21.8.05

Na senda da poesia


( notas de leitura retiradas a partir do livro de Ruy Belo, «Na Senda da Poesia»)

A poesia já procurou produzir os efeitos da pintura, da música e da escultura. A fórmula horaciana «ut pictura poesis» teve imensos seguidores. Verlaine ( em França) e Pessanha ( em Portugal) ambicionavam produzir efeitos musicais através das palavras. A poesia concreta pretende também converter a poesia numa arte do espaço.


A poesia sempre foi uma aventura da linguagem

A poesia é, por natureza, revolucionária, na medida em que introduz a renovação na sensibilidade e na linguagem.

A interpretação é importante. Quando não é possível a interpretação de uma obra, desaparece um momento capital, tão importante quanto o da criação.

Pode-se simular a poesia de 3 maneiras: encobrindo a ausência de problemas humanos sob as vestes veneráveis do esteticismo; adoptando os preceitos de uma corrente literária sem, por incapacidade, pulsar ao ritmo do princípio vital que a anima ou animou; finalmente, recorrendo a uma musa alheia que tutelarmente cubra a obra de um criador.

A violência, o carácter revolucionário da verdadeira poesia – como se a poesia pudesse, sem se negar, não o ser… - são dadas não tanto pelo domínio exclusivo de uma linguagem nova como pela irresistibilidade de uma experiência própria. A experiência é sempre imprescindível ao poeta, mesmo que só seja para dela se evadir através da arte…

Um poeta não é o mesmo que um literato (este é, simplesmente, um imitador)

Num poeta, a admiração por outrem é uma forma de experiência própria

A crítica de poesia não é coisa diferente da poesia na medida em que realiza o imprescindível reconhecimento da palavra poética. Poeta e crítico convergem no signo poético, partindo o primeiro do significado para o significante e o segundo do significante para o significado.

O maior crítico será aquele que no acto de juízo mais fielmente reconstituir, a partir das simples palavras e das relações entre elas, o ambiente em que decorre a grande criação.

Designamos por poesia nova, não a chamada poesia moderna, mas a poesia sem mais, a poesia de sempre, incluindo naturalmente aquela que, nos nossos dias, se apresenta como a única capaz de se projectar no futuro, por ter plasmado, ou pressuposto, o nosso tempo. Moderna, teve em qualquer idade de o ser, a poesia para viver e sobreviver.

A novidade pertence à própria essência da poesia. Toda a palavra nova é, constitutivamente, uma palavra poética.

É próprio da arte, fingir. Horácio falou de fingere carmina, Suetónio de fingere poemata. A arte é fingimento. Cria uma realidade própria. Dá uma nova efígie às coisas da natureza e da vida.

A obra de arte, uma vez conseguida, tem uma existência objectiva. Vale por si mesma. Terminado o acto poético que lhe deu origem e a veio inserir na história, rompe-se a relação umbilical com o seu autor. Doravante, este encontrar-se-á perante a sua obra na situação de um crítico. Depois de esgotado o acto poético, só é possível o acto crítico.

A poesia é, como a música, susceptível de uma interpretação. Em certo sentido, a interpretação é uma segunda criação. É uma adesão imediata ao espírito da arte.


Em relação à história universal ou nacional, tais autores ( os que realizam uma autêntica actividade criadora de vida espiritual, maxime os poetas) procuram antecipar certas ideias, símbolos e crenças. O leitor fica lá atrás. O poeta vai à frente, pelos caminhos da arte.


O fenómeno da corrupção da palavra poética é quando a palavra que, da boca do poeta, nasce para um círculo de música, ingressa depois nas relações diárias e é submetida ao comércio de todos os homens. Antes que muitas das palavras anichassem na boca do povo, foram mastigados por um poeta originário. É, sem mais, o destino das frases feitas. Alguém as fez e esse alguém, quem quer que fosse, era um poeta. Basta que nos lembremos de expressões tais como «o cair da tarde», «olhar para ontem»,…

A palavra poética é o inverso da palavra prática

A palavra prática, útil, deixa de ser uma fonte de conhecimento, e até se esquece que o foi. Converteu-se num vaso que contém um significado. Na escola, o professor falará de sinónimos, orações e gramática. Nessa altura, a palavra foi deslocada da sua missão original. Resta-lhe a possibilidade de ser purificada através de parábola ou da metáfora ou da imagem ou do símbolo.

