18.1.09

A Natureza Revolucionária da Felicidade é o tema da próxima sessão das Quintas de Leitura (dia 22 de Jan. às 22h. no teatro do campo alegre)

NATUREZA REVOLUCIONÁRIA DA FELICIDADE

QUINTAS DE LEITURA

com valter hugo mãe

22 de Janeiro de 2009 às 22h00
no Teatro do Campo Alegre ( no Porto)

Como já é tradição, o poeta e romancista valter hugo mãe, Prémio Saramago 2007, abre o ano poético das "Quintas de Leitura".

Valter lerá inéditos e mostrará os seus belos desenhos.
Será acompanhado, nas leituras, por Isaque Ferreira.Para o fim de festa anunciamos um concerto electro rock de Slimmy, um dos grandes fenómenos actuais da música portuguesa.


http://casadeosso.blogspot.com/

http://quintasdeleitura.blogspot.com/

Teatro do Campo Alegre ( no Porto) - aqui

Aconteceu em Almada: polícias recorrem à violência para garantir a circulação de carros numa zona pedonal !! Surrealista, não é?



É preciso identificar, processar e acusar disciplinar, civil e criminalmente os agentes da PSP que abusam do poder, recorrem à violência gratuita, maltratam cidadãos e não cumprem com as regras do civismo, de que eles deviam dar o exemplo, colocando-se à margem da lei.


O comportamento ilegal, violento e fora-da-lei da polícia no centro de Almada no dia 16 de Janeiro de 2009


Sem qualquer justificação, um grupo de policias agrediu brutalmente um pequeno grupo de cidadãos (jovens, mulheres, idosos e crianças) que através de música e distribuição de panfletos, tentavam sensibilizar condutores para respeitarem uma zona pedonal que deveria estar livre de viaturas e ser sim um espaço para os peões e moradores.
Para além das agressões e de estes polícias atentarem contra o direito consagrado na constituição portuguesa de liberdade de expressão e de manifestação, para eliminar as provas das suas agressões selváticas, ameaçaram fisicamente pessoas que tiravam fotos e vídeos desse mesmo ataque, eliminando as imagens, partindo cameras e agredindo essas pessoas.
Quando as pessoas a serem agredidas pediram a identificação dos agentes (para fazerem queixa dos mesmos), estes recusaram dizer, embora por lei sejam obrigados a se identificarem.
A polícia ao ser contactada por alguns média que procuravam respostas e para se defender das acusações, a polícia mente aos jornalistas dizendo por exemplo, que tinha sido uma manifestação de 200 pessoas ("potencialmente violentos / desordeiros"), quando eram pouco mais de 20 e todos os participantes eram pacíficos.
Na 6ª feira, 16 de Janeiro, decorreu uma celebração na praça do MFA, no centro da zona pedonal de Almada, cujo objectivo era reclamar a zona pedonal para os peões (visto que ela é todos os dias atravessada por centenas de carros, autocarros, taxis, tornando-a, talvez, na “zona pedonal” menos pedonal do mundo…). Uma iniciativa pacífica, de festa e celebração, com jogos com crianças, lanche, distribuição de informação,música e sobretudo muita festa.

Por volta das 18h, a banda Ritmos de Resistência estava já a tocar há algum tempo, andando pela zona pedonal, incomodando (assim como os carros incomodam as pessoas numa zona pedonal) mas não bloqueando o trânsito. Um grupo de polícias veio a correr na nossa direcção, empurrando violentamente várias pessoas da banda. Agarraram então uma rapariga que estava com a sua filha bebé ao colo e empurraram-na bruscamente da frente de um carro. Um dos polícias ameaçou a rapariga dizendo-lhe “se não sais do meio da rua, bato no teu bebé”.

Logo imediatamente a polícia reparou que havia uma pessoa com uma máquina de filmar perto da rapariga e foi-lhe tentar apreender a máquina, ao que essa pessoa, pacificamente, se recusou, pois não estava a perceber para que os agentes queriam o filme. Perante isto pediram-lhe a identificação ao que ele respondeu que o faria apenas depois de o polícia também se identificar (pois nenhum dos agentes presentes tinha identificação). A partir daí a actuação da polícia tornou-se mais violenta e as respostas eram invariavelmente do tipo “eu dou-te a minha identificação, o caralho” ou “se me continuas a pedir a identificação levo-te detido”.

Várias pessoas foram mandadas ao chão e a pessoa que estavam a tentar identificar foi imobilizada por 4 ou 5 agentes de uma forma completamente desproporcionada. Uma pessoa que estava a tirar fotos da agressão foi então agredida por um polícia que lhe tentou tirar a máquina fotográfica, mandando-a ao chão, e que quase lhe partiu um dedo. Várias pessoas foram obrigadas a apagar as fotos que tinham da actuação policial.

Outra pessoa, ao aproximar-se da situação, foi socada na barriga por um agente. Ao mostrar a sua indignação foi ameacado fisicamente: “dei-te uma e volto-te a dar, filho da puta”. Ao que levou outro murro e o agente ainda acrescentou “se eu não estivesse fardado já te tinha fodido todo”. Essa pessoa caiu então por cima da que estava a ser detida e o grupo de polícias começou a dar bastonadas de uma forma extremamente violenta. Nesta confusão outro jovem aproximou-se e levou uma bastonada na cabeça, ficando a jorrar sangue. Uma senhora que se encontrava a ver toda esta situação (juntamente com muitas outras pessoas que entretanto se tinham juntado) foi também empurrada por um agente e caiu ao chão, tendo batido com a cabeça. Um agente à paisana que entretanto tinha tirado o distintivo aproximou-se de algumas pessoas da banda e disse para um dos seus elementos “eu sou psp, voltas-te a meter com os meus colegas e eu faço-te a folha, filho da puta”.

Já na esquadra as agressões continuaram quando as pessoas tentaram saber das pessoas que tinham sido detidas. E só aí, e com a presença do advogado, é que foi possível obter a identificação de alguns dos agentes envolvidos. O balanço desta festa/celebração foi: muita animação, convívio e festa mais três feridos e dois detidos.

Consideramos toda a acção da polícia completamente desproporcionada e desnecessariamente violenta. Foi chocante o clima de impunidade em que vive a polícia. Quando se informaram os agentes de que seria apresentada queixa pelo seu comportamento as respostas foram risos e gozo.

Para lutar contra a violência policial e para continuar a exigir uma verdadeira zona pedonal no centro de Almada, no próximo dia 23 de Janeiro, às 16h, lá estaremos, de novo, a defender um espaço que deve ser de todos os cidadãos…

Consultar:

http://gaia.org.pt/almadapedonal/

http://menos1carro.blogs.sapo.pt/141099.html

23 de Janeiro às 16 h. - Novo encontro cívico no mesmo local para celebrar e defender a zona pedonal em Almada, contra a invasão abusiva de carros e de outras «máquinas» agressivas e violentas…


Relato dos acontecimentos na zona pedonal de Almada no dia 16 de Janeiro


Ontem fui relembrada pouco suavemente de que o inimigo número um de qualquer cidadã
activa não são os problemas ambientais ou mesmo sociais, é antes de mais a intolerância.

Convidada para participar numa acção de celebração e defesa da nova zona pedonal de Almada, contestada um pouco por todos por razões contradictórias, enfiei os patins num saco, fui buscar a minha filha à escola e apanhei comboio e metro para chegar ao entretanto ínfamo local. Estava a decorrer um lanche popular, um grupo de pessoas jogavam jogos tradicionais e de vez em quando tocava uma banda de samba. Outros distribuíam folhetos aos condutores, que achei surpreendentemente numerosos. Basicamente está sempre um carro ou autocarro a passar, poucos respeitam o limite de 10 km e é preciso muita cautela para não ser atropelado.


Mas apesar do trânsito me suscitar críticas à câmara e à polícia por não o controlar, como sabia que estas entidades já tinham sido abordadas, tratava se agora de sensibilizar os transeúntes e ganhar mais massa crítica para defender uma zona pedonal mais verdadeira. Em nenhum momento havia mais de 20 pessoas concentradas no local, metade ou mais mulheres, várias crianças, e ainda idosos que assistiam aos festejos.

