29.1.07

Marcha contra a guerra do Iraque juntou mais de 100 mil em Washington




Milhares de opositores à intervenção dos Estados Unidos na guerra do Iraque realizaram no Sábado passado, 27 de Janeiro, um enorme marcha em Washington que contou com a presença de milhares de manifestantes e que pretende marcar o início de um movimento a nível nacional, de uma ponta a outra dos EUA, a favor da retirada das tropas norte-americanas.
Entre os manifestantes via-se figuras conhecidas como Jane Fonda ( que teve um destacado papel na luta contra a guerra do Vietname, que lhe valeu de resto o cognome dado pelos conservadores de «Hanoi Jane»), Susan Sarandon, Sean Penn e o rev Jesse Jackson

Mais de 100.000 pessoas participaram na Marcha convocada pela aliança United for Peace, e que foi integrada por várias associações e activistas vindos de todos os lados do território norte-americano.

http://www.unitedforpeace.org

A suprema elegância do ler o jornal!

Ler o jornal: suprema elegância nos dias de hoje!

Quando observamos hoje os jovens dentro dos cafés dá a impressão que lhes falta algo de essencial na sua vida: a arte e o estilo de andar com um jornal. Sentados, com os olhos virados para o écrã de um computador, algumas vezes com fios que lhes saem das orelhas, o seu quotidiano oscila entre a viagem na MySpace, essa patética enciclopédia, e um vídeo de um tipo qualquer a dançar a macarena. Como é triste e deprimente que, hoje, quase ninguém saiba quanto a leitura de um jornal é um dos segredos da elegância. Esquecemos aquelas frases tonitruantes sobre a função da imprensa numa democracia – e encaremos a situação de um outro ângulo: o jornal como uma questão de estilo.

Quer esteja sentado ou de pé, dentro ou no exterior, apoiado negligentemente contra a parede ou com os pés sobre a secretária, a leitura de um jornal permite desenvolver-vos um rico vocabulário gestual. Com um movimento de braços abrimo-lo ao mesmo tempo que se faz sentir o som de barulho do papel, e todo o nosso estilo se descobre na maneira como viramos as folhas e como percorremos com o nosso olhar os títulos e os blocos de notícias, os nossos olhos dançam sobre as infelicidades do mundo antes de passar para outra coisa até que num golpe seco fechamos o jornal, o dobramos em dois, depois em quatro, e colocamo-lo debaixo do braço ou dentro do bolso do sobretudo. Cary Grant, Spencer Tracy, Jimmy Stewart e todos os grandes actores utilizaram um jornal para mostrar o seu estilo. Indiscutivelmente folhear um álbum de fotos de uma criança, agora com 18 anos, mais o seu gato, é coisa que não tem estilo algum.
Um tipo sentado diante de um portátil é como um homem sentado numa secretária. Onde está aí o estilo? Inclinado para a frente, com a cabeça entre os olhos, o olhar vidrado, saliva no canto dos lábios, enquanto olha, fascinado, o vídeo do pescador caído sobre a sua barcaça. O leitor do jornal é, antes de mais, um mosqueteiro, um samurai. Ter um jornal, e lê-lo, permite exprimir-vos, tal como Coltrane com o seu sax. Basta para isso observar algumas regras muito simples:

1.Se quereis mesmo fazer sensação não compres só um jornal, mas três ou quatro. Toda a pessoa que entre num café com 4 jornais sob o braço é vista automaticamente como um sábio. Se for jovem, é um sábio de informática. Se não o for, e se tiver ainda o pijama debaixo do seu impermável, é certamente um sábio excêntrico.

2.Demorai o vosso tempo para abrirdes o jornal. Já conheceis a música, apreciai então o perfume; se o leres é justamente para saber o que os outros sabem, logo não há pressa.

3. Uma vez aberto, não levanteis nunca os olhos a menos que alguém vos chame pelo vosso nome. Não vos deixeis distrair, mesmo se uma loura com umas pernas intermináveis atravessar a sala deixando atrás de si eflúvios de tabaco de menta e perfurme de marca. Não vos esqueçais: vós sois aí o actor, os outros não são mais que o público, pelo que importa que desempenhaiss cabalmente o papel.

4.Percorrei a primeira página, os títulos, mas não fiqueis aturdido, nem vacileis com acabeça. Tende estilo. Ide directamente às páginas culturais, depois à da banda desenhada, às de política internacional e, finalmente, aos casos do dia. Nesta pirâmide invertida de informações está todo um estilo de viver.

5. Depois de ler um ou dois artigos, recortai-os e enfiai os dois recortes no fundo dos bolsos do casaco. Fazei isso não de uma forma banal e negligente, mas com alguma urgência de maneira a emprestar ao acto uma aura de mistério.

6.Quando terminardes de ler o jornal, fechai-o e mexei levemente a cabela (não há analogia possível para um portátil). Um gesto de desdenho que deve singificar: «Agora é que eles vão ver! Basta de palavras! Para diante é que é o caminho! Para as barricadas!»

7. Tudo isso não deve durar mais de 20 minutos. Conheço um tipo, quase da minha idade, que cresceu com os dedos cheios de tinta de tipografia, mas que, por razões que sou incapaz de explicar, virou-se para a leitura da imprensa pela net.Visita regularmente os sites do Times, do Washington Posto e da Slate, mas acaba sempre por ir dar a um site de video onde uma matrona austríaca com grandes tetas vos dá ordens. Com os olhos fulminados pelos da mulher, ele parece que ouve: «acaba o teu trabalho, maldito sejas!, antes de fazer uma ou outra visita que ele toma como transgressões imaginárias suas. E se ele tem a intenção de desligar o aparelho a valquíria logo lhe põe aos berros antes de lhe mandar um rotteweiler com ar ameaçador. Ele acaba, no fundo, por ser um prisioneiro do seu portador, e os seus dias são lixados.

Coisas deste género acontecem sem darmos conta. A internet acabará por vos queimar vivos. Com os jornais, não. Vós tendes 20 minutos, não mais. E depois é a vida, a vida que tendes de escolher.

Tradução livre e adaptada de um texto de Garrison Keillor, publicado no Le Monde de 20 de Janeiro de 2007
Nota do tradutor: dada a natureza paroquiana da imprensa escrita portuguesa (nas mãos dos grandes grupos económicos) não nos responsabilizamos pelos eventuais danos que a sua leitura possa causar ao leitor mais incauto. Existem excepções, é certo. Por exemplo: a edição em português do Le Monde Diplomatique.

28.1.07

Premiado o matemático que provou que o «caos é a regra»

A ideia de que o bater de asas de uma borboleta pode provocar uma tempestade no outro lado do mundo é talvez a metáfora que melhor explica o campo de estudos em que se destacou Marcelo Viana, o matemático luso-brasileiro de 44 anos que acabou de receber o Prémio Universidade de Coimbra 2007.

Os sistemas dinâmicos, uma das áreas mais importantes da matemática pura e aplicada, são os modelos matemáticos decritivos da evolução da realidade ao longo do tempo. No fundo, estudam as minúsculas alterações nas variáveis de um sistema – hoje conhecidas como comportamentos caóticos – que podem provocar mudanças dramáticas no comportamento de todo esse sistema. Como explicou João Filipe Queiró, matemático e membro do júri do Prémio Universidade de Coimbra, «pequenas causas podem provocar perturbações enormes nas consequências».

A par da medicina, da biologia ou da economia, a meteorologia é uma área que beneficia do estudo dos sistemas dinâmicos. Estes ajudam a calcular o impacto que pequenas oscilações nas variáveis em causa vão ter sobre o estado do tempo no futuro. Apesar de tudo, actualmente, ainda é muito difícil fazer previsões meteorológicas rigorosas para mais de três dias.

O prestígio adquirido pelo premiado advêm dos trabalhos por ele desenvolvidos ainda na década de 1980 sobre a dimensão e o significado dos tais comportamentos caóticos.

Marcelo Viana veio provar, nomeadamente, que, «para uma grande classe dos sistemas dinâmicos, o caos não é a excepção, mas a regra».

Licenciado em Matemática em 1985 pela Universidade do Porto, Marcelo Viana segue para o Brasil onde vai passar a residir e faz o doutoramento no Instituto de Matemática Pura Aplicada (IMPA), o instituto de matemática mais importante da América Latina, e de que se torna director adjunto.

Fonte: Jornal de Notícias (26 de Janeiro de 2006)

O tráfego automóvel reduz o desenvolvimento pulmonar


As crianças que vivam nas proximidades de uma estrada com uma forte intensidade de tráfego têm um desenvolvimento pulmonar reduzido e é maior o risco para a sua saúde quando atingirem a idade adulta, segundo as conclusões de um estudo publicado na revista britânica de medicina The Lancet.

Mais de 3.600 crianças e adolescentes residentes no sul da Califórnia foram acompanhados durante 8 anos, entre os 10 e os 18 anos. As suas funções pulmonares foram medidas em cada ano. Os resultados são conclusivos: aqueles jovens que viveram a menos de 500 metros de uma estrada com forte intensidade de trânsito automóvel revelaram «défices substanciais» no desenvolvimento das suas funções respiratórias em comparação com aqueles outros que residissem a uma distância maior de 1,5 Km de uma via de trânsito intenso.
Esse défice mentem-se ao longo de toda a vida. »Quem sofra na infância de um défice nas funções pulmonares terá provavelmente pulmões menos saudável durante o resto da sua vida», afirma James Gaudeman. (University of Southern California, Los Angeles).
Ora sabe-se que uma reduzida função pulmonar na idade adulta é um factor de risco importante para as doenças respiratórias e cardiovasculares.

Crianças não-asmáticas e os não-fumadores sofreram défices significativos das suas funções respiratórias o que parece sugerir que todas as crianças que gozem de boa saúde são potencialmente afectadas pelo facto de estarem expostas ao tráfego automóvel. Tendo em conta estes resultados a conclusão é óbvia: uma redução à exposição da poluição automóvel levaria a significativas melhorias para a saúde pública. Algo que os legisladores deverão pois ter em conta quando aprovarem a regulamentação para a construção das vias e das casas.

«Estes resultados colocam importantes questões às sociedades sobre a estrutura do nosso sistema de transportes, sobre os motores, os carburantes, a combustão e a poeira das estradas dentro das áreas urbanas», declarou Thomas Sandstrom (University Hospital, Umea, Suède) no comentário acerca deste estudo e que o acompanha na última edição da The Lancet.