Depois da palavra usada e devassada, depois de ela ter servido nas relações habituais entre os homens ou haver funcionado como termo de um conceito, o poeta pode voltar a intervir para a elevar à sua primitiva origem poética. A palavra poética é, portanto, aquela em que não se perde a memória da primeira imagem e da metáfora que a gerou. Se essa memória se perde, só um poeta descobrirá nela aquela vitalidade originária capaz de a restituir ao seu primeiro latejo ou inventando-a radicalmente no sentimento e na fantasia

Ao proceder assim o poeta passa por cima do significado e abdica das relações com a lógica, e das relações com a imagem. A gramática dá um nome àquilo que o homem vê, mas é a lógica que depois aponta para ele. A poesia, porém, abre mão quer de uma ( oratio) quer da outra ( enunciato)

A palavra prática é o termo de um conceito

Diferentemente, a palavra poética é o termo de si própria, é matéria e forma, voz e sinal

Em Vitorino Nemésio encontramos uma distinção paralela, correspondente aos dois reinos atrás referidos, que se encontram na psique humana: a phantasia (onde reside a palavra poética) e a cogitatio ( onde está a palavra prática)


A palavra que a poesia utiliza é surpreendida, num momento dinâmico, por um acto de criação ou de purificação. No princípio, toda a palavra seria poética. Manter-se-ia o drama que lhe deu origem. Não haveria nela rigidez alguma. É esse, hoje e sempre, o encanto da poesia. A sua palavra situa-se entre a natureza e o espírito. É arte. É uma palavra que continuamente se faz, que é devir. Está ali, mas está para um sentimento sobre a qual ela se levanta. Vive, porque em cada momento a recriam. Sempre que um poeta, ao criar hoje um verso, purifica uma palavra, rompe as relações de vizinhança, que ela mantinha especialmente com um conceito…Toda ela é emoção criadora. Está-lo sendo continuamente. Sobre ela não pode conceito algum poisar a cabeça. É uma palavra sem história, sem património, sem árvore genealógica. Quando for útil terá uma situação estável, mas haver-se-á comprometida. Terá perdido a sua liberdade.

Característica essencial da poesia: a novidade. A novidade seria tão conatural, tão própria da palavra poética, que toda a palavra nova recentemente nascida, despertaria em nós emoção idêntica à que só a poesia tem a virtude de desencadear.

Todos os filósofos consideram fingida toda e qualquer palavra; poucas são aqueles que defendem a existência de relações naturais entre as palavras e as coisas por elas designadas. Mas se toda a palavra é fingida, então é no modo e no grau particular de fingir que radicará a distinção entre palavra poética e palavra prática.

A palavra poética é uma palavra universal (1ª) Porque é significativa. Com efeito, a palavra poética não pode ser meramente expressiva ( a palavra expressiva é essencialmente transitória, é filha de uma situação e morre com ela), pois a palavra poética apresenta uma particular independência em relação à coisa. (2ª) A palavra poética tem de vigorar para além da conjuntura que se verificou com o nascimento. Tem de subsistir, muito embora as coisas sejam transitórias. Tem de vencer o tempo. A sua vida tem de dar testemunho das circunstâncias que a viram nascer. (3ª) A palavra poética é abstracta, pois embora haja um facto concreto na sua origem, não está vinculada a esse facto, existe como mensagem de uma experiência.

Mas, apesar de tudo, a palavra poética é a mais expressiva, a mais transitória, a mais concreta de todas as palavras universais. É uma palavra de encruzilhada. É significativa porque é livre, com uma liberdade que a torna fim de si própria. Não está amarrada a conceito nenhum. Recusa-se a ser útil, a servir. É independente de tudo o que arrasta consigo o compromisso de apontar para alguma coisa, muito embora essa coisa já se disfarce sob as vestes de um conceito. E, no entanto, é expressiva. É memória de um caso humano. É ela própria um conteúdo vivo. Luta contra o tempo, vence-o; e, não obstante, a cada passo morre. Não há quem a reconheça, quem a identifique na sua antiga estirpe. Tem de ser purificada. É abstracta, dita depois de muita experiência, e existe singularmente, com o vigor de uma única vez.

