11.1.09

O Maio de 68 em Portugal ( texto de Eduarda Dionísio)


Texto que acompanha a exposição sobre os cartazes de 68 na Alemanha, patente no Instituto alemão de Lisboa, e foi retirado de:

Maio de 68 em Portugal
Autora do texto: Eduarda Dionísio

1. Em Portugal, quando se diz «Maio de 68» pensa-se na França, melhor dizendo, Paris, talvez mesmo só Quartier Latin, sinónimo de Sorbonne. No gueto em que vivíamos, a França era o «lá fora» mais conhecido e mais «contactável», via emigração (mais de 300 mil em 1968, o dobro em 1971), exílios, deserções da guerra colonial, e via língua (mais ensinada nas escolas do que hoje) e cultura – da liberdade e da «resistência» na II Guerra Mundial.

2. Quando o(s) Maio(s) eclodiram em vários pontos da Europa (e não só), Portugal era uma ditadura e tinha quase 40% de analfabetos. Havia três cidades com universidades, frequentadas por menos de 0,5% da população. Foi em Setembro desse ano que o poder passou de Salazar para Marcello Caetano. Última fase de uma ditadura a que se chamou «primavera». Mas a polícia política e a censura apenas mudaram de nome e continuámos sem direito de reunião, de manifestação e de greve.

3. Portanto, o «terreno» do(s) Maio(s) não existia em Portugal. E os «mal-estares» mais comuns eram outros. Gerado(s) nas e pelas democracias aqui desconhecidas (e por alguns ambicionadas), esse(s) Maio(s) foram vistos pelos poucos que dele(s) souberam sobretudo como «coisa de outros». «Impossível» aqui. Que estranho ser o «aborrecimento» (como o Le Monde de 30/4/68 sugeria) – e não a fome, a tortura e a censura – a «originar» uma «revolução»!...
Que duvidoso ser uma elite – os estudantes – a desencadear uma «desordem» que faria «o poder cair na rua»! Aqui queria-se simplesmente «mais gente» a estudar, o que quereria dizer «outro regime», e não «outra escola».


4. Seria preciso esperar seis anos para a súbita mudança de regime fazer o país inteiro viver um tempo que teve semelhanças (ampliadas) com as formas de libertação, de desconstrução e construção que o(s) Maio(s) de 68 tinha(m) experimentado (com outras razões e resultados) noutros lugares: perder o medo («ousar lutar, ousar vencer»), tomar o destino nas suas próprias mãos, tomar a palavra e ter voz, ocupar o espaço público (sem o desligar do espaço privado), transformar o quotidiano, inverter as hierarquias, viver a vida com os outro(independentemente da classe social e do sexo). E sem fazer decorrer os gestos do que se tinha lido (ou não) nos livros, sem procurar a «justeza» nas «teorias». Nos tempos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974 (pelo menos até 25 de Novembro de 1975), os poucos que tinham vivido o Maio de 68 «lá fora» (e regressado) e aqueles (não muitos) que se tinham entusiasmado por ele (pelas suas práticas e imagens, produtos culturais e artísticos, consequências políticas e sociais), que tinham experimentado um pouco as suas «novidades», as suas «rupturas», tiveram mais «instrumentos» disponíveis para falar, agir e construir do que aqueles que lhe tinham passado ao lado. Mesmo que não se reivindicassem «seguidores» ou «herdeiros» de Maio de 68.
Foi assim que este surpreendente país «a mexer» foi visitado por muitos «soixanthuitards» de várias nações e línguas, «turistas» numa época, em parte sua, com três tempos misturados dentro deles: saudade dum passado em que tinham sido actores, entusiasmo por um presente em que outros o estavam a ser, esperança num futuro em que gostariam de voltar a sê-lo. Houve conversas, trocas. E muitos documentários foram feitos por «esses estrangeiros».
A «participação» e a «autogestão», que pareceriam agora menos contraditórias e menos recuperáveis, foram os dois grandes «centros de interesse».