27.1.07

O desemprego mundial nunca foi tão alto

Pessoas sem lugar no mercado de trabalho eram 195,2 milhões em 2006.
Crescimento da economia não tem correspondência no aumento do emprego
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O mundo nunca teve tantos desempregados, pelo menos desde que as estatísticas os registam, como no ano passado.
O número dos que não têm emprego atingiu, em 2006, os 195,2 milhões de pessoas e os mais afectados são os jovens, indica o relatório Tendências globais de emprego 2007, ontem divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
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Mesmo com crescimento económico, e apesar de mais gente ter trabalhado, o número dos que não têm emprego cresceu em números absolutos, ainda que ligeiramente: os desempregados eram 194,7 milhões em 2005. Os dados preliminares sobre 2006 divulgados pela OIT indicam também que a taxa de desemprego quase não sofreu alterações: 6,3 por cento, face aos 6,4 por cento do ano anterior.
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Em muitas regiões do mundo não houve mudanças significativas de um ano para o outro. A redução mais notória do desemprego ocorreu nas economias desenvolvidas e na União Europeia, onde baixou 0,6 e se fixou em 6,2 por cento.
No caso de Portugal, a taxa de desemprego estabilizou em Novembro passado nos 7,1 por cento, segundo a informação divulgada no início deste ano pelo Eurostat, serviço de estatística da Comissão Europeia.
O valor mais baixo de desemprego continua a ser o do Leste asiático, com uma taxa de 3,6 por cento. Os índices mais elevados são os apresentados pelo Médio Oriente e Norte de África, com 12,2 por cento em 2006.
O Médio Oriente e o Norte de África são também as regiões onde é menor a percentagem de população empregada: 47,3 por cento em 2006. O valor mais elevado é registado no Leste asiático, onde, apesar de uma descida de 3,5 por cento na última década - explicada por um aumento da escolarização - a percentagem de população empregada é a mais elevada: 71,6 por cento. Na União Europeia, a percentagem de população empregada é de 56,7 por cento.O crescimento económico da última década reflectiu-se mais no aumento da produtividade do que na criação do emprego, refere a OIT, que ilustra a afirmação com números: crescimento de 26 por cento na produtividade contra apenas 16,6 por cento no emprego.
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Os mais jovens são os mais atingidos pela falta de trabalho: 86,3 milhões dos desempregados em 2006, qualquer coisa como 44 por cento do total, tinham entre 15 e 24 anos, indica a organização. Outra tendência que permanece é a do fosso entre homens e mulheres em matéria laboral. No caso das mulheres, a percentagem das que tinham trabalho, que era de 49,6 por cento em 1996, está em 48,9 dez anos depois. No caso dos homens, passou-se de 75,7 para 74,0 por cento.
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1,87 mil milhões ganham menos de 1,54 euros por dia
O relatório da OIT dá também conta de ganhos muito modestos dos 1,87 mil milhões de pessoas que têm remunerações mais precárias: 507 milhões ganhavam menos de um dólar por dia (77 cêntimos de euro) e boa parte destes vivia no Sul da Ásia e na África subsariana, regiões onde estavam concentrados 348,2 milhões. Outros 1,37 mil milhões ganham menos de dois dólares diários (cerca de 1,54 euros).
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"O forte crescimento económico da última meia década teve um impacto mínimo na redução do número de trabalhadores que vivem com as suas famílias na pobreza", declarou o director-geral da OIT, Juan Somavia. Para a organização, "é tempo de os Governos, bem como a comunidade internacional, assegurarem que as condições económicas favoráveis na maior parte do mundo se traduzam em criação de bons empregos".
A distribuição do emprego por sectores conheceu algumas modificações: de 2005 para 2006 o peso dos serviços no conjunto do emprego subiu de 39,5 para 40 por cento e ultrapassou pela primeira vez a quota da agricultura, que baixou de 39,7 para 38,7 por cento. A indústria ocupava no ano passado 21,3 por cento do total do emprego.
fonte: jornal Público

Fast Food Nation - Geração Fast Food (2006)


Fast food nation - filme de Richard Linklater, baseado no best-seller do New York Times e selecção oficial do Festival de Cinema de Cannes de 2006, é já considerado um dos melhores filmes políticos de um realizador norte-americano desde Fahrenheit 9/11 de Michael Moore

Para começar. Apetece-lhe um hambúrguer?

Se sim, então tudo começa com uma fatia de pão, um pedaço de carne mal passada, queijo derretido q.b., meia folha de alface, duas rodelas de pepino, uma de tomate, um molho branco que escorrega pelos ingredientes anteriormente enumerados e a mão do funcionário que empurra tudo com mais uma fatia de pão, desta vez com sementes, enquanto deixa sair uma cuspidela e um sorriso de satisfação. A caixa de cartão fecha-se à pressa e o 'the big one' está pronto para seguir no tabuleiro e fazer mais uma família americana feliz.



Este é o cartão de visita de Michey's, a cadeia de fast food que graças ao hambúrguer 'the big one' se está a tornar um sucesso de vendas. Por pouco mais de 4 dólares, qualquer americano pode comprar um 'the big one' ajustado ao seu paladar, que pode passar pelo sabor barbecue ou frango calipso, com um ligeiro toque de lima, e que dá direito a uma bebida 'super-preço'. Mas por detrás de tal degustação dos tempos modernos, sabem realmente os consumidores o que estão a meter à boca?


Os resultados de análises que indicam a existência de estrume na carne (e ameaçam o bom desempenho do negócio) levam a multinacional a enviar o seu inspector sanitário Don a Cody, uma localidade do Colorado, onde se encontram o matadouro e a fábrica onde a carne vendida pela multinacional é embalada. Uma vez chegado ao UMP (Uniglobe Meet Packing), Don é conduzido por um mundo artificial de brancura e desinfecção imaculadas, onde cada funcionário de avental fardado nasceu com a vocação inquestionável de separar a gordura da carne com um gancho de talhante.



Mas por detrás desta higiene aparente, Don vai conseguir averiguar que cada 'the big one' esconde estórias medonhas, como passadeiras rolantes por onde passam as vísceras mal lavadas, animais que são cruelmente maltratados e funcionários ilegais que perdem pernas e braços em acidentes de trabalho.À medida que cada "the big one" é trincado por uma boca de 1º Mundo que o pode comprar, dezenas de mexicanos continuam a saltar fronteiras em busca do novo sonho americano de ganhar dinheiro rápido com a comida rápida. Mas o único que encontram é um trabalho nojento e mal-cheiroso onde as cabeças de vaca rebolam sem olhos pelo chão do matadouro, a carne congelada é empacotada com vestígios de tripas e pêlo, e as trituradoras da fábrica engolem acidentalmente funcionários que antes de perderem alguma parte do corpo precisam de andar de galochas para que o sangue não lhes chegue até aos joelhos. Uma utopia de gente pobre seduzida pelo novo 'american way of life' que põe de lado a dignidade laboral e sexual em troca de um afortunado posto na fila dos que têm jeito para arrancarem rins de vaca.



Uma denúncia em estado cru do realizador Richard Linklater, que conta com as interpretações de Ethan Hawke, Greg Kinnear, Catalina Sandino Moreno, Patricia Arquette, Avril Lavigne e Bruce Willis.



Depois disto, será que ainda lhe apetece um hambúrguer?


Retirado de:
http://www.rascunho.net/critica.asp?id=1048

O Império Segundo Sócrates

retirado de:
www.vozdapovoa.com/diversos/opiniao.html

Texto de Artur Queiroz

A Oferta Púbica de Aquisição (OPA) da Sonae à Portugal Telecom faz lembrar os tempos em que Salazar assentava o seu poder em três pilares: a Igreja, a Repressão e o Império da CUF. O velho ditador percebeu que só conseguia impor a sua tacanhez e mediocridade se tivesse do seu lado o Poder Económico e fizesse do Poder Judicial um feroz aparelho de repressão ao serviço da ditadura. A PIDE e as forças armadas e militarizadas garantiam que ninguém ousaria pôr em causa o edifício salazarista. Hoje, José Sócrates, na senda de Salazar, faz tudo para pôr de pé o Império Sonae, dando a Belmiro de Azevedo, de mão beijada, a maior empresa portuguesa. De merceeiro açambarcador, com maior ou menor habilidade para as engenharias financeiras, Belmiro passa a ser detentor daquela que já foi a jóia da coroa do sector empresarial do Estado.

No primeiro dia da OPA, o principal noticiário da RTP convidou Rosado de Carvalho, um empregado de Belmiro de Azevedo, para comentar a operação. No dia seguinte, a Autoridade da Concorrência divulgava um estudo patético que dava gás às pretensões de Belmiro. Fora o árbitro, que está comprado! Ainda a poeira do estudo não nos tinha cegado de todo, já Judite de Sousa convidava o merceeiro do Continente para uma grande entrevista, na antena da RTP. Belmiro mostrou a arrogância própria de quem ostenta o título de homem mais rico de Portugal, insinuou que tem no bolso o Primeiro-Ministro, que só avançou com o negócio porque tinha garantias do Governo e ousou chamar pedintes aos accionistas de referência da PT que, na sua santa ingenuidade, proclamam que a empresa vale mais do que as cascas de alhos que o merceeiro quer dar. Puro engano de alma!

A Portugal Telecom não vale 9,5 euros como quer Belmiro nem 11,5 euros como avalia a administração da empresa. A Portugal Telecom pura e simplesmente não tem preço. O ministro das Finanças de Sócrates se não sabe isto, nem sequer serve para moço de fretes de uma mercearia. Se José Sócrates não sabe que o Poder Político se comprometeu a manter o controlo estratégico da empresa nas mãos do Estado, está a trair a boa fé dos portugueses. E não venham com truques baixos alegando que a União Europeia quer acabar com as “golden share”. Porque se mudam as regras que levaram à privatização da empresa, então o Governo tem a obrigação de fazer regressar a PT ao sector empresarial do Estado, custe o que custar.

Face à desgraça anunciada, os portugueses lá vão cantando e rindo a caminho da penúria absoluta. O Estado já pouco mais é do que um domador de funcionários públicos, proprietário de edifícios em ruínas, pagador de pensões de reformas e subsídios de desemprego. Os Belmiros ostenta os anéis que nos pertencem e arrotam milhões. Já é tempo de perceberemos que com o nosso silêncio e indiferença face a golpadas como a que está em curso na Portugal Telecom, somos cúmplices da morte anunciada do nosso futuro e do futuro dos nossos filhos. É tempo de nos interrogarmos porque razão a televisão do Estado está ao serviço de Belmiro de Azevedo no negócio da Portugal Telecom. E porque será que José Sócrates e o seu ministro da tutela estão a caucionar esta iniquidade sem nome.