Tudo correu bem durante 2 horas, com condutores mais ou menos sensíveis à questão e conversas perfeitamente cívicas com os que passavam, incluindo pais da escola da zona, condutores de autocarros e agentes.

Tudo correu mal quando a dada altura fica evidente a presença de um corpo de intervenção com 8 elementos, a observar e comentar a banda samba que inicia uma marcha à volta da praça, inevitavelmente atrasando o trânsito que para além de ser denso, fazia ouvidos de mercador ao limite de velocidade.


Quando se acumulam 3 carros atrás da banda, onde a minha filha de 8 anos estava muito feliz a tocar um tambor, a polícia de choque resolve fazer uma carga sem aviso. Os agentes atiram-se à dúzia de musicantes rodeados por transeúntes e começam a empurrar com extrema violência. O facto de haver pessoas a filmar e fotografar incendiou-os ainda mais. Foram para o chão entre outros uma mulher com bébé ao colo e uma senhora com mais idade que acabou por ficar com um traumatismo craniano. Um rapaz franzino que tentou proteger a mulher com bébé levou uma cacetada que lhe abriu a cabeça (levou 8 pontos). Outra pessoa que estava a filmar e não quis entregar a camera, foi detida e arrastada para a carrinha. A polícia começou a apagar as fotos das pessoas que estavam a registar o acontecimento e foi aí que eu levei um golpe violento (de bastão) na mão que segurava a camera. Por pouco não me partiu os dedos mas deixou-os em mau estado, ficando a minha camera para a história.

Problema do polícia resolvido. Durante 15 minutos muito tensos nem sabia da minha filha, que felizmente é forte e corajosa e fugiu dos policias enraivecidos, refugiando-se com perfeitos estranhos.

A cena só acalmou com a chegada de mais polícias.. de trânsito.

Estes, como seria normal, focavam a sua atenção na população assustada e indignada, chamaram ambulâncias e trataram de acalmar as pessoas. Um deles passou 10 minutos a sossegar a minha filha, que chorava convulsivamente, evitando assim, esperemos, que ela passe a ter medo de fardas. Eu fui atendida, ao que me parece, por um polícia à paisana, que me atou os dedos e me levou à ambulância. Fui para o hospital com o rapaz do golpe na cabeça, mas não sem termos levado com um rio de insultos dos polícias de intervenção que pretendiam justificar a sua acção. Os comentários foram tão baixos que me custa repeti-los. E não pararam alí. Ainda detiveram uma senhora dos seus pelo menos 70 anos e que nada tinha a ver com a acção, só protestava a actuação da polícia.

O rapaz do golpe foi detido no hospital por 5 agentes, por injúria(tinha pedido ainda no local a um agente para se identificar, depois de ter assegurado que se identificaria também. Só o comandante da 2ª divisão acabou por se identificar, mas não deu mais que este título..).
Meio zonzo, acabado de ser suturado, o pobre rapaz teve que se sujeitar a ser revista

do, algemado e levado, com a cara aterrada, para a esquadra do Pragal. Devia ser muito perigoso para justificar tanta despesa. Ainda me pediu para ligar à mãe a dizer que ia ficar com amigos hoje, para ela não se enervar.


É assustador pensar que em Portugal se magoa peões para defender automobilistas que, trancados nos seus panzerwagens, não corriam perigo absolutamente nenhum. Ainda mais custa realizar que a polícia portuguesa não sabe ler situações, não distingue uma dúzia de jovens, mulheres e crianças rodeados por idosos e cujas armas eram tambores e flyers, de um grupo de terroristas com caçadeiras. Imaginem agora todas as possíveis situações intermédias..


É legítimo não concordar com os argumentos dos cidadãos que resolveram celebrar a zona pedonal. Apresentem outros, discutam, cheguem a novas conclusões. Mas exprimir a discordância e o desconhecimento de eventos coloridos, tão comuns noutras cidades da Europa, com violência misturada com um desprezo que roça o ódio, é descer às profundezas da ignorância. Coloca o relógio 50 anos para trás. Fere-nos como civilização.


Apesar de ser fácil desanimar quando se é envolvida numa situação de tão profunda injustiça, fácil também ganhar medo em exprimir a nossa opinião, eu recuso-me a ser vítima da intolerância.


Por isso escrevo este post, partilhando a má experiência com quem quiser ouvir, apresento as queixas que tiver que apresentar e sigo caminhando, com a mesma intenção de ser útil aos outros e de desejar a sua e a minha felicidade.


Lanka Horstink

Fonte:
aqui




Outro testemunho:

Uma tarde comum de uma sexta - feira, fim de uma semana para alguns, um dia igual a todos os outros para outros.

Almada tem uma zona pedonal! O curioso nesta zona pedonal é termos de nos desviar dos carros, de um metro ou de um autocarro.

Há muitos problemas, acho que não há um sítio que não os tenha, salvo lugares remotos, perdidos nos interiores desabitados deste mundo onde se encontram seres que lutam pela diferença.

Sim, é global, mas é em Almada que estou, no entanto não é só para os Almadenses de gema ou de residência que dirijo as minhas palavras, é para todos os que disponham de interesse em ler e partilhar a consciência da mudança.

É triste não se preservar o local onde vivemos, é triste ver um povo não educar para harmonia e sim para a fachada da cidadania, é triste ver o desinteresse pelo ar que se respira, pelo chão que se pisa.

O sistema é automático, á frente dos governos estão personagens de um jogo corrupto de interesses pessoais.

Mas nós, povo, parecemos não nos importarmos com isso, preocupamo-nos sim com a nossa casa, com as nossas contas, com os nossos desejos consumistas... Não nos interessa de onde a comida vem, desde que se possa comprar. E isto é a oração de cada dia. Tudo se resolve com o poder de compra.

Mas é uma fachada, e muitos sabem-no, engolem o sapo a cada amanhecer.

Queremos continuar? É isto que queremos? Queremos um sistema que não nos respeita? Queremos ser indivíduos? Ou seres humanos?

As perguntas são muitas, todas têm a mesma resposta : NÂO!!!!

Eu não quero que os meus filhos, hoje crianças, sejam amanha indivíduos individualistas. Quero que sejam seres humanos com valores, com respeito, com um espaço saudável e harmonioso para darem continuidade á maravilha da vida e de estar vivo!

Não quero que o ar que respirem esteja contaminado, que não tenham água - que já não têm, a não ser que nós a compremos!!! Pagamos a água que bebemos, pagamos o ar que respiramos. Mas pagamos a quem??????? Porquê???????? Este amanha é hoje!!!!!! O Planeta é de todos!!!! É de tudo quanto tenha vida e não dinheiro!!!!

É uma longa batalha, onde cada ser é chamado a agir, a mudar. Por si, pelo seu bem estar, pelo bem estar comum. Se cada um de nós mudar por si onde está, com o que tem, a mudança colectiva surge.

Há um assunto comum nas mesas de café, nas viagens de transporte, na rua, nos encontros com amigos, um assunto que nos toca a todos, resume-se a : isto vai de mal a pior. Até aí já chegámos. E agora? Vamos continuar de braços cruzados?

É urgente falar, é urgente partilhar o sufoco destes tempos, sair á rua e gritar se preciso for. É preciso mudar hábitos! Mudar pensamentos, prioridades, filosofias, ideias.



Em Almada como em quase todas as cidades, temos situações curiosas, o vislumbre da Avenida que esconde o podre que não interessa mostrar, mas os Almadenses passam por lá e sabem-no; o estado de Almada Velha, Cacilhas, edifícios a ruir, carros estacionados nos passeios sem acesso a carrinhos de criança e cadeiras de roda, lixo, ratos mortos, terrenos destratados...

Nem as pessoas podem esperar da autarquia, nem a autarquia pode fazer sem o respeito das pessoas.

As pessoas queixam-se á autarquia, a autarquia se chegar a ouvir mexe-se a passo de caracol e resolve como nesta situação, cria uma zona pedonal desenhada para peões, mas sem condições para a coexistência entre peões, carros, metro, autocarros e outros transportes que circulam.