5. Se 1968 não tinha sido referência nem «lição» para grande parte dos que mudaram a vida em 74-75 – na rua e em casa, nos sindicatos e outras organizações, nas escolas, nas fábricas, nos campos, nas instituições, nas igrejas – com uma determinação, sabedoria e imaginação até ali insuspeitadas, não se pode esquecer que muita coisa tinha mudado, nos movimentos de estudantes e na oposição ao regime, entre duas grandes «crisesestudantis»: a de 1962 e a de 1969, ambas violentamente reprimidas. A luta dos estudantes de 62 foi sobretudo contra um diploma legal que restringia ainda mais a «liberdade dos estudantes» e a «autonomia universitária». Não punha em causa a «Universidade», o «Saber», a «função daEscola», o que aconteceria na luta de 69. Iniciada em Coimbra, quase um ano depois de Maio de 68, arranca
com a tentativa de o presidente da Associação dos Estudantes «tomar a palavra» numa cerimónia presidida pelo Presidente da República. O discurso dos estudantes não era admitido. Foi preciso forçar a entrada.Do «protesto» ia-se passando à «contestação». Em Coimbra, um dos grupos de 69 chamava-se, aliás, «os contestas»…
Será arriscado dizer que esta «crise» foi uma «repercussão» de Maio de 68. Mas em 69, pelo menos nas universidades, aumentou a discussão nos grupos e entre grupos, a decisão no local, as «ocupações» dos lugares, e até o humor. Mudaram assuntos, autores de referência (Gramsci, Reich, Gorz, Poulantzas…), formas de expressão e de organização, em que as «bases» contavam. Entretanto, tinha havido Praga.
Também a composição da oposição à ditadura era outra a partir de meados da década de 60, sobretudo entre osestudantes. Tinham surgido vários pequenos movimentos maoistas, trotskistas, católicos, e sem «identificação» no nome, com práticas e discursos bem distintos do até então hegemónico «centralismo democrático» do PCP. A greve da Carris de 68 (uma excepção, claro) uns anos antes também não podia ter sido a que foi: os autocarros e eléctricos circulavam, mas sem cobrar bilhetes. E se não se tratou, na campanha eleitoral de Outubro de 69, de «ser realista, pedindo o impossível», falou-se em «fazer recuar a fronteira do possível».

6. Nos primeiro anos 70 foi marcante o movimento «Todo o poder aos cursos», em oposição à pesada, controlada e controlável estrutura associativa tradicional: sistemática «crítica do saber» e da «função social da escola», ocupação com «cursos livres» das faculdades paralisadas. E houve os NEIP (Núcleos de Estudantes de Intervenção Política) que não pertenciam a qualquer partido e que iriam dar em 74 ao MES (Movimento de Esquerda Socialista).
No Sindicato dos Professores, nascido do 25 de Abril, uma corrente heterogénea punha em causa a escola e lutava pela «autonomia» e «ligação ao meio»: «Pelo poder das escolas» obteve, na Grande Lisboa, 35% de votos em 74, quando, em muitos sindicatos, o PC parecia «intocável». Corrente herdeira de «aprendizagens estudantis» pós-68, mais do que do «anarco-sindicalismo» que a ditadura e o PC tinham destruído há muito tempo.

7. Quarenta anos depois, ninguém dirá que vários governantes, deputados e destacados dirigentes partidários foram os que imaginaram e fizeram estas lutas, passadas e apagadas, e que o autor e apresentador (na televisão pública) de um programa semanal, que se diz «de História», foi o Ministro da Educação que as reprimiu em 1969.

Eduarda Dionísio é uma escritora e dramaturgista portuguesa cuja actividade passa pela escrita, pela pintura, pelo teatro, pelo ensino e pela imprensa.

La Commune, de Peter Watkins, é o filme que vai ser exibido na livraria-bar Gato Vadio no dia 15 de Jan. às 21h30 com entrada livre


“La Commune” (Paris 1871), de Peter Watkins, 2000.

"Hoje em dia, um realizador que recusa submeter-se à ideologia da cultura de massas, baseada no desprezo pelo público, que não quer adoptar uma montagem frenética composta por estruturas narrativas simplistas, de violência, de ruído, de acções incessantes — em suma, que não aceita a forma única, ou o que eu chamo de "monoforma", este realizador não pode filmar em condições decentes. É impossível".

São palavras do cineasta Peter Watkins (nascido em 1937), que apontam as dificuldades que enfrenta para realizar os seus projectos e que revelam uma crítica aos lugares-comuns e ao logro do cinema mercadoria.