A palavra de arte evoca uma situação. Por isso, não pode ser arbitrária, não pode renunciar à virtude de comunicar, embora tenha de se rodear de um certo mistério. Aí reside o seu eclectismo. Ela é tomada materialmente e não no seu aspecto formal, na função que desempenha.

A palavra poética não é uma imitação da realidade. É uma nova realidade.

A palavra poética é mais rica do que a própria coisa individual. É surpreendida como relação. É um pequeno mundo cheio de amor. É o pretexto para uma emoção que é ela própria e que o poeta transmite como a viveu.

Apetece perguntar: então a poesia estará toda ela nas palavras?

Quem leva a sério as crianças ou os loucos, que falam por falar? Não se compreende que a pessoa sensata tenha conversas sem nexo. Ora o poeta tem precisamente essa ousadia: emite palavras sem cobertura, isto é, vê-as em si mesmas, sem conceitos por trás. Quando se diz, por exemplo, que «é preciso reaprender o Outono», essas palavras e a ligação entre elas começam e acabam em si mesmas, não há nenhum resultado prático a atingir. Nem ele mesmo acredita que, quando em Outubro abrirem de novo as aulas, os pais mandem as crianças à escola para aprenderem o Outono. Elas vão mas é aprender a ler.

Em poesia, as palavras aparecem sempre deslocadas de um fim imediato. Entre os homens que falam, o poeta é aquele que depura as palavras.

Quando o poeta, no seio de um poema, profere a palavra árvore, o que faz não é utilizar um conceito a que houvesse sacrificado todas as opulentas árvores de pássaros que diariamente encontra no seu caminho. Em vez de se sujeitar à abstracção que o conhecimento pelos meios lógicos impõe, é como se utilizasse uma verdadeira árvore, com os seus pássaros, as suas folhas, a sua sombra, a sua tristeza ou alegria. Apenas se limita a dar a essa árvore uma nova vizinhança: ou Deus, ou a infância, ou, talvez, o pressentimento da morte. Como é que ele conseguirá criar assim uma árvore tão viva? Pegando na palavra em si, rompendo talvez as suas relações habituais com outras palavras, dando-lhe outras novas, que, através do choque, da surpresa, do inaudito, a cerquem e a iluminem de determinada maneira e a rodeiem de silêncio.

O poeta serve-se das palavras – melhor seria dizer: serve as palavras – como o pintor mistura as sãs tintas. Escolhe-as pelo que elas têm de som, de ritmo, pela sua condição social, pela sua árvore genealógica. Dá-lhes novas ligações e é como se as fizesse esquecer a casa dos pais. Aí temos uma palavra novinha em folha, livre, isenta ainda de qualquer servidão, próxima da fonte, com o seu peso, a sua densidade, o seu volume, a inaugurar um espaço que só pode ser poético. Como é isto possível? É que cada palavra é um infinito e exerce sobre nós o sortilégio que o seu poder mágico lhe permite. Não há bem mais humano do que a palavra, de tal maneira que ela até compromete na inteligência do homem toda ou quase toda a sua existência. Ela ajuda a criar, e participa da história do homem. Daí que pô-la em jogo seja movimentar um universo.

A palavra é humana até na sua natureza social. Ela própria diz relações com outras. Tem também a sua família, parentesco ou afinidades, repulsas e simpatias.

Basear a poesia na palavra poética não significa portanto uma pobreza de vistas, nem se pode acusar de qualquer forma de atomismo quem isola esta para caracterizar aquela. Concebendo a palavra por natureza relativa a outras, vendo-a em movimento no verso e no poema, nunca há o perigo de que o corte imposto pela análise a mutile. Ao passearmos de palavra em palavra, pelo poema fora, não deixamos a poesia escorrer por entre elas. Concluímos que o poema não é mais do que o lugar onde as palavras convivem umas com as outras.

Platão fazia realçar a inspiração. Depois, vieram Aristóteles e os poetas clássicos, que chamaram a atenção para a arte: para a técnica, para o poema. Depois, os românticos debruçaram-se sobre o processo psicológico que se verificava na alma do poeta. Depois, o resultado voltou a atrair para si todas as atenções. Hoje, a crítica contempla o resultado transcendente da actividade psíquica do poeta. É nesse sentido que Saint-Exupéry diz: «Eu não conheço a beleza, mas coisas belas» ( isto é, «eu não conheço a poesia, mas poemas).