Hoje, numa tarde comum da Cidade de Almada onde a dualidade do mudar paira por si, moradores do centro da cidade decidiram usufruir do seu direito de ser peão e circular na zona pedonal promovendo uma iniciativa de ‘celebrar a zona pedonal’.

Entende-se por zona pedonal um local onde se pode caminhar, parar para conversar, deixar as crianças á vontade, mas... a dualidade de mudar e manter velhos padrões cria destas situações:

Citando partes dos textos distribuídos na rua e disponíveis nas informações do GAIA - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental.

‘Primeiro que tudo uma questão simples: de quantos carros a circular precisa uma zona Pedonal? Resposta : Nenhum.

A zona pedonal é pequena e mesmo assim tem uma estação de metro, outra de autocarro e vários parques de estacionamento na periferia.

Qual a necessidade de violar os direitos dos peões na zona pedonal?
Nós, os peões, não podemos andar em paz e segurança uma vez que a maioria dos condutores, além de circular na nossa zona pedonal, ainda ultrapassa o limite de velocidade de 10km/h. Muitos de nós somos idosos, crianças e pessoas com dificuldades motoras. Se temos de fugir dos carros podemos acabar á frente de um metro ou autocarro.

Pensem no bem-comum de todos e deixem o carro na garagem, ou, melhor ainda, na vitrine do stand. Respeitem os peões, utentes deste espaço que usamos para viver e para fazer compras, contribuindo assim para o desenvolvimento do comércio local.

Façam a diferença e contribuam para um ambiente saudável e com boa qualidade de vida.’

Sendo eu moradora da cidade e sentindo na pele estas dificuldades decidi juntar-me á iniciativa.

É bom saber que há pessoas a agir pela diferença, a marcar posição face a um sistema de organização mecânico. Mas é triste ver que ainda há muita mudança e muita luta por uma consciência consciente. Por um cuidar do que se tem.

Em plena Praça do MFA, centro de Almada, um grupo de jovens circulava pela zona pedonal, os idosos que por hábito se juntam no Café Central olhavam e perguntavam o que se estava a passar, alguns diziam ‘ainda bem que alguém faz alguma coisa’.

Os meus dois filhos acompanharam-me, expliquei-lhes que íamos marcar posição e defender o direito de peões na zona pedonal, uma zona que nos permite andar mais descontraídos, mas que neste caso, temos de andar mais cautelosos.

A Joana, minha filha de 4 anos, erguia orgulhosa uma placa que dizia : Finalmente posso morrer atropelado na zona pedonal! - Comparados com esta afirmação ilustrada pela doce Joana cheguei a ouvir comentários do género - Vão trabalhar! Obrigam as crianças a andar aqui!! A aproveitarem-se das crianças!

Aquilo que se esperava ter como um momento de celebração e luta positiva pela mudança assumida, devido a estas mentalidades e a um batalhão de Polícias que se juntou para impor a força da autoridade, foi abalado, mas não perdeu um só dos valores em que acreditava e defendia.

Claro, quem quer mudar não está preocupado com a roupa que veste e sim com a água que bebe. A aparência fala alto, e o grau académico não lhe fica atrás.

Fui registando com a máquina em fotografias e video os momentos das primeiras voltas á Rotunda dos ‘Perseguidos do MFA’, estava descontraída, circulava na zona pedonal acompanhando a celebração, acompanhava os meus filhos que estavam contentes e conscientes do que estavam a fazer. Estávamos a desfrutar da zona pedonal como ainda não tinha-mos sentido quando, de repente, surge um Policia que me retira a máquina da mão e de cabeça baixa de forma a que a pala do seu boné não me deixa-se ver os seus olhos diz-me que não posso fazer registos de imagem, o código penal não permite que eu recolha imagens, então apagou tudo quanto tinha na máquina e disse ainda que se me volta-se a ver tirar fotografias que confiscava a máquina. Perguntei-lhe o seu nome e não me respondeu.

Curioso, os Polícias nunca trazem uma identificação de quem são, como se chamam. Talvez para não os identificarmos quando não actuam correctamente.

Houve várias situações, pessoas que apoiavam e partilhavam a luta, que pararam, leram os textos, que simplesmente valorizaram a zona pedonal.

É incrível como mesmo um pequeno acto tem tanto impacto. Espero que a cada segundo de tempo todos comecem a agir. Já não se trata de despertar, porque estamos simplesmente adormecidos ao de leve, é preciso sim acordar agora, levantar os braços e agir.

Onde quer que estejamos, basta dar o primeiro passo, passo a passo faz-se o caminho

Fonte:
http://utopia-dos-sentidos.blogspot.com/


Comunicado dos movimentos de professores aos Pais, Encarregados de Educação e Cidadãos em geral


Comunicado dos professores aos Pais, Encarregados de Educação e Cidadãos em geral


Os professores vêem-se na necessidade de proceder a formas de luta, depois de terem tentado de todas as maneiras que a suas opiniões fossem tomadas em consideração na elaboração de várias leis que estão a contribuir para que a confusão e o mal-estar se instalem nas nossas escolas: fizeram abaixo-assinados, vigílias e dezenas de manifestações – duas das quais com mais de 100 mil professores –, sendo estas formas de luta desenvolvidas ao fim do dia ou aos sábados para não prejudicar os alunos.

O que querem os professores?

- Querem que as escolas continuem a ser geridas democraticamente. Não querem voltar a ter um reitor à moda antiga; Só dando exemplo diário de democracia é possível formar consequentemente para a democracia.

- Querem ser avaliados por processos justos e que contribuam para o seu aperfeiçoamento profissional.

- Querem ter uma carreira única, digna, em que o mérito seja sempre premiado e não uma carreira dividida artificialmente, onde o mérito só é premiado em alguns casos.

- Querem ser tratados com respeito e que as suas opiniões sejam tidas em consideração na elaboração de diversas leis que o governo – em desprezo pelos que estão há anos no terreno – procura impor, ignorando todos.

- Querem leis que valorizem a sua função e os ajudem a combater a indisciplina e a violência que tem vindo a crescer nas escolas e não a sua constante desautorização e desvalorização por parte do ME.

- Desejam uma escola que ministre um ensino de qualidade, onde os alunos passem de ano a dominar as matérias e não uma escola que não prepara para a vida e que permite a passagem indiferenciadamente, para ficar bem vista nas estatísticas europeias.

- Não estão a reivindicar aumentos salariais – apesar de a crise ser profunda e o seu grupo profissional, desde há oito anos, ter vindo a ver decrescer o seu salário real.

Embora, pelas razões expostas, os professores se vejam obrigados a lutar, irão empenhar-se para garantir a leccionação das matérias previstas.

Os professores desejam salientar que não esquecerão os seus alunos e reiteram que esta luta é de todos – pais, alunos e professores – por uma escola pública de qualidade.



APEDE (Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino)
http://apede.blogspot.com/
http://apede.pt/joomlasite/

CDEP (Comissão em Defesa da Escola Pública)
http://escolapublica2.blogspot.com/

MEP (Movimento Escola Pública)
http://www.movimentoescolapublica.blogspot.com/

MUP (Movimento de Mobilização e Unidade dos Professores)
http://mobilizacaoeunidadedosprofessores.blogspot.com/


PROmova (Movimento de Valorização dos Professores)
http://movimentopromova.blogspot.com/




Para saber mais e acompanhar o movimento de professores, consultar:


Greve nacional dos professores (19 de Janeiro):suspensão imediata do actual modelo de avaliação e por uma revisão do estatuto da carreira docente.

Dia 19 de Janeiro os professores voltam à Greve que voltará a ser uma grande Greve Nacional, à semelhança do que já aconteceu no passado mês de Dezembro.

Em causa estará, para além da exigência de suspensão do actual modelo de avaliação e do protesto pelo clima de intimidação e ameaça instaurado pelo ME, a exigência de uma revisão do Estatuto da Carreira Docente que permite a aprovação de um novo ECD que dignifique e valorize a profissão docente.
Uma revisão que elimine a divisão da carreira em categorias; que estabeleça um modelo de avaliação pedagogicamente construído e garanta a abolição das quotas; que valorize a componente lectiva dos docentes, expurgando do seu horário os cada vez maiores tempos destinados a tarefas burocráticas; que elimine todos os mecanismos criados para afastar, da profissão, docentes que são necessários às escolas, designadamente através de uma espúria prova de ingresso.