Vive! Pensa! Lê! Aprende! Conhece! Age!

Escolhe a afirmação seguinte que melhor reflecte as tuas atitudes e o teu comportamento quotidiano, e serve-te das tuas respostas para te conhecer melhor :


Afirmação A = 0 pontos
Cito a Bíblia 10 vezes ao dia e leio o Correio da Manhã todos os dias


Afirmação B = 5 pontos
Sei tudo o que se passa no mundo do futebol

Afirmação C = 10 pontos
Não perco nenhum programa dos «Prós e Contras», compro e leio todos os livros da Margarida Pinto Rebelo, e acho imensa piada ao Herman


Afirmação D = 20 pontos
Sou vegetariano, amigo dos animais domésticos, mas gosto de comprar roupas de marca

Afirmação E= 30 pontos
Vejo e leio atentamente as notícias em casa, sentado no meu sofá, a comer biscoitos e a tomar chá, e leio habitualmente algum livro antes de adormecer

Afirmação F= 40 pontos
Gosto de me divertir, vou aos bares e discotecas, ouço e converso com os amigos e conhecidos, porque a vida são só dois dias, e o que temos é de a gozar ao máximo.


Afirmação G= 50 pontos
Sou um leitor compulsivo, amante do bom cinema, e um apreciador de arte


Afirmação H = 60 pontos
Pertenço a quatro associações cívicas, a uma cooperativa e sou voluntário de várias campanhas sociais, a nível nacional e internacional

Afirmação I = 70 pontos
Fui excomungado por várias igrejas, e expulso de diversos locais selectos por não suportar os convencionalismos bacocos dos hipócritas.

Afirmação J = 80 pontos
Gosto de ler literatura e poesia de vanguarda, escrevo os meus textos e tento lutar contra as injustiças sociais.

Afirmação L = 90 pontos
Tento levar à prática o máximo possível as minhas ideias ecologistas, vivo em comunidade, recuso-me a ver televisão e o ar abafado e as luzes artificiais dos centros comerciais atordoam-me.

Afirmação K = 100 pontos
Envolvo-me no activismo social, leio quer autores clássicos quer os marginais, e sempre que posso vou viver para junto da natureza


Conclusão: Ler jornais ou ver Tv não nos faz estar mais bem informados. Até pelo contrário: as notícias dos media são em grande parte enviesadas senão mesmo deturpadas. Mais importante do que isso é desenvolver uma contínua auto-formação alimentada por uma boa dose de curiosidade, e uma predisposição para apoiar e ajudar os mais carenciados a terem uma vida digna e autónoma. Pensar, investigar e explorar as questões à nossa própria custa constitui não só uma manifestação da nossa inteligência como um poderoso antídoto contra as manipulações de toda a espécie. E nunca fechar-se em dogmas e conclusões definitivas. Mostrar espírito aberto, inconformista e imaginativo. Agir a favor da justiça e da liberdade, no respeito pela natureza e dos outros.
Tudo isto pela simples razão de que a vida, a nossa curta vida é mais, muito mais do que futebol e televisão…

24.1.07

A descriminalização do aborto


Numa tentativa de contribuir para esclarecer o que está em questão quando se fala da descriminalização do aborto seguem-se algumas notas propedêuticas sobre o assunto que possam de alguma forma clarificar o tema.


Começaria por dizer que existem várias ordens normativas na nossa sociedade.
Entre outras, podem-se indicar as seguintes:
as normas religiosas ( exemplo: o direito canónico proíbe os padres de se casarem);
as normas consuetudinárias (os usos e costumes de uma região ou de um grupo social);
as normas morais ( não matar, etc)
as normas jurídicas ( que são elaboradas, aprovadas e impostas pelos Estados)

Acontece que entre estas várias ordens normativas podem haver coincidências ou divergências.


Exemplo de divergências:
- os padres não podem casar-se segundo o direito canónico mas já podem fazê-lo segundo o ordem jurídica estatal ( direito civil);
-divorciar-se é proibido pela norma religiosa mas aceite actualmente pela norma civil estatal
- ludibriar os outros através da publicidade pode ser legal, na ordem jurídica, mas ser inaceitável na ordem moral.
- tratar e cuidar dos parentes doentes pode ser uma norma moral, mas já não ser uma norma jurídica

Exemplo de convergência:
- não matar é uma norma comum à ordem jurídica e à ordem moral
- drogar-se pode ser condenável pela norma civil e pela norma moral

Para a questão do aborto importa sobretudo as normas consuetudinárias (usos e costumes), as normas morais e as normas jurídicas.

Quanto às primeiras ( usos sociais) é objecto de conhecimento geral que o aborto ( o «desmancho» na linguagem popular) é algo de habitual ( fala-se de milhares de abortos anuais) , já de há muitíssimo tempo, tanto nas classes altas como nas baixas, e o seu número só terá vindo a diminuir com os métodos contraceptivos, a que nem todos conseguem ter fácil acesso.



Pelas normas morais, e segundo a moral ( os valores, os princípios orientadores das nossas condutas) partilhada por certas pessoas o valor da vida é um valor absoluto, logo por consequência, o aborto seria um acto moralmente censurável.
(curiosamente este enunciado nem sempre se verifica, uma vez que alguns defensores desta tese admitem a pena de morte e a morte como consequência da guerra)



Para outras pessoas, outras normas morais se impõem e são tanto ou mais valiosas que o valor da vida. Dou apenas três exemplos:
a) aquele que dá a vida na luta pela liberdade, está implicitamente a colocar ao mesmo nível o valor da liberdade e o da sua própria vida
b) aquele que se suicida, porque algo na sua vida o atingiu tão fortemente ( ter sido desonrado, ter sido apanhado a roubar, etc), fá-lo porque para ele é impossível continuar a viver ( um valor mais alto se sobrepõe ao da sua vida)
c) uma mulher que interrompe voluntariamente a sua gravidez fá-lo porque outros valores se sobrepõem e são determinantes da sua decisão



Estes exemplos mostram como cada indivíduo tem a sua moral ( a sua consciência moral), e como a moral varia de época para época ( antigamente certos actos eram moralmente condenáveis, e hoje não o são) e de sociedade para sociedade ( os juros podem ser moralmente censuráveis numa sociedade e não o ser noutra)



Estes exemplos mostram também como é muito «feio» alguém impor a sua moral aos outros através dos mais variados artifícios ( imposição coerciva, ameaça e intimidação, do tipo «faz isto senão...»), pois o que importa é a formação e a educação das pessoas segundo certos e determinados valores e princípios que livremente escolherem para si como orientadores dos seus comportamentos dentro de uma comunidade humana, valores e princípios esses que devem estar em sintonia com todo o historial e todos os avanços da Humanidade, por maior que seja a sua diversidade cultural.


Finalmente temos a ordem jurídica, isto é, as leis produzidas e impostas pelos Estados modernos, desde que se formaram a partir do século XVII. Estamos aqui ao nível da chamada política legislativa que se desdobra em muitíssimas áreas ( legislação comercial, legislação ambiental, legislação criminal, etc).


O aborto é um acto que tem sido criminalizado em Portugal até este momento.
(recorde-se já agora que há pouco anos atrás a infidelidade no casamento era considerado um crime, o mesmo se passava com os actos homossexuais, etc



A descriminalização ( ou, então, a manutenção da sua criminalização) do aborto é pois uma questão de política criminal estatal. Trata-se de saber se, segundo determinados critérios, a sua criminalização ou a sua descriminalização satisfaz os interesses que o Estado (no entedimento dos governos ou dos deputados) ou os cidadãos (através de um referendo) consideram relevantes.


E neste plano é sobejamente conhecido que em quase todos os países europeus ( com a excepção de Portugal, Irlanda, Malta) os respectivos Estados consideraram que era do interesse social ( saúde pública, não humilhação para as mulheres, respeito pela escolha da mulher, etc, etc) que o aborto fosse descriminalizado, pois que o aborto clandestino trazia mais prejuízos e danos à mulher e à sociedade, pelo que foi legalizada e admitida a realização do acto de interrupção voluntária de gravidez de forma a garantir boas condições sanitárias e outros bens considerados de interesse relevante


E é neste ponto que nos encontramos em Portugal: saber qual dos dois, o aborto clandestino ou o aborto legal (sujeito a determinados condições: até às 10 semanas), serve melhor os interesses sociais em jogo ( do Estado, da mulher, e da sociedade).

Trata-se pois de uma questão de política legislativa ( mais exactamente de política criminal).

Claro que me podem dizer que atrás das normas jurídicas esconde-se uma moral. Sim, é verdade!

Só que há dois tipos de moralidade:

A - aquela concepção moral que se quer impor aos outros, nem que seja recorrendo a meios coercivos ( prisão, multa, sanção criminal)

B- aquela concepção de moral que parte do princípio que cada indivíduo é um cidadão livre e responsável que é capaz de desenvolver uma consciência moral por si próprio, respeitadora da pluralidade de opções que cada qual faz perante os dilemas existenciais da sua vida, sem querer impor pela força ( isto é, pela lei criminal) uma determinada moral e determinados valores, deixando portanto às pessoas auto-determinarem-se em função da sua consciência moral.

Falta falar finalmente do referendo e saber até que ponto ele constitui um dispositivo idóneo em plena «democracia parlamentar e representativa» para auscultar e retratar a opinião da população. Mas aí entraremos no terreno da teoria política ...

A Situação Global da Agricultura Transgénica

DEZ ANOS DE FALHANÇO E REJEIÇÃO GENERALIZADA

Foi divulgado hoje ao fim da tarde o relatório sobre o cultivo de transgénicos em todo o mundo publicado anualmente pelo Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), um organismo financiado pelas indústrias da biotecnologia e engenharia genética. O cenário cor-de-rosa e sem mancha apresentado pelo ISAAA, no entanto, choca directamente com a realidade e a rejeição demonstrada em todo o mundo por consumidores, agricultores, estados, regiões e concelhos, e até por empresas alimentares. Alguns exemplos recentes mostram os problemas, bloqueios e recusas que o ISAAA se esquece de referir.


Embora o ISAAA transmita a ideia de que os transgénicos obtiveram adopção generalizada, o total de área cultivada com transgénicos representa menos de 2% do total mundial de área agrícola. Além disso, 88% de toda a área cultivada com transgénicos está concentrada em apenas quatro países (Estados Unidos, Canadá, Argentina e Brasil).

