"Embauché malgré moi dans l’usine à idées
J’ai refusé de pointer
Mobilisé de même dans l’armóc des idées
J’ai déserté"
J.Prévert
Empregado contra a vontade na fábrica de ideias
Recusei-me a marcar o ponto
Mobilizado mesmo assim para o exército das ideias
Eu desertei
«Notre Père qui etes aux cieux,... Restez y !
et nous,
nous resterons sur cette terre
qui est parfois si jolie. »
J. Prévert
Pai nosso que estais no céu…Ficai por lá!
Que nós,
Nós continuaremos na terra
Que por vezes é tão bonita.
Jacques Prévert, poeta francês (n. Neuilly-sur-Seine, 1900 - m. Ormonville-a-Petite, 1977), e um dos expoentes da literatura francesa, tem agora finalmente o seu livro Paroles traduzido para português nas edições Sextante com tradução de Manuela Torres
Poeta, surrealista, guionista, escritor de diálogos e de contos infantis, o seu talento desdobrou-se por múltiplos géneros e sempre com geral admiração. Foi um assumido e visceral poeta libertário, cultivador da liberdade e do espírito de revolta, a cujo humor corrosivo não escapava nenhum símbolo burguês, seja ele o clericalismo, o militarismo ou a moral hipócrita. ( um dos seus poemas mais corrosivos é "Tentative de description d'un dîner de tête à Paris-France”, de 1931.
A publicação do seu livro de poemas Paroles em 1946, constituiu um marco importante que mereceu o geral reconhecimento público, tendo então ingressado no colegio da patafísica, onde alcançou o grau de sátrapa em 1953.
Para além de representar a vida parisiense, as suas ruas e gentes, a cultura popular e boémia, a sua obra revela um empenhamento pelas causas sociais, pelo pacifismo e pela liberdade, identificando-se com o anarquismo e as ideias libertárias.
Jacques Prévert parece falar quando escreve. É um homem da rua e não da literatura de salões e de bibliotecas. Encontra a poesia por todo o lado que passa, ao virar da esquina ou nuns simples lábios.
A sua poética é des-respeituosa para com todos os conformismos e mostra-se delirante sobre as coisas simples da vida. São celebrações libertárias e improvisações de humor crítico e corrosivo.
Em 1930 rompeu com André Breton - representante máximo dos surrealistas - demasiado autoritario para o seu gosto, afastando-se igualmente do partido comunista onde nunca, de resto, chegou a militar, abraçando então assumidamente as ideias libertárias do anarquismo. Contra as pretensas virtudes o velho patriotismo, Prévert sempre se manifestou o seu declarado antimilitarismo e pacifismo que não admitia qualquer concessão.
Escreveu também vários guiões para cinema, em especial para o realizador Marcel Carné, entre as quais se encuentra Drôle de drame (1937), Le jour se lève (1939) e a mais famosa, Les enfants du paradis (1945).
Muitos dos seus poemas são cantados pelas figuras mais importantes da Chanson francesa e seleccionados para servir de lectura e estudo nas escolas de francês em todo o mundo.
Os seus poemas tratam geralmente do quotidiano de uma grande cidade como é Paris, dedicando-se a realizar contínuo jogos de palabras, e reinventando musicalmente a linguagem poética numa singular demonstração da sua capacidade imaginativa e inspiração poética.
Ligado ao surrealismo, mas mantendo a sua independencia e especificidade, a sua poesia está recheado de imagens e recursos literários que nos dão a ver uma naturaleza fluída e uma composição heteróclita de objectos e pessoas.
Nos seuscontos infantis, como O Pequemo Leão, Cartas desde as ilhas Baladar, Contos para crianças más, A pastora e outros ( já anteriormente traduzidos para português), Prévert mostra que sabe manejar com sensibilidade e maestria a rebeldia do eterno insubmisso que existe na criança e no jovem.
"Ni Dieu, ni Maître; Mieux d'Etre "
"Rêve + Evolution = Révolution "
Nem Deus, Nem Senhor; Melhor é Ser
Sonho + Evolução = Revolução
Filme sobre Jacques Prévert – realizado por Janine Marc Pezet, Alain Poulanges et Gilles Nadeau
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6
Prévert no cinema
Um dos mais famosos textos de Prévert interpretado por Serge Reggiani
POESIA DE JACQES PRÉVERT
FAMILIALE
La mère fait du tricot
Le fils fait la guerre
Elle trouve ça tout naturel la mère
Et le père qu'est-ce qu'il fait le père?
Il fait des affaires
Sa femme fait du tricot
Son fils la guerre
Lui des affaires
Il trouve ça tout naturel le père
Et le fils et le fils
Qu'est-ce qu'il trouve le fils?
Il ne trouve rien absolument rien le fils
Le fils sa mère fait du tricot son père des
[ affaires lui la guerre
Quand il aura fini la guerre
Il fera des affaires avec son père
La guerre continue la mère continue elle
[ tricote
La père continue il fai des affaires
Le fils est tué il ne continue plus
La père et la mère vont au cimetière
Ils trouvent ça naturel le père et la mère
La vie continue la vie avec le tricot la guerre
[ des affaires
Les affaires la guerre le tricot la guerre
Les affaires les affaires et les affaires
La vie avec le cimitière.