São essas exigências que, no próprio dia 19 de Janeiro, serão entregues ao Governo. Nesse sentido, pelas 15 horas de dia 19, em Lisboa, a Plataforma Sindical dos Professores entregará no Ministério da Educação um abaixo-assinado contendo estas exigências.
Simultaneamente, nas restantes capitais de distrito, também a Plataforma Sindical dos Professores, em reuniões solicitadas aos senhores Governadores Civis, fará a entrega do texto do abaixo-assinado e dará conta das suas preocupações sobre o actual momento que se vive na Educação.

A Plataforma Sindical dos Professores14/01/2009

É nas escolas que a luta se vence


Por todo o país será feita a entrega de um texto igual ao que foi subscrito pelos docentes, através das estrutras distritais da Plataforma, em todos os Governos Civis.

NA REGIÃO CENTRO, ESSA ENTREGA SERÁ FEITA NOS SEGUINTE HORÁRIOS

AVEIRO - 15H00
COIMBRA - 15H00
CASTELO BRANCO - 17H00
GUARDA - 15H00 (cordão humano, às 9H30, EB 2,3 S. Miguel)
LEIRIA - 15H00
VISEU - 11H00 (concentração no Rossio)


Região Norte:

Porto (10h30),
Vila Real,
Braga
Bragança (15h),
Viana do Castelo (16h30)
O mesmo acontecerá em Lisboa, Setúbal e nas capitais de distrito da região Sul

O 18 de Janeiro de 1934 ( texto da historiadora Irene Pimentel)


Texto da historiadora Irene Pimentel, retirado do blogue Caminhos da Memória



Logo que chegou à chefia do poder, em 5 de Julho de 1932, António de Oliveira Salazar começou a elaborar a Constituição sobre a qual assentaria o seu novo regime, o Estado Novo. Após ser plebiscitado, o texto constitucional foi promulgado em Abril de 1933, no ano em que o novo regime salazarista criou a polícia política (PVDE) e o Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) e lançou as bases da legislação corporativa, que assentaria, depois da proibição das associações operárias, em Sindicatos Nacionais (SN) únicos e Grémios patronais todo-poderosos. Na luta contra o processo da chamada «fascização» dos sindicatos e num movimento de recusa de dissolução das organizações operárias nos SN e de formação de comités de base de luta por reivindicações económicas e liberdades políticas, ergueram-se os anarco-sindicalistas, os comunistas e alguns socialistas, respectivamente organizados na Confederação Geral do Trabalho (CGT), na Comissão Inter-Sindical (CIS) e na Federação das Associações Operárias (FAO), bem como elementos do Comité das Organizações Sindicais Autónomas (COSA).


No PCP, a linha de Bento Gonçalves e da direcção foi inicialmente de aproveitamento das assembleias-gerais que deveriam realizar-se para decidir da aprovação dos novos estatutos sindicais e aprovar moções de repúdio da nova legislação e dos sindicatos nacionais, gerando um movimento de massas que poderia vir a desembocar numa greve geral contra a «fascização dos sindicatos». O certo é que a táctica do PCP teve pouca aceitação na própria CIS, dirigida por José de Sousa, que aderiu à táctica da «greve geral insurreccional» e a partir de então os sindicalistas comunistas concentraram-se nos preparativos desta.


No processo de organização do movimento de resistência aos decretos sindicais do Estado Novo, revelar-se-ia assim dominante um projecto insurreccional, programado inicialmente pelos comunistas e anarquistas, organizados em Comités Sindicalistas Revolucionários (CSR), em conjunção com forças reviralhistas. Mas logo em Novembro de 1933, a PVDE conseguiu prender e deportar Sarmento de Beires e outros reviralhistas, participantes numa tentativa falhada de intentona que deveria coincidir com a «greve geral revolucionária», que após conhecer sucessivos adiamentos devido à repressão, foi marcada para 18 de Janeiro de 1934.


A polícia e o governo comportaram-se como se desejassem que o movimento deflagrasse para, em seguida, desmantelá-lo e reprimir os envolvidos. Parecendo estar ao corrente dos preparativos da «greve geral revolucionária» de 18 de Janeiro de 1934, a PVDE prendeu, na véspera, alguns dos principais dirigentes sindicalistas, entre os quais se contaram os anarco-sindicalistas Mário Castelhano e Acácio Tomás de Aquino e o reviralhista Carlos Vilhena, detido na madrugada desse dia. Em Lisboa, na noite de 17 para 18 de Janeiro, Salazar abandonou a sua residência, acolhendo-se, primeiro no Governo Civil e, em seguida, ao quartel de Caçadores 5, em Campolide, enquanto os pontos nevrálgicos da capital eram de imediato ocupados pelo Exército. As adesões à «greve geral» de dia 18 acabaram por se revelar reduzidas, registando-se paralisações e acções diversas em Lisboa, Coimbra, Leiria, Barreiro, Almada, Martingança, Silves, Sines, Vila Boim (Elvas), Algoz-Tunes-Funcheira e na Marinha Grande.


Na noite de dia 17, em Lisboa, rebentou uma bomba no Poço do Bispo e foi cortado o caminho-de-ferro em Xabregas, ao mesmo tempo que explodiam duas bombas na central eléctrica de Coimbra, colocada por anarquistas. Só na Marinha Grande, onde as lutas anteriores dos vidreiros tinham criado um ambiente propício, se foi mais longe: sob o impulso do sindicato (onde predominavam os comunistas), grupos de operários ocuparam o posto da GNR, o edifício da Câmara Municipal e os CTT, proclamando o «soviete da Marinha Grande». Tropas vindas de Leiria tomariam conta da vila poucas horas depois, ficando-se «greve geral insurreccional» por aí, com o governo a aproveitar para intensificar a caça aos libertários e comunistas.


Após a PVDE ter desmantelado as movimentações operárias, Salazar propôs, ao Conselho de Ministros, no dia 19, diversas medidas repressivas e sanções para os envolvidos nas acções da véspera. Considerados como participantes num «acto revolucionário», todos os dirigentes mas também qualquer mero aderente do movimento foram «sujeitos aos tribunais especiais». Numa nota oficiosa, o governo avisou também que iria «reprimir eficazmente a propaganda e as ideias dissolventes e atentatórias da moral pública e da ordem, bem como «promover a demissão de funcionários públicos» civis e militares envolvidos. Dos acontecimentos de 18 de Janeiro, resultou também a decisão de o governo criar, no sul de Angola, junto à foz do Cunene, um campo para os responsáveis revolucionários, e a vontade de erguer uma colónia penal em Cabo Verde. Esta viria a ser criada em 1936 no Tarrafal, para onde seriam enviados, logo em Setembro desse ano, os principais dirigentes detidos nos acontecimentos de 18 de Janeiro de 1934[1].


Nos dias subsequentes a 18 de Janeiro, houve porém um afrouxamento da censura e o governo não colocou limites à divulgação dos acontecimentos violentos da véspera. Pelo contrário, tudo fez para dar conta de um pretenso clima insurreccional, potenciando o impacto das acções violentas, em detrimento das greves, com o objectivo de assustar a população e apelar ao seu repúdio pelos acontecimentos. Além disso, o governo foi atribuindo crescentemente a autoria dos acontecimentos ao PCP, omitindo a participação dos elementos dos antigos partidos, dos reviralhistas e dos anarco-sindicalistas. Por exemplo, depois de ter referido estes últimos como os organizadores da «greve revolucionária», o ministro do Interior Gomes Pereira já quase não os nomeou, na conferência de imprensa realizada por ele no dia 19 de Janeiro.


O «18 de Janeiro» marcaria uma ruptura histórica no movimento operário português e o fim de uma época. Em primeiro lugar, foi o fim de mais de meio século de um sindicalismo sempre perseguido mas livre. O fracasso dos acontecimentos de 18 de Janeiro de 1934 levaria também ao fim da hegemonia do anarco-sindicalismo no movimento operário e sindical português, devido à violenta repressão que desabou sobre a CGT e o movimento libertário, que revelaram grandes dificuldades de sobrevivência na clandestinidade. Mais apto em actuar nessas condições adversas e passando a partir de então a hegemonizar a oposição ao regime, o PCP também viria a sofrer uma mudança, abandonando gradualmente o seu carácter ainda «pré-leninista», muito marcado pela herança anarco-sindicalista e pela colagem ao reviralhismo.


