Um blogue sobre os movimentos sociais, a ecologia, a contra-cultura, os livros, com uma perspectiva crítica sobre todas as formas de poder (económico, político, etc)
Os ecrãs e as televisões invadem o espaço púbico. Ruas, montras de estabelecimentos, centros comerciais, cafés e restaurantes, nada é poupado pela omnipotente e omnipresente televisão.
Mas há um mini-telecomando, o Tv-B gone, que é capaz de apagar todos esses aparelhos, em qualquer lado, em pouco tempo ( 17 segundos), desde que nos aproximemos deles para ficarem no raio de acção coberto pelo telecomando.
Para quem se dedicar a este entretenimento é recomendável não se esquecerem dos seguranças que podem não gostar da brincadeira…
Criado em 1965 pelo médico António Augusti Barge, o Festival de Vilar de Mouros foi inicialmente um evento de divulgação da música popular do Alto Minho e Galiza, com o objectivo final de transformar Vilar de Mouros num destino turistico. Em 1968, o festival reuniu a Banda da Guarda Nacional Republicana, com fado e cantores de intervenção: Zeca Afonso, Carlos Parede, Luis Goes, Adriano Correia de Oliveira, Quinteto Académico+2, Shegundo Galarza e alguns grupos de folclore.
Mas foi em 1971 que, e apesar da ditadura, se produziu em Portugal a 1ª grande edição do Festival Vilar de Mouros, e o até então maior festival de sempre no país. O clima de paz, amor e liberdade fez com o que o Vilar de Mouros de 71 fosse considerado, tanto para a critica nacional como para a internacional, como o Woodstock português.
Nos fins-de-semana entre os dias 31 de Julho a 15 de Agosto de 71 cerca de 20 mil pessoas (números não oficiais), oriundas de vários pontos da Europa, assistiram às actuações de Elton John e Manfred Mann (que actuaram no fim-de-semana de 7 e 8 Agosto, “dedicado aos jovens”), os nacionais Quarteto 1111, Pentágono, Sindikato, Chinchilas, Contacto, Objectivo, Bridge, Beartnicks, Psico, Mini-Pop, Pop Five Music Incorporated, Amália Rodrigues, Duo Ouro Negro, Celos, Banda da Guarda Nacional Republicana, Coral Polifónico de Viana do Castelo e o Grupo de Bailado Verde Gaio, abarcando assim o tradicional, o fado, o rock e o pop.
Tal como o Woodstock, o Vilar de Mouros acabou também em grande prejuízo para a organização (cerca de 1000 contos). Só Elton John, que ocupava o segundo lugar do top de vendas de singles em Portugal, recebeu 600 contos, um valor elevadíssimo para a altura. O único subsídio que existiu foi dado pelo Secretariado Nacional de Informação (30 contos).Os outros patrocínios prometidos falharam. Ao todo foram gastos cerca de 2500 contos pagos pela família Barge.
A PIDE e um pelotão de 45 homens da GNR do Porto estiveram presentes no festival mas numa atitude discreta. Registou-se uma única intervenção caricata da PIDE que confundiu a soprano Elisette Bayam com uma imigrante clandestina. Ao contrário das forças policias, a Igreja posicionou-se contra o evento e pedia aos pais que não deixassem os seus filhos ir ao festival por ser organizado por pessoas de “leste”. A família Barge acabou inclusivamente por ser “excomungada”.
No dia 7 de Agosto de 1971, num Sábado cheio de sol, e 2º fim-de-semana de festival, centenas de jovens dirigiram-se a Vilar de Mouros. Com mochilas às costas e à boleia caminhavam em busca de musica “diferente”. Como em Woodstock as estradas encheram-se de carros impedindo a circulação e nos campos verdejantes de Vilar de Mouros ergueu-se uma “aldeia de lona” onde campistas “tocaram viola, cantaram, dançaram e respiraram ar livre”.
A ordem de entrada em palco dos grupos portugueses foi decidida aleatoriamente. Os Sindicato de Edmundo Falé, Jorge Palma e Rão Kyao iniciaram o festival mas a sua actuação, com musicas de 10 minutos, não agradou ao publico. Seguiram-se os Celos, Pop Five Incorporated, Psico e os Bridge, considerados “um dos maiores espectáculos da noite”. Seguiram-se os muito aguardados Quarteto 1111 - que cantaram em inglês para evitar a censura -, os Pentágono - que iriam actuar com Paulo de Carvalho que desistiu de participar quando soube que a banda iria ganhar 30 contos e ele somente 6 – e os Objectivo. Por fim, os muito aguardados Manfred Mann, protagonistas de um concerto de escassos 45 minutos e muito pouco entusiasmante.
