ídolo para derrubar e Proudhon a isso se dedica com o seu texto «Da justiça na revolução e na Igreja». Não se trata de negar esse ídolo, a Deus, mas sim de combatê-lo como um absoluto exterior à sociedade que acabou por justificar sempre todos os absolutismo: ontem a escravidão e o princípe; hoje, a propriedade e o Estado ( Bakounine retomará este tema em Deus e o Estado).

Não é exactamente um materialista, pois Proudhon não rejeita o misticismo, que é, segundo ele, inerente ao homem, e que está por cima dele ( o ser colectivo, a sociedade). Deseja mesmo a reapropriação dessa mística em benefício da sociedade. A Justiça será, não um absoluto, mas um ideal a que aspiramos, apesar de sabermos que nunca será alcançada. Como diria Camus, um século mais tarde, e com o mesmo espírito: «Há que imaginar um Sísifo feliz» (4)


Construir

Proudhon pôs o acento no princípio da autoridade, que ataca por diversas maneiras: «O Capital, cuja analogia na ordem política é o Governo, tem como sinónimo, na ordem religiosa, o Catolicismo. A ideia económica de capital, a ideia política de governo ou autoridade, e a ideia teológica da Igreja, são três ideias idênticas e reciprocamente convertíveis: atacar uma é atacar outra, como bem sabem todos os filósofos. O que o capital faz com o trabalho, e o Estado com a liberdade, faz a Igreja com a inteligência. Esta trindade do absolutismo é fatal, tanto na prática como na filosofia. Para oprimir o povo com eficácia há que prender ao mesmo tempo o seu corpo, a sua vontade e a sua razão.» (3)

O movimento anarquista continuará nesta linha, mas não se limitará à crítica e cuidou em traçar o caminho para uma nova construção social, da mesma forma que faz Proudhon, animado com um espírito positivo, e que marca o seu temperamento de polemista: «Negar, negar sempre. Esse é o nosso método de construção em filosofia» (5)

Em 18843, sob a influência dominante da filosofia alemã, Proudhon publicou um texto com o título «Da criação da ordem na humanidade», no qual tratou de definir um método de análise: a dialéctica seriada. Uma tal dialéctica deveria permitir analisar as contradições sociais ou pares antinómicos, que representam o movimento, a acção ou a liberdade, assim como as grandes linhas ou séries que organizam essas contradições. Esta dialéctica proudhoniana, que rejeita a síntese, artificial na filosofia, governamental na política, cria uma filosofia do pluralismo, do equilíbrio e do movimento:
«Os termos antinómicos não se resolvem, do mesmo modo que os pólos opostos de uma pilha eléctrica não se destroem; (…) o problema consiste em encontrar não a sua fusão, que seria a morte, mas antes o seu equilíbrio, sempre instável, sempre variável, segundo o desenvolvimento das sociedades»(6)

As divergências entre autoritários e anti-autoritários na I Internacional tem a sua origem nesta distinção entre as duas filosofias, uma pluralista e a outra governamental. Por outro lado, Marx não se equivoca, quando diz: «A obra de Proudhon, O que é a Propriedade?, é tão importante para a economia política moderna como a de Sieyès, O que é o Terceiro Estado?, para a política moderna. » (7). E quando Proudhon aplica a sua dialéctica à análise económica, Marx responde-lhe com o panfleto «Miséria de filosofia» em que escreve; «Pretende (Proudhon) colocar o homem de ciência acima dos burgueses e dos proletários; isso não é mais que o pequeno burguês oscilando entre o capital e o trabalho, entre a economia política e o comunismo» (8).

Esta filosofia do pluralismo vai levar Proudhon a preconizar uma organização económica com uma base mutualista, e a organização política numa base federalista. Isso implicaria substituir a autoridade pelo contrato, todo ele dirigido à reciprocidade. O contrato proudhoniano é uma ideia básica da filosofia libertária ( veja-se o pacto associativo da Federação Anarquista) e difere totalmente do contrato social de Rousseau, que cria o Estado de Direito.

