Por cada emprego precário (por ex., 1 emprego com contrato a prazo) que criam, as grandes superfícies comerciais eliminam 5 empregos definitivos ( de duração ilimitada)
O sistema da grande distribuição nasceu e prosperou à sombra de políticas catastróficas. Por interesse inconfessados e por uma questão ideológica. Cabe-nos rejeitar um tal sistema desumano.
O modelo da grande distribuição em Portugal nasceu no início dos anos 80 com um atraso considerável relativamente ao seu aparecimento nos restantes países europeus que se deu regra geral no período do pós-guerra.
Foi mais concretamente na época cavaquista que as grandes superfícies se instalaram no mercado português e, quais eucaliptos comerciais, começaram a desertificar e a controlar todo o circuito comercial à sua volta. Desde então, Portugal entrou definitivamente na depredadora sociedade de consumo ( e do desperdício). Desaparece o comércio de proximidade e começam as peregrinações aos shoppings. Pululam também as «rapariguinhas do shopping» e multiplicam-se os multiplexes com pipocas e filmes de Hollywood.
Entretanto, a actividade comercial concentra-se nas mãos de uns poucos ( muito poucos) prejudicando os produtores, os fornecedores e iludindo os consumidores. Tudo isto sob o beneplácito dos politiqueiros à frente da máquina estatal e das autarquias, e em nome do suposto «crescimento económico»do país e da região.
Tanto mais que se constrói por artes e magias a ideia que as grandes superfícies criam emprego. A verdade é que, pelos estudos realizados até à data, conclui-se que por cada emprego a prazo ( isto é, um emprego precário) criado numa grande superfície são destruídos 5 empregos definitivos.
O modelo organizacional das grandes superfícies é bem revelador da globalização capitalista e da sua natureza profundamente desumana. Por via dele opera-se a cativação das riquezas, a concentração do poder, a destruição do tecido económico e social existentes, a intensificação da agricultura intensiva, produtivista e industrial, encorajando-se a deslocalização da produção para os países onde se explora mais a mão de obra, incluindo o trabalho infantil.
Pior que tudo, o modelo comercial das grandes superfícies erige-se como modelo único, pronto a ser exportado, mas que, na verdade, constitui uma autêntica arma de destruição maciça para os países que têm uma fraca segurança social ( como é o caso de Portugal), relativamente aos países com maior desenvolvimento, e onde as empresas construtoras das grandes superfícies se foram inspirar.
Os políticos foram os grandes responsáveis por esta implantação que destruiu e danificou sectores económicos inteiros. Só para darmos um pequeno exemplo sintomático do que aconteceu basta referir que o chamado comércio itinerante quase que desapareceu. Assim, em vez de uma carrinha ir abastecer 200 clientes, temos agora 200 carros individuais a virem a abastecer-se às grandes superfícies.
Além disso, não é verdade que os preços sejam compensadores no comércio das grandes superfícies. Só uma fortíssima campanha publicitária ( para isso mesmo é que serve a publicidade) é que induz as pessoas a acreditar que os preços dos hipermercados ficam mais em conta que o consumo de produtos locais.
É o expansionismo das grandes superfícies que explica o facto de um camponês desaparecer em cada 3 minutos ( na ex-Europa a quinze), sacrificado aos altos interesses do produtivismo industrial que tudo arrasa desde que o suposto «crescimento económico» fique saciado pelas estatísticas falaciosas. Privilegia-se uma agricultura intensiva, produtivista, estandardizada e subvencionada em prejuízo da agricultura camponesa local.
Há cada vez mais conselhos a verem o seu comércio local a definhar e desaparecer, levando à ruína os comerciantes independentes ( pequenos e médios comerciantes) substituídos pela grande superfície comercial, anónima e toda-poderosa.
Para travar esta lógica é necessário apostar em construir redes associativas e cooperativas locais que reúnam à sua volta os agricultores, os consumidores e os comerciantes independentes para melhor satisfazerem os interesses sociais de todos contra a intrusão do grande comércio capitalista.
A publicidade e os políticos não se cansam de matraquear-nos com o slogan de que é preciso baixar os preços para relançar o consumo e, desta forma, o próprio crescimento. Mas ignoram, ou fazem por isso, que as «nossas compras são os nossos empregos», e que por aquela via o mais certo é que o crescimento e o consumismo seja feito à custa da precarização dos nossos emprego, o abaixamento dos nossos salários, e quando não, baseado fundamentalmente em importações de países onde as condições de vida são muito péssimas e infra-humanas.
A malfadada directiva Bolkenstein só poderá vir piorar a situação permitindo a dessocialização do trabalho em larga escala, em nome da sacrossanta livre concorrência!!!
Importa re-apropriarmo-nos dos nossos próprios consumos, privilegiando e preferindo a troca (ou, então, em alternativa, a venda) directa, assim como os mercados e o comércio de proximidade, protagonizado por comerciantes independentes dos grandes jogos económico-financeiros, e no respeito por uma ética eco-social que defenda o ambiente e se inspire nos valores da igualdade e da solidariedade.
Um outro mundo é possível. Mas não apenas por palavras. Urge a construção de associações e cooperativas que promovam uma economia solidária e ecologicamente sustentável.
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(1) Para evitar qualquer interpretação mais precipitada importa esclarecer que a expressão que serve de título ao texto foi retirada de um artigo publicado numa das recentes edições do jornal francês «La Décroissance».
Rejeitamos como princípio, como sempre, o uso de qualquer meio de carácter violento na luta política, e defendemos convictamente a criação de circuitos e redes alternativos à grande distribuição comercial que é representada pelas grandes superfícies, com vista à sua completa superação e substituição pelo comércio de proximidade.