Finalmente, a partir de então, a nível do regime salazarista, derrotados os anarco-sindicalistas e os reviralhistas à sua esquerda, e os nacionais-sindicalistas à sua direita, o Estado Novo erigiria os comunistas como seus principais inimigos. Efectivamente, após o desmantelamento do movimento revolucionário de 18 de Janeiro de 1934, Salazar introduziu, pela primeira vez no seu discurso, um novo elemento - o comunismo e o perigo comunista. Foi Franco Nogueira que o disse, ao acrescentar que, através desse discurso, o País compreendia que estava «perante uma nova opção: a ordem social existente ou uma ordem social» que a destruísse por inteiro. O certo é que esse novo tema foi lançado por Salazar, no final do próprio mês de Janeiro de 1934, numa sessão de apresentação da nova organização de juventude estatal, a Acção Escolar Vanguarda (AEV). Depois de avisar que o Estado Novo não reconhecia as «liberdade contra a Nação, contra o bem comum, contra a família contra a moral», afirmou, aos jovens, que constituiriam «a geração do resgate» de que haveria de «nascer o mundo novo», que o comunismo se havia convertido na «grande heresia da nossa idade».


[1] Entre os participantes no «18 de Janeiro de 1934», morreriam no campo de concentração do Tarrafal, Pedro Matos Filipe e Augusto Costa, em 1937, Arnaldo Simões Januário, em 1938, Casimiro Ferreira e Ernesto José Ribeiro, em 1941, Joaquim Montes, em 1943, Mário dos Santos Castelhano e Manuel Augusto da Costa, em 1945, bem como António Guerra, em 1948.

José Correia Pires, anarquista, e autor do livro «Memórias de um prisioneiro do Tarrafal»


Foto encontrada no blogue Alma de Almada




“O ANARQUISMO é uma doutrina que o TIRANO esmaga, mas que O JUSTO E O HERÓI praticam e a NATUREZA NOS ENSINA.”
Correia Pires

Excerto do livro «Memórias de um prisioneiro do Tarrafal» ( recorde-se que José Correia Pires é autor de um outro livro, editado em 1975, com o título «A revolução socia, e a sua interpretação anarquista»:

«No dia 5 de Junho de 1936 partiram 41 presos com rumo ao mar, mas sem ao certo saberem para onde iam, segundo uns, iríamos para a ilha Terceira, Fortaleza de S. João Baptista; segundo outros, íamos com destino a S. Tiago, Campo de Concentração do Tarrafal. Os presos na sua maioria eram de Lisboa ou aí moravam. A notícia da sua deportação fez acorrer ao porto de embarque muita gente, entre muitos curiosos, como se depreenderá, em modos de desespero e de revolta, que deu a esta parte da cidade, autêntico aspecto de motim. Nos carros celulares em que éramos transportados poderíamos ver como o povo acorria, em gritos de revolta, vozeava clamores e protestos, que mais que tudo nos impressionava. A partida deu-se já quase à noitinha e as horas que passámos no cais foram horas de revolta e mau-estar por este drama de que nós éramos os seus verdadeiros actores.Chegada a hora da partida, o chefe dos guardas fez-nos uma arenga e elucidou-nos das ordens rigorosas que tinha a nossa respeito, e afirmou que nem um bafejo nos consentiria. Em terra, com a nossa partida, a gritaria recrudesceu e os presos correspondiam em alucinante ovação, parecendo mais que iam para um passeio de recreio, que para uma deportação donde muitos não voltariam. Que me lembre todos se aguentaram com valentia, e a coragem e sangue-frio de uns, servia de alento a outros. Todos juntos conservámos uma disposição, diríamos, própria de homens que sabiam o que queriam e agora feitos ao mar, a gritaria dos que nos viam partir ia-se deixando de ouvir, à medida que o marulhar das ondas na proa do navio estoiravam e já só a visão da iluminação da cidade em lusco-fusco, se distinguia! Faz-se noite. Olhando a cidade iluminada, pela primeira vez na minha vida, vejo um espectáculo em que tudo de bom e mau que tinha vivido, recordo com um misto de tristeza e revolta. Olhando já o mar distante, contemplo a bela cidade de Lisboa, onde deixo os meus filhos e a pobre companheira imersa em tristeza e miséria que a fará, sem favor, uma mártir e heroína, criando e amparando, com o seu trabalho e sacrifício, cinco crianças, todas pequenas. Mães e filhos, seis vítimas do fascismo, ignoro se no Tarrafal haveria segundo com um problema familiar tão dramático. Assim é a vida e os que lutam conscientes do papel revolucionário que desempenham, tudo são capazes de arriscar e perder menos a sua dignidade de revolucionários e verdadeiros lutadores.»
(p. 95)


-------------------

José Correia Pires, um anarquista no Tarrafal
Texto de Irene Pimentel

retirado do blogue:
Caminhos da Memória


O fracasso da «greve geral revolucionária de 18 de Janeiro de 1934», em que participaram conjuntamente anarquistas, republicanos, «reviralhistas» e comunistas marcou o ocaso em Portugal do movimento anarco-sindicalista, desmantelado pela repressão e sem capacidade para sobreviver em condições de clandestinidade. Depois, outras memórias hegemónicas atiraram os anarquistas portugueses para o esquecimento, de onde também devem ser retirados. Este caso é só um entre muitos.

José Correia Pires (CP) nasceu em 17 de Abril de 1907, em S. Bartolomeu de Messines, concelho de Silves. Os pais, José Correia e Isabel Pires, eram trabalhadores pobres e analfabetos, como a maioria dos portugueses. No entanto, compreenderam a necessidade de o filho aprender a ler e escrever e colocaram-no numa escola particular onde aprendeu as primeiras letras e depois na escola oficial, onde fez a instrução primária até à então 5.º classe. Profissionalizou-se como carpinteiro, por volta de 1922, num período em que, já militando no movimento anarquista, em particular na Confederação Geral do Trabalho (CGT), foi activista do sindicato da construção civil de Messines.

Após o golpe militar de 28 de Maio de 1926, que derrubou a I República portuguesa e a partir do qual vigorou um regime de Ditadura Militar, tentou criar em Messines uma organização, a Aliança Libertária, ao mesmo tempo que colaborava em alguns semanários regionais. Em Janeiro de 1931, ano em que haveria uma intensa agitação social e política contra a ditadura militar, CP teve o primeiro embate com a repressão quando, com outros camaradas, abriu uma escola na sede do Sindicato da Construção Civil de Messines, que acabaria por ser encerrada pelo administrador do Conselho, alferes Barroso, que a considerou subversiva.

Em protesto, CP escreveu um texto no jornal local A Voz do Sul e, para não ser preso, dirigiu-se a Faro, onde o comandante da polícia, capitão Maia Mendes, o tirou de apuros e conseguiu mesmo a demissão do administrador Barroso. Esta situação foi reveladora de que havia ainda então, no seio da Ditadura Militar, contradições, em particular na província, onde «o sentido de repressão ainda não tinha atingido o cunho que viria a ter depois de 33 ou mesmo como já teria em Lisboa e arredores», conforme afirmou o próprio CP nas suas memórias.

No entanto, tudo se clarificaria na Ditadura, quando no ano seguinte António Oliveira Salazar, ministro das Finanças desde 1928, chegou à presidência do Conselho de Ministros. Não por acaso, foi no verão de 1932 que CP conheceu pela primeira vez a prisão, relacionada com a luta pelas 8 horas de trabalho na construção civil. Numas obras a decorrer numas estradas circunvizinhas de Messines, trabalhava-se cerca de 14 horas por dia e o sindicato onde militava CP incitou os trabalhadores a reivindicar o cumprimento da lei das 8 horas. O «incidente» fez cair sobre ele a ameaça de prisão, pelo que teve de se ausentar durante uns meses de Messines, embora acabasse por ser detido em Faro e enviado para a prisão do Aljube, em Lisboa. Levado a julgamento no Tribunal Militar Especial, acabaria porém por ser absolvido, já em 1933.

