4.4.05

Sartre esteve na Faculdade de Letras do Porto faz hoje 30 anos



Jean-Paul Sartre, escritor, filósofo e activista político francês, acompanhado de Simone Beauvoir, sua mulher e conhecida feminista, visitaram ambos Portugal há 30 anos, a convite do Instituto Francês do Porto, e no dia 4 de Abril de 1975 realizou-se um encontro no Salão Nobre da Faculdade de Letras do Porto, no edifício onde actualmente está instalado o Instituto de Ciências Bio-Médicas Abel Salazar, apinhado de estudantes e professores para ouvirem Sartre, que era olhado com uma aura de intelectual «engagé» que apoiara os estudantes na revolta de Maio de 68.
Com a sala a abarrotar de gente foram lançadas as primeiras perguntas ao casal que, sentados no palco atrás de uma simples mesa, acabaram por confessar que estavam ali mais para fazer perguntas do que propriamente dar respostas que todos os presentes aguardavam. E, uma após outra, todas as perguntas esbarravam com o laconismo interrogativo do pensador existencialista francês.
Quem ali esteve presente não se esquece do ambiente sôfrego de todo o imenso auditório e da fragilidade daquelas duas figuras postadas à sua frente. Sartre com uma inseparável pilha de jornais debaixo do braço, e Simone de Beauvoir com um lenço a realçar a postura elegante que a caracterizava.
A visita de Sartre e Beauvoir a Portugal durou poucos dias e foi passada a fazer contactos com alguns protagonistas daquilo que se chamou o processo revolucionário português desencadeado a partir da Revolução dos Cravos a 25 de Abril de 1974.
À despedida, e em jeito de balanço da sua estadia, Sartre não escondeu a sua alegria e surpresa com o que vira, ao declarar peremptório:
«Portugal alargou o campo do possível»

Os ecossistemas em risco: o esgotamento da natureza ameaça o progresso



Mais de 1.300 cientistas originários de 95 países elaboraram a pedido da ONU um relatório sobre a situação actual dos ecossistemas planetários. Das suas conclusões retira-se um sinal de alarme para o bem estar e o desenvolvimento. O homem tem conseguido alimentar-se melhor graças à agricultura, à piscicultura. Mas as consequências do crescimento económico vão traduzir-se no desaparecimento das espécies, na redução dos insectos polinizadores ou na água doce. E os países pobres serão os principais afectados. Pior ainda: se estes países seguirem o modelo dos países mais ricos, a biosfera será largamente afectada. O custo económico deste atentado à natureza é imprevisível.

Pela 1ª vez, 1.300 investigadores científicos fizeram um ponto da situação dos ecossistemas do nosso planeta. O aumento da produção agrícola reduziu a fome, mas, em contrapartida, a intensidade da acção humana tem degradado significativamente o ambiente. O que significa, simplesmente, que a prazo o bem estar do homem vai deteriorar-se.

«Políticos despertai»! Este é, em termos muito diplomáticos, a mensagem enviada por mais de 1.300 cientistas reunidos a convite da ONU para estudarem e analisarem o actual estado dos ecossistemas da Terra.. No relatório sobre «Avaliação dos ecossistemas para o Milénio», publicado na passada 4ª feira em Tóquio, New Delhi, Cairo, Nairobi, Paris, Washington e Brasília, os seus autores traçaram um panorama muito pessimista do impacte das actividades humanas sobre o ambiente natural. O grupo de cientistas, reunido sob a égide da Universidade das Nações Unidas ( com base em Tóquio) e o Banco Mundial alertam que, caso esta degradação prosseguir, fica em causa o bem estar do homem e os objectivos do Milénio - que tinham sido fixados em 2000, visando reduzir a fome, a pobreza e a doença até 2015 - não poderão ser atingidos. A publicação deste relatório coincide com a fixação dos temas e prioridades do G8, que se reunirá na Grã-Bretanha em Julho próximo, por Tony Blair: a mudança climática e o subdesenvolvimento de África.
Trata-se do estudo mais completo realizado até hoje acerca do estado do nosso planeta. No seu cerne está a constatação de que a acção humana exerce um grande pressão sobre as funções naturais do planeta , pelo que a capacidade dos ecossistemas para responder às necessidades das futuras gerações não pode estar garantida.
Normalmente fala-se do esgotamento dos recursos energéticos mas esquece-se a destruição dos ecossistemas.