La Commune, foi filmado nos estúdios de Montreuil — um subúrbio da periferia de Paris — com mais de cem actores, na maioria amadores.

Para Peter Watkins, La Commune é uma maneira de se opor à máquina embrutecedora. O filme começa com um plano-sequência, mostrando o local da filmagem após a última cena e informando que ele foi rodado durante treze dias. Os actores apresentam-se e apresentam o seu personagem.

O dispositivo de filmagem, a estética sóbria e teatral e o procedimento de narração são extremamente explícitos. Ao longo do filme o espectador é sempre remetido para a sua condição de espectador e estimulado à reflexão crítica.
"Espero," reafirma Peter Watkins, "que La Commune seja uma ferramenta de aprendizagem que ajude a dissecar e a questionar as convenções do cinema e da televisão. Assim, os textos dos cartazes, das legendas, bem como a minha determinação de não respeitar uma duração pré-estabelecida independentemente do assunto, estão lá para desafiar o mecanismo dos media audiovisuais."
Rua do rosário, 281 – Porto
telefone: 22 2026016
Clicar por cima das imagens para ampliar e ler em detalhe



A Comuna de Paris foi o primeiro governo popular de inspiração libertária da história, fundado em 1871 na capital francesa por ocasião da resistência popular face à invasão do Império alemão
.

A história moderna regista algumas experiências de regimes comunais, impostos como afirmação revolucionária da autonomia face ao poder central e da prática da democracia directa. A mais importante delas - a Comuna de Paris - veio no bojo da insurreição popular de 18 de Março de 1871. Durante a guerra franco-prussiana, as províncias francesas elegeram para a Assembleia Nacional uma maioria de deputados monarquistas francamente favorável à capitulação face à Prússia. A população de Paris, no entanto, opunha-se a essa política. Thiers, elevado à chefia do Gabinete conservador, tentou esmagar os insurrectos. Estes, porém, com o apoio da Guarda Nacional, derrotaram as forças legalistas, obrigando os membros do governo a abandonar precipitadamente a capital francesa, onde o comité central da Guarda Nacional passou a exercer sua autoridade. A Comuna de Paris - considerada a primeira República Proletária da história - adoptou uma política de carácter socialista e libertário, baseada nos princípios da Primeira Internacional.

O governo revolucionário foi formado por uma federação de representantes de bairro (a guarda nacional, uma milícia formada por cidadãos comuns). Uma das suas primeiras proclamações foi a "abolição do sistema da escravidão do salário de uma vez por todas".

Foram realizadas eleições, mas obedecendo à lógica da democracia directa em todos os níveis da administração pública. Em 40 dias de governo revolucionário, a Comuna de Paris introduziu mais reformas do que todos os governos nos dois séculos anteriores:

O trabalho nocturno foi abolido;

Fábricas que estavam fechadas foram reabertas para que cooperativas fossem instaladas;

Residências vazias foram desapropriadas e ocupadas;

Todos os descontos sobre o salário foram abolidos;

A jornada de trabalho foi reduzida, e chegou-se a propor a jornada de oito horas;

Os sindicatos foram legalizados;

Instituiu-se a igualdade entre os sexos;

Projectou-se a autogestão das fábricas (mas não foi possível implantá-la);

Testamentos, adopções e a contratação de advogados se tornaram gratuitos;

O casamento tornou-se gratuito e simplificado;

A pena de morte foi abolida;

O Estado e a Igreja foram separados; a Igreja deixou de ser subvencionada pelo Estado e os espólios sem herdeiros passaram a ser confiscados pelo Estado;

A educação tornou-se gratuita, secular, e obrigatória. Escolas nocturnas foram criadas e todas as escolas passaram a ser de sexo misto;

O serviço militar obrigatório e o exército regular foram abolidos;

Os artistas passaram a auto-gerir os teatros e editoras;

O salário dos professores foi duplicado; etc…

Congresso sobre a guerrilha antifranquista galega (na Universidade da Corunha a 15,16 e 17 de Jan.): Recuperar a memória dos guerrilheiros galegos




O Congresso realiza-se na Reitoria da Universidade e está coordenado por Bernardo Máiz, Emilio Grandío e Eliseo Fernández.
Mais de vinte investigadores, entre os que se destacam Harmut Heine, Secundino Serrano, Bernardo Maiz ou Emilio Grandío irão abordar na cidade galega da Corunha entre os dias 15 e 17 de Janeiro a historia da resistência galega à ditadura franquista, especialmente a que se verificou nos anos quarenta e cinquenta: as guerrillas.