Os primeiros transgénicos foram aprovados em 1994. Treze anos depois apenas duas características transgénicas (tolerância a herbicidas e resistência a insectos) e quatro espécies geneticamente alteradas (milho, soja, colza e algodão) são cultivadas de forma significativa nalguma parte do mundo.

• Há milhares de zonas livres de transgénicos declaradas por todo o mundo, em particular na Europa.
• Sete países da União Europeia proibiram variedades transgénicas autorizadas por Bruxelas devido aos riscos e incertezas associados à sua libertação no ambiente e consumo.
• A Roménia, identificada como um dos 'Mega-Países' que mais transgénicos cultivam (devido à sua produção de soja transgénica), proibiu já esse cultivo.
• Em 2006, devido a três ondas de contaminação com diferentes variedades não-autorizadas de arroz transgénico, a Associação de Produtores de Arroz da Califórnia pediu a proibição de cultivo de qualquer tipo de arroz transgénico, incluindo ensaios de campo.
• Os industriais de arroz dos dois maiores exportadores mundiais de arroz (Vietname e Tailândia) assinaram um acordo para se manterem livres de transgénicos.
• O supremo tribunal indiano suspendeu, para já, todos os cultivos experimentais de transgénicos no país.
• O governo chinês continua a impedir o cultivo comercial de arroz transgénico, apesar dos muitos esforços das empresas nesse sentido.
• Mesmo as empresas mostram resistência global aos transgénicos. A Kraft Foods, a segunda maior empresa alimentar do mundo, começou a vender à China produtos exclusivamente não transgénicos.
• Na Rússia a empresa Sodruzhestvo, que fornece 70% de toda a soja usada em alimentos e rações naquele país, declarou-se livre de transgénicos. Na Europa as maiores multinacionais do sector alimentar não vendem alimentos contendo transgénicos.
As estatísticas apresentadas pelo ISAAA apresentam falta de credibilidade e de rigor. Por exemplo:
• Há um ano o ISAAA anunciava o cultivo comercial de arroz transgénico no Irão. O governo iraniano veio depois desmentir tal afirmação, uma vez que não há qualquer cultura transgénica autorizada no país.
• Ainda no relatório do ano passado do ISAAA se afirmava que eram cultivados nas Filipinas 50 mil hectares de milho transgénico. A fonte indicada era o próprio governo filipino que, no entanto, não possui quaisquer estatísticas oficiais sobre a matéria. A discrepância levou um governante a afirmar que aquele número era infundado.
• O governo romeno anunciou que em 2005 tinham sido cultivados 87 mil hectares de soja transgénica no país. No entanto o ISAAA usou para esse país o valor de 125 mil hectares.
• Mesmo em países com sistemas de estatísticas consolidados o ISAAA tende a inflacionar os números. Nos Estados Unidos um estudo detalhado demonstrou que o ISAAA «engorda» os valores das áreas cultivadas em 2 a 9% relativamente aos números oficiais do Departamento de Agricultura.

O relatório de 2004 refere sete milhões de agricultores chineses que cultivam algodão transgénico. Em 2005 esse número já só atingia 6,4 milhões, sem qualquer explicação.
Em 2003 a Indonésia era anunciada como o 19º maior produtor mundial de transgénicos. Mas no ano seguinte este país nem sequer constava do mapa de produtores, mais uma vez sem qualquer explicação.

O ISAAA também se mantém silencioso no que toca a problemas de contaminação, processos judiciais contra agricultores provocados pela aplicação de patentes, aparecimento de ervas daninhas resistentes aos herbicidas aplicados nas culturas transgénicas, disfunções genéticas em variedades transgénicas, ou ainda sobre o custo económico dos sucessivos falhanços de uma tecnologia incontrolável e de má qualidade (exemplos disso são os escândalos Starlink, Bt10 e LL601, entre outros).




Transgénicos no Parlamento Europeu


CAMPANHA CONTRA RELATÓRIO EUROPEU MOBILIZA PORTUGUESES E FOMENTA ACÇÃO DE EURODEPUTADOS

Foi hoje votado na Comissão de Agricultura do Parlamento Europeu o Relatório Virrankoski sobre engenharia genética e transgénicos alimentares - Perspectivas e Desafios para a Agricultura na Europa (2006/2059). Este texto toma como certas as promessas sebastiânicas de uma indústria em sérias dificuldades por falta de mercado para escoar os seus produtos e prescinde de qualquer avaliação do que tem sido a experiência europeia real nesta área, nomeadamente a nível da contaminação resultante da coexistência impossível entre cultivos transgénicos e convencionais ou biológicos.


Graças a uma campanha dinamizada pela Plataforma Transgénicos Fora do Prato, uma estrutura informal que agrega numerosas entidades da defesa do ambiente e agricultura, dois eurodeputados portugueses na Comissão de Ambiente (a terceira eurodeputada - Ilda Figueiredo - indicou desde logo que votaria contra o Relatório) foram submersos por faxes e emails de portugueses indignados com esta tentativa de abrir as portas à manipulação genética irreversível da alimentação actual e futura.


Gualter Barbas Baptista, activista da Plataforma Transgénicos Fora do Prato, considera que "esta mobilização levou os visados [Duarte Freitas, PSD, e Capoulas Santos, PS] a ponderar de novo a questão e apoiarnumerosas emendas que, embora não reformulem totalmente o documento, lhe impõem mais precaução, rigor e independência". O Relatório acabou por ser aprovado com 22 votos a favor, 15 contra e 6 abstenções.


Para Gualter Barbas Baptista, "esta acção veio revelar que os cidadãos portugueses também estão preocupados com a expansão dos transgénicos na agricultura e com os efeitos irreversíveis que estes podem ter no na saúde humana e no ambiente". O activista adianta ainda que a Plataforma "vai continuar a esforçar-se no sentido de envolver os cidadãos nos processos de decisão sobre os transgénicos, contra a vontade do lobby da biotecnologia que faz de tudo para manter o público afastado do seu direito de escolher as tecnologias e riscos que a sociedade está disposta a assumir".


Embora o Relatório Virrankoski não resulte directamente em legislação comunitária, vai agora ser votado em Março em plenário do Parlamento Europeu e propõe-se assumir o papel de vector estratégico de legislações futuras. Nesse momento será crítica a votação de cada um dos 24 eurodeputados portugueses, que em breve serão contactados individualmente pela Plataforma no sentido de divulgarem publica e antecipadamente a sua posição.


Para Margarida Silva, coordenadora da Plataforma Transgénicos Fora do Prato, "independentemente de quaisquer linhas partidárias, os eurodeputados têm a responsabilidade última de dar voz aos que legitimam o seu poder". Em Portugal, segundo dados publicados no Relatório do Estado do Ambiente de 2003, 74.6% dos portugueses com opinião não querem que os transgénicos sejam comercializados no imediato. "Votar contra este relatório será pois votar em consonância com esse sentir profundo dos portugueses - os nossos eurodeputados vão ser chamados a colocar frontalmente a protecção dos objectivos de bem comum, como a sustentabilidade, a transparência, a protecção ambiental e a busca de alternativas mais seguras, acima dos interesses de uma indústria cujo grande alvo é a privatização do património genético da Humanidade", conclui Margarida Silva.

Para mais informações: Gualter Baptista, 91 909 0807



A Plataforma 'Transgénicos Fora do Prato' é uma estrutura integrada por onze entidades não-governamentais da área do ambiente e agricultura (ARP, Aliança para a Defesa do Mundo Rural Português; ATTAC, Associação para a Taxação das Transacções Financeiras para a Ajuda ao Cidadão; CNA, Confederação Nacional da Agricultura; Colher para Semear, Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais; FAPAS, Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens; GAIA, Grupo de Acção e Intervenção Ambiental; GEOTA, Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente; LPN, Liga para a Protecção da Natureza; MPI, Movimento Pró-Informação para a Cidadania e Ambiente; QUERCUS, Associação Nacional de Conservação da Natureza; e SALVA, Associação de Produtores em Agricultura Biológica do Sul) e apoiada por dezenas de outras.
Para mais informações contactar info@stopogm.net

23.1.07

Reedição do livro Socialismo Libertário ou Anarquismo, de Silva Mendes

A Livraria Letra Livre acaba de reeditar, numa tiragem limitada, o livro de Silva Mendes «Socialismo Libertário ou Anarchismo» a mais importante obra escrita sobre anarquismo em língua portuguesa.
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Esse livro de 1896, hoje raro, escrita por um jovem licenciado em Direito, teve um importante papel na divulgação das teorias libertárias na Universidade de Coimbra, contribuindo para formar a geração da Greve Académica de 1907, mas também os militantes socialistas e sindicalistas do final do século XIX e começos do século XX.
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A apresentação será feita na Livraria Letra Livre sábado, dia 27 de Janeiro, pelas 18.30h.
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Livraria Letra Livre
Calçada do Combro, 139 (Bairro Alto)
1200-113 Lisboa
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Morreu Abbé Pierre, o Gandhi francês

Abbé Pierre, o Gandhi francês, fundador das comunidades Emmaus, morreu ontem aos 94 anos.

Abbé Pierre, do seu verdadeiro nome Henri Antoine Groués, nasce em Lyon a 5/1/1912, numa família numerosa e socialmente bem colocada, e entra aos 19 anos para os franciscanos, transitando depois para a Ordem dos Capuchos que é de todas e a congregação mendicante mais pobre.

Como vigário da Catedral de Grenoble envolveu-se na resistência anti-nazi, arriscando a sua vida na ajuda aos judeus perseguidos, e transportando ele próprio refugiados judeus para a Suiça. Foi nessa época que adoptou o cognome de Pierre. Organizou mesmo uma grupo armado no seio da Resistência francesa à ocupação nazi.
No final dos anos 40 fundou a Comunidade Emmaus vocacionado para a ajuda aos sem-abrigo e aos pobres e marginalizados em geral. A comunidade Emmaus espalhou-se entretanto por vários países e ganhou uma dimensão internacional de fraternidade e partilha. A 1 de Fevereiro de 1954 lança pela rádio o célebre apelo «A insurreição da bondade» a favor dos pobres e dos grupos sociais carenciados. Infatigável na sua luta pelos mais fracos e desprotegidos, ele tornou-se uma figura conhecida e respeitada pelos franceses e até a nível internacional. Era o porta-voz dos párias, dos humilhados e ofendidos. Merece pois o nosso reconhecimento. Nele o amor pelos outros, o respeito pelos outros, o bem para os outros não eram só palavras. Ele personificava o homem que combatia a favor do outro, e dava voz à cólera dos que pediam justiça.
Ao lado de Josué de Castro, participou da fundação da Associação Mundial de Luta Contra Fome (Ascofam), em 1957, e de diversos congressos e reuniões internacionais a favor do bem estar dos excluídos
É o fundador da Comunidade Emmaus ("O nome Emmaus corresponde a uma localidade da Palestina onde alguns desesperados voltaram a encontrar esperança. Esse nome evoca em todos crentes ou não, nossa comum convicção que só o amor pode nos unir e permitir avançar juntos”). As Comunidades de Emmaus são compostas por pobres que, através do trabalho de recuperação e reutilização daquilo que é lançado fora, adquirem o seu próprio sustento e ajudam quem se encontra em condições piores.

