25.3.05

A Filosofia contra o Cristianismo



Na Antiguidade o filósofo vivia como filósofo. A prova da sua essência era a sua existência. Graças as seus hábitos alimentares, à vasta guedelha ou ao cabelo rapado, ao bordão, à tigela, ao manto de linho branco ou aos andrajos, qualquer sabia que estava perante um filósofo estóico ou cínico. Nesse tempo, filósofo designava o indivíduo que punha em prática uma teoria, teoria essa graças à qual ele visava atingir a sabedoria.

O cristianismo oficial irá modificar a definição de filósofo – e ainda hoje vivemos parcialmente sob o regime cristão. O cristianismo chama filósofo à personagem que põe a sua inteligência, saber, retórica e trabalho ao serviço do poder vigente, forgando para uso dos poderosos um arsenal de conceitos que permita a legitimação política da sua acção. Durante o regime cristão, a filosofia funcionou como disciplina incestuosa e segundo uma lógica de gabinetes. Os filósofos esforçavam-se através de esforçadas dissertações sobre o sexo dos anjos, sobre o seu número bem como a sua disposição nos tronos no Paraíso, sobre a excelência da guerra santa e justa, sobre os fundamentos ontológicos da transubstanciação (=conversão da hóstia em Corpo de Cristo!!!!) e outras empolgantes questões de um corpo eclesiástico que continua a fascinar alguns filósofos contemporâneos amadores de sofismarias e retóricas absconsas.

Ainda hoje operam na filosofia estas duas tradições: uma linhagem existencial, e uma linhagem de gabinete.
Os primeiros pensam com vista a uma salvação individual, visando uma vida transfigurada, para além da vida mutilada da maior parte das pessoas. São filósofos 24 horas por dia e procuram fazer coincidir os seus pensamentos com as suas acções.
Os segundos reflectem para outrem, e não aplicam forçosamente as suas conclusões; possuem ainda grandes habilidades para dar lições ao mundo inteiro.


(Excertos de um texto de Michel Onfray publicado no Le Monde Diplomatique de Novembro de 2004)

A Rainha Vitória foi a maior traficante de drogas!


A Rainha Vitória da Inglaterra deu o nome a uma época, a era vitoriana, que está associada ao puritanismo moral e ao culto dos valores tradicionalistas.

Acontece que a mesma Rainha Vitória foi a maior traficante de drogas do século XIX. Com efeito, sob o seu reinado, o ópio converteu-se na mercadoria mais valiosa de todo o comércio imperial. O cultivo e a produção desenvolveu-se na Índia por iniciativa e sob o controle dos ingleses. A droga entrava na China e calculam-se que existiriam 12 milhões de drogados chineses quando, em 1839, o Imperador Chinês, face aos efeitos devastadores daquela droga junto da população do seu país, resolveu proibir o comércio e o uso do ópio.

A Rainha Vitória, quando tomou conhecimento daquela resolução, apressou-se logo a qualificá-la como um imperdoável ataque e violação à liberdade comercial e, de imediato, enviou a Esquadra Inglesa para as costas da China e o seu Exército invadir aquele país, dando início à chamada guerra do ópio entre os chineses ( que queriam proibir) e os ingleses ( que defendiam a sua livre comercialização).
Em 1860 a cidade de Pequim cai às mãos das tropas invasoras da Inglaterra e logo os ingleses restabeleceram o livre comércio do ópio e deram vivas à sua Majestade a Rainha!!!!

Alterconsumidores versus Hiperconsumidores

Os Hiperconsumidores são grandes consumidores de produtos tecnológicos,jogos de azar e capitalização do dinheiro. Gostam do desporto-espectáculo na TV ou nos jornais, frequentam os parques de divertimento, e compram nas catedrais do consumo em que se transformaram os centros comerciais e os hipermercados. Adoram a publicidade. Nas revistas procuram tudo o que ajuda a melhorar a aparência física especialmente as rubricas sobre a maquilhagem, a beleza e a moda. Os hiperconsumidores são superconsumidores do fast food (comida rápida), das pastilhas elásticas e dos gelados.
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Os Alterconsumidores não gostam da publicidade. Estão prontos a gastar mais tempo e mais dinheiro para encontrar produtos que respeitem o ambiente além de preferirem produtos reciclados. Rejeitando a ideia que o automóvel lhes dá algum status social eles utilizam-no sómente como meio instrumental de deslocação de um local para outro. Lêem normalmente a imprensa de qualidade e são visitantes dos museus. Passam menos tempo à frente de um aparelho de televisão. Os alterconsumidores privilegiam geralmente os paladares e os gostos intensos e autênticos
(adaptação de um texto publicado no Le monde de 15/7/04)