O poema é um acto de renúncia: renúncia a todos os outros poemas possíveis. A liberdade do poeta só é grande fora do acto de criação. Quando as primeiras palavras lhe começam a cantar nos olhos ou nos ouvidos e a emoção que experimenta se vai definindo, mais do que acumular palavras, o poeta vai sucessivamente renunciando a elas, àquela palavra, sem contemplações, inexoravelmente.

O poema só é possível por uma grande falta de objectividade. Para que o poeta, cidadão necessariamente comprometido na vida prática, ceda à tentação das palavras, tem a emoção de fazer esquecer a terra que pisa e de lhe acenar com essas palavras, aparentemente tão insignificantes.

O poeta ao exclamar «passaram as coisas velhas, eis que tudo se faz novo», pode estar a concretizar a verdadeira essência da poesia.

No poema, a tensão lírica é assegurada menos pelo recurso a palavras novas ( característica da prosa) do que pela exploração da novidade das palavras (utilizadas na poesia). Como exemplo disto temos o caso de Aquilino Ribeiro e Miguel Torga. O primeiro, essencialmente prosador, obtém a temperatura do texto pela abundância e variedade das palavras empregadas. Miguel Torga, pelo contrário, dedica-se a lapidar as palavras e as relações entre elas: quando lhe saem das mãos, após esse trabalho de artista, como que têm volume.

Mallarmé, ao utilizar pela primeira vez na história da poesia, o espaço, veio realmente levantar um problema importante.

Na poesia gostamos de parar em cada verso de um poema; na prosa, a sua leitura impele-nos para a frente, sempre para a frente.

É certo que um poema deve ter unidade, designadamente unidade de ritmo. Hoje mesmo, que a poesia se tornou mais poética devido à exigência daquela «tensão lírica» de que fala Garcia Lorca, essa unidade tem de existir, graças possivelmente aos vários processos de que o poeta dispõe, como a anáfora, a enumeração caótica ou o inventário, as estruturas fonéticas, a arbitrariedade procurada entre as palavras e a imagem, etc. Mas já não é preciso que ao poema corresponda uma unidade de emoção, pois o poeta pode escrever muitos poemas num curto espaço de tempo.

O poema é um objecto, uma coisa do mundo exterior, uma vez terminado. Passa a ter existência própria, e só o nome do autor lembra a quem o ler aquele que lhe deu as palavras para subsistir. É um corpo vivo, e são as exigências de autonomia, de emancipação, que asseguram e delimitam a sua fundamental unidade.

Perguntar-se-á agora: poderá a poesia ser imoral?

Viu-se que a palavra comum, embora fictícia, não cria, ao ser empregada, isto é, ao ser posta em movimento, uma nova realidade. A palavra poética, essa sim, porque não só é fictícia, como também actua na medida em que o é. Aliás é duas vezes fictícia: no seu nascimento e na sua vida. Por isso, quando um artista recorre à sua disponibilidade e a põe em exercício, essa palavra cria uma realidade diferente da realidade. A arte transfigura a vida. O artista começa onde acaba o homem.

A moral incide sobre a vida, julga os actos do homem.

A obra de arte, uma vez realizada, tem existência objectiva, independente de quem a criou. Se os gestos do artista, enquanto actos humanos, revestem incidência moral, a obra ultrapassa a responsabilidade do homem


Sócrates tinha medo da poesia, embora esta lhe merecesse todo o respeito. Com efeito, Sócrates não podia ter mais consideração por ela do que pela verdade. Dizia ele: «é preciso travar uma grande luta. Nada deverá distrair os cidadãos da nova república; nem sequer a poesia.»

Platão leva Sócrates a defender que é preciso expulsar os poetas da cidade. As palavras dos poetas são um perigo para os ouvidos de homens que querem ser livres. Só que o que fazem é criar fantasmas, que afastam os homens da contemplação da verdade. Comprazem-se em jogos de palavras, são charlatães de ilusões, criam uma arte que é mentira. Se querem continuar na cidade devem demonstrar que a poesia, além de agradável, é útil ao Estado e à vida.

A poesia não é nem pode ser aquela «imitação das acções humanas levada a cabo para servir de norma de conduta na vida» como Torquato Tasso queria. Não significa isso que o poeta não venha a escrever para se tornar melhor a ele próprio ou para tornar melhores os outros. Mas a pretensão de fornecer ao poeta cânones ou preceitos acabaria por fazer com que a sua palavra deixasse de formar por via das formas e passasse a ser moral ou retórica..
Impor à arte um fim contingente, por muito nobre que ele seja,significa comprometer a sua autonomia.

