10.11.07

As tascas do Porto/Estórias e memórias servidas à mesa da cidade - um novo livro de Raul Simões Pinto que foi hoje apresentado por Hélder Pacheco

Livro recomendado por este blogue:
foto retirade do blogue: http://limpa-vias.blogspot.com/


O novo livro de Raul Simões Pinto, «As tascas do Porto/Estórias e memórias servidas à mesa da cidade», com edição das Edições Afrontamento, foi hoje apresentado por Hélder Pacheco, conhecido historiador da cidade nortenha, que também escreveu o prefácio deste volume, numa sessão de lançamento do livro realizada num restaurante do centro.

O livro, com fotografias de Gabriela Felício, pretende divulgar e homenagear aqueles espaços que, durante décadas, e ainda hoje, foram locais de encontro e conversas entre as gentes mais humildes da cidade, em contraponto às tertúlias dos cafés, frequentados sobretudo pelas camadas mais aburguesadas.

Apesar da desertificação galopante que atinge o centro histórico do Porto, e não obstante a erosão sofrida com o tempo, ainda hoje permanecem umas boas dezenas de tascas na cidade, que importa preservar para o que se torna imprescindível a sua devida valorização como uma das mais marcantes fontes de socialização popular. Aliando os petiscos, a bebida, os jogos e as conversas, as tascas e as tabernas urbanas desempenham um papel não desprezível na cultura popular.

Mesmo hoje, em que a desertificação expulsou as camadas populares para a periferia dos bairros sociais, qual maldita gentrificação, as tascas vão sobrevivendo com os clientes habituais, à espera que os jovens as venham a redescobrir, como acontece por lá fora.

Raul Simões Pinto descende, curiosamente, de uma família ligada ao meio, o que lhe dá uma autoridade acrescida para retratar o típico e tradicional ambiente das tabernas. O autor da obra, tem já vários livros editados e colaboração dispersa por várias publicações. É dele, por exemplo, o livro «Putas à Moda do Porto», editado pelas Edições Mortas, que teve ( e tem ainda) uma enorme procura graças ao seu interesse histórico e sociológico do meio social retratado.


Tascas, Tabernas e Adegas do Porto:

"A Badalhoca" - R. Dr. Alberto Macedo (Ramalde)
( recomendação: as sandes, as iscas de bacalhau e o vinho)

Adega Quim - R. da Madeira, à est. de S. Bento
( é também sede do clube Os Cabrões)
(recomendação: oss bolinhos de bacalhau)


Adega Leandro – Rua de Trás, 12, aos Lóios
(recomendação: sande de presunti, copo de vinho e a ginginha)

Tasca O Alfredo Portista – Rua do Cativo, à Sé
(recomendação: tigela de vinho, sande de bacalhau e fígado com cebolada)


Outras tascas e adegas do Porto, mas já desaparecidas:
Adega da Cerca; Adega Moura; Adega do Olho(ainda hoje existe, mas transformada em restaurante); O Transmontano, a Casa Osvaldo ( que fechou há pouco tempo na Travessa de S. Sebastião, à Sé)


Entrevista com Raul Simões Pinto, autor do livro «As tascas do Porto/Estórias e memórias servidas à mesa da cidade», com edição das Edições Afrontamento, publicada hoje no Jornal de Notícias:

Onde foi beber a inspiração para este livro?
Este trabalho andava na minha cabeça há bastante tempo. A ideia tem cerca de 15 anos e demorou dois anos a concretizar, a proceder à recolha e investigação no terreno.

É também uma homenagem à sua família e, em especial, ao seu pai...
Sim, o meu pai teve um tasco em Lordelo do Ouro. Era o "39", porque ficava na Rua da Pasteleira. Fiquei sempre ligado a este mundo, a este microcosmos feito de muitas estórias, solidariedades, amizades. Há cerca de 40 anos, as tascas eram centros de convívio e onde à mesa se discutia de tudo um pouco. Quem pensar que era só futebol está enganado. Também havia gente a discutir política. Ainda recordo um facto curioso no tasco do meu pai, ouvia-se a Rádio Moscovo.

Além das nostalgias, esses tempos também foram marcados pela grande pobreza e dificuldades. Concorda?
Sim, é verdade, mas esses tempos também foram vividos com bastante generosidade. As pessoas eram mais solidárias, existia outro espírito de entreajuda.

Quais foram os objectivos deste trabalho? Um testemunho para o futuro?
Pretendi fixar neste estudo algumas memórias do passado e também lembrar às gerações mais novas a cidade antiga. Dantes, o Porto fervilhava de gente, mas a cidade do trabalho está a dar lugar à cidade dos serviços e das falências.