Para Proudhon não deve existir outra obrigação que não seja resultante do compromisso, devendo-se garantir o maior bem estar e liberdade às partes do contrato, e que deve ser objecto de livre debate entre elas, sendo livremente consentido por cada uma, abrangendo e implicando tanto a organização económica como a organização política, devendo a segunda desaparecer na primeira: dissolução do governo na organização económica» (2)

Do federalismo económico ao federalismo político

«Levados para a esfera política, aquilo que até agora chamamos mutualismo ou garantismo, toma a denominação de federalismo. Numa simples sinonímia, trata-se de uma inteira revolução, política e económica» (9)

A organização da produção baseia-se ma livre empresa no sistema liberal, ou na estatização no sistema comunista (cf. Louis Blanc, A organização do trabalho, 1840). No sistema proudhoniano, ela será obra dos produtores e o resultados das suas trocas e intercâmbios na base da reciprocidade.

Proudhon distingue três tipos de unidades de produção:

- a exploração familiar na agricultura, em que uma família beneficia da posse de uma superfície que cultiva. Tais explorações podem federar-se até à criação de uma federação agrícola nacional.

- as pequenas oficinas de artesãos, nas quais cada trabalhador controla o conjunto da produção

-por último, as grandes unidades de produção industrial, as quais Proudhon propõe a propriedade colectiva e indivisa, uma socialização por meio da criação de associações operárias que criarão federações até formarem a federação industrial. Nestas grandes unidades de produção a gestão será colectiva para combater os efeitos negativos da parcelização do trabalho; o trabalhador deverá levar a cabo sucessivamente todas as funções e, por último, a formação e educação de cada um deles estará a cargo da empresa para fazer do produtor um ser completo e acabar com a separação manual/intelectual.

«O sábio que só é um sábio é uma inteligência isolada, mutilada. Pode-se dizer que a inteligência do operário não está só na sua cabeça. Está também nas suas mãos. (10)

Estes três tipos de unidades de produção, os seus princípios de organização, as suas relações de intercâmbio, as suas garantias mútuas, formam o federalismo económico que é, nas suas diferentes formas ( mutualismo proudhoniano, colectivismo bakuninista, comunismo libertário, gestão directa) a matriz das teorias anarquistas. Encontramos a sua aplicação em todas as revoluções nas quais os anarquistas intervieram, principalmente na Ucrânia, durante a Revoluçaõ russa, e na experiência de socialização realizada pela CNT espanhola durante a guerra civil.

Anunciada na sua «Ideia geral da revolução no século XIX» e em «Da Justiça na Revolução e na Igreja», a teoria federalista de Proudhon será exposta no «Princípio federativo», editado em 1862. Se Proudhon subordina o político ao económico, isso quer dizer que não rejeita a política. Aplica apenas o seu método de unidade ne diversidade.

A unidade de base da economia é a oficina, na ordem política é a comuna ( município) que tem autoridade sobre tudo o entra no seu domíniio, e associada a outras comunas, formarão a região, que tem autoridade sobre todo o seu domínio, até chegarmos ao Estado federal e à Confederação de Estados ( entendendo o Estado federal no sentido de federação nacional). A época em que Proudhon expôs a sua teoria federalista foi marcado pela emergência de fortes movimentos das nacionalidades apoiados peos democratas, entres eles o movimento pela unidade italiana. E Proudhon mostrou-se contra a unidade italiana que, para ele, não unificava mas sim uniformizava, eliminando as diferenças, simplificando e, sobretudom desviava-se do verdadeiro problema: «O nacionalismo é o pretexto de que se servem para contornar a revolução económica.» (10)

Desde então, o movimento anarquista inspirar-se-á nesta análise para tomar uma posição acerca dos problemas de nacionalidade e de regionalismo, preocupando-se em unir respeitando as diferenças, e desconfiando de certas alianças contra natura que lançam para as calendas gregas a revolução grega.

