10.11.08

Oficina de Teatro Popular pelo Gefac (grupo de etnografia e folclore de Coimbra) de 10 a 13 de Nov. às 20h30

Tirando partido da grande experiência que tem na encenação de textos de Teatro Popular Mirandês, o GEFAC, Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra, vai promover um curso de iniciação ao Teatro Popular, especialmente concebido para quem nunca teve qualquer experiência teatral.

O curso tem como objectivo principal promover o gosto e o interesse por este tipo de teatro através de jogos que estimulem a imaginação e a criatividade. Estão, também, planeadas actividades que pretendem dar noções de postura corporal, percepção do outro, expressão dramática, projecção e controlo da voz.

O curso será realizado nos dias 10 a 13 de Novembro de 2008, entre as 20h30 e as 24h, na sala de ensaios do GEFAC (rés-do-chão do edifício da AAC).
As inscrições poderão ser efectuadas por email, para gefac.uc@gmail.com , ou por telefone, para Filipe Balão 914655716. O custo da inscrição é de 3 euros.


Teatro Popular Mirandês


O teatro popular mirandês é uma manifestação etnográfica que se representa na região de Miranda do Douro e do outro lado da fronteira, em Espanha. As representações, chamadas usualmente "colóquios", têm a ver, muitas vezes, com a vivências das pessoas, com usos e costumes de cada localidade.
O espectáculo era montado em cima de um tablado, estrado de madeira elevado, para permitir boa visibilidade. O cenário de fundo era composto por colchas, representando as casas das personagens, servindo as primeiras de meio de entrada e saída em cena.
A representação deste tipo de teatro era, pelo menos pela altura da nossa recolha, extremamente simples e ingénua dependendo por completo da maior ou menor graça, jeito ou engenho dos seus intervenientes. O texto assume um papel preponderante dado que os actores em muitos casos quase que se limitavam a "recitar" ou debitar a sua parte, parados em cena, sendo a movimentação mínima (excepção feita ao elemento libertino representado pelo Crespim). Os espectáculos decorriam em ambiente vicinal com um público "familiar" na própria aldeia ou nas aldeias vizinhas. O ponto que sussurrava o texto aos ouvidos de algum actor que tivesse uma branca (esquecimento do texto), era perfeitamente assumido pelo "ensaiador" que dirigia a cena, junto à boca de cena, não se inibindo de corrigir em voz alta algum actor mais esquecido ou até mandar repetir alguma cena.
Os actores nunca voltaram as costas ao público, entrando em cena vindos detrás das colchas e saindo por onde entraram às arrecuas (movimentação esta que se estenderia a outras peças de teatro popular mirandês). Regista-se no entanto uma excepção a este tipo rígido de marcação, o Tonto, que pode tomar nomes como "Crespim" (o caso da peça que levamos à cena), "Setentrião", entre outros.
Esta personagem acompanha todo o decorrer da acção ora auxiliando em prol do seu desenlace, ora atrapalhando os personagens no alcance dos seus desígnios, ora limitando-se a comentar as cenas. A sua marcação é totalmente livre, podendo voltar as costas ao público, interagir com este e com os actores, sem definição prévia, evocando desta forma o Arlequim da Comédia D'el Arte, os Bobos Vicentinos ou os Momos de Corte.
Este personagem traz consigo a pelota que é um pau mais ou menos torneado e trabalhado, com cerca de 35 cm de comprimento e 2 cm de diâmetro, com uma bola de trapo presa por uma corda atada numa das extremidades do pau. A corda que une a bola de trapo ao pau tem cerca de 30 cm. A pelota tem similaridades formais com a maça de armas (arma medieval que terá sido resultado da evolução bélica do mangual agrícola).
O espectáculo é iniciado com uma "introdução" (a cargo da personagem " profecia") em que é revelado ao público todo o enredo e o seu desenlace.