A melhor maneira de assegurar a justa medida nas relações entre a moral e a arte é começar por defender a autonomia que esta efectivamente possui. A palavra artística e a acção humanitária integram-se em duas ordens distintas. A conclusão impõe-se, pois: a obra e o artista, na medida em que o são, não podem deixar de ser absolutamente amorais.

A arte não pode ser imoral sem se renegar, sem comprometer a sua inocência. Quando a palavra chegou a ser verdadeiramente depurada pelo seu ingresso na arte, ela não pode ser imoral. Ninguém negará que Dante, no episódio de Paolo e Francesca, narre um facto torpe; no entanto, a elaboração artística liberta-o da imoralidade de que enfermava como facto da vida real.

É esta a suprema autonomia da arte: a palavra poética, quando o é verdadeiramente, nunca pode deixar de ser pura.

A arte, em princípio, não pode ir contra a moral, porque se integra numa outra ordem e porque, além disso, essas contradição repugnaria à sua própria natureza.

A poesia que se ensina, será a melhor poesia? E será possível ensinar poesia? Muitos de nós fomos educados no estudo de uma poesia onde não a menor invenção de linguagem, o menor achado artístico. Parece assim que não nos deram a ler os verdadeiros poetas e, se num caso ou noutro o fizeram, talvez não nos tenham seleccionado as respectivas composições segundo o critério que melhor serve a poesia, isto é, segundo a função poética da linguagem.

Não será que poesia e educação são duas coisas diferentes, dificilmente conciliáveis, e as mais das vezes opostas?

Pode-se entender a poesia como o exercício da sabedoria da linguagem. Por outro lado, linguisticamente falando, a poesia configura-se como a violação, o afastamento em elação a uma norma que é a linguagem usada nas relações habituais entre os homens. Há um certo carácter revolucionário inerente a toda a boa poesia, e a revolta nos temas ou motivos pode facilitar um certo vigor que nunca deve deixar de existir ao nível da expressão.

É claro que a poesia poderá e deverá ser útil, desde que não atraiçoa sua natureza. Assim, o ideal seria o poeta ter em consideração os interesses permanentes da comunidade, desde que não atraiçoa a natureza da poesia para os servir.

A espontaneidade da poesia: a poesia, como tudo o que é humano, custa. Não é um escolho arranjar uma rima? Não é difícil escrever um soneto? Mas o que é mais valioso é o poema em verso livre, o poema realmente moderno, sem rima ou com a rima levada a um tal excesso que se faça explodir, o poema cuja única norma é a beleza que, se é de um tempo determinado, vence o tempo, por se consubstanciar numa linguagem que, em vez de morrer, vive, viceja.

Poema simples não é o poema acessível, directo, chato, incapaz da menor invenção, mas sim o poema dotado da capacidade de surpreender num ápice, de provocar esse delicioso traumatismo que é a emoção estética. Se há uma poesia moderna é a poesia da surpresa, da aventura, do rigor. Pois não é lícita a aventura que não conduza ao rigor.

Foi lançado um cd para politizar os norte-americanos (Future Soundtrack for America)


Com vista a sensibilizar os norte-americanos para a política e sensibilizá-los para contestarem o seu presidente, acaba de ser editada uma compilação de temas musicais sob o título de Future Soundtrack for América.
Foram convidados a participar um leque variado de grupos indie.
As receitas da venda do cd reverterão para as associações que contestam a Administração Bush
O repertório do disco é composto de versões exclusivas de músicas feitas contra o presidente dos Estados Unidos.
Faixas como “Final Straw", dos R.E.M, em versão remix; e “Yoshimi Battles The Pink Robots”, dos Flaming Lips, ao vivo, são os principais destaques deste disco.


