29.12.10

O regresso da Economia Política (The Revival of Political Economy) - Videos das conferências realizadas a 21,22,23 de Out. na Universidade de Coimbra


Apresentação

The recent financial collapse and the ensuing economic downturn are still imposing hardship and suffering upon millions all over the world, especially the poor and the unemployed. The crisis has raised public awareness of the consequences of neoliberal drift and of the shortcomings of a mainstream academic economics that did not anticipate the financial meltdown and economic downturn, and even actively contributed to setting up the new (toxic) financial architecture. For many - economists, managers and politicians - the depression has been a sobering experience. Statements produced in the heat of events even suggest that this could be an opportunity both for seriously reconsidering and reversing the trend towards a growing financialisation of the economy, and for recasting the very foundations of knowledge of the economy. However, at the first signs of recovery, the habitual ways of thought, and of doing politics and business are settling down once again.
The need is therefore felt - with a sense of urgency - to widen public debate stimulated by renewed social science perspectives on economic issues. The failure of mainstream economics, acknowledged by many, calls for a revival and renewal of political economy. This will be achieved by strengthening the ongoing dialogue among scholars in all fields of the social sciences and humanities interested in economic processes and their relation to politics, morality, culture and nature.
The reflection needed must go beyond means and measures that may secure a return to a ‘normal’ growth regime and move on to reconsider the ends to be pursued by public policies and institutional change. The new political economy in the making should address the issue of sustainability: economic, social and environmental. Prosperity – the purpose of any economy – can no longer be separated from social justice and environmental values.

Capitalisms and Institutional Change
Peter Hall (Harvard University)
The Political Origins of our Economic Discontents





Capitalisms and Institutional Change
Brigitte Young (University of Münster)
The Revival of Political Economy: Bringing Capitalism Back In (Again), the State (Once Again), and Financial/Economic Culture(s)






Capitalisms and Institutional Change
José Reis (University of Coimbra)
Why variety is still a good reason to think about political economy?
Institutional based strategies and “mixed economies”





Sustainability: Economic, Social and Environmental
Robert Boyer (CEPREMAP-CNRS, France)
THE SOCIAL AND POLITICAL SUSTAINABILITY OF CAPITALISMS
After the subprime crisis





Sustainability: Economic, Social and Environmental
Joan Martinez-Alier (University of Barcelona)
Environmental justice and economic degrowth: an alliance between two
movements






Sustainability: Economic, Social and Environmental
Boaventura Sousa Santos (University of Coimbra)
presented by João Arriscado Nunes (University of Coimbra)
Learning from the South




The Revival of Political Economy
Nuno Martins (OPorto Portuguese Catholic University)
Heterodox Economics and the Revival of Political Economy





The Revival of Political Economy
Phil O’Hara (University of Technology, Australia)
Core General Principles for the Revival of Political Economy






The Revival of Political Economy
Ana Cordeiro Santos (University of Coimbra)
RECENT ECONOMICS AND THE REVIVAL OF POLITICAL ECONOMY



Apenas uma crise de crescimento - texto de José Vítor Malheiros

Apenas uma crise de crescimento
texto de José Vitor Malheiros, publicado no jornal Público de 28/12/2010

Os números do défice e da dívida e os indicadores económicos não encorajam qualquer optimismo, apesar de as exportações se estarem a portar melhor do que se esperava e de, nestes dias de fim de ano, ser tradicional expressar votos de prosperidade para 2011 com o mais cândido dos sorrisos afivelado na face.

A verdade é que os juros da dívida crescem mais depressa do que a nossa capacidade de a pagar e o buraco em que nos encontramos é cada vez maior. Como os juros aumentam, devemos cada vez mais. Como devemos cada vez mais, os juros aumentam. Como devemos cada vez mais e os juros aumentam, as agências de rating baixam-nos a classificação, o que faz os juros subir e a dívida aumentar. Ao círculo vicioso sucede-se a espiral infernal. Os especuladores esfregam as mãos de contentes, mas os especialistas garantem-nos que eles têm uma função higiénica essencial à vida económica (como as hienas que comem os animais doentes), o que significa que o sistema caminha para um rápido saneamento e que todo este panorama é apenas um passo doloroso mas necessário.

O que sabemos é que, depois desta crise, o nosso país será um lugar mais eficiente, a nossa economia será mais robusta, a nossa administração pública será mais magra e mais rápida, as empresas que não têm direito à vida terão desaparecido, as outras pagarão muito menos impostos e salários mais baixos, o euro talvez tenha desaparecido (o que apenas significará que não devia ter nascido), a ideia de uma Europa solidária ter-se-á desvanecido (o que quererá dizer que afinal era só um conto de Dickens), só haverá reivindicações laborais nos filmes e o Estado social será uma memória vaga. Será maravilhoso para os ricos.

As únicas entidades que poderão sair prejudicadas serão as pessoas, mas essas são substituíveis: há sempre pessoas novas a nascer, a crescer e à procura de trabalho e dispostas a aceitar relações de trabalho muito mais flexíveis. Os historiadores olharão para trás e verão a crise de 2008-2018 em Portugal apenas como uma crise de crescimento que serviu para fortalecer as empresas, a economia, os mercados financeiros, a banca, as lideranças empresariais e os serviços de segurança.

Se a crise serviu para alguma coisa foi para compreender que as pessoas estavam a ter salários demasiado altos, impostos demasiado baixos, demasiada estabilidade de emprego, demasiados serviços públicos, demasiada liberdade, saúde e educação de excessiva qualidade e juros demasiado baixos nos empréstimos bancários.

E, não havendo possibilidade de dissolver o povo, como Brecht sugeria, o Governo tentou pelo menos reduzi-lo à sua justa dimensão. A dura verdade é que o povo faz menos falta do que os bancos. Mais: o povo não só não faz falta como dá muita despesa. Como seríamos prósperos se fôssemos só os 5 milhões que os finlandeses são! Se pudéssemos dissolver os 5 milhões de portugueses menos letrados e mais velhos (que gastam uma fortuna em subsídios, em reformas, em saúde), seríamos um dragão, um tigre, um furão.

Não há razões para pensar que o país não é viável. Os testes de stress feitos ao sistema financeiro deram excelentes resultados. A economia reanima-se e as exportações dão sinal disso. Temos indicadores de inovação extraordinários. Todos os nossos ministros das Finanças sem excepção sabem qual é a receita para recuperar a economia. Basta ouvi-los. Todos eles sem excepção sabem que fizeram sempre tudo bem. Os dirigentes políticos também. Os do Governo e os da oposição. Os banqueiros sabem que sempre fizeram tudo bem. Todos sabem que são perfeitos. As nossas elites sabem que são esclarecidas, brilhantes, iluminadas e outras coisas com luz. O país é viável! O povo é que não é, mas já estamos a tratar desse pormenor.