Teatro Popular

Quando se fala de teatro popular, tradicional, convém sempre mencionar que se está a lidar com uma realidade relativamente fluída, com contornos difíceis de definir.
A sua dinâmica, cuja génese é difícil de situar cronologicamente, parece decorrer de uma confluência de vários géneros teatrais.
De uma forma muito sintética pode-se começar pela herança do teatro religioso, em voga na Idade Média, no espaço europeu. Durante esta época pequenas encenações (Mistérios, Moralidades, Milagres, entre outras) que incluíam cânticos e danças, dão forma a narrativas bíblicas, procissões e cultos hagiográficos. Estas manifestações, desenvolvidas inicialmente sob os auspícios da Igreja, funcionavam como um instrumento de reiteração da fé e um meio de moralização de costumes. Dado o cariz licencioso que começou a impregnar estas representações a Igreja proibiu, nos actos de culto, folias, bailes e semelhantes expressões populares que, de acordo com a sua deliberação, profanariam os templos. Assim o teatro é projectado para fora do espaço e tempo sagrados, passando a ser representado nos adros e pórticos das Igrejas e outros espaços, e adquirindo uma maior independência do calendário litúrgico. Juntamente com a decrescente utilização do latim, a prática teatral adquire novos contornos estéticos que a aproxima de uma arte mais democrática.
Simultaneamente o terreno dramático medieval é povoado por outros géneros. A comédia faz também a sua aparição pela mão da tradição histriónica, com bobos e truões, onde pontuam breves cenas de cariz jocoso. Por outro lado o teatro popular surge ainda como uma espécie de composição poética híbrida, decorrente da circulação dos velhos romances medievos ou das narrativas das gestas guerreiras.
Há também a apontar o contributo da caudalosa literatura de cordel setecentista que sofreu uma larga disseminação em Portugal, persistindo ainda alguns núcleos até finais do século XIX e ainda princípios de XX. Temas clássicos, temas religiosos, temas históricos, a par de uma insistente análise da vida quotidiana, são trazidos à estampa (acolhidos) nessa tumultuosa literatura de intenções dramáticas sob as mais variadas designações (comédia, tragédia, entremez, ópera, seriam as mais usuais).
Percorreu-se um espaço e um período de tempo muito alargados de uma forma muito breve, fica a salvaguarda de que se pretende apenas dar uma breve perspectiva do assunto.
Actualmente pode-se vislumbrar reminiscências de todo este caudal dramático no teatro popular mirandês e, em particular, com a peça "A vida alegre do brioso João soldado".
As várias questões presentes no cânone literário oficial tem continuidade nas manifestações culturais populares (ou vice-versa, se se quiser). Estas não são, no entanto, um mero reflexo. Zonas de contacto de formas artísticas onde representação, texto literário, canto, dança e mímica, confluem para dar forma a uma outra visão do mundo.
Os caminhos da cultura popular cruzam-se, assim, com outros, os de uma cultura erudita, cunhando, de maneiras diversas, temas universais.





O GEFAC (grupo de etnografia e folclore da academia de Coimbra)


As diversas manifestações da cultura popular constituem, por excelência, o momento em que um povo fala lealmente de si, o momento onde um povo se revela na sua maneira de ser própria.
Enraizado nesta consciência, o Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) é fundado como Organismo Autónomo da Associação Académica de Coimbra em 1966, tendo desenvolvido desde aí um exaustivo trabalho de recolha, tratamento e divulgação das manifestações tradicionais.
O GEFAC utiliza as manifestações populares numa perspectiva criativa, principalmente nos ajustamentos aos aspectos cénicos, que permitem produzir um espectáculo globalizante, não tanto empenhado em demarcar regiões, mas sim em acentuar o sentir que provocou o aparecimento das manifestações.
Os espectáculos gerais realizados pelo grupo (como o último "A Água Dorme de Noite") são exemplo do tipo de espectáculos que se têm vindo a fazer ao longo de 40 anos de actividade. Realmente, neste esforço de divulgação, o GEFAC já apresentou cerca de 800 espectáculos, quer no país quer no estrangeiro, bem como várias gravações para algumas televisões europeias.
O GEFAC tem ainda em cena um texto de teatro popular mirandês - "Comédia do verdadeiro Santo António que livrou seu pai da morte em Lisboa" - resultante de um exaustivo trabalho de recolha de textos na região de Miranda do Douro, já publicado em livro.
Correlativamente a esta actividade, têm-se vindo a realizar bienalmente as Jornadas de Cultura Popular, com o intuito de promover o encontro de cada cidadão com a sua própria cultura e com a cultura de outros povos.

www1.ci.uc.pt/gefac/teatro_popular/teatro_teatro.htm

Auto da Índia de Gil Vicente (e debate sobre as relações entre o teatro e a escola) na Cerca de São Bernardo em Coimbra (dia 11 de Nov. às 18h.)




