12.4.05

Como vai ser encomendar uma pizza em 2010 !!!




Telefonista - Pizza Hut, bom dia.

Cliente – Bom dia, desejava fazer uma encomenda

Telefonista – Pode-me dizer o seu NIDN, se faz o favor?

Cliente - O meu número de identificação nacional (NIDN)? Sim, claro, o meu NIDN é 6102049998-45-54610

Telefonista – Muito obrigado, Sr. Silva. A sua morada é Rua das Azinheiras nº 18, em Aveiro, o número de telefone é 234546557, o número de telefone profissional do seu local de trabalho é 230907665 e o seu número de telemóvel é 969809860.

Cliente – Mas aonde foi buscar esses números todos?

Telefonista – Nós estamos ligados ao sistema, Sr Silva

Cliente ( ouve-se a suspirar) – Ah, bom! Ora eu desejava encomendar duas pizzas com fiambre…

Telefonista – Queira-me desculpar, mas acho que essa não é uma boa ideia do Sr Silva

Cliente – Ora essa. Mas porquê?

Telefonista – É que, segundo o seu dossier médico, o Sr. Silva sofre de hipertensão e de um nível de colesterol muito elevado. Além disso, o seu seguro de vida proíbe uma escolha tão arriscada para a sua saúde como é o tipo de pizza que acabou de encomendar

Cliente – Oh, que diabo. Então o que é que me aconselha?

Telefonista – O Sr. Silva pode escolher a nossa Pizza de ioughurt ou de soja. Tenho a certeza que se vai deliciar.

Cliente – Mas quem lhe diz que eu gosto dessas pizzas?

Telefonista – É que eu tenho aqui a informação que o Sr. Silva consultou o livro «Saborosas Receitas de soja» na biblioteca de Aveiro na semana passada! Daí a minha sugestão.

Cliente – Bom, ok. Dê –me então duas. Quanto devo?

Telefonista – Não será melhor quatro pizzas para si , a sua esposa e os seus três filhos ?

Cliente – Não. Eu disse apenas duas pizzas. Quanto é que lhe devo?

Telefonista – 50 euros

Cliente – Pago pelo Multibanco.

Telefonista – Lamento. Mas o sr. Silva vai ter que pagar em dinheiro. É que o saldo do seu cartão de crédito não chega.

Cliente – Bom, então pagarei a dinheiro.

Telefonista – Também não pode ser. A sua conta bancária não tem saldo.

Cliente – Mas isso não é da sua conta. Mande-me as pizzas, que logo as pagarei quando chegarem. Quanto tempo demorará?

Telefonista – Estamos um bocadinho atrasados. Talvez uns 45 minutos. Se estiver com pressa pode vir buscá-las depois de arranjar dinheiro. Mas levá-las de motorizada para casa pode ser perigoso.

Cliente – Mas que diabo. Como é que você sabe que tenho motorizada?

Telefonista – Simplesmente porque estou a ver no seu dossier que o Sr. Silva ainda não foi levantar o seu carro da oficina e que a sua motorizada Honda já está paga. Por isso deduzi que pudesse vir de motorizada.

Cliente – Merda.

Telefonista – Recomendo-lhe que se mantenha educado. Não se esqueça que foi condenado em Julho de 2006 por insulto à autoridade.

Cliente – Como?

Telefonista – Mais alguma coisa?

Cliente – Nada, nada. Não se esqueça de mandar os dois litros de Coca-cola gratuita, como está anunciado nos vossos folhetos publicitários.

Telefonista – Desculpe, Sr. Silva. Mas uma cláusula de exclusão das nossas campanhas de publicidade proíbe-nos de vender sodas gratuitas a pessoas diabéticas.
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(texto anónimo em circulação pela rede)

Manifesto da Sexpol ( Wilhelm Reich)

O que é o caos sexual?

