27.8.08

Os 40 anos da publicação do livro «Pedagogia do Oprimido» de Paulo Freire




Paulo Freire nasceu em Recife em 1921 e faleceu em 1997. É considerado um dos grandes pedagogos da actualidade e respeitado mundialmente. Publicou várias obras que foram traduzidas e comentadas em vários países, entre as quais se conta a Pedagogia do Oprimido ( 1968), e a Pedagogia da Autonomia (2000). O seu método de alfabetização para adultos é seguido em muitas partes do globo. As suas primeiras experiências educacionais foram realizadas em 1962 em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores rurais se alfabetizaram em 45 dias.Participou activamente do MCP (Movimento de Cultura Popular) do Recife. A partir de 1964 exila-se por 14 anos no Chile e posteriormente vive como cidadão do mundo. Em 1968 publica a sua obra que teve um impacto mundial de maior alcance e que o tornou mundialmente conhecido, A Pedagogia do Oprimido.


Contra a Educação Bancária; Por uma Educação Problematizadora


Para Paulo Freire, vivemos em uma sociedade dividida em classes, sendo que os privilégios de uns, impedem que a maioria, usufrua dos bens produzidos e, coloca como um desses bens produzidos e necessários para concretizar o vocação humana de ser mais, a educação, da qual é excluída grande parte da população do Terceiro Mundo.

Refere-se então a dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos dominantes, onde a educação existe como prática da dominação, e a pedagogia do oprimido, que precisa ser realizada, na qual a educação surgiria como prática da liberdade

O movimento para a liberdade, deve surgir e partir dos próprios oprimidos, e a pedagogia decorrente será " aquela que tem que ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade". Vê-se que não é suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas, que se disponha a transformar essa realidade; trata-se de um trabalho de conscientização e politização.

A pedagogia do dominante é fundamentada em uma concepção bancária de educação, (predomina o discurso e a prática, na qual, quem é o sujeito da educação é o educador, sendo os educandos, como vasilhas a serem enchidas; o educador deposita "comunicados" que estes, recebem, memorizam e repetem), da qual deriva uma prática totalmente verbalista, dirigida para a transmissão e avaliação de conhecimentos abstratos, numa relação vertical, o saber é dado, fornecido de cima para baixo, e autoritária, pois manda quem sabe.

Dessa maneira, o educando em sua passividade, torna-se um objecto para receber paternalisticamente a doação do saber do educador, sujeito único de todo o processo. Esse tipo de educação pressupõe um mundo harmonioso, no qual não há contradições, daí a conservação da ingenuidade do oprimido, que como tal se acostuma e acomoda no mundo conhecido (o mundo da opressão)- -e eis aí, a educação exercida como uma prática da dominação.

Na concepção de Paulo Freire a educação tem de ser problematizadora, uma vez que o conhecimento não pode advir de um acto de "doação" que o educador faz ao educando, mas sim, de um processo que se realiza no contacto do homem com o mundo vivenciado, o qual não é estático, mas dinâmico e em transformação contínua.

Baseada numa outra concepção de homem e de mundo, pretende-se a superação da relação vertical, para se estabelecer a relação dialógica. O diálogo supõe troca, os homens educam-se em comunhão, mediatizados pelo mundo.

"...e educador já não é aquele que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando, que ao ser educado, também educa ...".

Desse processo, advém um conhecimento que é crítico, porque foi obtido de uma forma autenticamente reflexiva, e implica em acto constante de desvelar a realidade, posicionando-se nela. O saber construído dessa forma percebe a necessidade de transformar o mundo, porque assim os homens se descobrem como seres históricos.

O Educar para Paulo Freire

Educar é construir, é libertar o homem do determinismo, passando a reconhecer o papel da História e onde a questão da identidade cultural, tanto em sua dimensão individual, como em relação à classe dos educandos, é essencial à prática pedagógica proposta. Sem respeitar essa identidade, sem autonomia, sem levar em conta as experiências vividas pelos educandos antes de chegar à escola, o processo será inoperante, somente meras palavras despidas de significação real.


A educação é ideológica, mas dialogante, pois só assim pode se estabelecer a verdadeira comunicação da aprendizagem entre seres constituídos de almas, desejos e sentimentos.

A concepção de educação de Paulo Freire percebe o homem como um ser autónomo

Esta autonomia está presente na definição de vocação ontológica de ‘ser mais’ que está associada com a capacidade de transformar o mundo. É exactamente aí que o homem se diferencia do animal. Por viver num presente indiferenciado e por não perceber-se como um ser unitário distinto do mundo, o animal não tem história.
A educação problematizadora responde à essência do ser e da sua consciência, que é a intencionalidade.

A intencionalidade está na capacidade de admirar o mundo, ao mesmo tempo desprendendo-se dele, nele estando, que desmistifica, problematiza e critica a realidade admirada, gerando a percepção daquilo que é inédito e viável.
Resulta em uma percepção que elimina posturas fatalistas que apresentam a realidade dotada de uma determinação imutável.