O 2º dia dedicado à Música Moderna respeitou os horários e às 17Horas o Quarteto 1111 apresentavam-se pela 2ª vez em palco com uma actuação mais convicta do que a da véspera. Parece essa ter sido também uma característica do festival. As bandas portuguesas actuaram melhor no 2º dia, fruto da sua inexperiência e “falta de rodagem”. Mas o momento alto da noite estaria a cargo do “showman” Elton John. O artista mais caro do festival, O cabeça de cartaz. O publico ficou extasiado mas mesmo assim não exteriorizou o seu entusiasmo. O que deveria ter sido um encore, à 1ª saída (e afinal única) de Elton John, transformou-se em fim. Sem perceber o que era, o público não manisfestou vontade de “um regresso”.
A apatia do público foi a característica dominante do festival. Os jovens não estavam habituados a terem liberdade. Nunca uma tão grande massa de gente se reunira para um evento cultural. A censura e a possível repreensão estavam sempre iminentes. O amadorismo das bandas portuguesas e os longos intervalos entre as actuações também provavelmente contribuiram para essa “apatia”.
Num texto para o “Mundo da Canção”, Tito Lívio escreveu: “Vilar de Mouros foi a constatação de uma incultura musical, quer pela escassez de apoio do estado, quer pelo amadorismo dos conjuntos portugueses, quer ainda pela mentalidade carneiral da maioria dos espectadores presentes”. Em contrapartida, o bom comportamento do público, tal como em Woodstock, tornou-se o aspecto mais positivo do festival. Hélio Sousa Dias escreveu no “Disco”: o extraordinário bom comportamento de todos os jovens presentes em Vilar de Mouros, é tanto mais de louvar se pensarmos que nos campos de futebol, onde se juntam também 20 mil dos chamados adultos, se passam acontecimentos tristes, comprometedores da educação e civilidade de um povo (…) Ninguém se lembrou ainda de proibir os jogos de futebol. Porque será então que os festivais de musica para os jovens são encarados com tanto medo? Os jovens aqui presentes em Vilar de Mouros deram um exemplo tremendo de como se podem juntar milhares de pessoas sem que haja conflitos nem quezílias escusadas.”
“ (...) o pessoal delirou, cantou, dançou, sussurrou (para evitar ouvidos inquisidores), excedeu-se de cabeças recolhidas (enganando olhares indiscretos), dormiu espojado para as estrelas, curou a ressaca, lavou-se no rio e esperou, sem saber, por Abril” (António Amorim).
Texto original e pesquisa de Alexandra Sumares, retirados daqui
Uma estranha loucura está a apossar-se das classes operárias das nações onde reina a civilização capitalista. [...] Esta loucura consiste no amor ao trabalho, na paixão moribunda pelo trabalho, levada ao depauperamento das forças vitais do indivíduo e da sua prole.
[...]
ó miserável aborto dos princípios revolucionários da burguesia ! ó lúgubre dádiva do seu deus Progresso! Os filantropos aclamam como benfeitores da humanidade aqueles que, para enriquecerem sem fazerem nada, dão trabalho aos pobres; mais valia semear a peste e envenenar as nascentes do que construir uma fábrica num aglomerado rural. Introduzam o trabalho de fábrica, e adeus alegria, saúde e liberdade; adeus tudo aquilo que torna a vida bela e digna de ser vivida.
[...]
Trabalhem, proletários, trabalhem para aumentarem a fortuna social e as vossa misérias individuais, trabalhem, trabalhem, para que, ficando mais pobres, tenham mais razões para trabalhar e ser mais miseráveis. É essa a lei inexorável da produção capitalista.
Em resposta ao apelo squatmeet09.wordpress.com, dirigido a espaços okupados e/ou autogestionados, para dois dias de acção directa em Setembro, pela criação de mais espaços do género, o Cinema Comunitário dedica este mês ao tema e apresenta:
The Take, de Avi Lewis e Naomi Klein (87') Documentário. Canadá, Argentina, 2004
No rescaldo do dramático colapso económico argentino de 2001, a classe média mais próspera da América Latina descobre-se numa cidade fantasma de fábricas abandonadas e desemprego em massa. A fábrica Forja dorme abandonada até que os seus antigos empregados a tomam. Fazem parte dum novo e dinâmico movimento de trabalhadores que ocupam negócio “falidos” e criam empregos nas ruínas do sistema que desaba. Nos subúrbios de Buenos Aires, trinta trabalhadores desempregados partem em direcção à sua fábica “falida”, estendem os sacos-cama e recusam-se a ir embora. Tudo o que querem é voltar a ligar as máquinas paradas. Como em qualquer ocupação, têm que percorrer tribunais e enfrentar polícias e políticos, que tanto podem dar-lhes protecção legal como corrê-los violentamente.The Take, um filme que, quase garantidamente, irá fazer-te rir e chorar e, acima de tudo, deixar-te com um desejo enorme de mudar o mundo, é um manifesto sobre o poder das pessoas normais quando se unem para conseguirem coisas extraordinárias.