O congreso coincide com o centenário do nascimento do lendário guerrilheiro galego, Benigno Andrade García 'Foucellas', e terá lugar no Paraninfo da Universidade da Coruña, na Maestranza.
Haverá um programa cultural paralelo com Miro Casabella e A Quenlla. A iniciativa de realização do Congresso é da Comisión pola Recuperación dá Memoria Histórica da Coruña, e a assitência é aberta e gratuita a todos os interessados.

Programa

Xoves, 15 de xaneiro

19.15. Conferencia: Hartmut Heine. Visión de conxunto da guerrilla galega

21:00 Actuación de Miro Casabella. Actuación de Xosé Taboada/Eva Otero (Gaita e violonchelo).

Venres, 16 de xaneiro

10.30.
Bernardo Máiz Vázquez. A lexislación represiva ata a creación do TOP
Xosé Luis Rodríguez Pardo. Do TOP e do xuizo aos 23 de Ferrol

11.45.
Emilio Grandío Seoane. A primeira resistencia. A Coruña, 1936
Xoan Carlos Garrido Couceiro. Os do monte 1936-1939 (Os primeiros)
Xulio Prada Rodríguez. Os primeiros fuxidos ourensáns

16.30.
Bechir Yazidi. El exilio de los republicanos en África del Norte
Javier Rodríguez. La guerrilla en el nordeste de León
Alejandro Rodríguez Gutiérrez. A guerrilla no Bierzo: Manuel Girón Bazán

19.00.
Francisco Xavier Redondo Abal. As fontes documentais para o estudio da guerrilla antifranquista galega no Arquivo Histórico do PCE
Carlos Nuevo Cal. A represión contra a guerrilla na Mariña lucense

Sábado, 17 de xaneiro

10.00.
Carlos Reigosa. Vidas cruzadas, vidas paralelas
Carlos Parrado. "Curuxás": a guerrilla antifranquista na terra de Melide e a Ulloa
Fernando Vidal Collazo A guerrilla na Costa da Morte bergantiñán
Manuel Pazos. A guerrilla na bisbarra de Ordes: 1936-1952

12.15.
Eliseo Fernández Fernández. O anarquismo galego e a resistencia antifranquista: unha historia esquecida.
Uxío Breogán Diéguez Cequiel. A resistencia armada e o nacionalismo galego
Víctor Santidrián Arias. O PCE e a guerrilla

16.30 Proxección "A Illa de Chelo" (57´)

17.30 Intervención de guerrilleiros e enlaces da guerrilla

19.00 Conferencia de clausura. Secundino Serrano. A guerrilla antifranquista española: unha visión de conxunto

20.30 Actuación do grupo A QUENLLA

Debate sobre os anarquismos no Instituto Franco-Português de Lisboa (15 de Janeiro às 21h30, no âmbito dos encontros com o Le Monde Diplomatique)

Encontros com o Le Monde Diplomatique

15 de Janeiro, 21h30, no Insituto Franco-Portugais (IFP )

Debate sobre os anarquismos: «Os anarquismos (no bicentenário de Proudhon)»

Com
J.M. Carvalho Ferreira (revista Utopia),
José Neves (historiador),
Júlio Henriques (tradutor),
Miguel Serras Pereira (tradutor)
e Rui Tavares (historiador)

Lugar:
Institut Franco-Portugais
Morada: Avenida Luís Bívar, 91 / 1050-143 Lisboa
Tel: (+351) 21 311 14 00
Email:
infos@ifp-lisboa.com

Pela mão de Marx: Mercado, Estado e Sociedade Civil no Século XXI (Diálogo entre Fernando Rosas e Boaventura de Sousa Santos na F. E. de Coimbra)

Seminário
Pela mão de Marx: Mercado, Estado e Sociedade Civil no Século XXI
Diálogo entre Fernando Rosas e Boaventura de Sousa Santos


16 de Janeiro 2009, 17:00, Sala Keynes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

De Marx a Gramsci: hegemonia, memória e o regresso da política
Fernando Rosas

Para uma concepção pós-abissal do Marxismo
Boaventura de Sousa Santos



Apresentação
No século XXI, a obra de Karl Marx afirma a sua actualidade como um caminho para analisar a natureza do desenvolvimento capitalista em suas contradições e antagonismos, nos marcos da “mundialização do capital com dominação financeira”. Difunde-se a perspectiva do“renascimento de Marx”, ampliando o pensamento crítico no entendimento do actual cenário de crises e
instabilidades.