Independentemente da sua ligação à Igreja e da sua fé católica, Abbé Pierre merece o nosso reconhecimento por tudo o que fez a favor dos mais pobres e dos mais fracos. Defensor dos direitos humanos, ele não hesitava em intervir em prol das causas justas contra a iniquidade e a opressão. Será recordado como um homem bom que lutava pela vitória da justiça no mundo.

20.1.07

Há 20 anos que José Afonso nos deixou a sós com as suas canções

“Somos Nós os Teus Cantores"

PARA O QUE DER E VIER...SEM MUROS NEM AMEIAS!

IGUAIS POR DENTRO E IGUAIS POR FORA!


José Afonso, falecido a 23 de Fevereiro de 1987, aos 57 anos, foi, com Adriano Correia de Oliveira, umas das figuras centrais da canção de intervenção em Portugal.
Neste ano de 2007 passam 20 anos que José Afonso nos deixou a sós com as suas canções. Aquele que deu voz à resistência anti-fascista, e foi um dos símbolos do 25 de Abril do povo e, mais tarde, uma bandeira de luta contra a recuperação capitalista no período cinzento do eanismo e do soarismo, será lembrado ao longo de todo este ano através das mais variadas iniciativas, sempre com o apoio da Associação José Afonso.

Daremos disso conta à medida que tais acções se forem realizando.Por enquanto, e que tenhamos conhecimento, estão programadas várias manifestações culturais na Moita, no Porto ( mais concretamente no Clube Literário) e na Casa do Povo da Longra (no concelho de Felgueiras).


Assim já no próximo dia 3 de Fevereiro, na Casa do Povo da Longra ( Felgueiras) e numa parceria com o núcleo do Norte da AJA realiza-se um concerto sob o lema “Somos Nós os Teus Cantores”, que contará com a participação de Francisco Fanhais, Tino Flores, grupo Erva de Cheiro, grupo AJAFORÇA, banda Hyubris e, possivelmente, Manuel Freire.
Os actores Alexandre Castanheira e Fernando Soares farão da poesia o eco do homem da "Grândola". Neste dia vai falar-se, também, de Adriano Correia de Oliveira, companheiro de canções de luta e de vida de José Afonso.
Na parte de tarde, pelas 16 horas, haverá lugar a um debate/tertúlia, ao qual foram convidados Alexandre Manuel (jornalista e ex-editor do DN), Isabel e José Manuel Correia de Oliveira (filhos de Adriano), Paulo Alão (músico que participou em algumas gravações do Zeca e do Adriano), Alexandre Castanheira, Soares Novais (jornalista e editor da Arca das Letras), representantes da AJA-NORTE e da Casa do Povo, entre outros que poderão juntar-se.

Segue-se depois um conjunto de iniciativas na cidade do Porto ao longo do mês de Fevereiro em memória de José Afonso promovido pelo núcleo do norte da AJA a desenrolarem-se no espaço do Clube Literário do Porto (
http://www.clubeliterariodoporto.org/) e cujo programa é o seguinte:

14 Fevereiro
21h30 - Inauguração da exposição “José Afonso: Vida e obra”
22h - “José Afonso: Testemunhos" Colóquio/Debate com a participação de Alípio de Freitas e Benedicto Garcia Villar.
15 Fevereiro
21h 30m – Tertúlia no “Piano-Bar” do CLP integrada na iniciativa “O Prazer do Texto” – “Música e poesia de José Afonso”
16 Fevereiro
21h 30m – “José Afonso, a obra poética" Colóquio/Debate com a participação de Elfried Elgelmeyer e José António Gomes.
17 Fevereiro
21h 30m – “José Afonso, a música" Colóquio/Debate com a participação de José Mário branco e Francisco Fanhais.


Também a Câmara Municipal da Moita recorda José Afonso, 20 anos depois da sua morte, com um ciclo de três espectáculos de música popular portuguesa (o primeiro dos quais hoje à noite, depois um outro, com Vitorino, a 27 de Janeiro, e um terceiro com a Brigada Victor Jara a 24 de Fevereiro) a realizar no Fórum José Manuel Figueiredo, na Baixa da Banheira.
Além dos três espectáculos, o conjunto de iniciativas agendadas inclui uma declamação de poemas de José Afonso na Biblioteca de Alhos Vedros, uma festa popular também nesta freguesia e ainda uma romagem à campa do autor de "Grândola, vila morena", no cemitério de Setúbal, organizada pela Academia Musical 8 de Janeiro no dia 23 de Fevereiro à tarde

Estão previstas, segundo sabemos, ainda iniciativas similares em Guimarães, Espinho e Odivelas.

Entretanto tomamos conhecimento que os «Frei Fado d’El Rei» irão muito em greve editar um cd com o título «Senhor Poeta» e que será justamente uma homenagem a José Afonso.
Os Frei Fado d'El Rei são um dos melhores exemplos de perseverança e coragem nestes caminhos da folk - chamemos-lhe folk por facilidade de designação - feita em Portugal. Tendo como base uma originalíssima mistura de música tradicional portuguesa, fado, flamenco, música medieval e moderna, os Frei Fado d'El Rei sempre estiveram na vanguarda da renovação da nossa música. E apesar de muitos dos seus membrs se terem dispersado nos últimos anos por projectos como os Roldana Folk, Lúmen ou Goliardos d'El Rey, os Frei Fado d'El Rei continuam vivíssimos (deram em Dezembro vários concertos na Bélgica e Holanda).

Info:

http://vejambem.blogspot.com/

http://www.aja.pt/

19.1.07

Apoia e vai ver teatro!


O teatro independente, o teatro experimental, o teatro amador e o teatro de rua devem merecer a nossa atenção e apoio.


Breve questionário sobre a tua relação com o teatro
Escolhe a afirmação seguinte que melhor reflecte as tuas atitudes e o teu comportamento para avaliares a qualidade da tua relação para com teatro:


Afirmação A = 0 pontos
Nunca fui ver uma peça de teatro


Afirmação B = 10 pontos
Já fui a Lisboa ver uma peça do Filipe La Féria, mas nunca fui ver qualquer teatro feito na minha cidade



Afirmação C = 40 pontos
Já fui ver uma única vez uma peça de teatro ao auditório municipal da minha cidade.



Afirmação D = 60 pontos
Costumo ir ao teatro municipal assistir às peças e aos grupos de teatro que lá passam.



Afirmação E = 60 pontos
Sou espectador assíduo de teatro, consulto a agenda semanal dos espectáculos de teatro, e leio frequentemente as críticas de teatro publicadas na imprensa. Gostaria de fazer teatro.



Afirmação F = 100 pontos
Vou sempre que posso ao teatro, mesmo àquelas peças mais difíceis de entender, as quais servem, aliás, de motivo para eu conversar e debater com os meus amigos/as ou com quem me acompanhou ao espectáculo.
Enquanto não tiver oportunidade de fazer teatro vou utilizando a expressão dramática na minha comunicação pessoal.



Conclusão: o teatro em geral, e o teatro independente em particular, mesmo aquele que possa ser de mais difícil compreensão ( o teatro experimental), põe-nos em contacto com novas ideias, e utiliza novas formas de comunicar e exprimir ideias e sentimentos. Acontece que habitualmente os grupos de teatro independente defrontam-se permanentemente com problemas de financiamento das suas actividades, pelo que é altamente meritório o envolvimento e o apoio aos grupos de teatro de todos quantos consideram o teatro como uma arte maior e uma excelente forma de manter a nossa condição de seres humanos



Seguem-se três propostas para ver teatro


«A um dia do Paraíso» ( texto e encenação de José Carretas) no Teatro Nacional Carlos Alberto de 18 a 28 de Janeiro (de 3ª feira a Domingo), numa co-produção TNSJ e Panmixia

Sinopse:

Aventureiro, diplomata e espião ao serviço de sua majestade D. João II, Pêro da Covilhã parte em finais do séc. XV para a costa oriental de África. Procura o reino do Preste João, onde florescem maravilhas de todo o tipo, entre o quase divino e o quase diabólico, mito cuja matriz literária remonta ao séc. XII, à Carta do Preste João das Índias, síntese efabulada do imaginário medieval do ocidente cristão. No fim da viagem, descobre afinal a distância (drástica mas conciliável…) entre a ideia de um reino utópico e a experiência "claramente vista" de um pequeno território pobre e ameaçado pelos vizinhos muçulmanos. Indiferente a qualquer tipo de rigor historicista, José Carretas propõe-nos uma incursão nos últimos anos da venturosa vida de Pêro da Covilhã, arriscando uma alegoria cénica sobre a necessidade prática da utopia, sobre o desencanto como forma irónica, melancólica e combativa da esperança.

http://www.tnsj.pt/



Outra proposta é o Festival Nacional de Teatro de Amadores promovido pelo Cale Estúdio Teatro – Associação Cultural de Actores (CET) e que com o curioso título de «Cale-se» vai decorrer de 20 de Janeiro a 24 de Março na sede do daquele grupo de teatro - Rua do Meiral, 51 ; 4400-501 Vila Nova de Gaia Tels. 963 697 254
Mais info:
caleestudioteatro@portugalmail.pt
http://festivalcale-se.blogspot.com/
O Festival contará com a presença de vários grupos sendo que todos são associados da ANTA - Associação Nacional de Teatro de Amadores.

