6.12.11

50 anos da fuga de Caxias( 4 de Dez. de 1961) e o início da queda do regime ditatorial de Salazar ( Sessão comemorativa em Espinho, 9 de Dez.)


50 anos da fuga de Caxias ( 4 de Dezembro de 1961), e o início da queda do regime salazarista

Debate/visualização de uma curta-metragem sobre a fuga de Caxias que aconteceu a 4 de Dezembro de 1961, com a participação de um dos fugitivos, Domingos Abrantes.

Local: Centro Multimeios de Espinho
Data: 9 de Dezembro, às 21h.

A 4 de Dezembro de 1961, em pleno dia – 10 da manhã –, oito destacados militantes comunistas, rompendo a forte segurança policial, fogem com êxito do Forte de Caxias num velho «Mercedes» à prova de bala, oferecido por Hitler ao ditador Salazar.

A fuga de Caxias representou um enxovalho público do regime fascista de Salazar, e o início da sua queda, porque poucos dias depois começa a operação Vijay na índia portuguesa, e com ela o fim do império colonial português.

Recordamos os oito fugitivos: José Magro, Francisco Miguel, Domingos Abrantes, António Gervásio, Guilherme de Carvalho, Ilídio Esteves, Rolando Verdial (todos funcionários do Partido) e António Tereso.


Foi grande o impacto nacional desta fuga. As pessoas ficaram impressionadas: como foi possível, em pleno dia, num pátio interior do forte rodeado de taludes, GNR’s, carcereiros armados e sempre com os olhos postos nos movimentos de cada preso, chegar um automóvel e, num abrir e fechar de olhos, oitos presos desaparecerem sem os guardas terem tempo para compreender o que se estava a passar? É natural que surjam tais interrogações. Sem dúvida que jogou muito o factor surpresa e a rapidez – agir tão rápido que os guardas não tivessem tempo de pensar que se tratava de uma fuga!

Cada fuga tem a sua história. A fuga de Caxias não foi uma realização ao acaso, nem uma aventura. Ela envolve um longo trabalho colectivo (cerca de um ano), paciente, minucioso, um conhecimento profundo de variadíssimos detalhes.

Preparação da fuga
Um certo dia os prisioneiros políticos, militantes comunistas, souberam que se encontrava na garagem da cadeia um «Mercedes» à prova de bala. Esta informação teve uma enorme importância para se perspectivar a fuga. Todos os esforços se viraram para o «Mercedes». Era necessário conhecer o estado do carro, repará-lo, arranjar combustível, fazer ensaios. Colocava-se a questão: como chegar ao «Mercedes» sem levantar o mínimo de suspeita? A organização do Partido na cadeia pôs a imaginação a trabalhar.

A história do «rachado»

No Forte de Caxias existiam alguns presos com comportamentos fracos que, a troco de visitas em comum com familiares, apanhar sol, receber comida da família, se dispunham a fazer alguns serviços da cadeia, como limpezas e outros. A esses presos, os outros chamavam-lhes «rachados» (uma coisa que não presta). Estudando esta realidade dos «rachados», a organização do Partido Comunista na cadeia avançou com a ideia de arranjar um «rachado» fingido, um quadro sério, corajoso, capaz de assumir tarefas difíceis e arriscadas.

Essa escolha foi cair no camarada Tereso, motorista da Carris, com conhecimentos mecânicos e outras capacidades. Não vamos explicar um conjunto de situações diversas. Dizer só que levou tempo a ganhá-lo para a tarefa, pois ele não aceitava a ideia de ser «rachado» mesmo a fingir. Contudo, sendo uma tarefa do Partido, acabou por aceitá-la. A Pide, desconfiada, demorou tempo a ser convencida.

Uma das tarefas do novo «rachado» era ganhar a confiança dos carcereiros. Começou por arranjar os carros da cadeia, depois os carros do director do Forte e de alguns Pides. A sua credibilidade foi crescendo e passado tempos chegou ao célebre «Mercedes». Estudou-o, foi-o reparando e sacando combustível da cadeia. Com o andar dos tempos começou a fazer experiências, pequenas manobras no pátio do forte, ensaios que foram aumentando.

Os passos finais

Passaram-se vários meses. Os dados estavam lançados. As andanças do «Mercedes» eram vistas como normais pela GNR. Os batentes de cimento do portão do exterior estavam devidamente estudados: não iriam resistir ao embate do «Mercedes».

A fuga tinha de realizar-se antes das 10 horas da manhã, porque depois dessa hora chegavam ao portão familiares dos presos para as visitas. Estavam asseguradas medidas para não haver pessoas atrás do portão e era rigorosamente necessário que no dia da fuga os carros da cadeia e da Pide, dentro do forte, estivessem, antes das 9 horas, todos imobilizados, avariados, para não poderem perseguir os fugitivos – medida que também foi assegurada.