O Teatro e a Escola:
Espectáculo e debate no Teatro da Cerca de São Bernardo ( em Coimbra)

http://weblog.aescoladanoite.pt/
http://www.aescoladanoite.pt/
http://www.aescoladanoite.pt/paginas/01-menuprincipal.html

A Escola da Noite e a Associação de Professores de Português promovem na próxima terça-feira um debate sobre as relações entre o Teatro e a Escola, no novo Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra.

A sessão está marcada para as 18:00h e inicia-se com a apresentação de uma sessão especial do espectáculo “Auto da Índia: aula prática”, uma das mais recentes produções da companhia de Coimbra e que foi concebida a pensar particularmente no público escolar.
Estreada em Novembro de 2007, ela foi já vista por cerca de 3 mil alunos, em 33 sessões apresentadas, tanto em Coimbra como nas várias localidades do país por onde tem passado a sua digressão.

Imediatamente após o espectáculo terá lugar a mesa-redonda, aberta à participação de todo o público presente na sala e com as intervenções iniciais de António Augusto Barros (Director Artístico d’A Escola da Noite), Isabel Delgado (Professora do Colégio São Teotónio, Orientadora de Estágios Curriculares), José Augusto Cardoso Bernardes (Professor de Literatura da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), João Paulo Janicas (Director de Centro de Formação de Associação de Escolas), Maria Regina Rocha (Professora de Português, Colaboradora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa) e Paulo Feytor Pinto (Presidente da Associação de Professores de Português).

As relações entre o Teatro e a Escola, nomeadamente no que diz respeito à importância de promover o contacto regular dos jovens com a criação artística, têm sido objecto de vários estudos e propostas de intervenção, incluindo ao nível dos dois ministérios envolvidos. Ao contrário do que seria de esperar, no entanto, alunos, professores e estruturas de criação teatral continuam hoje confrontados com vários constrangimentos ao pleno aproveitamento das potencialidades desta ligação. Dificuldades de comunicação, impedimentos burocráticos e organizativos e o afunilamento dos programas curricularessão algumas das questões frequentemente apontadas e que importa discutir.

No momento em que se encontra a preparar o seu plano de actividades e a programação do Teatro da Cerca de São Bernardo para o próximo biénio, A Escola da Noite aproveitará a ocasião para apresentar as linhas gerais do serviço educativo que pretende desenvolver, na continuidade do trabalho com o público escolar que tem vindo a efectuar desde o início do seu percurso, em 1992.

Só nos últimos quatro anos, no âmbito do contrato assinado com o Ministério da Cultura, o grupo de Coimbra apresentou cerca de 100 sessões especiais para escolas, de 8 espectáculos diferentes, às quais assistiram mais de 6 mil espectadores. Para além disso, a companhia concebeu e concretizou, em parceria com o Centro de Formação de Professores Ágora, três edições da oficina para professores “Uma Aula Vicentina”, acreditada pelo Ministério da Educação. A dinamização de um clube de leitura na Escola Martim de Freitas, o acolhimento regular de alunos em visitas ao teatro e o aprofundamento das ligações com os professores estagiários (em articulação com a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) são algumas das outras frentes do trabalho desenvolvido até agora, que a companhia pretende consolidar e ampliar no futuro próximo.

O Teatro e a Escola
mesa-redonda n'A Escola da Noite
(antecedida pela apresentação do espectáculo “Auto da Índia: aula prática”)
TEATRO DA CERCA DE SÃO BERNARDO, 11/11/2008, terça-feira, 18h


Intervenções iniciais:
António Augusto Barros
Director Artístico d’A Escola da Noite
Paulo Feytor Pinto
Presidente da Associação de Professores de Português
Maria Regina Rocha
Professora de Português, Colaboradora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Isabel Delgado
Professora do Colégio São Teotónio, Orientadora de Estágios Curriculares
José Augusto Cardoso Bernardes
Professor de Literatura da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
João Paulo Janicas
Director de Centro de Formação de Associação de Escolas

Localização
Teatro da Cerca de São Bernardo - Coimbra
(acesso a partir da Rua da Sofia, pela ladeira do Carmo ou através do Pátio da Inquisição - ver mapa)


Autocarros: 1A, 2A, 2F, 2T, 4, 5, 6, 7, 7T, 10, 11, 11C, 19, 24, 24T, 25, 27, 28, 29, 30, 36, 36F, 42 e 103 (paragens junto à PSP, Refeitório de Sta. Cruz e Jardim da Manga).