Chama-se ecossistema a um conjunto de organismos (plantas, animais, micro-organismos) que agem por interacção, sendo os homens partes integrantes dos ecossistemas. A floresta tropical, os oceanos, a savana são exemplos de ecossistemas, o conjunto dos quais formam a biosfera que é a parte viva do planeta.
A originalidade do estudo é que não se debruça propriamente sobre o ambiente enquanto tal, mas sim em torno dos serviços prestados pelos ecossistemas., tais como a alimentação, a água, o tratamento de doenças, a regulação e equilíbrio dos climas. Ora segundo o relatório cerca de 60 % dos ecossistemas que permitem a vida na Terra estão degradados, degradação essa que se acentuou mais nos últimos 50 anos do que em toda a história da Humanidade, e que se agravará ainda mais nas próximas décadas.
Tal se deve às transformações ambientais que se têm verificado: por exemplo, de 1945 para cá converteram-se mais terras à agricultura que durante os séculos XVIII e XIX.; outro dado ilustrativo é o relativo ao carbono, pois 60% do crescimento da concentração do gás carbónico na atmosfera desde 1750 dá-se só a partir de 1959.
A avaliação feita não é totalmente negativa, uma vez que se registou melhorias significativas no bem estar do homem e no desenvolvimento económico, o que permitiu um aumento da produção agrícola superior ao da população mundial, e uma multiplicação por seis da economia mundial.
Também a proporção de pessoas que sofrem de mal nutrição foi reduzida, assim como melhorou a saúde humana.
O maior problema reside no facto da degradação dos ecossistemas, a continuar, poder impedir a realização dos objectivos do Milénio. Alerta-se ainda para o facto dos países e as populações mais pobres serem as mais atingidas com essa degradação. Além disso, esta tendência contribui para o aumento das desigualdades na medida em que são as populações pobres que estão mais dependentes dos serviços prestados pelos ecossistemas.
Um aspecto preocupante, assinalado pelos investigadores, é a probabilidade acrescida de «mudanças não lineares», o que significa que a partir de certo limiar de degradação, um mudança brusca se pode dar no ecossistema que o enfraquece ou até pode torná-lo incapaz de funcionar normalmente. Um exemplo disto poderá ser a pesca, cujos stocks deixarão de ser aproveitáveis, pura e simplesmente.
Toda esta evolução é agravada com o aquecimento da Terra ( que poderá levar, por exemplo, a transformar a região do Amazonas em savana) e que tornará difícil senão mesmo impossível o restabelecimento dos equilíbrios perdidos.
A conclusão é que a crise dos ecossistemas não é menos grave que a do clima.

(tradução de uma parte do texto sob o título «L’épuisement de la nature menace le progrès» publicado no Le Monde 1 de Abril de 2005)

Era Nuclear ( algumas datas)

16/7/1945
Primeiro ensaio nuclear nos Estados Unidos.
Em Agosto são lançadas as duas bombas nucleares em Hiroshima e em Nagasaki.

1949
Primeiro ensaio nuclear da ex-URSS (Rússia)

1952
Primeiro ensaio nuclear britânico

1958
Um Conferência Internacional realiza-se com vista a estudar a possibilidade de controlar e aprovar uma interdição dos ensaios.
Realizam-se em Outubro reuniões tripartidas de especialistas dos USA, da URSS, e do Reino Unido

1959
O Tratado sobre a Antártida consagra este continente como região desnucluearizada, e fica aberto à adesão dos países

1960
Primeiro ensaio nuclear francês

1963
Os USA, o Reino Unido e a URSS assinam um tratadode interdição parcial dos testes que proíbe a sua realização na atmosfera, no espaço e na água.

1964
Primeiro ensaio nuclear chinês

1/7/1968
Tratado de não-proliferação das armas nucleares (TNP) fica à disposição dos Estados interessados a ratificá-lo. Nesse Tratado os Estados possuidores de armas nucleares ficam obrigados a não transmitir nem armas nem componente a outros Estados que as não possuem. Por sua vez, estes últimos obrigam-se a não adquiri-las.

1990
Últimos ensaios soviéticos e britânicos

1992
Último ensaio americano

1993
A Conferência do desarmamento cria um Comité especial para a interdição completa dos ensaios.

1996
Últimos ensaios chinês e francês

24/9/1996
O Tratado de Interdição de ensaios nucleares (TICE) fica aberto à adesão dos Estados

6/4/1996
França adera ao TICE

Maio de 1998
A índia e o Paquistão realizam ensaios nucleares, antes de anunciar uma moratória sobre os testes

Março de 2005
Até esta data 175 Estados assinaram o TICE

O Futebol S.A. !!!


