Um minuto é o tempo necessário para introduzir num telemóvel um programa de software espião. Com ele, e de uma maneira invisível para a vítima, passa a ser possível a retransmissão para uma terceira pessoa do conjunto de dados tanto sobre as chamadas feitas como das recebidas ( números de telefone, duração das comunicações, etc…), assim como do conteúdo dos SMS trocados com o telemóvel visado.
Mas não só. Os chamados «smartphones» são vendidos com GPS integrado e acesso à Internet, pelo que se torna fácil por intermédio do Google Maps seguir os trajectos geográficos dos indivíduos cujos telemóveis se encontram sob vigilância.
Mas isto ainda não é tudo. É que uma opção integrada nesse programa de software permite chamar silenciosamente o telemóvel visado e ligá-lo fazendo com que o ambiente sonoro da pessoa vigiada seja audível para os intrusos.
Só falta mesmo dizer que um programa de software desse género não está só ao dispor de uma agência de informações, pública ou privada; ele encontra-se ao alcance de todos os interessados, bastando uma simples pesquisa no Google para sermos remetidos a diferentes empresas que comercializam tais produtos cujo preço varia entre os 100 até mais de 1.000 dólares.
O programa de software de espionagem dos telemóveis mais conhecido tem o nome de Flexipsy que funciona como um vírus à imagem do cavalo de Tróia.
Vervata é a empresa tailandesa que produz e comercializa o Flexipsy. A mesma empresa faz saber que não é da sua responsabilidade o uso indevido do seu produto, embora sempre vá exemplificando com casos concretos para que ele serve e para que situações concretas ele poderá ser útil.
Note-se, porém, que se a aquisição deste material é simples e não tem entraves legais, já o seu uso pode ser criminalizado uma vez que vigiar e ler mensagens electrónicas ou SMS, fazer escutas telefónicas, ler correspondência sem autorização do destinatário constitui um atentado à vida privada do indivíduo, e susceptível por conseguinte de configurar a prática de um crime.
Claro está que tais dispositivos não servem apenas para vigiar o marido adúltero, nem ainda para a complexa espionagem industrial. Com efeito, estas tecnologias constituem não só um altíssimo risco para a privacidade e a liberdade dos indivíduos como também são meios privilegiados à disposição das agências de informação vocacionadas para a vigilância e o controle social dos activistas sociais e políticos, críticos e contestatários de quem normalmente se senta na cadeira dos vários poderes.
Adaptação livre de um texto publicado no Le Monde de 1 de Julho sob o título «Le télephone portable, nouveau mouchard anti-adúltere»
Consultar:
www.flexispy.com