GPS: Lat 40:12:44N Lon 8:25:45W

Paragem de táxis junto à PSP (a 100 metros do TCSB, aprox.).
Estações da CP e da Rodovária nas proximidades.

Manifesto contra os economistas ( por António Pedro Ribeiro)

MANIFESTO CONTRA OS ECONOMISTAS

Zaratustra voltou à cidade
para declarar o seu ódio
aos economistas:

“Vós, economistas,
que dais cabo da vida
que a reduzis à mesquinhez
da conta, do orçamento, do défice
vós, economistas,
que pregais a bolsa e o mercado
que vos masturbais com o dinheiro
sabei que vos amaldiçoo
e que venho combater a vossa ditadura
vós, economistas,
que estais feitos com a morte
que trazeis a vidinha do tédio,
do previsível, das estatísticas
sabei que não me levais na cantiga
vós, economistas,
que dominais o mundo
que tudo submeteis à vossa lei assexuada
sabei que estou vivo
que procuro o prazer e a loucura
que estou para lá das vossas teses
que o amor não se mede
que a liberdade não se quantifica
e que o vosso império vai cair!”

A. Pedro Ribeiro, Porto, 2. 11. 2008






Magusto+Filme na Casa da Horta (amanhã, dia 11 de Nov. a partir das 20h.)



11 Novembro - Magusto

Castanhas quentinhas a partir das 20:00h!
Junta ao teu menu um cartucho de castanhas quentinhas.


Sopa de abóbora
Assado de Seitan
Cartucho de castanhas
4,90€



Aproveita para assistir ao filme Latcho Drom durante o jantar.


Latcho Drom - Filme
Tony Gatlif

"Latcho Drom, mistura de documentário e musical, em que o diretor faz da própria câmera personagem principal do filme, uma vez que é a sua presença que garante a existência (e a resistência) do povo e da cultura cigana para os espectadores. Assim, Latcho Drom assume a forma de viagem que, durante um ano, do verão ao outono e do inverno à primavera, acompanha diversos grupos nômades, desde a Índia até a Espanha, passando pela Turquia, Romênia, Hungria, República Tcheca, Alemanha e França, relembrando o massacre nazista que dizimou milhares de ciganos nos campos de concentração e finalmente denunciando/exorcizando os crimes e preconceitos sofridos ao longo dos séculos. Por intermédio de rituais coletivos – que valem não pela codificação que instituem, mas sim pelo reunir de pessoas a fim de compartilhar experiências individuais com a comunidade –, os quais se manifestam na música e na dança, Gatlif, com fé e alegria juvenis, acaba por celebrar a vida, que explode em cores, ritmos, movimentos e energia contagiantes. Em cinema, enfim."


Casa da Horta, Associação Cultural
www.casadahorta.pegada.net
casadahorta@pegada.net

Tel: 222024123 / 965545519 / 937267541 / 916472466
Rua de São Francisco, 12A
4050-548 Porto

(Perto da Igreja de São Francisco e Mercado Ferreira Borges)

Já disponível a edição do mês de Novembro da versão portuguesa do Le Monde Diplomatique



http://pt.mondediplo.com/


Sumário de artigos do Le Monde Diplomatique ( edição do mês de Novembro da versão portuguesa )


Pensar o impensável
Editorial de Serge Halimi
«Tudo, portanto, era possível. Uma intervenção financeira maciça do Estado. O esquecimento das obrigações do Pacto de Estabilidade Europeu. Uma capitulação dos bancos centrais ante a urgência de uma retoma. A condenação dos paraísos fiscais. Tudo era possível porque se impunha salvar os bancos. Durante trinta anos, o mais leve esboço de qualquer alteração dos fundamentos da ordem liberal, para, por exemplo, melhorar as condições de vida da maioria da população, teve contudo o mesmo tipo de resposta: isso é tudo muito arcaico; então não sabem que o Muro de Berlim já caiu? E durante trinta anos a «reforma» foi aplicada, mas noutro sentido. [...]»

Leia no sítio Internet do jornal, inédito e em acesso livre, o artigo de Serge Halimi
«Último filme de campanha ou primeiros actos do próximo presidente?».