Por acreditar que o mundo é passível de transformação a consciência crítica liga-se ao mundo da cultura e não da natureza.
O educando deve primeiro descobrir-se como um construtor desse mundo da cultura.

Essa concepção distingue natureza de cultura, entendendo a cultura como o acrescentamento que o homem faz ao mundo, ou como o resultado do seu trabalho, do seu esforço criador. Essa descoberta é a responsável pelo resgate da sua auto-estima, pois, tanto é cultura a obra de um grande escultor, quanto o tijolo feito pelo oleiro.

Procura-se superar a dicotomia entre teoria e prática, pois durante o processo, quando o homem descobre que sua prática supõe um saber, conclui que conhecer é interferir na realidade, percebe-se como um sujeito da história.

Para ele "não se pode separar a prática da teoria, autoridade de liberdade, ignorância de saber, respeito ao professor de respeito aos alunos, ensinar de aprender".

Consultar:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire

http://www.paulofreire.org/Capa/WebHome

http://www.paulofreire.ufpb.br/paulofreire/principal.jsp

http://www.paulofreire.org.br/asp/Index.asp

http://www.pucsp.br/paulofreire/

www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/pecas_culturais/index.jsp


Sobre o Método Paulo Freire : aqui

Sobre a Pedagogia da Autonomia : aqui





Última Entrevista a Paulo Freire

1° parte


2ª parte






PAULO FREIRE REFLEXÕES
Em 1983 o Grupo Banzo registrou na PUCC de São Paulo uma série de aulas do educador Paulo Freire sobre seu método, sua vida e experiências com tribos indígenas.






Pedagogia do Oprimido



Pedagogia da Autonomia


Escola é ( texto-poema de Paulo Freire que mostra quais são as suas principais ideias sobre a educação)


Escola é


... o lugar que se faz amigos.

Não se trata só de prédios, salas, quadros,

Programas, horários, conceitos...

Escola é sobretudo, gente

Gente que trabalha, que estuda

Que alegra, se conhece, se estima.

O Diretor é gente,

O coordenador é gente,

O professor é gente,

O aluno é gente,

Cada funcionário é gente.

E a escola será cada vez melhor

Na medida em que cada um se comporte

Como colega, amigo, irmão.

Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”

Nada de conviver com as pessoas e depois,

Descobrir que não tem amizade a ninguém.


Nada de ser como tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só.

Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,

É também criar laços de amizade,

É criar ambiente de camaradagem,

É conviver, é se “amarrar nela”!

Ora é lógico...

Numa escola assim vai ser fácil! Estudar, trabalhar, crescer,

Fazer amigos, educar-se, ser feliz.

É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo.

(de Paulo Freire)




A partir do poema de Freire podem-se observar as ideias mais importantes sobre a sua concepção educativa:

1. Mostra e defende uma escola democrática centrada no educando através de uma prática pedagógica.

2. Postula que a comunicação entre cada um dos integrantes é uma necesidade para alcançar a libertad do homem.

3. Reflecte uma filosofía da educação que se perspectiva "pensar como ooprimido".

4. Estabelece uma relação em que o que ensina reconhece que pode aprender com aquele a quem vai ensinar.

5. Todas as pessoas implicadas no processo educativo, educam e são simultaneamente educadas.

6. O método fundamental para educar é o diálogo aberto, tendo em conta as necessidades do indivíduo.

7. O estudante é visto como protagonista do processo de aprendizagem, enquanto que o professor actúa como facilitador.

8. Defende uma perspectiva humanista da educação, em que impera o absoluto respeito pelo ser humano.

Nesta concepção a aprendizagem está no que fazer, pois ensinar não está na pura transferência mecânica de conteúdos que torna o aluno em agente passivo e dócil.


A educação libertadora pproblematiza e desmistifica a realidade.

VI Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire (16 a 20 de Setembro, no Brasil)




O Instituto Paulo Freire é uma das entidades promotoras do VI Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire, que se vai realizar entre 16 e 20 de setembro, no Campus da PUC (pontoficai Universidade Católica), e que terá como tema a Globalização, Educação e Movimentos Sociais: 40 anos da Pedagogia do Oprimido. Neste ano, completa-se uma década do primeiro encontro do Fórum e os 40 anos da Pedagogia do Oprimido


http://www.paulofreire.org/FPF2008/WebHome



Programação

O VI Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire está organizado em duas modalidades: Conferências e Círculos de Cultura.

1) CONFERÊNCIAS – 16/09 e 17/09

Poderão participar das conferências todos os inscritos no evento. Elas serão realizadas no Teatro da Universidade Católica de São Paulo (TUCA). Serão cinco grandes conferências. Para participar, esse público deverá se inscrever pela internet até 10/09, ou até o preenchimento de todas as vagas. Se as vagas não forem preenchidas até a data inicial do Encontro (16/09), os interessados poderão fazer a sua inscrição momentos antes do início das conferências.

