1.6.06

Questionando o modelo económico dominante…


A economia tornou-se, hoje em dia, quase que uma religião reverencial
(quero eu dizer, de uma forma mais peremptória: a economia é hoje o mesmo que a teologia foi para a Idade Média)

Talvez não por acaso que os sectores da imprensa diária mais em expansão em Portugal, e que não conhecem crise alguma, sejam os dos jornais desportivos e os da imprensa económica especializada!!!

Quando um economista – sobretudo, os que têm maior visibilidade mediática - começa a falar, parece que sobre ele desce, de imediato, um manto de silêncio reverencial!!!

Mas a verdade é que a economia, maxime a teoria económica que sustenta o actual modelo económico dominante, releva mais da ideologia do que de um desinteressado e objectivo conhecimento científico.

Para o comprovar coloquemos esta questão-chave:


O meio ambiente é uma parte da economia ou é, antes, a economia uma parte do meio ambiente?

Os economistas clássicos do paradigma dominante vêem o ambiente como um simples subconjunto da economia.
Ao invés, os ecologistas ( e um número crescente de economistas heterodoxos ou dissidentes) consideram a economia como um subconjunto de um todo mais abrangente que é a natureza, e retiram daí as devidas consequências.

A confirmar a segunda hipótese todo o edifício conceitual da teoria económica clássica e neo-clássica, pretensamente «científica», e que enche jornais, manuais e tudo o que é telejornal, desabará por aí abaixo…

Aforismos do senhor Karl Kraus ... sobre o jornalismo

* A missão da imprensa consiste em propagar o entendimento e, simultaneamente, em destruir a receptividade do entendimento

* Os jornais têm mais ou menos a mesma relação com a vida que a cartomante com a metafísica.

* A palavra escrita será a incorporação naturalmente necessária de um pensamento, e não o invólucro socialmente conveniente duma opinião.

* Jornalista é quem exprime o que o leitor de qualquer jornal já pensara, numa forma de que não seria mesmo assim capaz qualquer escriturário.

* A falta profundamente sentida de personalidade criou um estado de incêndio espiritual. Os bois evadem-se dos currais a meio das chamas; o publicista evade-se do assunto a meio da cultura. A meio desta pestilência espiritual, a gente tapa as ventas.

* Por que escreve fulano? Porque não tem carácter bastante para não escrever.

* O jornalismo pensa sem prazer do pensamento. A um tal domínio relegado, o artista assemelha-se à hetera obrigada a prostituir-se. Com uma diferença, porém: esta última sucumbe, sem dificuldade, também ao constrangimento. O constrangimento pode no seu caso significar prazer; no caso do primeiro, só desprazer.

* O que é que tem sobressaltos de ideias sem ideias? O que é que é mais inconsistente e impenetrável, mais infundado e imprevisível do que o boato? É jornal. O jornal é o funil dos rumores.

* A distorção da realidade na notícia é a notícia verídica da realidade.

* O historiador nem sempre é um profeta voltado para trás; o jornalista, porém, é sempre alguém que, depois, soube tudo antes.

* A humanidade inteira encontra-se já perante a imprensa no estado do actor a quem a omissão de um bom êxito poderá prejudicar. Nasce-se receando a imprensa.

* A crítica dos jornais consegue, apesar de tudo, exprimir como o criticado está para com o crítico.* O jornalismo é uma operação a prazo em que o trigo também não existe em ideia, mas em que, realmente, há grande debulha de farelo.

* Censura e jornal - como não poderia eu pronunciar-me pela primeira? A censura pode oprimir a verdade durante certo tempo, retirando dela palavras. O jornal oprime a verdade a longo prazo, ao dar-lhe palavras. A censura não prejudica, nem a verdade, nem a palavra; o jornal, a ambas.

[Karl Kraus, "Presença de Karl Kraus contra o jornalismo", in revista Pravda, nº4, 1986]