ESTADO SOCIAL: POLÍTICAS SOCIAIS ALTERNATIVAS
A suposta falência do Estado social
António Filipe
«[...] A alegada crise do Estado social foi "decretada" sensivelmente a partir do final dos anos 70 do século XX. A chegada ao poder de Ronald Reagan nos Estados Unidos e de Margaret Thatcher no Reino Unido como que deram o tiro de partida para uma tremenda ofensiva neoliberal à escala global, visando desmantelar conquistas sociais históricas e dando início, sobretudo no caso da Europa, a um retrocesso civilizacional profundo. Este ataque às funções sociais do Estado não se baseou em qualquer fundamento económico que tenha sido racionalmente demonstrado mas, acima de tudo, num regresso a dogmas ultraliberais impostos pela supremacia do poder económico no controlo dos aparelhos de Estado e dos mecanismos de formação e consolidação da ideologia dominante. [...]»

Desmercadorizar: palavra-chave para o novo século
Ana Drago
«[...] A estratégia neoliberal é por demais conhecida: criação de restrições no acesso a serviços públicos e selectividade social nas prestações; desinvestimento na produção directa pelo Estado de serviços públicos complementada com a entrega, por concessão, a privados dessas prestações de serviços, criando assim um mercado, nomeadamente, na área da saúde; programas de combate à pobreza que, na prática, não retiram ninguém da situação de pobreza, acompanhados da introdução do conceito do "pobre que merece ser ajudado" e dos primeiros passos no chamado workfare em detrimento do wellfare. [...]»

Portugal na balança da Europa social
Paulo Pedroso
«[...] A mudança de modelo social em Portugal não será o fruto da evolução sem ruptura do actual modelo. A sua reprodução manteria desigualdade, pobreza e clientelismo, embora possa ser mais bem gerida e aperfeiçoada. Essa boa gestão e esse aperfeiçoamento, sublinhe-se, têm vindo a ser conseguidos. Mas a passagem do modelo social português da boa gestão do modelo conservador para os padrões da social-democracia europeia implica mudanças de fundo na transparência dos processos de hierarquização de prioridades sociais, no financiamento do Estado, na abertura à participação, no tipo de prestações e serviços e no modo de formação das decisões políticas. [...]»


SAÚDE
Desigualdades que matam
Cipriano Justo
«[...] Nascer e crescer saudável constituem os principais pré-requisitos para se vir a ter boas condições de vida. O pleno emprego, a remuneração condigna, a protecção social ao longo da vida e a existência de um sistema de saúde de cobertura universal representam a infra-estrutura social capaz de garantir iguais oportunidades de bem-estar para todos. Dar voz e poder às pessoas de maneira a poderem intervir activamente nas decisões, desenvolver estratégias para melhorar a influência dos determinantes sociais na saúde individual e colectiva, e alterar o sistema de governação no sentido de reforçar as políticas intersectoriais estão entre as mais importantes mudanças políticas que é necessário realizar para se anular a distância e tornar mais homogéneo o potencial de saúde de cada comunidade.»


ENSAIO
No rasto da alegria
António Borges Coelho
«[...] Tenho saudades da alegria e de imaginar o futuro, não como fim, não como contemplação, não como paraíso, com ou sem purgatório, e vedado à gente do inferno. [...] O futuro não é amanhã, começa agora. Aqui, na nossa casa, no nosso bairro, na nossa cidade. Espalhemos a alegria nos pequenos gestos, nas pequenas coisas. Quanto às grandes causas, o tempo tem amadurecido um programa mínimo para a defesa da Terra e da Vida e para o alicerçar de uma sociedade mais fraterna. Esse programa avança cada vez mais na consciência das mulheres e dos homens de boa vontade. [...]»

DO MUNDO UNIPOLAR AO MUNDO MULTIPOLARO alvorecer de um século pós-americano
Alain Gresh
«[...] O mundo será multipolar? Sem qualquer dúvida, os Estados Unidos continuarão a ser, ainda por muitos anos, a potência dominante, e não apenas no plano militar. Eles terão todavia que ter em conta a emergência de centros de poder em Pequim e em Nova Deli, em Brasília e em Moscovo. O afundamento das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), o impasse da crise do nuclear iraniano, bem como as peripécias das negociações com a Coreia do Norte, confirmam que os Estados Unidos, mesmo aliados à União Europeia, já não são capazes de impor o seu ponto de vista e têm necessidade de outros parceiros para resolver as crises. [...]»