Estava definido quais os oito camaradas que iriam participar na fuga. A casa da guarda (GNR) ficava no meio do túnel que dava acesso ao pátio do recreio dos funcionários presos e ao portão do exterior. Junto à casa da guarda havia um gradão de ferro. Havia comandantes que tinham o túnel fechado com o gradão durante o dia, outros tinham-no aberto. No dia da fuga o túnel estava fechado.

Algumas semanas antes da fuga a Pide inventou um estratagema na escala dos recreios no sentido dos funcionários presos nunca saberem o dia e a hora certa do recreio, tudo isto com receio de fuga! Mas, passados alguns dias,  o segredo pidesco foi descoberto.

Finalmente chegou o dia decisivo. A 4 de Dezembro de 1961, às nove e pouco da manhã, a Pide abre a porta para o recreio. Estavam todos um pouco tensos. Alguns pensavam: vamos sair e já não voltaremos!
No recreio inicia-se o  jogo tradicional de voleibol que fazia parte de outra jogada... A GNR, nos taludes, observava. No meio dos presos circulavam carcereiros armados..

Poucos minutos depois vê-se o «Mercedes» conduzido por Tereso subindo em marcha atrás o túnel por onde se daria a fuga. O «Mercedes» chegou até junto dos presos. Estes começaram  a «protestar», os guardas estavam  muito atentos. Entretanto, o fugitivos aproximam-se do carro cujas portas só estavam encostadas – tudo aparentemente sereno mas muito rápido. Ouve-se o grito da senha: GOLO! E num gesto super rápido os oito fugitivos estavam no interior do «Mercedes» que, em grande velocidade, avança pelo túnel em direcção à liberdade. A sentinela não teve sequer tempo de fechar o gradão. O «Mercedes» vai direito ao portão exterior, arranca em primeira, dá uma pancada no portão que salta em pedaços! Ouvem-se tiros de metralhadora. O «Mercedes» arranca encostado ao talude do forte. Chovem tiros e ouvem-se as balas a fazerem ricochete no carro.
Os carcereiros correm em busca dos carros da cadeia, mas, para seu azar, nenhum deles quis mexer-se, estavam todos avariados! Não podiam perseguir os fugitivos...
Cerca de 10 minutos depois, os oito fugitivos estavam em Lisboa. O «Mercedes» ficou a descansar na rua Arco do Carvalhão até a Pide o ir buscar...

Coimbra de Antero, por Eça de Queiroz (edição Alma Azul) é o tema de conversa com Elsa Ligeiro, hoje, na Unicepe


Elsa Ligeiro, editora da Alma Azul, de Coimbra, fala-nos da COIMBRA DE ANTERO, escrito por Eça de Queiroz nos 120 anos da sua morte

UNICEPE, Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL
Praça Carlos Alberto, 128-A , Porto

3ª feira, 6 de Dezembro, às 18h.

«Em Coimbra, uma noite, noite macia de Abril ou Maio, atravessando lentamente com as minhas sebentas na algibeira o Largo da Feira, avistei sobre as escadas da Sé Nova, romanticamente batidas pela lua, que nesses tempos ainda era romântica, um homem, de pé, que improvisava.

Excerto:


A sua face, a grenha densa e loura com lampejos fulvos, a barba de um ruivo mais escuro, frisada e aguda à maneira siríaca, reluziam, aureoladas. O braço inspirado mergulhava nas alturas como para as revolver. A capa, apenas presa por uma ponta, rojava por trás, largamente, negra nas lajes brancas, em pregas de imagem. E, sentados nos degraus da igreja, outros homens, embuçados, sombras imóveis sobre as cantarias claras, escutavam, em silêncio e enlevo, como discípulos.

Parei, seduzido, com a impressão que não era aquele um repentista picaresco ou amavioso, como os vates do antiquíssimo século XVIII - mas um bardo, um bardo dos tempos novos, despertando almas, anunciando verdades. O homem com efeito cantava o Céu, o Infinito, os mundos que rolam carregados de humidades, a luz suprema habitada pela ideia pura, e ... os transcendentes recantos / Aonde o bom Deus se mete / Sem fazer caso dos Santos / A conversar com Garrett!. Deslumbrado, toquei o cotovelo de um camarada, que murmurou, por entre os lábios abertos de gosto e pasmo: "É o Antero!..."