As tascas têm futuro?
Têm futuro, mas vão atravessar muitas dificuldades. Nos últimos anos, um terço das casas foram obrigadas a fechar por falta de clientes. Pelas minhas contas, já deixaram de existir 50 tascas

Movimento anti-TGV contesta o traçado do TGV e promete causar onda geral de indignação por todo o país

A nossa opção para o TGV. Abaixo o outro...
"Vejo-me dentro de um filme de terror a ver passar junto de mim uma toupeira gigante que arrasa tudo." Sandra Lopes faz esta analogia para explicar o que sente em relação ao traçado do TGV, que poderá vir a atravessar Casal da Charneca (onde reside), na freguesia de Évora de Alcobaça, em Alcobaça.

A consulta pública, feita em Outubro, deixou centenas de pessoas do concelho em polvorosa. Nas duas hipóteses em discussão, são muitas as habitações, empresas e ruas a ser afectadas. Algumas serão demolidas.

No total, são oito as freguesias atingidas pelo corredor da linha ferroviária de alta velocidade, mas as mais lesadas serão Benedita e Turquel.


Os autarcas representam as vozes da oposição em consonância com os moradores. Maria José Filipe, presidente da Junta da Benedita conta ter recebido 1873 queixas. Afirmando que "qualquer uma das possibilidades é má para a freguesia", considera que "a Benedita já foi suficientemente mal tratada". "Temos o IC2, o gasoduto, as linhas de alta tensão. Já chega. Não queremos o TGV", diz.

José Diogo, presidente da Junta de Turquel, não podia estar mais de acordo. "Este é o maior crime que querem cometer contra a população. Nunca assisti, em 19 anos a liderar esta freguesia, a tamanho atentado contra os direitos dos cidadãos", acusa, criticando a maneira como o processo tem sido gerido. "Será esta obra necessária para o país? Não acredito que o desenvolvimento de um país se meça pelo TGV. Temos outras carências que se podiam resolver com menos dinheiro", afirma.

A onda de indignação promete atingir grandes proporções, quando, em Janeiro, for conhecida a opção definitiva do Governo. Recentemente, nasceu o Movimento Anti-TGV, que tenciona marcar uma reunião com a RAVE - Rede Ferroviária de Alta Velocidade. Bruno Letra, um dos elementos, questiona "se a obra é estruturante para o país e qual será a sua rentabilidade".

"Valerá a pena dividir povoações ao meio, acabar com zonas empresariais, sacrificar o trabalho da vida de tantas pessoas por alguns minutos a menos numa viagem entre Lisboa e Porto?", pergunta, defendendo um estudo, ambiental e económico, de um corredor mais a Este.

Mais a Norte, no concelho da Batalha, a preocupação também está presente. António Lucas, presidente do município, assume que o corredor que melhor serve os interesses do seu concelho é o Leiria-Poente. A outra opção, que atravessa Reguengo do Fetal e Batalha, "é mais cara e os impactes ambientais são superiores". Além disso, "causará inúmeras interferências com as redes de infra-estruturas", refere.


Leiria vai ser servida com uma estação

Segundo a Rede Ferroviária de Alta Velocidade (RAVE), os estudos de viabilidade incidiram sobre corredores a nascente e a ponte das serras de Aire e Candeeiros, viabilizando a localização intermédia em Entroncamento/Tomar ou em Leiria, respectivamente. Os corredores a nascente foram abandonados, após a decisão de servir Leiria com uma estação.

Edificações afectadas são 129, diz a RAVE

No troço entre Alenquer e Pombal, "prevê-se que sejam afectadas cerca de 129 edificações de vários tipos, desde casas de habitação a simples barracões, estimando-se que destas 60% impliquem demolições".
Texto retirado da edição de hoje do Jornal de Notícias

Elliott Sharp, músico experimentalista, vai estar em Barcelos no dia 11, num concerto promovido pela ZOOM (associação cultural)