Uma questão central – imperativo histórico do nosso tempo – é a potencialidade do pensamento marxista apontar alternativas para além do capital, em delinear vias de emancipação social no mundo em que vivemos.

Neste sentido da transformação do sistema do capital, Antonio Gramsci destaca-se, no interior do marxismo, pela originalidade e amplitude de suas concepções, enriquecendo a tradição revolucionária com novos instrumentos teóricos e alternativas de acção política. A concepção de hegemonia gramsciana permite configurar a Política como campo decisivo de embates,articulando direcção ideológica e domínio como via de revolução em nosso tempo.

Este Seminário procura avançar na discussão do potencial do marxismo para responder a questões que nos desafiam no cenário contemporâneo. As instigantes análises de Boaventura de Sousa Santos e Fernando Rosas abrem amplos horizontes para o debate, delineando caminhos de investigação para vislumbrar distintos sentidos das lutas emancipatórias. É um momento singular de avanço na construção do pensamento crítico pela”mão de Marx”, a trilhar caminhos abertos pelo diálogo entre dois pensadores que, acima de tudo, assumem o desafio do nosso tempo histórico da (Re)invenção da Emancipação Social

Notas biográficas
Fernando Rosas, historiador português, é doutorado em História Económica e Social Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1990). É professor catedrático e presidente do Instituto de História Contemporânea (IHC) da mesma universidade. Recentemente, coordenou o Congresso Internacional de Karl Marx, promovido pelo IHC, assinalando os 150 anos dos “Grundrisse”. Ao longo de sua trajectória académica, seu interesse, enquanto investigador, voltou-se para a História do Estado Novo e é, hoje, unanimemente considerado um dos maiores especialistas portugueses neste período histórico. Fernando Rosas é, actualmente Deputado, pelo Bloco de Esquerda, da Assembleia – Geral da República Portuguesa, integrando a Comissão de Defesa Nacional e Negócios Estrangeiros.

Boaventura de Sousa Santos, Doutorado pela Universidade de Yale (JSD, 1973), é Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Distinguished Legal Scholar da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick. É Director do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra. Temas de pesquisa: Epistemologia, sociologia do direito, teoria pós-colonial, democracia, interculturalidade, globalização, movimentos sociais, direitos humanos. Os seus livros têm sido publicados em português, inglês, italiano, espanhol, alemão e francês. www.boaventuradesousasantos.pt

Cartazes de 68 na Alemanha: política, pop e afri-cola ( exposição de cartazes no Goethe Institut de Lisboa)


A exposição “Política, Pop e Afri-Cola – Cartazes de 68 na Alemanha”, produzida pelo Deutsches Plakatmuseum (Museu Alemão do Cartaz), abrange, na versão itinerante do Goethe-Institut, uma escolha de 28 cartazes subordinados a três temas: Política e Sociedade, Arte e Cultura e Música.

Tal como noutras épocas, também em 1968 o cartaz foi utilizado para expor publicamente reivindicações políticas. A geração de 68 soube fazê-lo com imensa graça e fantasia, também porque a oposição não parlamentar não dispunha de praticamente nenhuns outros meios de comunicação social. O aspecto inovador consistiu no facto de que nas contra-culturas juvenis, que se desenvolveram a partir do movimento de protesto, os cartazes se transformaram em superfícies de projecção para convicções comuns.

Quarenta anos decorridos, a publicação de livros e edições especiais de revistas evocou os acontecimentos, tendo o aniversário merecido também a atenção da rádio e da televisão. O mais tardar desde a década de 80, o ano de 1968 é considerado como um ponto de viragem na História alemã do pós-guerra. 1968 modificou profundamente a compreensão dos sexos, provocando a dissolução das estruturas familiares tradicionais, bem como a democratização de vastos sectores da sociedade. Os movimentos contra a energia nuclear e de solidariedade para com o Terceiro Mundo, bem como o movimento ambientalista, têm aí o seu secreto ponto de partida.