Falar de «desporto» hoje em dia em Portugal é falar forçosamente de futebol S.A. De facto, o futebol, que era uma modalidade desportiva de origem operária que se popularizara nos subúrbios ingleses pouco depois da revolução industrial na Ingleterra do século XIX , tornou-se nos nossos dias um dos mais rentáveis negócios de entretenimento e espectáculo, só comprável à indústria do cinema de Hollywod.
Os ídolos do futebol cotejam os ídolos cinema e ambos fazem parte, sem dúvida, da moderna iconografia dos tempos que correm.
São ídolos feitos por determinados jornais e canais de televisão que os levam até à fama e enchem o imaginário são adulados não só por multidões de jovens como mulheres e homens adultos que não perdem nenhum pormenor das suas vidas . O mitos constroem-se à base de um formidável aparelho mitómano que não hesita em alimentar o espectáculo do «pão e circo», tal como faziam os antigos imperadores romanos relativamente às massas ululantes que enchiam a antiga capital do império, Roma.
A receita é simples: Faz-se uma lavagem ao cérebro durante toda a semana através de jornais ditos desportivos, de rádios festivais e comerciais, além de doses maciças de programas supostamente desportivos nos canais de televisão com maiores audiências. Agita-se tudo isto, muito bem. Deixa-se cozer em lume brando até domingo e está pronto a sair em ponto de rebuçado.
Para tapar um pouco as aparências as empresas de espectáculos futebol S.A. usam ainda o nome de clubes, falam de associados e alimentam claques de adeptos. Tudo isso não retira, no entanto, o carácter profundamente empresarial do negócio que penetrou em todos os domínios deste espectáculo de massas.
Mas não é só o dinheiro que está por detrás do futebol S.A. Com efeito, se observarmos as multidões que enchem os estádios de futebol encontramos pessoas excitadas, que não param de gesticular e agredir verbal, e quantas vezes, fisicamente quem não lhes agrada, num claro gesto de descompressão catártico. Algumas situações fazem lembrar antigas cerimónias de imolação sacrificial tal é o fanatismo e a transe vivido pelos protagonistas. A bílis libertada servem para enfrentar nova semana de trabalhos e stress.
Há quem diga que isto é futebol e desporto. Eu, pelo contrário, prefiro chamar de futebol S.A. a todo esse show business…

Debate com Daniel Colson sobre filosofia anarquista


Começa-se a entender melhor, nestes princípios do século XXI a força e a originalidade e, sobretudo, a coerência do projecto libertário que não se deve limitar aos contornos que o anarquismo adquiriu a partir do século XIX mas cujo lastro histórico é muito mais extenso. A esta renovação do pensamento libertário não é certamente estranha as novas condições sócio-cultrais das actuais sociedades pós-industriais que certos autores associam ao chamado pós-modernismo. É neste enquadramento que se insere o livro de Daniel Colson, «Os três ensaios da filosofia anarquista».
O anarquismo afirma-se hoje como uma alternativa às insuficiências do pensamento dominante: desde o pensador marroquino Abdallah Laroui até Hanna Arendt, e passando por toda a tradição revolucionária europeia, Colson mostra-nos a originalidade e as potencialidades da concepção libertária nos três ensaios que reuniu no seu último livro.
Daniel Colson vai buscar à história arabo-muçulmana, à concepção de Arendt sobre as «falhas da história» e aos acontecimentos revolucionários de 1848 e da Comuna de Paris referenciais para expor a sua leitura anarquista.
O primeiro ensaio é uma reflexão sobre o pensamento marroquino contemporâneo Abdallah Laroui que, nos comentários que faz da obra de Ibn Khaldûn (1332-1406), evoca a dificuldade do pensamento árabe a abrir-se sobre a racionalidade histórica ao mesmo tempo exterior e anterior. A finalidade de se encontrar no outro e de encontrar o outro em si mesmo gera uma dupla tensão que se traduz num cimento associativo essencialmente positivo e que se opõe frontalmente a qualquer integrismo. A liberdade do outro, longe de ser um limite ou a negação da minha liberdade, é, pelo contrário, a sua condição necessária. Colson mostra assim uma relação de fundo entre o pensamento anarquista e a teologia do Islão na medida em que não se pode falar do passado a não ser a partir do presente.
O segundo ensaio é consagrado a Hanna Arendt e à relação que esta estabelece entre história e ficção nas «falhas da história» e nas «brechas do pensamento».É justamente neste interstício que nasce o «era uma vez» da narrativa.
No terceiro ensaio o autor mostra como os acontecimentos revolucionários de 1848 e da Comuna de Paris puderam esgotar a sua força histórica e que toda a tentativa de repetição não pode levar senão ao enfraquecimento das suas potencialidades e do seu significado.

No pensamento libertário moderno, anarquia e realidade são sinónimos segundo Colson.



Para o debate desta problemática realizou-se uma conferência-debate no passado dia 2 de Abril no CIRA emMarselha cujo conferencista foi o próprio autor daquele livro, Daniel Colson, professor de sociologia na Universidade de Saint-Etienne, e autor de «Trois essais de philosophie: islam, histoire, monadologie.” Lignes-Manifestes, 2004. 384p. 23 euros.

C.I.R.A. (centro internacional de investigações sobre anarquismo), Rue Saint-Dominique, 3 13001 Marsella (esquina com Place des Capucines) Tel-fax: 04 91 56 24 17
Correio
cira.marsella@free.fr
Website:
http://cira.marseille.free.fr/

Consultar:
http://raforum.apinc.org/article.php3?id_article=2040
http://www.ainfos.ca/fr/ainfos05137.html

O embaixador norte-americano nomeado para a ONU é contestado por 60 embaixadores americanos



Segundo notícias vinda a público e transmitidas pela imprensa oficial, 60 embaixadores norte-americanos subscreveram um texto a contestar a nomeação de John Bolton como embaixador dos Estados Unidos na ONU., pois segundo se diz «as suas actividades e opiniões levam a pensar não se tratar da pessoas mais indicada».
Recorde-se que Bolton é um falcão republicano que já mostrou ser contrário às operações de manutenção da paz levadas a cabo pelas Nações Unidas.