11 de Novembro - 22horas

ELLIOTT SHARP
no AUDITÓRIO DO MUSEU DE OLARIA

Multi-instrumentista (guitarras, saxofones tenor e soprano, clarinete baixo, instrumentos de cordas inventados pelo próprio como o pantar e o slab, baixo eléctrico, computador, electrónica) e compositor, Elliott Sharp é um dos principais protagonistas da cena experimental de Nova Iorque desde há cerca de 30 anos. Lançou mais de 200 discos num espectro musical que vai dos blues e do jazz ao rock “no wave” e ao techno, passando pela música para orquestra e pelo noise. Lidera os projectos Carbon, Orchestra Carbon, Tectonics e Terraplane, tendo sido um pioneiro na aplicação da geometria fractal, da teoria do caos e de metáforas genéticas na composição e na interacção musicais, assim como no uso da informática na improvisação ao vivo.
As suas composições foram interpretadas por RadioSinfonie Frankfurt, Ensemble Modern, Ensemble Rezonanz, Continuum, Flux Quartet, Kronos Quartet e Zeitkratzer e os seus colaboradores incluíram já o cantor qawaali Nusrat Fateh Ali Khan, a lenda dos blues Hubert Sumlin, o dramaturgo Dael Orlandersmith, a violoncelista inovadora Frances-Marie Uitti, os escritores de ficção científica Jack Womak e Lucius Shepard, os gigantes do jazz Sonny Sharrock, Jack DeJohnette e Oliver Lake e o líder dos Master Musicians of Jajoukah, Bachir Attar. A sua composição “Quarks Swim Free” foi estreada na Bienal de Veneza em 2003 e a sua ópera de câmara “EmPyre” na edição da mesma de 2006. Um dos mais recentes álbuns do músico, “Sharp? Monk? Sharp! Monk!”, consiste na interpretação em guitarra acústica solo de peças de Thelonious Monk. Outros são “Racing Hearts-Calling-Tessalation Row” com a sinfónica de Frankfurt, “Forgery” dos Terraplane e “Dispersion of Seeds” para quarteto de cordas. Sharp fundou a editora zOaR Records em 1978, onde tem lançado algumas das suas produções, como as compilações “Peripheral Vision” e “State of the Union”. Completou recentemente as partituras para os filmes “What Sebastian Dreamt”, “Commune” e “Spectropia”.
Tem dedicado também alguma atenção à criação de instalações sonoras, casos de “Fluvial”, “Chromatine”, “Cryptid Fragments”, “Timetable”, “Sequences”, “Prey”, “Tag” e “Distressed Vivaldi”, para espaços e eventos de prestígio como a Gallery of the School of Fine Art de Boston, o Whitney Museum (Bitstreams) ou a Bienal NTT ICC de Tóquio.




Acerca da ZOOM:
Associação Cultural, sem fins lucrativos, com sede em Barcelos, tendo como actividade principal a exibição cinematográfica, com o objectivo de promover e divulgar o cinema, organizando mostras e ciclos cinematográficos (com destaque para o cinema português e europeu). Pretende ainda promover a realização e divulgação de projectos, actividades e produtos culturais, bem como formação, nas áreas da música, artes plásticas, fotografia, vídeo e multimédia.

Sede:
E.S.A.F. Av. D.Nuno Álvares Pereira, 4750-324 Barcelos
arturdurao@iol.pt
zoom_cine@portugalmail.pt
info@zoom.pt
Telefone: 253824595
Telemóvel: 917303594

Programação para Novembro do Mercado Negro, um espaço cultural em Aveiro

Programação de cinema para o mês de Novembro no espaço Mercado Negro, em Aveiro, e subordinado ao Tema «Todas as Famílias São Psicóticas» - ver o cartaz abaixo:





O Mercado Negro é uma associação cultural sem fins lucrativos e um espaço multifuncional criado a partir de um edifício antigo no centro da cidade (desde Junho 2006).




Com uma actividade cultural intensa (desde concertos e sessões de cinema todas as semanas, passando por exposições, peças de teatro, tertúlias, sessões de leitura ou workshops), no interior encontra-se um auditório, um café e salas de estar (com acesso wireless gratuito à internet) e vários outros espaços: a Wah Wah (discos), a Mao Mao (roupa e acessórios), a Ekphrasis (livros manuseados), a Miyabi (design) e a Lollipop (bijutaria e acessórios), aos quais se juntará brevemente a Riajust (comércio justo).