Entretanto, a maioria dos autores dos artigos e contributos sobre o tema pertence a uma geração mais nova, que já não chegou a viver esse tempo. Esta geração observa os acontecimentos a partir de uma distância histórica, assumindo, em parte, uma atitude crítica em relação às transformações então despoletadas. 1968 começa a tornar-se História. É nesse contexto que exposições que confrontam o visitante com imagens autênticas da época podem contribuir para o aprofundar da discussão, oferecendo àqueles que lá não estiveram um sempre útil ponto de apoio.



«Tudo começou com os anúncios psicadélicos dos hippies, e de repente o cartaz tornou-se uma finalidade em si. Actualmente, nos EUA são comprados 1 milhão de cartazes por mês. Na Europa já se fazemsentir os sintomas da febre dos posters. Os mais conhecidos desenhadores de artes gráficas e artistas independentes estão, todos eles, a ser arrastados por essa vaga de fundo»1.

Quem escreveu isto foi o jornalista suíço Manuel Gasser na Primavera de 1968. Gasser refere uma função completamente nova dos cartazes. «Ao cobrirem-se completamente as paredes de um quarto (ou de todo um apartamento) com cartazes, o que se pretende é criar um clima artístico global, um ambiente capaz de expressar, de uma forma espontânea e imediata, a orientação intelectual da pessoa que ali vive».

Toda a chamada Geração de 68 foi apanhada pela febre dos cartazes. Trata-se portanto de jovens que em 1968 tinham entre 16 e 29 anos. Toda essa geração, com os estudantes à cabeça, tinha começado por se revoltar contra os pais e professores. Não tardou muito porém que os jovens reivindicassem direitos de co-gestão nas universidades e nas empresas e começassem a denunciar as estruturas autoritárias na economia e na sociedade. A crescente politização do protesto juvenil culminou na exigência de um novo e radical questionamento do passado
nacional-socialista. Mas nem só os estudantes exigiram insistentemente o fim da guerra do Vietname.

Tal como noutras épocas, também em 1968 o cartaz foi utilizado para expor publicamente reivindicações políticas. A geração de 68 soube fazê-lo com imensa graça e fantasia, também porque a oposição não parlamentar não dispunha de praticamente nenhuns outros meios de comunicação social. O aspecto inovador consistiu no facto de que nas contraculturas juvenis, que se desenvolveram a partir do movimento de protesto, os cartazes se transformaram em superfícies de projecção para convicções comuns.

Aquilo a que Gasser chamou a “febre dos cartazes” da Geração de 68 foi, na realidade, um fenómeno que se desenvolveu lentamente e ao longo de vários anos. Por outro lado, todos os conteúdos abordados no contexto da criação de cartazes durante a década de 60 tiveram consequências e repercussões que ultrapassam largamente a data concreta de 1968. O mesmo aliás é válido para os acontecimentos políticos desse ano. Assim, no âmbito dos processos globais de transformação da sociedade que estão na sua origem, a sociologia fala dos «longos Anos 60», referindo-se ao período que dista entre 1958 e 1970. Na História política, pelo contrário, aponta-se, e com razão, para o 2 de Junho de 1967, a data da morte do estudante Benno Ohnesorg, em Berlim, como tendo constituído o início de uma nova fase na confrontação política no pós-guerra. Contudo, parece-nos correcto utilizar o ano de 1968 como cifra sempre que queremos falar das transformações políticas e sociais dos Anos 60. Esse ano marcou sem dúvida um ponto alto, até porque foi então que a dimensão global do fenómeno se tornou visível para todos2. Os protestos estudantis não ocorreram apenas na Alemanha ocidental, mas em muitas metrópoles espalhadas por todo o mundo. Na cidade do México, dez dias antes de começarem os Jogos Olímpicos do Verão, foram mortos, durante manifestações, mais de 500 estudantes pelos soldados governamentais, enquanto em Praga as tropas do Pacto de Varsóvia puseram fim à chamada “Primavera de Praga”. Acontecimentos como o assassínio do militante pelos direitos cívicos Martin Luther King ou o atentado que vitimou o candidato à presidência Robert Kennedy fazem realçar esse ano no contexto dosdesenvolvimentos globais. Em Maio de 1968 Paris foi agitada por uma gravíssima revolta estudantil e uma greve geral dos trabalhadores solidários paralisou o país durante semanas a fio. Por essa altura as ruas de Paris foram inundadas por centenas de cartazes provenientes do Atelier Populaire, fundado em Maio de 68 por trabalhadores, estudantes e artistas
na Academia das Artes da Sorbonne.