(Eça de Queirós, in "Coimbra de Antero")



Elsa Ligeiro é a responsável da Produtora de Atividades Culturais Alma Azul, que criou em Coimbra, em 1999. Há 20 anos ligada aos livros, primeiro como responsável de livraria, depois como editora, Elsa Ligeiro tem dedicado muito do seu tempo à divulgação e promoção da Leitura.
A Alma Azul é uma produtora de atividades culturais, de Coimbra, fundada em Setembro de 1999. Ao longo dos seus 12 anos de atividade tem privilegiado a Literatura com a edição e divulgação de autores de Língua Portuguesa.







II Comunicado do Grupo de Apoio Legal 24 de Novembro

Somos contrários a qualquer acto de violência contra pessoas, e por maioria de razão contra os actos de brutalidade policial contra uma pessoa que estão patentes no vídeo que abaixo inserimos.
E, se se confirmar que o indíviduo visado pelos actos desta agressão policial tenha cometido anteriormente alguma ofensa corporal na pessoa de algum agente da PSP, tal não justifica os actos de vingança pública dos outros agentes policiais  que são evidentes no vídeo referido, uma vez que àqueles agentes  estão apenas cometidas as funções de auxiliar a administração da justiça pública por parte dos órgão cometentes do Estado.




Pelos vistos, esta técnica de infiltrar agentes policiais no meio das manifestações e convertê-los em agentes provocadores, que não agentes cívicos defensores dos direitos humanos e da integridade física das pessoas, já se repetiu na passada manifestação de 15 de Outubro, como se pode comprovar no vídeo debaixo, onde são claramente identificados dois agentes policiais na frente da manifestação a proferir palavras de ordem incitadoras à violência.




II COMUNICADO do GRUPO DE APOIO LEGAL 24 DE NOVEMBRO

Na sequência dos acontecimentos ocorridos na manifestação de dia 24 de Novembro passado, dia de Greve Geral, será julgado amanhã - dia 6 de Dezembro, pelas 14h, no Tribunal de Pequena Instância Criminal de Lisboa - um rapaz alemão de 21 anos acusado do crime de ofensa à integridade física qualificada de polícias.
Perante o que nos parece não passar de mais uma manobra de encobrimento da repressão policial que tem visado a contestação social dos últimos meses, de que as manifestações de 15 de Outubro e 24 de Novembro são exemplo, o Grupo de Apoio Legal criado para acompanhar a manifestação de dia 24, vigiar o comportamento da polícia e contribuir para a defesa legal e pública dos manifestantes tem a dizer o seguinte:

- Está demonstrado pelos inúmeros vídeos, fotografias e testemunhos que o rapaz que será julgado amanhã foi brutalmente espancado por agentes das forças de segurança à paisana, sem que em nenhum momento da detenção estes se tenham identificado ou anunciado o propósito da sua actuação.

- Para mais, é neste momento do domínio público que esses agentes à paisana faziam parte de um vasto corpo policial não identificado, com algumas dezenas de elementos, que estiveram infiltrados na manifestação e levaram a cabo acções provocadoras com o objectivo de criar uma justificação para as detenções e cargas policiais.

- Está em curso a tentativa absurda de condenar um manifestante a uma pena de prisão efectiva, que foi violentamente agredido e detido ilegalmente por polícias. Tal só pode ser entendido à luz de uma estratégia clara de limpeza da imagem da polícia manchada pelos acontecimentos das últimas semanas e, não menos importante, de intimidação de toda a resistência anticapitalista.

- Sabemos hoje que as primeiras informações divulgadas pela polícia com a colaboração de grande parte dos órgãos de comunicação social, designadamente que o jovem alemão seria um elemento “violento”, “perigoso”, “procurado pela Interpol” e “conhecido na Alemanha por monstro” são pura fantasia e que constituem práticas de difamação e calúnia punidas nos termos da lei penal.

Por fim, cabe-nos dizer que consideramos que a defesa, solidariedade e apoio àqueles atingidos pela repressão deve pertencer a todos os manifestantes e a todo o movimento social. Só assim, em conjunto e coordenação, como o demonstra a recente denúncia pública dos abusos policiais feita através da Internet, poderemos constituir uma força real de resistência e evitar cair na armadilha das categorias policiais de divisão, como “violentos”, “pacíficos”, “anarquistas”, “indignados”, “inocentes” ou “culpados”.

POR TUDO ISTO, APELAMOS A UMA CONCENTRAÇÃO DE SOLIDARIEDADE EM FRENTE DO TRIBUNAL | AMANHÃ 6 DE DEZEMBRO | 13H30 | TRIBUNAL DE PEQUENA INSTÂNCIA CRIMINAL NO CAMPUS DA JUSTIÇA, BLOCO F, PARQUE DAS NAÇÕES

Grupo de Apoio Legal 24 de Novembro

II Comunicado, 5 de Dezembro de 2011