16/09 – 8h30 às 12h30

Mesa 1 - Globalização e os desafios da educação libertadora
• Carlos Torres (Universidade da California e IPF Los Angeles)
• Antônio Teodoro (Universidade Lusófona e IPF Portugal)
• Ladislau Dowbor (PUC-SP)
• Mario Sérgio Cortella (PUC-SP)
• Luiza Cortesão (Universidade do Porto e IPF-Portugal)
• Coordenação: Benno Sander

16/09 – 14h às 18h

Mesa 2 - Paradigmas freirianos e movimentos sociais
• Danilo Streck (Unisinos)
• Pep Aparicio (IPF-Valência – Espanha)
• José Eustáquio Romão (IPF-Uninove)
• Peter Lownds (Universidade da California - IPF-Los Angeles)
• Célia Linhares (UFF-IPF)
• Coordenação: Salete Camba (IPF-Brasil)

17/09 – 8h30 às 12h30

Mesa 3 - Pedagogia do Oprimido: 40 anos depois
• Afonso Scocuglia (UFPB)
• Alipio Casali (PUC-SP)
• Celso Beisiegel (USP)
• Silvia Manfredi (IPF-Itália)
• Miguel Escobar (Universidade do México)
• Coordenação: Ângela Antunes (IPF-Brasil)

17/09 – 14h às 18h

Mesa 4 - Paulo Freire: legado e reinvenção
• Ana Maria Saul (PUC-SP)
• Reinaldo Fleuri (UFSC)
• Ivor Baatjes (IPF - África do Sul)
• Florenço Varela (Cabo Verde)
• Oscar Jara (Costa Rica)
• Eliete Santiago (UFPE - Centro Paulo Freire)
• Coordenação: Marina Felldman (PUC-SP)

17/09 – 19h às 22h

Mesa 5 - Paulo Freire, arte e cultura
• Thiago de Mello (Poeta e escritor)
• Augusto Boal (Teatro do Oprimido)
• Elisa Larkin (IPEAFRO)
• Carlos Rodrigues Brandão (Unicamp - IPF)
• Coordenação: Paulo Roberto Padilha

2) CÍRCULOS DE CULTURA – 18/09 e 19/09

Participarão dessa modalidade apenas os inscritos com trabalhos no Fórum. Os Círculos de Cultura serão compostos por pessoas do Brasil e de outros países que tiverem os seus trabalhos aprovados pelo Comitê Científico. Esses participantes apresentarão e debaterão os seus trabalhos nos períodos manhã e tarde.

Observações:
a) As pessoas com trabalhos inscritos e aprovados pelo Comitê Científico, isto é, que estarão nos círculos de cultura, poderão participar de todas as atividades do Encontro (conferências, círculos de cultura e atividades culturais).
b) Os demais participarão apenas das cinco conferências, nos dias 16 e 17, e das atividades culturais do evento.
c) Além dessa programação, ocorrerão reuniões paralelas relacionadas a projetos de pesquisas que envolvem grupos da comunidade freiriana.

3) PROGRAMAÇÃO CULTURAL - a partir das 19h
• 16/09 a 20/09 - Exposição: "Paulo Freire: educar para transformar" (Local: saguão da PUC).
• 16/09 - Peça de Teatro - "Sobre sonhos e esperança" - espetáculo inspirado na obra de Paulo Freire (Local: TUCARENA).
• 17/09 - Mesa de diálogos - "Paulo Freire, arte e cultura" (Local: TUCA).
• 18/09 - Filme: "Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá" (Local: Espaço Banespa).
• 19/09 - Prêmio Paulo Freire - sessão solene de entrega da 3ª edição do prêmio (Local: Câmara Municipal de São Paulo).

A Flor Dente-de-Leão como símbolo do Fórum Paulo Freire

Após longo processo de pesquisa sobre elementos que pudessem traduzir graficamente os muitos significados e sentidos do Fórum Paulo Freire, deparamo-nos com uma imagem curiosa: a flor Dente-de-leão
Assim como a educação libertadora, a flor Dente-de-leão não estimula a posse, o apego. Simboliza a liberdade. Ao assoprá-la as pessoas desejam ver suas pétalas se desprendendo e voando livremente. Quando entramos em contato com ela, queremos compartilhar, interagir uns com os outros, experienciá-la. Tal como o ser humano descrito por Freire, a dente-de-leão nos remete às idéias de inconclusão, incompletude e inacabamento. Suas pétalas são sempre irregulares, desfazendo-se com um simples assopro. A exemplo da pedagogia freiriana, cujas sementes se espalham com extrema facilidade, levada pelo vento, germina e adapta-se a inúmeras realidades geográficas no mundo, o que a torna extremamente popular. Em algumas tradições culturais, significa união, tolerância, esperança.