O federalismo é o seu princípio de funcionamento e é nele que se articula a sociedade anarquista segundo o conjunto dos teóricos libertários.

Este resumo geral do pensamento proudhoniano permite-nos passar em revista a alguns princípios gerais libertários. O contributo de Proudhon para o anarquismo é indiscutível. Se, desde então, numerosos teóricos deram o seu contributo para o pensamento anarquista, se a evolução da sociedade obriga a novas perspectivas e meios de análise, a verdade é que os princípios gerais definidos por Proudhon continuam sendo os do anarquismo contemporâneo. O objectivo continua, como sempre, o de associar socialismo e liberdade. Uma tema, sempre na ordem do dia.


Notas:
1.- P.-J. Proudhon, ¿Qué es la propiedad? (Primera Memoria), 1840.
2.- P.-J. Proudhon, Idea general de la Revolución en el siglo XIX, 1851.
3.- P.-J. Proudhon, Confesiones de un revolucionario, 1849.
4.- A. Camus, El mito de Sísifo, 1942.
5.- P.-J. Proudhon, Solución al problema social, 1848.
6.- P.-J. Proudhon, Teoría de la propiedad (póstumo).
7.- K. Marx y F. Engels, La sagrada familia, 1845.
8.- K. Marx, Miseria de la filosofía, 1847.
9.- P.-J. Proudhon, La capacidad política de la clase obrera, 1864.
10.- P.-J. Proudhon, De la Justicia en la Revolución y en la Iglesia, 1858.

Bruno Préposiet

Não entregar os objectivos individuais. Hoje há Jornada Nacional de reflexão e de luta dos professores

Rejeitar o Modelo de Avaliação do ME e continuar a contestação passa por não entregar os OBJECTIVOS INDIVIDUAIS.

Suspensão de facto

Diga o Ministério da Educação o que disser, envie por mail as instruções que enviar, publique as correcções, acertos e simplificações que publicar, os professores suspenderam, de facto, o modelo de avaliação do ME.

Simplificações

De resto, a necessidade de simplificações sucessivas é, em si mesma, um indicador inequívoco da inadequação pedagógica e da inaplicabilidade de um modelo que se diz de avaliação mas não o é. Não o é porque não tem um cariz formativo, porque não promove a melhoria das práticas, concentrado que está na seriação de professores para efeitos de gestão de carreira. Os propósitos do ME são de índole financeira e distantes da qualidade do serviço educativo público.

Recusa

Os professores, com o apoio e a mobilização do movimento sindical, suspenderam o modelo no terreno e, com o mesmo apoio e a mesma mobilização, serão capazes de negar-se ao primeiro passo de tal avaliação: a entrega dos objectivos individuais. Tal recusa será apoiada pelos sindicatos, na medida em que constitui um gesto coerente com as moções elaboradas e aprovadas nas escolas, será um gesto coerente com a recusa de colaborar com um modelo que a generalidade dos docentes considera incorrecto, pouco sustentado, pouco compatível com a Escola Pública portuguesa e pedagogicamente inadequado. Defender uma escola melhor passa pela rejeição crítica do modelo do ME e tal rejeição implica a não participação nos seus diferentes momentos sendo o primeiro deles a entrega dos objectivos individuais.