- é invocar no leito conjugal a lei do "dever conjugal";
- é contrair uma ligação sexual por toda a vida sem ter previamente conhecido o parceiro quanto à sexualidade;
- é deitar-se com uma rapariga proletária e, ao mesmo tempo, não exigir o mesmo de uma rapariga burguesa "respeitável";
- é a lubricidade de uma sórdida vida de prostituição ou a espera da noite de núpcias, por abstinência;
- é fazer culminar a potência viril no desfloramento;
- é, aos 14 anos, despir mentalmente, com avidez, de cima para baixo, uma gravura de mulher, e depois, aos 20 anos, participar na cruzada nacionalista em prol da pureza e da honra da mulher;
- é tornar possível a existência de tresloucados e inculcar os seus fantasmas perversos a dezenas de milhar de jovens;
- é castigar os jovens pelo delito de auto-satisfação e fazer acreditar aos adolescentes que, pela ejaculação, perdem a espinal-medula;
- é tolerar a indústria pornográfica;
- é excitar a mocidade com filmes eróticos, retirar daí lucros, mas recusar-lhes a satisfação sexual, apelando, ainda por cima, para a cultura.




O que não é o caos sexual?

- é desejar por um amor recíproco, o mútuo abandono sexual, sem atender às leis estabelecidas e preceitos morais, e agir em consequência;
- é libertar as crianças e adolescentes dos sentimentos de culpabilidade sexual e deixá-los viver conforme as aspirações da sua idade;
- é não se casar nem se ligar duravelmente sem ter conhecido o seu parceiro, quanto ao sexo;
- é não procriar filhos a não ser que os deseje e os possa criar;
- é não reclamar de alguém um direito ao amor e ao abandono sexual;
- é não matar o parceiro por ciúme;
- é não ter relações com prostitutas mas com amigas do seu meio;
- é não fazer amor atrás dos portões, como os adolescentes fazem hoje, mas fazê-lo em quartos sem ser perturbado;
- é não manter um casamento infeliz e fatigante, por um escrúpulo moral.

O movimento cultural revolucionário não vencerá se não forem resolvidas estas questões

(publicado no jornal Sexpol, de 1936)

Os Justos (de A.Camus) é uma peça anti-hegeliana




As personagens da peça dramática são:
Dora
Annenkov (o chefe)
Stepan ( o revolucionário profissional)
Kaliayev (o poeta)
Voinov

Estas cinco personagens fazem parte de um grupo terrorista que prepara um atentado que irá matar o Grande-Duque, considerado o tirano do Reino.

Trata-se de uma curta obra dramática que
coloca em confronto duas visões distintas de fazer e viver a revolução.

Por um lado a perspectiva hegeliana da Grande Ideia, isto é, da Revolução. É o personagem Stepan que a incarna. Defende ele a Moral, e com ela as grandes ideias da Justiça, da Igualdade, da Revolução.

Ao contrário dele, encontramos o poeta Kaliayev que não acredita nas Grandes Ideias mas na Vida, nas Relações Humanas e Interpessoais que a vida vai tecendo. Mais do que em função de grandes Ideais é no terreno concreto que podemos encontrar, não a Justiça, mas os Justos.

Para o primeiro as ideias valem mais que os homens, enquanto para o segundo os homens têm a primazia, não os homens enquanto categoria genérica e abstracta, mas os homens concretos com que ele se relaciona e que lhe são próximos. São esses que lhe dão um sentido para os seus actos.

É representativa destas duas visões antagónicas o seguinte diálogo entre os dois:

«Kaliayev –Entrei na revolução porque amo a vida.
Stepan – Não amo a vida, mas a justiça que está mais alto do que a vida»

Não é por acaso que Camus num dos seus textos escreve:
«O único artista comprometido é o que, sem nada recusar do combate, recusa pelo menos fazer parte dos exércitos regulares» (A. Camus), ou seja, o autor reconhece a cada indivíduo a liberdade de se implicar na revolta, mas esta não é vista como algo de exterior, ou determinada exteriormente por quem quer seja. A revolta tem de ser imanente quer aos indivíduos quer aos grupos sociais. Só assim os homens adquirem um sentido para as suas existências