3ª a Sábado: 13h - 00h
Domingo: 15h - 00h

R. João Mendonça, 17
3800-200 Aveiro
Portugal

mercadonegro.correio@gmail.com

http://www.mercadonegro-aveiro.blogspot.com/
http://www.myspace.com/mercadonegro_aveiro


NOVEMBRO

• QUA 7
• ciclo "Todas As Famílias São Psicóticas" #1 (cinema)

• QUI 8
• "O Tesão das Flores: poemas de Jorge Sousa Braga", pelo Gato Legível (performance poética)

• SAB 10
• TALIBAM! - EUA (concerto free jazz/rock)


• QUA 14
• ciclo "Todas As Famílias São Psicóticas" #2 (cinema)

• QUI 15
• SIZO (concerto rock)

• SAB 17
• BIAROOZ (concerto rock atmosférico)

• TER 20
• Noites Trad Folk (dança participação livre)

• QUA 21
• ciclo "Todas As Famílias São Psicóticas" #3 (cinema)

• QUI 22
• "Poesias para mulheres de 30 anos: leitura adiliana", pelo Gato Legível (performance poética)

• SEX 23
• 6 PM - Espanha (concerto electro pop)

• DOM 25
• Noites ao Abandono: "Tudo Menos Amor" (tertúlia poética)

• QUA 28
• ciclo "Todas As Famílias São Psicóticas" #4 (cinema)

• QUI 29
• ciclo "Fantasporto" #1, org: Casa Municipal da Juventude (cinema)

Sumário da edição em português do mês de Novembro do Le Monde Diplomatique

Uma campanha de assinaturas da edição em português do Le Monde Diplomatique está a decorrer até ao final do ano. Trata-se de uma forma de apoiar a sobrevivência do jornal e garantir uma voz crítica contra o «pensamento único»

http://pt.mondediplo.com/spip.php?article127



SUMÁRIO NOVEMBRO - ÍNDICE DE ARTIGOS

EDITORIAL

● «Voracidade» (editorial de Ignacio Ramonet)

MÉDIO ORIENTE

● «Fronteiras agitadas pela guerra norte-americana» (Alain Gresh)

● «A resistência no Curdistão» (Olivier Piot)

● «Dupla derrota da Fatah e do Hamas» (Marwan Bishara)

● «A política israelita refém dos generais» (Amnon Kapeliouk)

● «Nos bastidores de Annapolis» (Dominique Vidal)

SAÚDE

● «O “bota-abaixo” do Serviço Nacional de Saúde» (Isabel do Carmo)

EFEMÉRIDE

● «A Revolução de Outubro de 1917 perante a história» (Moshe Lewin)

● «Continuidade russa» (M.L.)

DA REVOLUÇÃO SOVIÉTICA E DO MAIO DE 68

● «Depois da Revolução?... Revisionismo histórico e anatemização da Revolução» (Manuel Loff)

BIRMÂNIA

● «Birmânia: a “revolução açafrão” não aconteceu» (Renaud Egreteau)

COMUNICAÇÃO

● «Analisar os cérebros para vender melhor» (Marie Bénilde)

TELEVISÃO

● «Os Sopranos: gangsters neurasténicos» (Geoffrey O’ Brien)

ECONOMIA

● «O imobiliário californiano perturba o crescimento chinês» (François Chesnais)

FRANÇA

● «Desde 1958, a “reforma” pela Europa» (François Denord)

● «Uma arte de governar» (F.D.)

CORNO DE ÁFRICA

● «Washington brinca com o fogo na Somália» (Philippe Leymarie)

EQUADOR

● «Equador: campo aberto à transformação» (Hernando Calvo Ospina)

EM DEBATE

● «Um instrumento para uma globalização controlada?» (Monique Chemillier-Gendreau)

LEITURAS

● «Vender economia para vender livros» (Tiago Mata)

● «Não foi bem assim» (João Leal)

ESCRITOS DO MÊS

> Filipa Subtil, Compreender os Media – As extensões de Marshall McLuhan (recensão crítica de Carla Baptista);

> Américo Nunes, Diálogo com a História Sindical. Hotelaria – De criados domésticos a trabalhadores assalariados (recensão crítica de Inês Brasão);

> Rui Daniel Galiza e João Pina, Por teu Livre Pensamento e Joana Lopes, Entre as Brumas da Memória. Os católicos portugueses e a ditadura (recensões críticas de Daniel Melo);

> Don Tapscott, Wikinomics – A Nova Economia das Multidões Inteligentes (recensão crítica de Nuno Teles);

> Samuel Noah Eisenstadt, Múltiplas Modernidades (recensão crítica de Nuno Domingos).


EDITORIAL

Voracidade
por IGNACIO RAMONET

Ao mesmo tempo que, contra o horror económico, o discurso crítico – a que durante algum tempo se chamou alterglobalista – se enreda e de repente se torna inaudível, vai-se instalando um novo capitalismo, ainda mais brutal e conquistador: o de uma nova categoria de fundos de rapina, as private equities, fundos de investimento rapaces, com apetites desmesurados e detentores de capitais gigantescos [1].