Consequências
1. Para os professores avaliados, as consequências imediatas da não apresentação dos objectivos individuais são o não despoletar do processo de avaliação, logo, a não progressão na carreira e consequências financeiras inerentes. Neste âmbito, importará perguntar qual será a perspectiva de progressão se se fizer a avaliação com o actual modelo, nomeadamente, com o regime de quotas.
2. No que concerne aos professores avaliados, não há consequências disciplinares explícitas previstas.
3. Só há, na legislação em vigor, consequências disciplinares explícitas para os professores avaliadores que se recusem a desempenhar as suas funções.
Conclusão
A recusa da entrega dos objectivos individuais é, antes de mais, uma questão política. Não é uma questão legal. Pode ter consequências legais mas os professores são profissionais responsáveis e conhecem tais consequências; contudo, não são elas que importam neste momento. O que importa é mantermos a união e a unidade. O que importa é continuarmos a mostrar inequivocamente ao ME que rejeitamos o seu modelo de avaliação pelo que nos recusamos a participar nas etapas do seu processo. O que importa é mantermos a consciência de que estamos a defender bens superiores: a Escola Pública portuguesa, a dignidade docente, a qualidade do serviço prestado junto dos nossos alunos. É isto que está em discussão, não é o quadro legal de uma recusa em que somos unânimes
Um pouco por todo o país, os professores e educadores portugueses reunirão nas suas escolas durante esta terça-feira, 13 de Janeiro, no âmbito da Jornada Nacional de Reflexão e Luta prevista pela Plataforma Sindical dos Professores. As reuniões, que se realizarão ao abrigo da lei sindical, poderão ter lugar no período da manhã, tarde ou noite dependendo das dinâmicas que, escola a escola, forem encontradas.

Em debate estarão cinco grandes temas que foram propostos aos professores:

- Avaliação do desempenho: ponto da situação em cada escola e tomada de posição no sentido de manter ou decidir suspender a aplicação do modelo de avaliação imposto pelo ME, designadamente no que respeita à entrega dos designados "objectivos individuais".

- Greve Nacional de 19 de Janeiro: preparação da greve e de iniciativas de escola no sentido de mobilizar todos os professores para uma Greve que tem três grandes objectivos: protestar contra a prática de intimidação e ameaça adoptada pelo ME; exigir a suspensão do actual modelo de avaliação e a adopção de uma solução transitória alternativa; exigir uma revisão positiva do ECD que garanta, entre outros objectivos, a eliminação da decisão da carreira, a substituição do modelo de avaliação, incluindo, a abolição das quotas, e a revogação da prova de ingresso.

- Conteúdos negociais para a revisão do ECD: iniciando-se a 28 de Janeiro um novo processo de revisão do ECD, pretende-se auscultar os professores sobre as alternativas a apresentar pelos Sindicatos, nomeadamente no que respeita à estrutura da carreira e à avaliação do desempenho.

- Estratégia sindical para a negociação: pretende-se conhecer a posição dos professores sobre a estratégia a adoptar pelos Sindicatos durante o processo de revisão do ECD, designadamente se deverão ou não manter-se no processo de revisão (requerido pelas organizações sindicais) caso não seja garantida, antes das restantes matérias, a eliminação da divisão em categorias.

- Disponibilidade para prosseguir a luta: com as posições que o ME vem adoptando em relação aos professores e à Escola Pública, o prosseguimento da luta dos professores parece ser inevitável. É nesse sentido que se pretende auscultar os professores e educadores, não só sobre a sua disponibilidade, mas sobre as acções que consideram dever ser desenvolvidas, quer escola a escola, quer em iniciativas de âmbito nacional.
Este será um dia muito importante na acção e luta dos professores que precede uma jornada ainda de maior importância, que decorrerá no dia 19 de Janeiro – Greve Nacional dos Professores e Educadores Portugueses


Réquiem por Israel? - texto de Boaventura Sousa Santos



Está a ocorrer na Palestina o mais recente e brutal massacre do povo palestino cometido pelas forças ocupantes de Israel com a cumplicidade do Ocidente, uma cumplicidade feita de silêncio, hipocrisia e manipulação grotesca da informação, que trivializa o horror e o sofrimento injusto e transforma ocupantes em ocupados, agressores em vítimas, provocação ofensiva em legítima defesa.