A última proposta de teatro é reservada para a digressão que o Teatro Montemuro vai realizar com a sua peça UBELHAS, MUTANTES E TRANSUMANTES
Segundo as datas divulgadas são estes os locais por onde a peça será representada:
20 de Jan. PINHEL22,
23 e 24 de Jan. CAMPO BENFEITO sessões escolares
25 de Jan. VIANA DO CASTELO Teatro Sá de Miranda
26 de Jan. PAREDES27 de Jan. SEIA
2 de Fev. LISBOA Teatro da Comuna ( sala 1, 21h30)
3 de Fev. LISBOA Teatro da Comuna ( sala 1, 21h30)
4 de Fev. LISBOA Teatro da Comuna ( sala 1, 16h00
)7 de Fev. FARO Teatro Lethes
9, 10 e 11 de Fev. PORTO Balletteatro
17 de Fev. VILA NOVA DE PAIVA Auditório Carlos Paredes
3, 4, 5 e 6 de Março COIMBRA A mUSEU DOS tRANSPORTES
31 de Março LEIRIA Teatro José Lúcio da Silva (21h00)

18.1.07

Concentração dos utentes dos transportes públicos do Porto na Pr. da Liberdade (19 de Janeiro) às 17h.30

Movimento de Utentes dos Transportes da Área Metropolitana do Porto

Concentração e Marcha lenta até ao governo civil
dos utentes dos transportes públicos
na Praça da Liberdade (Porto)
dia 19 de Janeiro de 2007 às 17h30

O Movimento de Utentes dos Transportes da Área Metropolitana do Porto convida a população para a Concentração na Praça da Liberdade e Marcha até a Governo Civil para entrega do Caderno Reivindicativo dos utentes que a Nova Rede da STCP retirou direitos como o acesso a transportes públicos de qualidade e de proximidade, a mobilidade, o percurso num único meio de transporte desde a origem ao destino, com facilidade de acesso e de bilhética funcional e a preço justo.

A participação de todos é importante para vencermos esta luta.

A luta é justa, participe connosco.

Campanha “Susana livre!”


Várias pessoas manifestaram-se durante o mês de Dezembro contra o desalojamento de um centro social em Copenhaga, Dinamarca, edifício cedido pela câmara em 1982 a várias associações e colectivos. Cerca de 213 pessoas foram presas, entre as quais 87 estrangeiros de 10 nacionalidades diferentes. A Susana, um amigo dela, um rapaz finlandês e um dinamarquês são os únicos que ainda se encontram presos neste momento.
A Susana já está há mais de 25 dias na prisão, passou lá o Natal e o Ano Novo e não sabe quando vai sair. Por mais que questionemos o porquê dela lá estar, na nossa opinião, o que interessa é que uma prisão é sempre uma prisão, e que ela não devia estar lá mas sim perto da família e dos amigos.

Quem é a Susana?

A Susana é, antes de mais, uma amiga. Está a estudar em Coimbra, na Escola Superior de Educação, no último ano. É uma activista social e ambiental. Pertence ao GAIA (Grupo de Acção e Intervenção Ambiental), a um grupo de teatro de rua e a outros colectivos .É vegetariana, defensora dos direitos dos imigrantes, dos direitos humanos, da paz! Activa na luta contra a praxe, na defesa da despenalização do aborto, no movimento estudantil.

E quem somos nós?
Alguns amig@s da Susana, e outros amig@s de tod@s os presos!

Que centro social é esse?
Chama-se Ungdomshuset (Centro da Juventude) e como se pode ler na sua página na Internet, hoje eram um centro político e cultural, uma alternativa a uma sociedade opressora, usada por activistas para organizarem inúmeros eventos. (mais aqui:
http://ungdomshuset.info/spip.php?article45). O edifício foi cedido pela câmara em 1982 a várias associações e colectivos. Em 1999 foi vendido pela câmara a uma seita fundamentalista cristã, e inicia-se um processo no tribunal. Um processo moroso e bastante dúbio, onde os activistas acusam a câmara de vender algo que foi cedido, e a
“seita” que reclama a casa e uma compensação por não poderem ter usufruído dela. Em 2006, o tribunal decide que os activistas têm de evacuar a casa até dia 14 de Dezembro. (mais sobre o processo em http://ungdomshuset.info/spip.php?article47)


O que aconteceu? Porque se manifestavam?

No passado dia 15 de Dezembro, mais de 5000 pessoas manifestaram-se contra a decisão do tribunal e recusavam-se a entregar o Centro da Juventude.
No dia 16, uma marcha com cerca de 1000 participantes. Começaram a sair da casa e a dirigirem-se para o centro da cidade mas não conseguiram andar mais de 300 metros pois a policia impedia-lhes a passagem. E aí o cenário passou a ser de guerra: pedras pelo ar, garrafas, montras partidas, barricadas, fogo, fumam, escuro, gás lacrimogéneo... Violência da parte dos polícias e da parte de alguns manifestantes. As imagens comprovam-no: http://indymedia.dk/article/754. Alguns activistas ficaram feridos assim como polícias. Muitas montras partidas e as ruas quase destruídas.
Cerca de 213 pessoas foram presas, entre as quais 87 estrangeiros de 10 nacionalidades diferentes.
Os dinamarqueses (à excepção de um, o Allin) foram postos em liberdade passado 24h e aguardam julgamento. Até ao final do ano, 20 estrangeiros foram deportados e proibidos de entrar na Dinamarca e os restantes foram libertos e reencaminhados para a fronteira. Á excepção da Susana, do amigo dela, o Mariano (argentino/italiano) e do Tomi (finlandês).

O que se passou exactamente com a Susana?

A Susana foi visitar um amigo à Dinamarca, no dia 14 de Dezembro, com intenções de voltar para Portugal antes do Natal. Como activista social que é, a Susana participou na marcha em defesa de Ungdomshuset, no dia 16. Foi uma dessas pessoas indiscriminadamente presas. Está a ser acusada de agressão à autoridade.
A lei dinamarquesa diz que depois de 24 horas (72 para estrangeiros) o detido tem de ser julgado ou posto em liberdade. A Susana foi “julgada” e colocada em prisão preventiva até julgamento oficial. No máximo, a lei indica que pode ir até 4 semanas esse tempo de espera. Sendo assim, este seria no dia11 de Janeiro.

E então, qual o resultado?

Ao que parece, a Susana teve e está a ter azar, pois o seu julgamento foi adiado 15 dias, para o dia 25 de Janeiro (um dia antes do seu aniversário). O julgamento dos outros 3 presos também foi adiado para a mesma altura.
É que afinal, o que a lei diz é que os detidos têm de ser colocados em frente a um juiz. Foi o que aconteceu, mas esse não tem poder decisivo, digamos, não foi um julgamento na verdade, pois ainda não reuniram todas as provas necessárias!!!
A Susana encontra-se de novo em prisão preventiva, numa prisão isolada em Copenhaga.
Praticamente ainda não recebeu visitas (apenas da embaixada portuguesa) e da advogada. É uma advogada dinamarquesa, “especialista” em casos como este, voluntária, amiga da casa (Ungdomshuset). Não sabemos qual vai ser a pena atribuída à Susana, e os rumores são muitos: que não há hipótese de cumprir pena cá, que vai ter de pagar multa, que pode ficar lá cerca de 3 meses...

O que podes fazer para ajudar?

a) escrever à Susana e aos outros presos.
Têm várias hipóteses (carta ou e-mail), mas tenham em atenção ao que escrevem porque a polícia vai ler. Escrever é mesmo muito importante, mas não comentem sobre o caso, pois sem quererem, podem prejudicar a Susana. Mesmo que alguns de vocês não a conheçam bem , escrevam na mesma. Imaginem o que é estar numa prisão sem nada que fazer... Receber cartas deve ser uma alegria! Falem do vosso dia-a-dia, dos vossos activismos, das vossas paixões, das vossas viagens, transcrevam um poema, sei lá, mas escrevam!!
Para a Susana podem escrever em português, castelhano ou inglês. Para o Mariano podem escrever em castelhano ou inglês. Para o Tomi em finlandês ou inglês. E para o Allin em dinamarquês.

Enviem as cartas para a ABC (associação que está a dar apoio no local) e coloquem algures na parte de trás do envelope “a letter for Susana” - ou o nome de outro preso):
c/o Ungdomshuset
Jagtvej 69
2200 København N
Danmark

ou podem escrever e-mail também para a ABC (retsgruppe69@yahoo.dk) com assunto “a letter for Susana” (ou o nome de outro dos presos), que os voluntários da associação imprimem e fazem chegar todos os dias à prisão.

b) podes também enviar cd's originais, livros, dinheiro dinamarquês (croas) e roupa. Envia para a mesma morada acima.

c) contribuir monetariamente.
Envia tua contribuição para a conta 003520730000338193093 em nome de “Su Livre”. Se possível, envia e-mail para sulivre@riseup.net com comprovativo de transferência.

d) escrever à embaixada dinamarquesa em Portugal a exigir a libertação da Susana e dos outros presos:
Embaixada Dinamarquesa em Portugal
Rua Castilho 14-C 3º 1200-069 Lisboa
21 3512960 21 3570124 (fax)

e) contactar advogados para sabermos o que se pode fazer a partir de Portugal. Se encontrares algum que esteja interessado em ajudar, dá-lhe o nosso contacto: sulivre@riseup.net.

f) receber e divulgar informação.
Envia e-mail para sulivre@riseup.net com pedido de inscrição em
mailling-list (para receberes notícias), ou com sugestões ou dúvidas.


Obrigada por leres até aqui,
os amig@s de Susana.

Pela defesa do direito à habitação dos moradores dos bairros de Lisboa em risco de serem demolidos


A luta dos moradores dos bairros Marianas, Azinhaga dos Besouros, Estrada Militar, Quinta da Vitória, Fim do Mundo e Quinta da Serra ( todos da cidade de Lisboa), com o apoio do grupo Direito à Habitação da associação Solidariedade Imigrante, contra a demolição dos seus bairros sem a salvaguarda do seu direito a terem uma habitação digna.


Os bairros de barracas foram construídos há já dezenas de anos pelos trabalhadores que chegavam à cidade, portugueses e imigrantes. A cidade precisava deles mas não tinha habitação para eles. Então tiveram de construir as suas casas, ocupando terrenos devolutos ou comprando terrenos a proprietários de quintas etc...

Os bairros, que respondiam à falta de habitação, ficaram até que as autoridades e os novos proprietários dos terrenos ( grupos imobiliários, bancos...) decidirem, por interesses económicos, mandar toda a gente embora.