Os nomes destes titãs – The Carlyle Group, Kohlberg Kravis Roberts & Co (KKR), The Blackstone Group, Colony Capital, Apollo Management, Starwood Capital Group, Texas Pacific Group, Wendel, Eurazeo, etc. – continuam a ser pouco conhecidos do grande público. E graças a esta discrição estão a apoderar-se da economia mundial. Em quatro anos, de 2002 a 2006, o montante dos capitais obtidos por estes fundos de investimento, que colectam o dinheiro dos bancos, dos seguros, dos fundos de pensões, e os haveres de riquíssimos particulares, passou de 94 mil milhões de euros para 358 mil milhões… O seu poder de fogo financeiro é fenomenal, ultrapassando 1,1 biliões de euros. Nada lhes resiste. O ano passado, nos Estados Unidos, as principais private equities investiram cerca de 290 mil milhões de euros na aquisição de empresas, e mais de 220 mil milhões só no primeiro semestre de 2007, passando assim a controlar 8000 empresas… Actualmente, um em cada quatro assalariados norte-americanos e quase um em cada doze franceses trabalham já para estes mastodontes [2].

França tornou-se aliás, depois do Reino Unido e dos Estados Unidos, o seu primeiro alvo. O ano passado, em território francês, estes fundos apoderaram-se de 400 empresas (por um montante de 10 mil milhões de euros) e já gerem ali mais de 1600. Marcas muito conhecidas – Picard, Dim, os restaurantes Quick, Buffalo Grill, Les Pages Jaunes, Allociné ou Afflelou – são agora controladas por private equities, quase todas anglo-saxónicas, que já estão de olhos postos nos gigantes do índice CAC 40.

O fenómeno destes fundos rapaces surgiu há uns quinze anos, mas nos últimos tempos, estimulado pelo crédito barato e graças à criação de instrumentos financeiros cada vez mais sofisticados, tem vindo a adquirir uma amplitude preocupante. Porque o princípio é simples: um clube de investidores afortunados decide adquirir empresas, que depois gere de forma privada, longe da Bolsa e das suas regras constrangedoras, e sem ter de prestar contas a accionistas minuciosos [3]. A ideia consiste em contornar os próprios princípios da ética do capitalismo, apostando apenas nas leis da selva.

Concretamente, como no-lo explicam dois especialistas, as coisas passam-se assim: «Para adquirir uma sociedade que vale 100, o fundo aplica 30 do seu bolso (percentagem média) e os restantes 70 pede-os emprestados aos bancos, aproveitando as muito baixas taxas de juro do momento. Durante três ou quatro anos reorganiza a empresa com a direcção em funções, racionaliza a produção, desenvolve actividades e capta a totalidade ou parte dos lucros para pagar os juros… da sua própria dívida. Depois revende essa mesma empresa por 200, com frequência a um outro fundo, que irá fazer a mesma coisa. Reembolsados os 70 obtidos a crédito, ficam com 130 no bolso, por um investimento inicial de 30, obtendo assim mais de 300 por cento de taxa de retorno sobre o capital investido em quatro anos. Haverá melhor?» [4]

Ao mesmo tempo que pessoalmente ganham fortunas demenciais, os dirigentes destes fundos praticam doravante, sem sentimentalismos, os quatro grandes princípios da «racionalização» de empresas: reduzir o emprego, comprimir os salários, aumentar os ritmos de produção e deslocalizar. São nisso estimulados pelas autoridades públicas, as quais, como em França hoje em dia, sonham «modernizar» o aparelho de produção. E fazem-no em detrimento e para desespero dos sindicatos, que denunciam vigorosamente o pesadelo e o fim do contrato social. Havia quem pensasse que com a globalização o capitalismo estaria por fim saciado. Vê-se porém agora que a sua voracidade não tem limites. Até quando?

quinta-feira 8 de Novembro de 2007

Notas
[1] Ler Frédéric Lordon, «O mundo refém do poder financeiro», Le Monde diplomatique – edição portuguesa, Setembro de 2007 (http://pt.mondediplo.com/spip.php?article107).

[2] Ler Sandrine Trouvelot e Philippe Eliakim, «Les fonds d’investissement, nouveaux maîtres du capitalisme mondial», Capital, Paris, Julho de 2007.

[3] Ler Philippe Boulet-Gercourt, «Le retour des rapaces», Le Nouvel Observateur, Paris, 19 de Julho de 2007.

[4] Cf. Capital, op. cit.