A lista completa dos temas e participantes:
OK Go - This Will Be Our Year
David Byrne - Ain't Got So Far To Go
Jimmy Eat World - Game of Pricks (BBC evening session)
Death Cab For Cutie - This Temporary Life
Blink-182 - I Miss You (James Guthrie mix)
Mike Doughty - Move On
Ben Kweller - Jerry Falwell Destroyed Earth
Sleater-Kinney - Off With Your Head
R.E.M. - Final Straw (MoveOn mix)
Bright Eyes - Going for the Gold (live)
The Long Winters - The Commander Thinks Aloud (future mix)
will.i.am of The Black Eyed Peas - Money
They Might Be Giants - Tippecanoe And Tyler Too
Clem Snide - The Ballad of David Icke
Yeah Yeah Yeahs - Date With the Night (live)
Fountains of Wayne - Everything's Ruined (acoustic)
Nada Surf - Your Legs Grow
The Flaming Lips - Yoshimi Battles the Pink Robots (live on the BBC)
Old 97's - Northern Line
Laura Cantrell - Sam Stone
Tom Waits - Day After Tomorrow
Elliott Smith - A Distorted Reality Is Now A Necessity To Be Free

Bebe, uma nova voz feminina, canta um Ska de la Tierra


Uma nova voz feminina surgiu na música cantada em castelhano. Chama-se Bebe e o seu primeiro cd, Pafuera Telarañas é uma bela surpresa.
Deixamos aqui excertos de algumas letras das canções incluídas no cd que falam da violência doméstica, da paixão e da terra ferida


«Mi carita de niña linda
Ha ido envejeciendo en el silencio
Cada vez que me dices puta!
Hace tu cerebro más pequeño»
( in «Malo»)



«Hoy es una mujer
Que se da cuenta de su alma
Hoy vas a descubrir
Que el mundo es solo para ti
Que nadie puede hacerte daño
Hoy vas a comprender
Que el miedo se puede romper
Con un solo portazo
Hoy vas a hacer reír
Porque tus ojos se han cansado
De ser llanto
Hoy vas a conseguir
Reírte hasa de ti
Y ver que los has logrado
Hoy vas a sé la mujé
Que te dé la gana de sé
Hoy te vas a queré
Como nadie ta sabio queré
Hoy vás a mirá palante
Que patrás, ya te dolió bastante
Una mujer valiente
Una mujer sonriente
Mira como pasa….
Hoy no has sido la mujer
Perfecta que esperaban
Ha roto sin pudores
Las reglas marcadas
Hoy ha calzado tacones
Para hacer sonar sus pasos
Hoy vas a descubrir
Que el mundo es solo para ti
Que nadie puede hacerte daño
Hoy vas a conquistar el cielo
(…)
(in «Ella»)



«La tierra tiene fiebre
Necesita medicina
Y un pokito de amó
Que le cure la penita que tiene
La tierra tiene fiebre
Del dolor más doloroso
Y es que piensa que ya no la kieren
Es que no hay espeto
Por el aire limpio
Es que no hay respeto
Por los pajarillos
Es que no hay respeto
Por la tierra que pisamos
Es que no hay respeto
Ni por los hermanos
Es que no hay respeto
Por los que están sin tierra
Es que no hay respeto
Y cerramos las fronteras
Es que no hay respeto
Por los niños chiquininos
Es que no hay espeto
Por las madres que buscan a sus hijos
La tierra tiene fiebre…
Es que no hay respeto
Y se mueren de hambre
Es que no hay respeto
Y se ahoga el aire
Es que no hay respeto
Y hoy lloran mas madres
Es que no hay respeto
Y se mueren de pena los mares
Es que no hay respeto
Por las voces de los pueblos
Desde los gobiernos
Es que no hay respeto
Por los que huyen del doló
Es que no hay respeto
Y algunos se creen Dios. Aah…

( in «Ska de la Tierra»)

Cineastas contra magnatas


Acabou de ser produzido, e está em vias de ser estreado nas salas de cinema de Espanha, um documentário, com o sugestivo título «Cineastas contra Magnatas», constituído por testemunhos de realizadores e actores( Woody Allen, Pollack, Done, Liv Ullman, Garcia Belanga, etc) e que visa denunciar a manipulação abusiva por parte das grandes empresas cinematográficas da indústria do cinema sobre os filmes contra a vontade dos respectivos autores.
Exemplos desses abusos e manipulações são os cortes feitos às películas, assim como a massiva conversão dos filmes a preto e branco a cores sem autorização nem sequer conhecimento dos realizadores (ou seus representantes), com o óbvio objectivo de tornar mais «apetecível» a mercadoria, em detrimento da criação artística