27.2.05

As primeiras lutas ecológicas em Portugal

Apresenta-se a seguir uma breve listagem das primeiras lutas ecológicas que se travaram em Portugal:


*-As lutas travadas pelos agricultores e pela população local contra o projecto do complexo da Refinaria de Sines - elaborado pelo Gabinete da Área de Sines que reunia à época a nata dos tecnocratas do país - e a consequente urbanização e destruição dos ecossistemas locais e todo o habitat da região.
Tratava-se de um projecto gigantesco e megalómano aprovado pelo Governo fascista de Caetano em 20/4/1971
No jornal de Beja "O Camponês" escrevia-se no início de 1975: "Centenas e centenas de hectares das melhores terras com hortas, pomares e arrozais estão ao abandono há mais de 2 anos pela expropriação feita pelo Gabinete da Área de Sines. Camponeses, muitos dos quais com mais de 60 anos, que sempre e durante toda a sua vida trabalharam a terra, foram obrigados a deixá-la e procurar o sustento em trabalho como a construção civil, que está fora das suas possibilidades. Camponeses pobres, forçados pela chantagem e a pressão contínua, que os obriga a vender as suas terras por preços que não lhes permite adquirir sequer uma habitação condigna"

* As lutas das populações ribeirinhas do Rio Alviela, desde 1969, contra a sua poluição e a intoxicação alimentar de que são vítimas e a criação da C.L.P. A. (Comissão de Luta Contra a Poluição do Alviela) em Julho de 1973

* A contestação contra a eucaliptização da Serra da Ossa levada a cabo pela empresa de celulose Socel

* As lutas e contestação popular contra a poluição provocada pela celulose de Cacia e da poluição do Rio Vouga ( em 1958 500 habitantes de Cacia fizeram um abaixo-assinado).

* A contestação em 1973 da população de Constância e da Praia do Ribatejo contra a instalação da fábrica de Celulose Caima Pulp na confluência do Zêzere e do Tejo

* A contestação dos pescadores do Estuário do Sado contra a crescente poluição marítima

* Contestação popular da aldeia de Runa, Torres Vedras, antes do 25 de Abril, contra a a poluição do seu rio Sizandro.

* Contestação do povo de Maceirinha, Leiria, contra as poeiras de cimento que caíam ininterruptamente sobre as casas e a população vindas da fábrica de Cimento situada naquela localidade

*Contestação popular contra o complexo cimenteiro da vila de Souzelas, nos arredores de Coimbra

*Contestação popular contra a poluição por arsénico na Mina do Pintor em Nogueira do Cravo, entre Oliveira de Azeméis e S. João da Madeira

* Contestação luso-galega contra a celulose planeada para o município de Toén, Pontevedra nas margens do Rio Minho

* Contestação da população do Barreiro à poluição atmosférica provocada pelas industrias instaladas no concelho, com um abaixo-assinado de 1971

*Luta popular anti-nuclear em15 de MARÇO DE 1976 em Ferrel, Peniche, contra uma projectada central nuclear, luta prosseguida em 28 de Março de 1976 quando é criada a CALCAN ( Comissão de Apoio à Luta contra a Ameaça Nuclear)

Como é que os capitalistas se mantêm no Poder...ou como é que o Poder político-económico se reproduz.

Breve explicação sociológica sobre a Reprodução Social


As sociedades estão estratificadas em classes sociais de tal modo que se pode falar em pirâmide social, uma vez que a maior parte da população encontra-se na base da pirâmide, enquanto apenas um pequeno número de pessoas fazem parte da elite económica e política que governa a sociedade.

Perguntar-se-á então como é possível que esta estrutura de classes se mantenha ao longo do tempo sabendo que a maioria da população se encontra subordinada, se não mesmo submetida a um pequeno grupo de governantes.

A resposta é dada pela sociologia.


Com efeito, a classe dominante, que é minoritária, governa a sociedade e só se mantém graças à ideologia (= conjunto de ideias) dominante que consegue impor a todos os restantes elementos da sociedade. É essa ideologia dominante que explica e legitima o poder da elite económica e política.

Por exemplo: o antigo poder dos reis só se conseguia manter e reproduzir-se ao longo de séculos uma vez que a sua ideologia era interiorizada pelas classes inferiores, que faziam suas as idéias que lhe eram transmitidas e incutidas: nesse caso a explicação que era vendida às pessoas era que o rei é o soberano por efeito de um poder natural ou sobrenatural.

E as pessoas interiorizavam resignadamente essa ideologia dominante.

Hoje em dia passa-se a mesma coisa, apenas se mudou a fonte de legitimidade do poder.

Assim, só na medida em que a classe dominante consegue convencer as classes inferiores que só ela ( a classe dominante) pode ter poder económico e político, estará ela em condições de se manter no topo da pirâmide social.

Actualmente, a fonte de legitimidade que se pretende incutir para legitimar e justificar o poder das classes dominantes é o fato destas terem capital (= é a posse de capital que legitima o poder da elite económica) ou de terem sido eleitas democraticamente (= é o número de votos que confere legitimidade aos governos, sem cuidar evidentemente se os votos são ou não resultado de uma decisão esclarecida)


Esses critérios de legitimação para se ter poder económico ( = ter capital) e político (= ter votos) são perfeitamente arbitrários e aleatórios - sim, porque quem me garante que é quem tem mais dinheiro ou quem tem votos que está em melhores condições para governar????

E porque não mudar o critério para quem tem mais inteligência?
Ou para quem tenha mais músculos?
Ou para quem saiba fazer melhores poemas?


Só no dia em que as classes inferiores não aceitarem engolir resignadamente essa ideologia dominante é que a legitimidade política e económica das classes dominantes entrará em crise.

Nesse dia, provavelmente, qualquer outro grupo social que queira conquistar o poder terá que, simultaneamente, impor a sua ideologia, convencendo a população da base da pirâmide social da sua legitimidade em apoderar-se do poder.

Nesse momento aparecerá uma nova ideologia dominante, para servir de base e cimento à também nova classe dominante.


Há ainda , evidentemente, a hipótese libertária de cada um tomar em mãos a sua própria vida em cooperação com os seus e a natureza.