Mas 1968 foi também o ano da mudança. Em França os protestos acalmaram finalmente, depois do governo sob o presidente de Gaulle ter mandado evacuar as universidades e fábricas ocupadas e dos gaullistas terem ganho as eleições para o parlamento em finais de Junho. Na Alemanha Ocidental, por sua vez, o final dos protestos espontâneos de massas começou a adivinhar-se logo após a votação pelo Bundestag das leis de emergência, a 30 de Maio, com uma consequente fragmentação da esquerda política em partidos de quadros. Em Abril de 68, dois incêndios provocados em centros comerciais deram a entender que o protesto contra um Estado considerado totalitário tinha entrado numa nova fase, que anos mais tarde iria culminar no terrorismo de uma minoria.

Quarenta anos decorridos, a publicação de livros e edições especiais de revistas evocou os acontecimentos, tendo o aniversário merecido também a atenção da rádio e da televisão. O mais tardar desde a década de 80, o ano de 1968 é considerado como um ponto de viragem na História alemã do pós-guerra. 1968 modificou profundamente a compreensão dos sexos, provocando a dissolução das estruturas familiares tradicionais, bem como a democratização de vastos sectores da sociedade. Os movimentos contra a energia nuclear e de solidariedade para com o Terceiro Mundo, bem como o movimento ambientalista, têm aí o seu secreto ponto de partida.

Entretanto, a maioria dos autores dos artigos e contributos sobre o tema pertence a uma geração mais nova, que já não chegou a viver esse tempo. Esta geração observa os acontecimentos a partir de uma distância histórica, assumindo, em parte, uma atitude crítica em relação às transformações então despoletadas. 1968 começa a tornar-se História. É nesse contexto que exposições que confrontam o visitante com imagens autênticas da época podem contribuir para o aprofundar da discussão, oferecendo àqueles que lá não estiveram um sempre útil ponto de apoio.
Notas:
1 Graphis Jg. 24 (1968), Revista 135, pág.52
2 W. Kraushaar, Die transatlantische Protestkultur, em : “1968 al Mythos, Chiffre und Zäsur”, Hamburgo 2000,
pág. 53-80.
1968. Das Jahr, das die Welt veränderte, Köln 2005

Produzida pelo Deutsches Plakatmuseum (Museu Alemão do Cartaz), a exposição abrange, na versão itinerante do Goethe-Institut, uma escolha de 28 cartazes subordinados a três temas: Política e Sociedade, Arte e Cultura e Música



Política, Pop e Afri-Cola
Cartazes de 68 na Alemanha
Exposição
01.12.2008 - 31.03.2009
Goethe-Institut em Lisboa
Entrada livre
+351 2188245-10
info@lissabon.goethe.org
Retirado de:

Mulheres em cena na cibercultura: a escrita dos blogs e as reconfigurações das (inter)subjectividades( seminário no CES, dia 13 de Jan. às 17h.30)

Seminário do Núcleo de Estudos Culturais Comparados no CES ( Centro dos Estudos Sociais) em Coimbra:

Mulheres em cena na cibercultura: a escrita dos blogs e as reconfigurações das (inter)subjectividades

Por Marilda Ionta

13 de Janeiro de 2009, 17:30, Sala de Seminários do CES

Apresentação
Este seminário busca problematizar e traçar alguns eixos de reflexão sobre a amizade e a subjetividade na atualidade a partir de um espaço interativo e um tipo peculiar de escritura que emerge com a expansão da cultura digital – os weblogs. Essa modalidade de comunicação das chamadas "sociedade de controle" tem ocasionado mudanças nas experiências de amizade e na noção de interioridade, privacidade e intimidade. Entretanto, as relações intersubjetivas mediadas pelas novas tecnologias parecem não alterar a política de amizade da modernidade centradas na igualdade, semelhança e proximidade. Essa política foi denunciada pelos filósofos da diferença como portadora do germe que suprime a alteridade, o conflito e as multiplicidades em benefício do consenso e da fusão inoculando reações identitárias xenófobas.