Literatura irlandesa na casa Fernando Pessoa (14,15 e 16 de Nov.)


O poeta Derek Mahon, a romancista Jennifer Johnston e o dramaturgo Enda Walsh estarão em Lisboa, nos próximos dias 14, 15 e 16, para falarem das suas obras no quadro do Festival de Literatura Irlandesa.

"Este festival tem o duplo objectivo de dar a conhecer autores irlandeses estudados em Portugal e reflectir sobre o modo como esses escritores têm influenciado a cultura portuguesa, nomeadamente através do teatro, com a publicação de textos, traduções e encenações de obras", disse, a propósito, Maria Helena Serôdio, presidente da comissão organizadora da iniciativa.

Para esta professora catedrática, um dos exemplos da influência dos escritores irlandeses na cultura portuguesa é o do espectáculo "The pillow man" (O homem-almofada), de Martin McDonagh, que esteve em cena nos teatros Maria Matos, em Lisboa, e Nacional de S. João, no Porto, e que inspirou um tríptico à pintora Paula Rego.

O festival arranca na próxima quarta-feira, às 18.30 horas, na Casa Fernando Pessoa, com uma sessão de leitura de poemas de Derek Mahon, ditos pelo próprio.


No dia seguinte, o encontro com os autores irlandeses decorrerá no Anfiteatro 3 da Faculdade de Letras, a partir das 10 horas, altura em que Jennifer Johnston e Derek Mahon falarão das suas obras e serão apresentadas algumas comunicações sobre a literatura irlandesa.

Na tarde deste mesmo dia e no mesmo local, Enda Walsh falará com o encenador Jorge Silva Melo a propósito da peça "Disco pigs", que os Artistas Unidos têm actualmente em cena, na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul.

Organizado pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em colaboração com a Casa Fernando Pessoa e com o Museu Nacional do Teatro , o festival tem o apoio da Culture Ireland e da Embaixada da Irlanda em Portugal.

Fonte: Jornal de Notícias


Consultar ainda:
http://mundopessoa.blogspot.com/


O Festival da Literatura Irlandesa é um caloroso tributo a poetas, romancistas e dramaturgos da Irlanda, mas pretende dar também testemunho do contínuo fascínio que a cultura irlandesa tem exercido sobre criadores portugueses em âmbitos tão diversos quanto a literatura, o teatro, o cinema ou a música, construindo-se assim, pelas artes, laços de união, sólidos e duradouros, entre as nossas duas culturas.

Ao longo de três dias - 14, 15 e 16 de Novembro -, acolheremos a Irlanda contemporânea através da leitura (e tradução) de poemas, de debates e encontros com escritores, encenadores e críticos, da música de tradição popular, de espectáculos teatrais e de visionamentos de filmes.

O convívio entre leitores, autores, espectadores e artistas - portugueses e irlandeses - é, seguramente, a melhor forma de estimular uma compreensão mais funda das nossas identidades e modos de ver, investigar o nosso "sentido de lugar" e fortalecer um mútuo envolvimento.

Rising to Meet You/ Indo ao Vosso Encontro pretende não só celebrar o poder da palavra na página, na pauta, no écrã e no palco, mas também contribuir para erguer pontes e fazer confluir caminhos entre a Irlanda e Portugal, numa colaboração estreita e recíproca, evocando a antiga benção irlandesa:

"May the road rise up to meet you and the wind be ever at your back"/ "Que a estrada se erga ao teu encontro e que o vento te seja sempre favorável".


DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO

14 NOV. 18h30. Casa Fernando Pessoa
Encontro com o poeta Derek Mahon. Leitura de seis poemas de Derek Mahon, traduzidos por Rui Carvalho Homem, por Pedro Mexia. Traduzir poesia: conferência por Hélia Correia.

Às 20h30, serão de música irlandesa por Teresa O'Donnell e David Creevy (entrada gratuita)

15 NOV. 9h45. Faculdade de Letras (Anfiteatro 3)
Um Sentido de Lugar, com Jennifer Johnston e Derek Mahon. Encontro moderado por Teresa Casal e Rui Carvalho Homem. Às 11h30, Olhares Sobre a Literatura Irlandesa com Teresa Casal e Nicholas Grene. Moderação a cargo de Mick Greer e Angélica Varandas.

Às 15h00, Um Sentido de Palco, com Enda Walsh e Jorge Silva Melo. Moderação de Maria Helena Serôdio.

16 NOV. 14h e 16h. Faculdade de Letras (sala 5/2)
Visionamento dos filmes The Dawning (1988, real. Robert Knights) e Disco Pigs (2001, real. Kirsten Sheridan) seguido de debate com Mário Jorge Torres.