Lembre-se que, no período da detenção de CP, começou a ser erguido o edifício do regime salazarista, Estado Novo, com a aprovação da nova Constituição e a criação de diversas instituições, entre as quais se contou a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE). Foi também então que Salazar lançou os primeiros diplomas da legislação corporativa, criando os Grémios patronais e os Sindicatos Nacionais e proibindo a partir de então os organismos de classe que neles não se transformassem.

Ora, quando ainda se encontrava preso nos começos de 1933, já se punha, segundo CP, «a hipótese de um movimento revolucionário feito pela CGT e sua possível coincidência com outro dos políticos» contra a «fascização» dos sindicatos.Tratava-se da greve geral marcada para 18 de Janeiro de 1934, numa conjunção de esforços das três centrais sindicais existentes - anarquista, socialista e comunista - e de um projecto insurreccional, programado inicialmente pelos comunistas e anarquistas em conjunção com forças reviralhistas e republicanas. No entanto tudo falhou dado que, avisada, a PVDE conseguiu desmantelar o movimento.

Após a sua libertação da primeira prisão, CP encontrava-se no Algarve a preparar o movimento de 18 de Janeiro de 1934, quando foi surpreendido, logo em 7 de Janeiro, «com um “achado explosivo” no sítio chamado serro grande que pôs em alvoroço toda a vila de Messines». No processo a que CP seria sujeito em 1936, ao ser preso pela segunda vez, consta que, no início de 1934, teria recebido em sua casa, em S. Bartolomeu de Messines, Virgílio Barroso, que havia ido buscar a Lisboa seis bombas de estilhaços para rebentarem em 18 de Janeiro de 1934. Procurado pela polícia, CP exilou-se em Espanha, onde chegou a ser preso e trabalhou numa pedreira, até que regressou clandestinamente a Portugal, em 1935, roído pelas saudades.

Vivia clandestino em Lisboa com a mulher e cinco filhos, quando se envolveu novamente, com camaradas anarquistas e elementos republicanos, numa tentativa de intentona. No entanto, segundo contaria CP numa entrevista dada em 1976, infiltrou-se no grupo um elemento de ligação com os republicanos, que se propôs arranjar-lhes armas, mas verificou-se depois que se tratava de um informador da PVDE. CP voltou a ser preso, passando pelos cárceres do Governo Civil de Lisboa e pela prisão do Aljube, então repleto de outros presos políticos anarquistas e, sobretudo, comunistas, num período em que, com a eclosão da guerra civil em Espanha, o regime salazarista sofreu um processo de endurecimento repressivo. Lembre-se que em 1936 a PVDE prendeu 2748 pessoas por razões políticas e depois continuou a não ter mãos a medir pois, entre esse ano e 1939, houve 9.575 detidos nos seus cárceres; ou seja uma média de cerca de 2400 detenções anuais.

Nesse período, como disse CP nas suas memórias, o ambiente entre todos os detidos era bom, pois pairava «a ideia de “frente única” ou “frente popular”, como vinha ocorrendo em França e em Espanha». Efectivamente os comunistas, anarquistas, republicanos e outros oposicionistas ao Estado Novo formaram então a Frente Popular Portuguesa (FPP), para responder ao processo de «fascização» que se fazia sentir em Portugal. Não por acaso, foi nesse ano de 1936 que foram formadas a milícia paramilitar Legião Portuguesa (LP) e as organizações de enquadramento das mulheres e dos jovens (a Obra das Mães pela Educação Nacional - OMEN -, bem como a Mocidade Portuguesa - MP - e a Mocidade Portuguesa Feminina - MPF, em 1937).

Foi também então criado, para encarcerar os opositores políticos mais activos, em particular os envolvidos em acções armadas, o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, para o qual foram enviados CP - sem ser alvo de qualquer julgamento - e 41 outros presos políticos, em Junho de 1937. Nos oito anos durante os quais CP permaneceu no Tarrafal, erguido sob inspiração dos campos de concentração nazis alemães, foram sucessivamente directores seis militares: Manuel Martins dos Reis, também chamado «Manuel dos Arames», pela sua obsessão em vedar tudo e todos a arame farpado e em impor o isolamento absoluto aos prisioneiros[1], José Júlio da Silva, João da Silva, Olegário Antunes, Filipe de Barros e o capitão Pratas.

Nesse campo «da morte lenta», os presos políticos eram sujeitos a trabalhos forçados e a tremendo castigos, contando-se entre estes a «frigideira» de cimento - um forno durante o dia e um «frigorífico» durante a noite - e a célebre «brigada brava», de trabalhos duríssimos, criada pelo chefe de guardas Henrique de Sá e Seixas, no período «mais duro» do campo, quando este era dirigido pelo capitão João da Silva. CP sofreu todos esses tormentos, incluindo duas estadias na «frigideira» e trabalhos forçados na «brigada brava», até regressar, «amnistiado» sem nunca ter sido julgado, a Lisboa, em 1945.

Após umas semanas no forte de Caxias, acabou por ser solto em 12 de Março desse ano, fixando-se em Almada. Começou por trabalhar nos estaleiros navais da Rocha do Conde de Óbidos e depois voltou à sua profissão de marceneiro até se estabelecer durante um período com uma carpintaria em Almada. Manteve sempre uma actividade associativa e cooperativa, tendo sido fundador da Cooperativa de Panificação - SulCoop, enquanto delegado da Sociedade Cooperativa de Consumo Almadense, do qual foi dirigente. Entre 1956 e 1957, foi presidente da Assembleia-geral da Sociedade Filarmónica Incrível Almadense, da qual foi ainda, em 1958, delegado a Federação.

Em Fevereiro de 1974, José Correia Pires foi denunciado à DGS por ter participado numa sessão comemorativa - autorizada - do 31 de Janeiro de 1891, na Academia Almadense. Após 25 de Abril de 1974, publicou dois livros, Memórias de Um Prisioneiro do Tarrafal e A revolução Social e a sua Interpretação Anarquista, ao mesmo tempo que se manteve politicamente interveniente, escrevendo diversos artigos, no Jornal de Almada e no mensário, Voz Anarquista, em defesa do anarquismo e do cooperativismo. Em 16 de Julho de 1976, José Correia Pires casou com Maria Guerreiro Correia, na conservatória de Almada, mas faleceria, poucos meses depois, em 28 de Outubro de 1976.

[1] Memórias de Um Prisioneiro do Tarrafal, Edições Dêagá, 1975, pp. 283

Fontes e bibliografia:
-Arquivo da PIDE/DGS, José Correia Pires, processos SPS 600, SPS 2410 e 878/74
-«A revolução Social e a sua Interpretação Anarquista, um novo livro de Correia Pires», Jornal de Almada, 12/11/75, p. 2.


Testemunho pessoal de alguém que conheceu José Correia Pires



Reprodução de um texto publicado no blogue Alma de Almada

José Correia Pires, natural de S. Bartolomeu de Messines, Algarve,viveu em Almada.
Aqui o conheci, com ele e outros democratas partilhámos momentos de conversa sobre a sua vida vivida numa luta constante na clandestinidade, na prisão e em liberdade vigiada, por ideais de justiça e de humanidade que não é comum encontrar-se entre muitos homens.

Em Almada, Correia Pires esteve sempre disponível, quando foi preciso colaborar com todas as forças políticas contra o regime que cerceava a liberdade aos portugueses e os oprimia.
Anarquista, José Correia Pires foi homem de primeira linha na batalha contra a opressão, pela liberdade e pela solidariedade entre os homens.

Foi deportado para o Campo de Concentração do Tarrafal em Cabo Verde entre 12/6/1937 e Fevereiro de 1945, onde passou várias vezes pela “Frigideira”, junto com outros companheiros.
Deixou-nos um livro “Memórias de um Prisioneiro do Tarrafal, escrito em 1974, onde descreve parte da sua vida, do qual transcrevemos estes extractos:

“Por convicção e temperamento fui sempre socialmente amigo de toda a gente e, se por vezes pareço ou sou mesmo alguma coisa drástico ao que não me parece bem, a verdade é que sempre preferi exaltar virtudes a arengar defeitos. Afigura-se-me que quando aos outros atribuímos defeitos, nos possam acusar que com o facto queiramos esconder os nossos, enquanto que exaltar virtudes, mesmo que sejam nossas, a virtude é sempre virtude, propagá-la em teoria já é elevado, mas pela prática é simplesmente nobilizante.”...”Em todo este arrazoado se pode depreender que o sectarismo não é de cultivar e, se o amor às ideias se pode aceitar como princípio, o ódio ao adversário é situação que nos animaliza e apouca.”

