23.3.05

Erich Fromm ( autor, entre outros, do livro «Ter ou Ser»)

Nascido em 1900, em Frankfurt, Alemanha, Erich Fromm estudou Psicologia e Sociologia em Heidelberg, Frankfurt e Munich. Doutorou-se em Filosofia em Munich e recebeu sólida formação psicanalítica no Instituto Psicanalítico de Berlim. A partir de 1933, ano da ascensão de Hitler ao poder, passa a exercer o cargo de professor nos EUA, em Chicago, e, posteriormente, a exercer a clínica em Nova York. Foi professor em várias universidades, inclusive no México. Os seus livros passaram a tratar de questões humanistas que atraíram a atenção de profissionais de vários campos, como Sociologia, Filosofia e Teologia. De certa forma, muitas de suas ideias foram contemporâneas das abordagens de Carl Rogers (pedagogia anti-autoritária)
Escreveu várias obras, entre as quais se destaca “Ter ou Ser”, e “Psicanálise da Sociedade Contemporânea”
Fromm sempre se mostrou profundamente impressionado pelo que ele via como uma poda da liberdade humana, pelo modo como as pessoas se submetiam, inconscientemente, a desempenhar papeis mecânicos dentro da sociedade capitalista.
O tema central da obra de Fromm é profundamente humanista, ou eco-ético-humanista: o homem sente-se desamparado, porque se separou ou deixou de desenvolver suas qualidades, potencialidades mais propriamente humanas e deixou, por isso mesmo, de ter contacto com as mesmas potencialidades e natureza das demais pessoas. Esta situação de alienação social é uma característica trágica e que se encontra apenas entre os seres humanos, especialmente quando as condições materiais criam uma hierarquia de dominação.
Num de seus livros mais famosos, Medo da Liberdade, Fromm propõe a tese de que o homem, paralelamente à liberdade material que tem conquistado através da história, tem-se isolado cada vez mais de seus semelhantes, na busca por espaço e sucesso material. E, paradoxalmente, a mesma liberdade material torna-se uma condição que assusta, e do qual tende a escapar, refugiando-se em situações de posse e de poder, ou de submissão passiva às autoridades e/ou de conformação à sociedade, o que lhe daria a ilusão de "TER" algo, ou de "PERTENCER" a algo que lhe permita sentir-se menos só. Como opção mais saudável, haveria o reconhecimento da riqueza do "outro" e da importância da cooperação e da solidariedade, num espírito de fraternidade onde o bem-estar social deveria ter a primazia, garantindo o bem-estar individual. Neste caso, a criatividade e as potencialidades humanas seriam usadas para sedimentar a liberdade co-responsável dentro de uma sociedade equilibrada. Caso contrário, o homem construiria um novo tipo de servidão, aliás, bem conforme às ideias do neoliberalismo e da globalização, extremamente selvagem na sua ganância de lucro e anulação do homem, enquanto indivíduo criativo.
Como base nisto, Fromm aponta o fato de que somos, ao mesmo tempo, animais e humanos, com necessidades fisiológicas importantes e imprescindíveis que precisam ser satisfeitas, assim como temos consciência, razão e compaixão, que precisam de ser exercitadas. Assim, no reconhecimento do humano dentro e ao lado das necessidades básicas, levaria a sociedade madura a perceber que a solução de seus conflitos está no reconhecimento de que as nossas necessidades todas, inclusive as humanas, exigem a participação de todas as demais pessoas.

Toda a guerra tem o inconveniente de precisar de um inimigo e, se possível, ter mais que um...

Toda a guerra tem o inconveniente de precisar de um inimigo e, se possível, ter mais que um...
Sem a provocação, ameaça ou agressão de um ou mais inimigos a guerra torna-se pouco convincente. Pior que isso, a oferta de armas pode encontrar um gravíssimo problema pela frente: a contracção da procura de armamento.
Torna-se pois imperioso fabricar um inimigo. E saber alimentar o ódio ao inimigo.
Se forem seguidas estas regras, as máquinas registadoras do comércio de armamento logo começaram a debitar dividendos...

Resistir aos microfascismos

O fascismo de capacete e botas altas fez época.
O poder está em toda a parte, tendo o microfascismo substituído o totalitarismo fascista.
Ora como combater este microfascismo? Através de microresistências.
Construir individualidades esclarecidas, fortes, serenas, poderosas, decididas, voluntárias, que se sintam bem consigo mesmas, é a condição para estarmos bem com os outros.

Contra a República de Platão (fechada, totalitária, hierarquizada, racial) propomos um Jardim de Epicuro (aberto, livre, igualitário, amistoso, cosmopolita) já não confinado a um espaço arquitectural, mas nómada, móvel, irradiando a partir de si num «devir revolucionário dos indivíduos»

(Excertos de um texto de Michel Onfray publicado no Le Monde Diplomatique de Novembro de 2004)