Nota biográfica
Marilda Inota é professora de História da Universidade Federal de Viçosa. Membro do núcleo de Estudo de Género da UFV e do grupo de pesquisa da Universidade Estadual de Campinas em Género, Sexualidade e Subjectividade na Antiguidade e na Pós-Modernidade

A construção do género e as ciências sociais (comunicação de Maria do Mar Pereira no CES, em Coimbra, dia 14 de Jan. às 17h.)

14 de Janeiro de 2009, 17:00, Sala de Seminários do CES (Centro de Estudos Sociais) em Coimbra

Estudando género, fazendo género: as ciências sociais e a construção do género enquanto objecto de investigação e fenómeno social

Resumo:
Nesta comunicação partirei das observações de uma etnografia com jovens numa escola em Lisboa para formular um conjunto de questões sobre a conceptualização do género nas ciências sociais em Portugal. De que formas, e com base em que pressupostos, construímos o género como objecto de estudo? Como é que esses pressupostos modelam as nossas observações e conclusões?
Argumentarei que os diferentes recursos teóricos, analíticos e metodológicos que usamos para pensar o género não são instrumentos neutros – são narrativas com características específicas que constroem o género de forma particular, não só enquanto objecto mas também como fenómeno social. Salientarei a necessidade de assumir uma postura reflexiva face aos modos como nas ciências sociais se “faz” género, de forma a evitar que a nossa investigação reforce e legitime inadvertidamente os dualismos, essencialismos e determinismos que deve ser seu objectivo problematizar.

Nota biográfica: Maria do Mar Pereira está a preparar um doutoramento no Gender Institute da London School of Economics (LSE), com uma tese sobre a institucionalização dos Estudos sobre as Mulheres, Estudos de Género, Estudos Feministas em Portugal. É licenciada em Sociologia pelo ISCTE. Tem realizado investigação sobre a negociação do género entre jovens, narrativas sobre masculinidade e paternidade, e representações de género nos média, e produziu várias publicações e comunicações sobre estes temas. É docente no curso "Practising Interdisciplinarity in European Gender Studies", uma parceria de seis universidades europeias, e mantém uma participação activa em movimentos feministas a nível local e internacional

Ciclo Cultural de Conferências Musicais sobre o romantismo portuense

A Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP) acolhe, no Salão Nobre, de 16 de Janeiro a 19 de Junho de 2009, um ciclo cultural de Conferências Musicais do "Romantismo Portuense" organizado conjuntamente com a Universidade do Porto e a Juventude Musical Portuguesa do Porto.
Sendo cada qual dedicada aos respectivos músicos, vistos no seu tempo e ambiente, e profusamente ilustrada pela execução de obras, sejam para canto ou variado instrumental, de sua composição.

A Música no Porto Romântico é um projecto que pretende valorizar a música na cidade do Porto numa das épocas áureas da actividade musical da cidade (Sociedade de concertos, Orpheon Portuense, Teatro Bacquet, Teatro São João, etc.) e simultaneamente das menos conhecidas
Pretende-se promover junto do grande público a contextualização espaço artístico-cultural, social e histórico do Romantismo Portuense.


Ciclo de conferências musicais:

. 16 de Janeiro - Visita à família Ribas

. 13 de Fevereiro - Visita à família Arroyo

. 13 de Março - Visita ao casal Dubini e filhos

. 17 de Abril - Visita aos irmãos Napoleão e a seus pais

. 22 de Maio - Visita a Miguel Ângelo Pereira e família

.19 de Junho - Visita a Cyriaco de Cardoso e a seu Pai

A primeira conferência do Ciclo intitulada: "Visita à família Ribas" terá lugar no próximo dia 16 de Janeiro, pelas 21h30. Com os seguintes conferencista e intérpretes:

João-Heitor Rigaud, conferencista
Jorge Salgado Correia, flauta
Afonso Fesch e Lourenço Macedo Sampaio, violino
Mário Carreira, guitarra
Rosgard Lingardsson e Cândido Fernandes, piano


Preço do Bilhete:
. Estudantes: 3€
. Público em geral: 5€