Há quinze anos, os despejos violentos fizeram crescer os protestos dos moradores. Sob a pressão dessa luta o Estado criou o PER, Programa Especial de Realojamento. Foram construídos prédios sociais e uma parte dos moradores foi realojada. Num prazo de 5 anos era previsto acabar com os bairros e realojar todos os moradores. Mas a verdade é que os bairros ainda existem e lá permanecem, e ainda não foram realojadas todas as famílias que foram recenseadas em 1993.
O problema principal é que o programa está agora completamente desactualizado.

Desde 1993, passaram 14 anos. A situação mudou, chegaram pessoas, nasceram pessoas. Todos as pessoas ( muitos são trabalhadores da construção civil ) que chegaram depois de 1993 não tem direito a nada. Outros já cá estavam em 1993 mas não foram recenseados porque, por exemplo, estavam a trabalhar numa obra no Algarve ou não estavam em casa no dia do recenseamento.

Os salários baixos que as pessoas recebem não lhes permite alugar uma casa no mercado privado.

São expulsos violentamente. A polícia atira-os para a rua



MANIFESTO DOS MORADORES DOS BAIRROS AFECTADOS PELAS DEMOLIÇÕES

Este manifesto foi escrito por um grupo de moradores dos bairros Marianas, Azinhaga dos Besouros, Estrada Militar, Quinta da Vitória, Fim do Mundo e Quinta da Serra, com o apoio do grupo Direito à Habitação da associação Solidariedade Imigrante.

Nós, moradores dos bairros demolidos ou na iminência de o serem, expomos o seguinte:

Vários bairros da área metropolitana de Lisboa, construídos há décadas por trabalhadores portugueses migrantes do interior do país e por trabalhadores imigrantes e os seus filhos, estão a ser demolidos.
Muitas pessoas são expulsas das suas casas e não têm direito ao realojamento.

O Programa Especial de Realojamento (PER) baseia-se num recenseamento realizado em 1993.
Muitos moradores, chegados aos bairros antes de 1993, não foram incluídos no PER. Nós, por exemplo, que somos trabalhadores da construção civil, fomos excluídos. O nosso trabalho exige frequentes deslocações durante dias seguidos aos locais das obras. Essa é a razão da nossa ausência do bairro e da nossa falta de informação durante o recenseamento.

Também existem, nos nossos bairros, milhares de pessoas que chegaram depois de 1993 e que pela sua situação económica precária, pela discriminação à qual estão sujeitas no acesso à habitação no mercado privado e pela inexistência de uma política real de habitação que possa responder às suas necessidades habitacionais, não tiveram outra alternativa que os bairros de barracas.

Agora, as câmaras expulsam-nos sem nos deixar nenhuma alternativa habitacional, tirando-nos o único tecto que temos.

Trabalhamos para construir Portugal. Pagamos os nossos impostos e contribuímos para a economia do país. Como qualquer cidadão, descontamos para o Estado mas este não nos reconhece o direito constitucional a uma habitação.

Considerando a história da colonização e considerando a da emigração portuguesa, não achamos justo o tratamento recebido pelos imigrantes em solo português.

Não estamos a pedir casas de graça, mas o acesso a uma habitação com uma renda de acordo com os nossos rendimentos.

Estamos dispostos a colaborar com o Estado para encontrar uma solução que respeite os direitos de todas as pessoas.


DENUNCIAMOS:

O Programa Especial de Realojamento (PER) revelou-se um programa limitado e injusto que tem excluído muitas pessoas.

As autarquias estão a tratar-nos como se não fossemos seres humanos.

As demolições contribuem para a degradação dos bairros, provocando inúmeros danos psicológicos, morais e materiais. As condições de habitabilidade têm vindo a piorar substancialmente desde o início das demolições: entulho, canalizações partidas, estruturas danificadas que criam infiltrações quando chove...

Estes processos de demolição, além de não terem tido nenhum acompanhamento social, têm-se caracterizado por uma presença violenta e abusiva das forças policiais, que se limitam a expulsar brutalmente as pessoas das suas casas sem qualquer diálogo. Isto é abuso de poder.

Existem inúmeras casas fechadas nos bairros de realojamento, destinadas à venda e que permanecem vazias até hoje.

O estatuto ilegal das nossas casas não é assim tão evidente. O Estado permitiu a construção destes bairros e, em certos casos, até a apoiou; pois, estes remediavam a carência de habitação para os trabalhadores que chegavam à cidade. Posteriormente o Estado deixou desenvolver este mercado paralelo de habitação. Em muitos casos as casas foram compradas pelas pessoas. Outras pessoas sempre pagaram aluguer, facturas de electricidade, água, esgotos e contribuições autárquicas. Existem mesmo casos de "habitação ilegal" registada nas finanças.

Achamos absolutamente inadmissível a desresponsabilização do Estado e a sua completa despreocupação para com os seus cidadãos. Sentimo-nos tratados como se não fossemos pessoas. As Câmaras e o Governo passam as responsabilidades um para o outro como num jogo de ping-pong.

Quando confrontadas por nós, as Câmaras dão esperanças, mas logo a seguir dão o dito pelo não dito. O Governo fez promessas e apresentou soluções que nunca cumpriu. As falsas alternativas são injustas, provisórias e discriminatórias: apoio incerto de três meses de renda, dias em centros de acolhimento ou pensões, propostas de regresso ao país de origem.


EXIGIMOS QUE SEJAM RESPEITADOS OS NOSSOS DIREITOS!

EXIGIMOS que seja respeitado o direito à habitação para todos, consagrado pelo artigo 65 da Constituição Portuguesa.

EXIGIMOS que sejam suspensas as demolições das casas onde moram pessoas que não têm alternativa habitacional.

EXIGIMOS o realojamento de todos os moradores dos bairros que não estão incluídos no PER.

EXIGIMOS que o Estado crie e aplique uma verdadeira política da habitação para todos os cidadãos.

EXIGIMOS o acesso a uma habitação condigna em que nos responsabilizamos pelo pagamento de uma renda de acordo com os nossos rendimentos, de forma a criar uma oportunidade para podermos mostrar e defender a possibilidade de uma vida melhor.


HABITAÇÃO PARA TODOS!

Ecologia social versus ecologia liberal

A ecologia é a ciência das trocas e dos equilíbrios naturais, isto é, ciência que trata das relações entre os seres vivos, plantas e animais, e entre estes e o seu meio e habitat.

Ao lado desta ecologia natural, pertencente ao domínio das ciências da natureza, juntamente com a biologia e a geografia física, desenvolveu-se, entretanto, a partir daquela uma ecologia politica que estuda o impacto das actividades humanas, nomeadamente as de carácter económico e produtivo, sobre aqueles equilíbrios naturais. Pela sua abordagem específica da realidade envolvente, a ecologia mantém uma relação conflitual com a tradicional ciência económica, vista as mais das vezes como um verdadeira ideologia dominante da civilização industrial, mercantil e produtivista do capitalismo.

A ecologia política originou desde os anos 60/70 do século XX a um crescente e cada vez mais poderoso movimento social, o ecologismo, cujo objectivo é mudar a forma como se produz e como se consome a fim de preservar o ambiente natural.


Dentro do ecologismo podemos encontrar várias teorias/doutrinas ecologistas, todas reclamando a necessidade de defender o ambiente natural.


No plano filosófico há fundamentalmente uma oposição entre uma ecologia antropocêntrica, que coloca o homem no centro do seu concepção, e uma ecologia biocêntrica, que preconiza um descentramento daquela visão de molde a envolver todos os seres vivos, não só os seres humanos como também os animais e as plantas.

No plano económico diferenciam-se duas concepções contrárias: a ecologia liberal e a ecologia social.

A ecologia liberal lança os seus fundamentos nos mecanismos do mercado e acredita que através de uma legislação normativa apropriada será possível resolver os problemas ambientais que afectam as sociedades contemporâneas. Na linha desta visão ambientalista, os seus representantes defendem a chamada internalização dos custos (e prejuízos infligidos à natureza) através do cálculo económico e contabilístico das empresas e das famílias ( com a consequente criação de taxas e de subsídios, tal como acontece para com qualquer outra actividade económica ), a promoção da investigação e da inovação técnica ( para se obter técnicas produtivas limpas, como os carros não-contaminantes, etc), assim como o desenvolvimento do denominado capitalismo verde (eco-business, eco-indústrias, etc, etc) que permitirão gerir economicamente os recursos da natureza, sem causarem grande impacto sobre as grandezas macro-económicas como o PIB, o emprego e o crescimento económico. No fundo, a ecologia liberal pretende substituir o capital natural pelo capital técnico como único meio para garantir as capacidades produtivas das gerações futuras.


A ecologia social não tem uma visão economicista dos problemas ambientais, considerando mesmo que a própria economia se tornou com o neo-liberalismo num instrumento de mistificação e legitimação de um sistema sócio-económico depredatório e suicidário, para além de se ter mostrado profundamente iníquo.
Sob a designação geral de ecologia social, originariamente associada a Murray Bookchin, encontram-se no entanto vários autores (Lewis Mumford, J.Ellul, I.Illich, A. Gorz, etc…) e abordagens que questionam o capitalismo, a ideologia produtivista, a sociedade de consumo e de desperdício, assim como as desigualdades sociais, o racismo e o domínio e a exploração de uns homens sobre os outros, abordagens estas que se complementam e que preconizam um novo paradigma (modelo) social e uma nova forma de relacionamento para com a natureza.


Para estes autores a técnicas produtivas da indústria capitalista ao procurarem satisfazer uma necessidade, através da produção industrial das mercadorias, geram outras tantas carências e insatisfações que, num ciclo interminável, aguardam pela sua superação. O crescimento económico, segundo estes autores, alimenta-se dos seus próprios prejuízos e insatisfações que produz incessantemente. A conclusão é, pois, óbvia: a economia tal como a conhecemos, isto é, a economia capitalista é contra-produtiva, já que o crescimento se mostra nefasto, lesivo e ilusório. Nefasto, porque destrói os recursos não renováveis e gere, além disso, altíssimos custos sociais: exclusão, precariedade, desemprego tecnológico, alienação social e mercantil, perda do sentido e de autonomia face às forças poderosas do Estado e das grandes mega-corporações, as empresas transnacionais. Ilusório, porque não existe na realidade valor acrescentado senão por via dos preços, e estes não dão conta das inutilidades crescentes (desperdícios,etc) e dos valores perdidos.


Claro está que um questionamento do progresso e do crescimento económico deste género arrasta consigo outros problemas, como o problema do emprego e a indispensabilidade de um outro modelo e de uma outra lógica que não seja o produtivismo economicista de inspiração liberal ( ou marxista) da economia clássica, predominante desde a Revolução Industrial. Uma vez que não haverá empregos para todos haverá então que dividir os rendimentos gerados ( consultar a esse propósito André Gorz) e redefinir o papel do Estado e do mercado, bem como da esfera das actividades autónomas (triângulo de S.C. Kolm).