FAMILIAR
Tradução: Silviano Santiago
A mãe faz tricô
O filho vai à guerra
Tudo muito natural acha a mãe
E o pai que faz o pai?
Negocia
A mulher faz tricô
O filho luta na guerra
Ele negocia
Tudo muito natural acha o pai
E o filho e o filho
o quê que o filho acha?
Nada absolutamente nada acha o filho
O filho sua mãe faz tricô seu pai negocia ele
[ luta na guerra
Quando tiver terminado a guerra
Negociará com o pai
A guerra continua a mãe continua ela tricota
O pai continua ele negocia
O filho foi morto ele não continua mais
O pai e a mãe vão ao cemitério
Tudo muito natural acham o pai e a mãe
A vida continua a vida com o tricô a guerra
[ os negócios
Os negócios a guerra o tricô a guerra
Os negócios os negócios e os negócios
A vida com o cemitério.
JE SUIS COMME JE SUIS
Je suis comme je suis
Je suis faite comme ça
Quand j'ai envie de rire
Oui je ris aux éclats
J'aime celui qui m'aime
Est-ce ma faute à moi
Si ce n'est pas le même
Que j'aime chaque fois
Je suis comme je suis
Je suis faite comme ça
Que voulez-vous de plus
Que voulez-vous de moi
Je suis faite pour plaire
Et n'y puis rien changer
Mes talons sont trop hauts
Ma taille trop cambrée
Mes seins beaucoup trop durs
Et mes yeux trop cernés
Et puis après
Qu'est-ce que ça peut vous faire
Je suis comme je suis
Je plais à qui je plais
Qu'est-ce que ça peut vous faire
Ce qui m'est arrivé
Oui j'ai aimé quelqu'un
Oui quelqu'un m'a aimée
Comme les enfants qui s'aiment
Simplement savent aimer
Aimer aimer...
Pourquoi me questionner
Je suis là pour vous plaire
Et n'y puis rien changer.
CET AMOUR
Cet amour
Si violent
Si fragile
Si tendre
Si désespéré
Cet amour
Beau comme le jour
Et mauvais comme le temps
Quand le temps est mauvais
Cet amour si vrai
Cet amour si beau
Si heureux
Si joyeux
Et si dérisoire
Tremblant de peur comme un enfant dans le noir
Et si sûr de lui
Comme un homme tranquille au milieu de la nuit
Cet amour qui faisait peur aux autres
Qui les faisait parler
Qui les faisait blêmir
Cet amour guetté
Parce que nous le guettions
Traqué blessé piétiné achevé nié oublié
Parce que nous l'avons traqué blessé piétiné achevé nié oublié
Cet amour tout entier
Si vivant encore
Et tout ensoleillé
C'est le tien
C'est le mien
Celui qui a été
Cette chose toujours nouvelles
Et qui n'a pas changé
Aussi vraie qu'une plante
Aussi tremblante qu'un oiseau
Aussi chaude aussi vivante que l'été
Nous pouvons tous les deux
Aller et revenir
Nous pouvons oublier
Et puis nous rendormir
Nous réveiller souffrir vieillir
Nous endormir encore
Rêver à la mort
Nous éveiller sourire et rire
Et rajeunir
Notre amour reste là
Têtu comme une bourrique
Vivant comme le désir
Cruel comme la mémoire
Bête comme les regrets
Tendre comme le souvenir
Froid comme le marbre
Beau comme le jour
Fragile comme un enfant
Il nous regarde en souriant
Et il nous parle sans rien dire
Et moi j'écoute en tremblant
Et je crie
Je crie pour toi
Je crie pour moi
Je te supplie
Pour toi pour moi et pour tous ceux qui s'aiment
Et qui se sont aimés
Oui je lui crie
Pour toi pour moi et pour tous les autres
Que je ne connais pas
Reste là
Là où tu es
Là où tu étais autrefois
Reste là
Ne bouge pas
Ne t'en va pas
Nous qui sommes aimés
Nous t'avons oublié
Toi ne nous oublie pas
Nous n'avions que toi sur la terre
Ne nous laisse pas devenir froids
Beaucoup plus loin toujours
Et n'importe où
Donne-nous signe de vie
Beaucoup plus tard au coin d'un bois
Dans la forêt de la mémoire
Surgis soudain
Tends-nous la main
Et sauve-nous.