As razões próximas, apesar de omitidas pelos meios de comunicação ocidentais, são conhecidas. Em Novembro passado a aviação israelita bombardeou a faixa de Gaza em violação das tréguas, o Hamas propôs a renegociação do controle dos acessos à Faixa de Gaza, Israel recusou e tudo começou. Esta provocação premeditada teve objectivos de política interna e internacional bem definidos: recuperação eleitoral de uma coligação em risco; exército sedento de vingar a derrota do Líbano; vazio da transição política nos EUA e a necessidade de criar um facto consumado antes da investidura do presidente Obama. Tudo isto é óbvio mas não nos permite entender o ininteligível: o sacrifício de uma população civil inocente mediante a prática de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade cometidos com a certeza da impunidade.

É preciso recuar no tempo. Não ao tempo longínquo da bíblia hebraica, o mais violento e sangrento livro alguma vez escrito. Basta recuar sessenta anos, à data da criação do Estado de Israel. Nas condições em que foi criado e depois apoiado pelo Ocidente, o Estado de Israel é o mais recente (certamente não o último) acto colonial da Europa. De um dia para o outro, 750.000 palestinos foram expulsos das suas terras ancestrais e condenados a uma ocupação sangrenta e racista para que a Europa expiasse o crime hediondo do Holocausto contra o povo judeu.

Uma leitura atenta dos textos dos sionistas fundadores do Estado de Israel revela tudo aquilo que o Ocidente hipocritamente ainda hoje finge desconhecer: a criação de Israel é um acto de ocupação e como tal terá de enfrentar para sempre a resistência dos ocupados; não haverá nunca paz, qualquer apaziguamento será sempre aparente, uma armadilha a ser desarmada (daí que a seguir a cada tratado de paz se tenha de seguir um acto de violação que a desminta); para consolidar a ocupação, o povo judeu tem de se afirmar como um povo superior condenado a viver rodeado de povos racialmente inferiores, mesmo que isso contradiga a evidência de que árabes e judeus são todos povos semitas; com raças inferiores só é possível um relacionamento de tipo colonial, pelo que a solução dos dois Estados é impensável; em vez dela, a solução é a do apartheid, tanto na região, como no interior de Israel (daí os colonatos e o tratamento dos árabes israelenses como cidadãos de segunda classe); a guerra é infinita e a solução final poderá implicar o extermínio de uma das partes, certamente a mais fraca.

O que se passou nos últimos sessenta anos confirma tudo isto mas vai muito para além disto. Nas duas últimas décadas, Israel procurou, com êxito, sequestrar a política norte-americana na região, servindo-se para isso do lobby judaico, dos neoconservadores e, como sempre, da corrupção dos líderes políticos árabes, reféns do petróleo e da ajuda financeira norte-americana. A guerra do Iraque foi uma antecipação de Gaza: a lógica é a mesma, as operações são as mesmas, a desproporção da violência é a mesma; até as imagens são as mesmas, sendo também de prever que o resultado seja o mesmo. E não se foi mais longe porque Bush, entretanto, se debilitou. Não pediram os israelitas autorização aos EUA para bombardear as instalações nucleares do Irão?

É hoje evidente que o verdadeiro objectivo de Israel, a solução final, é o extermínio do povo palestino. Terão os israelitas a noção de que a shoah com que o seu vice-ministro da defesa ameaçou os palestinianos poderá vir a vitimá-los também? Não temerão que muitos dos que defenderam a criação do Estado de Israel hoje se perguntem se nestas condições – e repito, nestas condições – o Estado de Israel tem direito de existir?

Israel fora da Palestina! Acção de solidariedade pelo povo palestiniano promovida no Porto pelo Movimento pela Paz ( hoje, dia 13, às 18h.)

Israel fora da Palestina ! Acção de Solidariedade no Porto

Hoje, dia 13 de Janeiro, na cidade do Porto, o Movimento pela Paz organiza uma acção de solidariedade com o povo da Palestina.

A concentração terá lugar no cruzamento da Rua Fernandes Tomás com a Rua Sá da Bandeira, perto do mercado do Bolhão, no centro da cidade, pelas 18 horas.