Nesta perspectiva valorizam-se as actividades autónomas, fora do âmbito do mercado, que são conviviais, que se mostram pouco poluentes , porque utilizam técnicas produtivas alternativas, e são promotoras do salário mínimo universal, o qual deverá ser acrescentado ao elenco já tradicional dos direitos do homem, e como tal qualificado.

O controle das chamadas tecnociências, até agora submetidas aos imperativos económicos do lucro ou do poder ( consultar sobre a matéria L.Mumford, J.Ellul), integram todo um projecto alternativo que valoriza as sinergias comunitárias de cooperação e entre-ajuda, e contesta frontalmente o capitalismo e o seu pretenso realismo em resolver a crise ambiental, cujo desencadeamento e agravamento ele próprio foi o principal responsável.

A ecologia social aponta claramente para a superação do paradigma modernista da ideia de «progresso» e de «crescimento», cujos limites são cada vez mais patentes com o rápido esgotamento dos recursos naturais, remetendo para aquilo que já é designado por alguns como sociedades do pós-crescimento.




Consultar o livro:


Social Ecology After Bookchin


David Watson (Contributor) and Andrew Light (Editor)


For close to four decades, Bookchin's eco-anarchist theory of social ecology has inspired philosophers and activists working to link environmental concerns with the desire for a free and egalitarian society.

This instructive book brings together leading theorists to contemplate the next steps in the development of social ecology. Topics covered include reassessing ecological ethics, combining social ecology and feminism, building decentralized communities, evaluating new technology, relating theory to activism, and improving social ecology through interaction with other left traditions.

Those contributing the 11 essays include Joel Kovel, John Clark, David Watson, David Macauley, Robyn Eckersley, and Regina Cochrane.

17.1.07

As cidades verdes

O ano que está agora a iniciar-se representa um ponto de inflexão na forma de vida dos seres humanos. Pela primeira vez na História, segundo a ONU, há mais pessoas a viver em meios urbanos do que nos meios rurais. Isto significa que aos grandes problemas já conhecidos das grandes aglomerações urbanas (contaminação, consumo energético exacerbado, problemas de mobilidade, insegurança,…) devemos agora somar o facto da maioria da população pobre passar a viver nas cidades. Tudo isto faz nascer o risco das grandes urbes passarem a ter um centro histórico rodeado de enormes bolsas de miséria sob a forma de subúrbios.

Em 2003, 280 milhões de pessoas na Ásia, África e América viviam amontoadas (4 ou mais pessoas partilhando pequenas habitações). A contaminação urbana mata três milhões de pessoas por ano, e um milhão de crianças morre por ano devido a contaminação no interior das casas. Metade da população mundial (2.400 milhões de pessoas) usa diariamente combustíveis fósseis que são altamente contaminantes ( como é, por exemplo, a gasolina).

Para conseguir que as cidades continuem a ser o motor económico e de desenvolvimento social e o principal gerador de riqueza dos países, a ONU julga que é imprescindível melhorar as infra-estruturas, o transporte e a saúde dos residentes urbanos, para não falar da urgente necessidade de se alcançar um equilíbrio entre progresso e sustentabilidade.

«As cidades vão defrontar-se no século XXI com um desafio sem precedentes. A sua própria existência está ameaçada pelas consequências das mudanças climáticas. Assim como a sua coesão social e estabilidade são ameaçadas pela exclusão e pelas desigualdades. A qualidade de vida e de saúde dos seus habitantes vê-se prejudicada cada dia que passa pela deterioração da qualidade do ar e da água.» Foi nestes termos que começou o Fórum Urbano Mundial (World Urban Forum) no ano passado numa iniciativa da ONU.

Entre as muitas ideias que então foram apresentadas encontravam-se os projectos e as boas práticas de diversas cidades que são exemplos a seguir para as demais, devidamente adaptados pelas circunstâncias concretas de cada caso. Projectos esses que tentam à sua maneira concretizar o ideal de «cidade verde» ao melhorar a mobilidade, através da promoção do transporte público, da bicicleta ou das deslocações pedestres, ou ainda propondo um urbanismo baseado nas energias renováveis. Os casos mais conhecidos são os das cidades de Friburgo ( Alemanha), Vancouver ( Canadá) Bogotá (Colômbia) e Malmõe (Suécia).

Cidades verdes nos EUA:
www.motherjones.com/news/feature/2001/08/greencities.html


Cidades verdes na Europa:
http://www.europeangreencities.com/

http://environment.guardian.co.uk/waste/story/0,,1941185,00.html

Próxima Convenção sobre cidades verdes na Austrália(Fevereiro de 2007):
http://www.greencities.org.au/




Friburgo e o bairro ecológico de Vauban

Uma enorme preocupação pelo meio ambiente une os habitantes de Friburgo, uma cidade de 215.000 habitantes situada no Sudoeste da Alemanha, nos rebordos da Floresta Negra. Com efeito, Friburgo é um bastião dos Verdes que a governam graças aos 30% dos votos recebidos nas últimas eleições. Tornou-se também conhecida pelos inúmeros prémios recebidos a propósito da política de gestão de tráfico seguida, e das energias renováveis que são utilizadas na cidade. Tudo isto explica por que é que a cidade recebe sem cessar visitantes de todo o mundo que aí se deslocam para tomar contacto com as medidas que são lá tomadas.

Friburgo aplica uma política integrada de tráfico desde há 35 anos. «Nesta matéria não há êxitos de curto prazo», adverte Martin Haag, director do departamento de infraestruturais da autarquia, e que recorda o primeiro plano geral de tráfico, aprovado em 1969: « Na época não se falava ainda de sustentabilidade, mas já havia uma vontade muito forte de proteger o centro antigo do tráfego motorizado.»

Nos anos setenta redescobriram-se as bicicletas. Além disso, em 1972, quando muitas cidades se desfaziam dos eléctricos (transvias), Friburgo optou por ampliar a sua rede. Assim, de 1985 a 2004 os silenciosos e não contaminantes eléctricos (transvias) viram o número de passageiros a duplicar.

Em 1975, a luta contra a construção de uma central nuclear uniu a população. Por uma vez, estudantes – maioritariamente de esquerdas – e os cultivadores de vinhas –tradicionalmente conservadores – lutaram juntos lado a lado. Uns, em defesa do meio ambiente, outros, receosos pelos seus vinhedos. As preocupações ambientais começaram a dar os seus frutos: o uso de bicicleta aumentou de 1982 a 1999, de 15% para 27% nas deslocações, ao passo que o uso do carro reduziu-se de 29% para 26%, ao mesmo tempo que os transportes públicos viram o seu uso a crescer de 11% para 18%

Na cidade não há engarrafamentos nem ruídos. O tráfego de bicicletas é contínuo ao longo dos 500km de ciclovias que atravessam a cidade. Os trajectos também não são muito longos uma vez que a cidade é relativamente pequena (15.300 hectares, dos quais 40% é ocupado por bosques), além de que a política de transportes é complementada pela do urbanismo que evita que a cidade cresça em demasia. «Pretende-se construir apenas nas eras já urbanizadas para não sacrificar a área verde dos bosques, e manter a cidade segundo dimensões compactas.», esclarece a conselheira do Meio Ambiente, Gerda Stuchik.

Como solução não-contaminante para as entradas e saídas diárias das 80.000 pessoas foi criado um aparcamento vigiado e coberto com capacidade para 1000 bicicletas o que torna possível o inter-face entre comboio e bicicleta nas deslocações diárias para os empregos. Neste aparcamento existe ainda uma oficina para reparação e aluguer de bicicletas, e ainda uma agência de aluguer de carros, em regime de partilha (trata-se de um sistema denominado Car Sharing, que funciona em toda a Alemanha, e que permite o uso de carros por horas ou dias a um preço inferior ao do aluguer tradicional).
A agência de Car Sharing da cidade possui mais de 100 veículos. Muitos dos seus utentes vivem no bairro super-ecológico de Vauban, uma zona sem carros nem fumos, e que é abastecido por energia solar. Antigo quartel das forças francesas de ocupação, Vaubon passou em 1993 para as mãos da autarquia que decidiu construir aí um bairro ecológico. Nele a maioria das casas têm placas solares para o seu consumo energético. Algumas nem sequer precisam de aquecimento em virtude da sua construção ter sido feita com base em materiais que aproveitam o máximo o calor do sol e que proporcionam um óptimo isolamento térmico. Outras habitações produzem mais energia do que precisam, pelo que podem vendê-la à empresa de energia eléctrica local, amortizando assim mais facilmente o investimento realizado.

Vauban é um idílio ecologista com algum travo orweliano. Com efeito, quem tem carro é obrigado a comprar um lugar nas duas garagens-solares que existem para o efeito, e que se situam à saída do bairro. Os que não têm carro devem anualmente comprovar essa sua situação. «Caso se venha a averiguar que alguém tem carro sem ter adquirido um local de garagem, a pessoa é multada em função das poupanças que tiver obtido por não ter adquirido um local de garagem», explica-nos Lubke, orgulhoso por este sistema de controle.
Dentro de Vaubun não é permitido estacionar, a não ser excepcionalmente; praticamente, em todo o bairro não há tráfego motorizado. Não por acaso é o bairro com mais crianças de toda a Alemanha: na verdade, as ruas servem também como pátio de jogos e de recreio. Só o eléctrico atravessa o Bairro ao longo da sua rua principal. «Preocupamo-nos que o trajecto para as paragens dos eléctricos fossem sempre mais perto do que o trajecto para as garagens, como medida dissuasora», adianta Lubke. O que constituiu um sucesso: das 500 famílias que vivem no Bairro, 400 não têm carro.

Mais de 10.000 pessoas trabalham no sector do meio ambiente na cidade e nos arredores, maioritariamente em empresas relacionadas com a energia solar, e que facturam 1.000 milhões de euros ao ano. Com 36,7 vóltios por habitante e 11.223 colectores térmicos, Friburgo lidera a classificação das cidades com maior uso de energia solar.
Na cidade estão sedeados os principais institutos de investigação solar do país. As placas não estão apenas nas casas particulares, mas ainda em certos edifícios de serviços, junto da estação de comboios, cobrindo ainda outros edifícios e equipamentos colectivos.
Fonte: El País, 15 de Janeiro de 2007