Todos os eventos com entrada livre

Não se pode pensar a escola rural seguindo o modelo da escola urbana


Nos dia 16 e 17 de Novembro de 2007 vão realizar-se em Chantada ( Lugo, na Galiza) as «jornadas de renovação pedagógica» subordinadas ao tema do «Meio rural galego: um olhar sobre o futuro da educação no meio rural», que são promovidas pela associação «Nova Escola Galega», e nelas serão abordadas questões relativas com a formação inicial e permanente dos professores, estando ainda previstas a apresentação e debate sobre projectos de escola rural, e o contacto com experiências educativas singulares.

A associação organizadora segue assim as linhas que resultam das conclusões do I Debate, realizado em Outubro do ano passado no Museu Pedagógico da Galiza (MUPEGA) em Santiago de Compostela, e que vão no sentido de reforçar as acções direccionadas para o meio rural como forma de defender a educação em meio rural. E nas quais se destaca a necessidade de uma consciencialização para o contexto escolar no meio rural a fim de garantir o seu desenvolvimento com parâmetros próprios e não a partir de uma mímese do modelo urbano.

O reconhecimento dos direitos laborais do professorado que trabalha em meio rural e a dotação de material são as medidas mais urgentes que devem ser tomadas, acompanhadas de uma reformulação curricular e do estabelecimento de canais de comunicação entre todos os agentes educativos a trabalhar em contexto rural.

Este ano os objectivos destes encontros vão para a divulgação e valorização dos colectivos e das entidades que lutam pela melhoria da educação em meio rural.

A deterioração das condições de vida que afectam o meio rural e as políticas marcadas por uma «racionalidade administrativa» que levam à negação de recursos e ao estiolamento das educação rural irão ser também objecto de grande atenção no sentido de se avaliar as oportunidades e ameaças que pairam sobre a educação em meio rural.

A associação Nova Escola Galega nasceu a 11 de Junho de 1983 em Santiago de Compostela e constitui um movimento associativo de base com o objectivo geal de impulsionar o trabalho de renovação pedagógica e de galeguização linguística e curricular do sistema educativo da Galiza por meio do agrupamento e cooperação de todos os educadores galegos de qualquer nível educativo e de todas as pessoas sociais e colaborações que queiram contribuir com a sua acção e reflexão para um sistema educativo galego, público e democrático.



Museu pedagógico galego

Museu pedagógico galego (MUPEGA) é um centro destinado a recuperar, salvaguardar, estudar,mostrar e difundir todas aquelas expressões educativas que ponham de manifesto a riqueza do património pedagógico da Galiza

O Concílio de Constança (5/11/1414) começou com a chegada das comitivas e de 3.000 prostitutas com o objectivo de acabar com a cisão na Igreja

A famosa estátua de «Impéria» criada por Peter Lenk como homenagem às centenas de prostitutas que, por ocasião do Concílio de Constança (1414-1418), estiveram naquela localidade alemã





No dia 5 de novembro de 1414, começou o Concílio de Constança, que durou quatro anos. O seus participantes acabaram com a cisão na Igreja e condenaram por heresia, João Wiclef, João Hus e Jerónimo de Praga a morrerem na fogueira.

No final de 1413, o rei alemão Sigismundo e o antipapa João XXIII convocaram as autoridades eclesiásticas para um grande concílio, a ser realizado em Constança, cidade pertencente ao Império Alemão. Meio ano mais tarde, mais de 72 mil estrangeiros puseram-se a caminho, entre eles patriarcas, cardeais, arcebispos, bispos e príncipes religiosos.


Todos eles foram acompanhados por comitivas próprias, sendo que com João XXIII viajavam nada mais nada menos que 600 pessoas. Além destes, foram a Constança advogados, secretários, magistrados, padres e – segundo a lenda – três mil prostitutas.

Todos permaneceram na cidade durante os quatro anos de duração do concílio: um número exorbitante de pessoas, considerando-se a população de Constança, que contava com apenas oito mil habitantes. O custo de vida subiu vertiginosamente na cidade, como cantava o trovador alemão Oswald von Wolkenstein: "Quando penso no lago de Constança, logo me dói o bolso."

Os participantes do concílio vinham de toda a Europa: Itália, Polônia, Inglaterra, França, Espanha, Tchecoslováquia, Hungria, Escócia, Irlanda, Armênia e muitos outros países. Embora os clérigos se comunicassem principalmente em latim, foram instalados doze confessionários na cidade, sobre os quais podia-se ler as línguas faladas pelo respectivo confessor.