Sobre um episódio ocorrido no Campo do Tarrafal :” A verdade, porém, é que a inflexibilidade do Partido (PC) foi sempre ao longo do tempo, expressão de intolerância e os que não acatassem as suas palavras de ordem eram votados ao ostracismo e, em tudo lhes dificultavam a vida.”

Após o 25 de Abril de 1974, sabendo que um dos seus carrascos, julgo que o Seixas, estava preso em Caxias, pediu-me se conseguiria autorização para o levar a ver o carrasco na prisão.
Consegui e levei-o a Caxias. Fizeram-lhe uma recomendação: abririam a portinhola de observação, mas ele, Correia Pires não poderia dirigir qualquer palavra ao preso. Aceitou.
Mal abriram a portinhola Correia Pires, conseguiu reconhecer o homem que o havia maltratado e torturado . Este imediatamente virou o rosto quando se sentiu observado. Provavelmente reconheceu o "seu" ex-prisioneiro.

Reparei na expressão facial do meu amigo Correia Pires naquele importante momento da sua vida. Essa expressão não era de vingança, mas sim de satisfação por sentir, talvez, que havia sido feita justiça. Aquele que tinha sido seu carrasco finalmente já não torturaria mais ninguém.
Julgo que Correia Pires nunca mais esqueceu aquele curto momento em Caxias, onde também ele esteve preso, tal qual não esqueceu os anos de sacrifício que passou longe da família, na clandestinidade e na prisão.

“ Que poderei dizer dum homem irmão dos outros homens que conheceu, por vezes, a prisão, a clandestinidade, a fome e a miséria e que esteve 8 anos no campo de Concentração do Tarrafal?
Sei que aos 68 anos de idade, vem contar ao povo seu amigo episódios vividos por si. Para dizer o que lutou, sofreu e sonhou. Sonhos de liberdade do seu povo real....”
(do prefácio de seu Livro, do amigo A. Madeira Santos)


José Correia Pires saiu em liberdade, no dia 9 de Março de 1945, depois de regressar à metrópole e ainda ter estado preso em Caxias uns dias.

Breve história da revolta operária do 18 de Janeiro de 1934


A insurreição de 18 de Janeiro de 1934 resulta indirectamente de um longo processo de luta social e sindical pela melhoria das condições de vida da classe trabalhadora, e surge especificamente como movimento nacional de contestação à ofensiva corporativa contra os sindicatos livres, por força do recém-publicado “Estatuto do Trabalho Nacional e Organização dos Sindicatos Nacionais” em Setembro de 1933 pelo Estado Novo, regime responsável por milhares de vítimas, mortos em confrontos, prisões ou em situações de tortura, prisões em campos de concentração no continente, ilhas e colónias, perseguições, expulsões do país, degredos e deportações para as ilhas e colónias, semeando um rasto de terror entre várias gerações de portugueses.

O sindicalismo corporativo contra o qual as principais centrais sindicais lutavam obedecia assim aos seguintes princípios:
- Unicidade sindical corporativa, sendo apenas permitidos os sindicatos nacionais, resultantes da prévia aprovação pelo Governo dos seus estatutos. Os que não se submetessem e/ou não correspondessem ao modelo pretendido pelo Estado Novo seriam encerrados e dissolvidos;
- Colaboração das classes sociais com vista à harmonia do capital e do trabalho, sob a bandeira do “interesse nacional”, implicando, entre outros, a proibição da greve o do lock-out e todos os contactos com as filiações internacionais dos sindicatos;
- Controlo dos sindicatos pelo Governo, a quem cabia aprovar as direcções eleitas, podendo demiti-las, dissolver administrativamente os sindicatos ou as secções “que se desviassem dos seus fins” ou nomear comissões administrativas para dirigir os sindicatos. O Governo tinha ainda poderes de fiscalização, intervenção e orientação de toda a actividade sindical e da contratação colectiva do trabalho, através do também recém-criado Instituto Nacional do Trabalho e Previdência.

Para a grande parte das organizações sindicais era impensável a dependência do Estado e a perda de autonomia e liberdade, bem como a colaboração entre patronato e classe operária, num equilíbrio extremamente desigual de forças. Esta realidade acaba por gerar elos de união entre elas: a Confederação Geral do Trabalho (de cariz anarco-sindicalista), a Federação Autónoma Operária (socialista) a Comissão Intersindical (comunista) - filiadas em organizações sindicais internacionais - bem como alguns sindicatos autónomos, em torno de objectivos comuns, e por fim, em torno do objectivo da greve geral revolucionária de 18 de Janeiro de 1934 - a qual deveria ter irrompido em simultâneo com uma sublevação militar republicana que não chegou a acontecer.

Apesar do difícil entendimento entre as organizações sindicais, das medidas preventivas tomadas pelo Estado e da actuação da polícia (que consegue prender os principais dirigentes que se encontravam à frente de toda a preparação e articulação da revolta), o movimento sai para a rua e desenrola-se, embora desarticulado. Contudo, a falta de apoio militar e a fraca adesão e repercussão nacional condenou-o ao fracasso.

Registaram-se greves gerais de carácter pacífico em Almada, Barreiro, Sines, Silves, e manifestações operárias, mais ou menos um pouco violentas na Marinha Grande, Seixal, Alfeite, Cacilhas e Setúbal. Foram sabotadas estruturas de transportes, comunicações e de energia entre Coimbra e o Algarve (com destaque para Leiria, Martingança e Póvoa de Santa Iria), e confrontos armados com forças policiais em Lisboa e Marinha Grande - onde o movimento atingiria grandes repercussões.

Pese embora as grave situação de crise económica e social que a Marinha Grande viveu em períodos alternados nas três primeiras décadas do século XX, dos graves períodos de falta de trabalho, fome e doença, e do descontentamento do seu operariado, a presença de um forte associativismo entre a comunidade marinhense, em particular junto do operariado vidreiro, teria sido determinante na consciencialização dos valores sociais em causa e no surgimento das várias associações de classe operárias. Influenciadas pelas várias vertentes politicas e ideológicas do momento (anarquistas, socialistas e comunistas) e respectivas centrais sindicais – Confederação Geral do Trabalho, Comissão Inter-Sindical, Federação Autónoma Operária - as associações haveriam de se fundir em 1931 no Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Indústria do Vidro. Composto pelas Associações de Classe dos Manipuladores de Cristal, Associação de Classe dos Garrafeiros e o Sindicato Único dos Lapidários de Vidraria (já existentes) veio a acolher mais tarde a Associação de Classe dos Manipuladores de Vidraça.

Quando em finais de 1933 se iniciam os preparativos da insurreição e Greve Geral do dia 18 de Janeiro de 1934, o centro industrial vidreiro da Marinha Grande não ficaria de fora: em articulação com as organizações sindicais nacionais, o movimento foi liderado por José Gregório, Teotónio Martins, Manuel Baridó, António Guerra, Pedro Amarante Mendes, Miguel Henrique e Manuel Esteves de Carvalho.