POUR TOI MON AMOUR
Je suis allé au marché aux oiseaux
Et j'ai acheté des oiseaux
Pour toi
mon amour
Je suis allé au marché aux fleurs
Et j'ai acheté des fleurs
Pour toi
mon amour
Je suis allé au marché à la ferraille
Et j'ai acheté des chaînes
De lourdes chaînes
Pour toi
mon amour
Et puis je suis allé au marché aux esclaves
Et je t'ai cherchée
Mais je ne t'ai pas trouvée
Texto retirado de:
http://ruibebiano.net/zonanon/non/abc/prevert.html
"De fora", como se dizia dos irredutíveis da anarquia, Jacques Prévert insurgiu-se sempre contra a Ordem – fosse ela moral, social, religiosa ou militar – com uma certa violência mas ao seu estilo, alternando alfinetadas com patas de veludo, vestindo-se como um dandi mas usando boina de operário. Nascido em 1900, Prévert inicia-se em Montparnasse, nos anos vinte, através de facécia e de invenções verbais, em conjunto com um grupo de amigos, mais próximos de Dada do que do surrealismo, que costumavam acampar na Rue du Château: Yves Tanguy, Marcel Duhamel, Benjamin Péret. Em seguida, entre provocações-escândalos e trabalhos de encenação, confirmará a eficácia dos seus gags produzindo sketches para Octobre, um grupo de agit-prop mais esquerdista do que comunista, ainda que o seu encenador, Louis Bonin, se tenha rebaptizado, exibindo um certo "chique" soviético, como Lou Tchimoukov. A propósito de uma possível ligação, Jacques recusar-se-á: «Aderir?.. Mas iam logo meter-me numa célula!». La Bataille de Fontenoy, Suivez le druide e outros escritos incendiários constituem nesta altura enormes sucessos.
O grupo Octobre auto-dissolver-se-á em 1936, depois de achar que a Frente Popular era demasiado consensual, mas manter-se-á para sempre a amizade entre os seus membros: J. B. Brunius, Yves Allégret, Raymond Bussières, Yves Deniaud, que Prévert jamais esquecerá na formação dos seus castings.
Ei-lo agora, com Drôle de drame, mais do que um cenófrogo-dialoguista: será ele o verdadeiro autor de filmes que irão rodar Renoir (Le Crime de M. Lange, um testamento do grupo Octobre), Grémillon (Remorques, Lumière d'été), o seu irmão Pierre Prévert (L’affaire est dans le sac, Adieu Léonard, Voyage surprise), Christian Jaque (Les Disparus de Saint-Agil, Sortilèges), Carne por fim, com o qual assinará algumas das obras-primas do realismo poético francês: Jenny, Drôle de drame, Le Quai dês brumes, Le jour se leve, Les Visiteurs du soir, Les Enfants du paradis, Les Portes de la nuit.
E a escrita? Prévert não se considerava um homem de letras, mas Un peu de ténue, Souvenirs de famílle ou Le Diner de têtes apareceram regularmente em revistas desde 1929. Em 1936, regressado (com o grupo Octobre) com um grande desencantamento de Moscovo, irá até às Baleares com a mulher amada. Aí escreverá Lumières d'homme, poemas cheios de implícitos sentidos («Toujours três près des camarades/Mais si loin tout de même si loin.»), num livro dado a um impressor e editor, que não os publicará senão em... 1955!
Todavia, desde antes da guerra que alguns dos seus poemas circulavam já por albergues da juventude. Será em 1946 que René Bertelé reunirá Paroles, cujo enorme sucesso editorial não terá precedentes senão no Livro dos Cantos, de Heine, nos tempos idos do romantismo alemão. «Notre Père qui Êtes aux cieux/Restez-y»: é difícil imaginar hoje o significado, naquela época, desta nova Libertação! Seguir-se-ão Spectacle, La Pluie et le Beau Temps, Histoires, Fatras, Choses et autres. Uma obra complexa e erudita, mesmo quando ela parece superficial ao brincar, como brincava, com as palavras. Uma obra de reivindicação, mas também de um profundo lirismo, de pudor mais do que de fracasso, inscrevendo-se naquela estreita linha da poesia francesa que, de Villon a Hugo, se consegue dirigir a todos e a cada um.
Poesia viva ainda devido às canções musicadas por Bessières, Crolla, e sobretudo Kosma, que soube encontrar melodias simplesmente memoráveis para Agnès Capri ou Yves Montand; devido às suas variações em homenagem às pinturas de Miró, Chagall, Ernst, Braque, e Picasso, seu amigo; devido aos reflexos do seu próprio imaginário que se encontram representados em fotografias de Brassaï, Izis, Villers, Doisneau; devido aos inúmeros recortes, colagens e colorações da sua lavra.
«Quando ele escreve, é como se falasse.», dizia Ribemont-Dessaignes antes ainda de 1930. Claro que sim, mas olhada mais de perto, a sua frase, longamente experimentada no decorrer de inesgotáveis monólogos, aparece como busca paciente de uma apenas aparente simplicidade, de uma perfeição minimal. Nada pois de automático, de improvisado: Prévert polia e voltava a polir. Quanto aos «temas», às escolhas se quisermos, elas foram aquelas do repertório eterno dos poetas: o amor pela vida, a fraqueza do homem, a nobreza da fraternidade, o amor do amor.
A criação e a vida: poesia de imagens, de palavras, de sons, de cores. De amor e de revolta. Um rendez-vous previsto com o século seguinte, com este terceiro milénio, quando forem esquecidos de vez os nomes dos académicos e dos eminentes "protectores das artes", ao mesmo tempo que continuarão a sua ronda os estranhos personagens de JP.