O concílio, reunido no mosteiro da cidade e o único realizado no actual território alemão, pretendia consolidar uma reforma da Igreja, encerrar o chamado cisma do Ocidente e encontrar uma solução para diversas questões religiosas.

Por isso, foi também convidado Jan Hus, crítico reformista, professor e reitor da Universidade de Praga, que deveria participar no concílio, munido de um salvo-conduto assinado pelo rei Sigismundo.

Confiante na promessa de proteção, Hus viajou a Constança, onde foi preso apenas três semanas e meia após sua chegada, sob acusação de ter celebrado missas e feito pregações, ignorando a proibição da Igreja. Hus foi encarcerado e, no dia 6 de julho de 1415, condenado à morte por heresia. Sob os olhos do rei Sigismundo, os bispos presentes amaldiçoaram-no e arrancaram das vestes sacerdotais as insígnias da sua ordem.

Hus foi levado por mil homens armados a um bairro nas cercanias de Constança, onde foi queimado vivo numa fogueira. O mesmo destino amargou, um ano depois, Jerónimo de Praga, que havia ido para Constança em 1415 para dar o seu apoio à doutrina de Hus.

As questões religiosas eram solucionadas, a princípio, de maneira rigorosa, mas a Igreja continuava a ter a "questão do Papa" para resolver. Em 1414, por ocasião do início do concílio, existiam três papas rivais: em Roma, Gregório XII; em Pisa, o antipapa João XXIII e, em Avignon, o antipapa Bento XIII.

João XXIII que, juntamente com o rei Sigismundo, havia convocado o concílio, fugiu em Março de 1415 para Schaffhausen, "fantasiado, montando um pequeno potro".

O concílio esteve à beira do fracasso. O rei Sigismundo salvou a situação, no entanto, ao cavalgar pela cidade ao lado do duque Ludovico, como descreveu o cronista Ulrich von Richental: "Sigismundo foi aos cambistas, merceeiros e comerciantes, a todos os cardeais e senhores feudais, divulgando a notícia e pedindo para que ninguém abandonasse a cidade".

O antipapa João XXIII foi detido dois meses depois e destituído. Em Julho de 1415, Gregório XII renunciou e, em Julho de 1417, Bento XIII foi destituído. Quatro meses mais tarde, foi eleito um novo papa na grande praça de mercado do porto de Constança.

A eleição devolveu ao cristianismo ocidental um pontífice legítimo: Otto de Colonna, que adotou o nome Martinho V. A escolha foi aplaudida pela multidão: segundo a descrição de Richental, havia 80 mil pessoas na sua nomeação.

Além dos conventos, que puderam trocar informações durante o concílio, a economia de Constança também lucrou com a presença de tantos visitantes na cidade. Talvez por isso não tenha sido dada maior importância ao fato de o rei Sigismundo ter saído sem pagar grande parte das suas contas, depois de passar quatro anos alojado na cidade, comendo e bebendo, em companhia da rainha Bárbara e de toda a sua comitiva…


Fonte do texto supra: website da Deutsche Welle




As principais descisões deste concílio foram:
1. A resignação do Papa romano, Gregório XII (1405 - 1415)
2. A deposição do anti-Papa , João XXIII (1410-1415) em 29/05/1415
3. A deposição do anti-Papa avinhense, Benedito XIII (1394-1415) em 26/07/1417
4. A eleição de Martinho V em 11/11/1417
5. A extinção do Grande Cisma do Ocidente (1305 - 1378);
6. A condenação da doutrina de João Hus, João Wiclef e Jerônimo de Praga, precursores de Lutero.
7. O decreto relativo à periodicidade dos Concílios;
8. A rejeição do conciliarismo (prevalência da autoridade dos concílios sobre o Papa).


Consultar:

Os Heréticos: Jan Hus e Jerónimo de Praga



Jerónimo de Praga (1379 – 30 de maio de 1416) foi o principal discípulo e o mais devotado amigo de Jan Huss, o célebre reformador religioso checo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jer%C3%B4nimo_de_Praga


Jan Hus (Husinec, Boémia do Sul, 1369 - Constança, 6 de Julho de 1415) foi um pensador e reformador religioso. Ele iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wyclif. Os seu seguidores ficaram conhecidos como os Hussitas. A igreja católica não perdoou tais rebeliões e ele foi excomungado em 1410. Condenado pelo Concílio de Constança, foi queimado vivo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jan_Huss