O número de detidos na Marinha Grande teria ascendido no mínimo, a 131 pessoas:
- 49 detidos - libertados posteriormente ao longo do mês de Janeiro por falta de provas;
- 4 detidos - libertados em meados de Março, atendendo à sua pouca idade e ao tempo de prisão já realizado;
- 45 detidos, processados e condenados pelo Tribunal Militar Especial com penas pesadas - condenados ao desterro, com penas entre 3 e 14 anos de prisão na Fortaleza de São João Baptista em Angra do Heroísmo, e ao pagamento de pesadas multas;
- 33 presos dos quais não se encontrou referência à sua hipotética libertação ou julgamento.
“Os revoltosos da Marinha Grande, pelos alvos que haviam escolhido e pela natureza e gravidade dos seus actos, podem ter sido designados como o objecto de um castigo exemplar.
Mas o facto de o movimento ter ficado confinado a uma minoria activa e o facto de, desde a primeira hora, a imprensa ter qualificado o movimento de comunista, qualidade que os próprios comunistas se apressam a reivindicar, é como se tivessem facilitado a escolha do Governo. Seja como for, a vaga de prisões, o elevado número de condenados e sobretudo a indiscutível dureza das penas iam constituir para os sectores populares da Marinha Grande uma hecatombe.”
Fátima Patriarca, O 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande, Marinha Grande, Estudos e Documentos n.º 6, Museu Santos Barosa da Fabricação do Vidro, Outubro de 1997, pp. 36 e 37.

Os revolucionários do 18 de Janeiro foram derrotados num combate em que a heroicidade não bastava para vencer a enorme desigualdade de forças, mas, como muitas vezes aconteceu na história, foi do amargo da derrota que o movimento operário revolucionário extraiu as lições para melhorar a sua organização e elevar a sua capacidade de luta.

Assinalar o 18 de Janeiro é também prestar a devida homenagem aos revolucionários dessa gloriosa jornada e à causa da liberdade e do socialismo e cujos nomes permanecerão na memória do povo marinhense.

Nesta conjuntura inicia-se assim um longo processo de luta contra o Estado Novo, contra a ditadura, a censura e o estado corporativo, pelo direito elementar à liberdade, do qual resultaram milhares de presos políticos, considerados de “especial perigosidade” - alguns deportados para a ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde, nomeadamente para a Colónia Penal do Tarrafal, conhecida como o “campo da morte lenta”, um regime prisional inspirado no modelo nazi, assente na arbitrariedade, na violência organizada, nos trabalhos forçados.

Dos 152 presos que a 29 de Outubro foram inaugurar o sinistro Campo da Morte Lenta, 57 tinham participado na jornada do 18 de Janeiro, e entre os 32 presos assassinados no Campo do Tarrafal, estavam os marinhenses Augusto Costa, assassinado em Setembro de 1937, e António Guerra, assassinado em Dezembro de 1948, já depois da derrota de Hitler e Mussolini. A estas mortes dos revolucionários do 18 de Janeiro da Marinha Grande há que acrescentar as dos Francisco da Cruz e Manuel Carvalho, a primeira ocorrida na prisão de Angra do Heroísmo e a segunda no Hospital de Leiria, na sequência dos maus-tratos infligidos na altura da prisão.
Alojados em tendas de lona que albergavam 12 prisioneiros cada, latrinas construídas com bidões de gasolina enterrados no solo, não tinham condições de higiene, água potável ou electricidade, e a alimentação era bastante deficiente. Um conjunto de factores responsável pela propagação de doenças – como o paludismo. Eram ainda submetidos a tortura e a carcereiros cruéis, numa tentativa desumana de os aniquilarem física e psicologicamente, inviabilizando qualquer hipótese de fuga.

Um dos métodos de tortura era o da “frigideira”: pequeno compartimento em betão armado com uma porta de ferro, com arejamento mínimo, onde os prisioneiros eram colocados e deixados durante dias sujeitos a condições de temperatura extremas (do dia para a noite), praticamente sem água e comida (embora fossem servidas duas “refeições” por dia).
Inaugurado, como se referiu, em 1936, acabaria por ser encerrado em 1954, reabrindo posteriormente no inicio dos anos 60 com o propósito de deter prisioneiros suspeitos de apoiarem os movimentos de libertação das colónias, encerrando definitivamente após o 25 de Abril de 1974, colocando fim ao horror vivido por muitos marinhenses, cidadãos portugueses e africanos durante o regime do Estado Novo.


Trechos do texto da exposição "Breve Retrospectiva sobre a revolta nacional do 18 de Janeiro de 1934", que esteve patente na Casa-Museu 18 de Janeiro de 1934, de 18 de Janeiro a 3 de Fevereiro de 2008.

Casa-Museu 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande


A Casa-Museu 18 de Janeiro de 1934, inaugurada a 18 de Janeiro de 2008, situa-se no Largo 18 de Janeiro de 1934, no lugar de Casal Galego, Marinha Grande.


…uma casa que já não é uma casa…

Humilde nas formas, nas dimensões e na matéria com que é feita, esta casa, que já não é uma casa, fez-se memória das dolorosas lutas operárias por um futuro mais livre e justo, ultrapassando a dimensão material da sua simplicidade para se transformar um símbolo de luta e coragem dos homens.

Estava-se no início de 1934. Com o mudar do ano, entra em vigor o Estatuto Nacional do Trabalho, fascista, e os sindicatos livres eram oficialmente proibidos, dando origem a outros, subjugados ao poder corporativo. Por todo o País, os trabalhadores combatem a fascização dos sindicatos e convocam para 18 de Janeiro uma greve geral revolucionária, com o objectivo de derrubar o governo de Salazar. A insurreição falha, mas na Marinha Grande os operários vidreiros tomam o poder. Apenas por algumas horas, é certo, pois a repressão esmagaria a revolta. No resto do País, esperavam-se acções iguais, mas em nenhum outro lado se repetiu o gesto dos operários marinhenses. Apesar de fracassada, a revolta dos trabalhadores vidreiros fica na história como um momento alto da resistência ao fascismo. E deixou sementes, que germinaram numa manhã de Abril, precisamente quatro décadas depois.

Contrariamente ao que sucedeu nas restantes localidades no dia 18 de Janeiro de 1934, na Marinha Grande os objectivos da greve geral revolucionária foram cumpridos: os operários tomaram o poder. Cercada a vila e cortados os acessos, os trabalhadores marinhenses ocuparam os Correios e o posto da GNR.

Derrotado o levantamento popular, começaram as perseguições e as capturas aos dirigentes sindicais, na sua maioria comunistas. Na noite de 18 e nos dias seguintes, varreram toda a região, casa a casa. Nem o Pinhal de Leiria ficou por varrer.

Justificação

O prédio em causa chegou à posse do município por doação de JOAQUIM ALVES DA CRUZ, LIMITADA, realizada por escritura de 15 de Novembro de 2002.

Em Julho de 2004, verificado o avançado estado de degradação, procedeu-se a uma limpeza geral da envolvente do imóvel e remoção de elementos derrubados que poderiam ameaçar a segurança pública e dos prédios confinantes.

Reconhecida a importância histórica desta habitação nos movimentos revolucionários do operariado no início do século XX e a necessidade de preservação da memória colectiva da participação dos marinhenses na sublevação de 18 de Janeiro de 1934, o Vereador do pelouro, em 17-08-2004, emitiu despacho no sentido de se elaborar estudo de preservação do imóvel e do seu contexto histórico.

Em 2007, procedeu-se à formulação de uma solução arquitectónica que recrie a volumetria do imóvel, assegurando a preservação do seu interior para espaço expositivo sobre os acontecimentos que aqui tiveram o seu início, criando um MEMORIAL e um repositório documental sobre o movimento do 18 de Janeiro e às pessoas que participaram na revolução e que posteriormente vieram a ser perseguidas e encarceradas.

Caracterização

A construção existente, ruínas de uma modesta habitação operária do início do século XX, tem cerca de 100m² de implantação e encontra-se encravada entre duas construções a nascente e poente. A construção a nascente é contemporânea e apresenta as mesmas características construtivas e arquitectónicas. A poente, encosta-se uma construção mais recente, com traços algo incaracterísticos mas identificativos dos anos 60/70 do século passado.

A técnica construtiva original assentava em paredes resistentes de sorraipa, sem pórticos estruturais, simplesmente rebocada com argamassa de cal e caiada na cor vermelha no exterior e branca pelo interior.

A situação de abandono após a saída dos últimos moradores, associada à falta de manutenção que estas construções exigem, provocou uma situação de ruína total do imóvel, verificando-se um colapso parcial da cobertura, paredes interiores e parte dos planos da fachada Norte. Todos os elementos de carpintaria estão de tal modo degradados que não será possível qualquer recuperação.





Fonte: website da Cãmara Municipal da Marinha Grande