Finança, potências: o mundo está a mudar
Martine Bulard
«[...] O sistema continua em vigor, mas treme nas suas bases. Os Estados que acumularam reservas já não se contentam em colocar dinheiro nos bancos como o fizeram os países exportadores de petróleo nos anos setenta; eles criaram o que se designa por "fundos soberanos" (4 biliões de dólares pelo menos), que servem para investir em projectos de desenvolvimento, mais ou menos faraónicos como nos países do Golfo, ou para comprar empresas estrangeiras. Uma arma de intervenção que muitos países ocidentais temem. [...]»

O que antes se resolvia pela guerra
Philip S. Golub
«[...] Estamos, portanto, perante um estranho paradoxo. O capitalismo tende por natureza para a globalidade e a sua lógica transcende a divisão do mundo em Estados-nações. Ao mesmo tempo, ao investir prioritariamente em certos territórios, ele acaba por construir potências nacionais, por vezes hegemonias. A integração gradual das regiões emergentes na economia mundial no final do século XX difere todavia fundamentalmente daquela que, de forma coerciva, engendrou a grande divergência Norte-Sul e as desigualdades duradouras do sistema internacional moderno. [...]»

A queda de duas grandes praças bolsistas
Akram Belkaïd
«[...] Wall Street e a City, beneficiando das políticas de desregulamentação da década de 1980, foram também as principais organizadoras das políticas neoliberais que se disseminaram pelos quatro cantos do planeta. Grandes bancos de investimentos e de negócios, grupos de lóbi, banqueiros reciclados na política, à imagem dos grandes quadros do banco Goldman Sachs que fizeram uma retirada estratégica para a sua base do Departamento do Tesouro americano, todos defenderam com unhas e dentes, e obtiveram, a liberalização dos fluxos de capitais, a generalização do comércio livre e o retraimento dos Estados no tocante aos direitos sociais. [...]»
Sobre o tema, leia no sítio Internet do jornal, inédito e em acesso livre, o artigo de Akram Belkaïd
«Regresso dos bancos islâmicos?».

Interrogações da Índia sobre o seu papel internacional
Siddharth Varadarajan
«[...] A elite indiana vê com bons olhos a presença americana na Ásia Ocidental, mas hesita em estabelecer uma parceria com Washington noutras regiões, como a Ásia Central, se isso puser em causa as elações que mantém com a Rússia ou com outros actores potencialmente importantes, como o Irão. A administração americana espera, contudo, convencer as autoridades indianas a estabelecerem uma estreita cooperação em todas as questões asiáticas. Apesar de todos os esforços desenvolvidos, Nova Deli tem dificuldade em escolher as regiões em que a cooperação indo-americana lhe pareça ser possível. [...]»


CRISE FINANCEIRA
Os intelectuais ortodoxos e a crise
Frédéric Lordon
«[...] Na televisão, na rádio, na imprensa, quem é que comenta o afundamento do capitalismo financeiro? Os mesmos de sempre, claro! Todos eles, peritos, editorialistas, políticos, matraquearam-nos, durante duas décadas, com as suas loas a um sistema que se esboroa. E continuam por aí, fiéis ao seu posto, e a sua alegre arrogância não dá sinais de se esbater. Dividem-se entre os que, sem o menor escrúpulo, viraram a casaca e os que, um pouco desorientados pelo choque, tentam, apesar de tudo, manter como podem a sua linha e defender o indefensável no meio de ruínas. [...]»
Sobre a crise financeira, leia de Ignacio Ramonet
«Impacto global», inédito e em acesso livre no sítio Internet do jornal.


EM DEBATE
As virtudes esquecidas da actividade não mercantil
Jean-Marie Harribey
«[...] A riqueza não mercantil não é, portanto, um desvio dos resultados da actividade mercantil, ela é um «mais» que provém de uma decisão pública de utilizar forças de trabalho e equipamentos disponíveis ou subtraídos ao lucro. Ela é duplamente socializada: pela decisão de utilizar colectivamente capacidades produtivas e pela de repartir socialmente a carga do pagamento. Isto é insuportável para o imaginário burguês, e particularmente para a ortodoxia neoliberal. [...]»


FRANÇA
Em contramão na auto-estrada das ideias
François Ruffin
«[...] É caso para perguntarmos: então o PS, em trinta anos de governo e de alternâncias, não levou já a cabo milhentas revisões, ao ponto de se ver agora sem doutrina? Para trás, esquecidos e enterrados, ficaram a "frente de classe", a "planificação", a "autogestão", a "ruptura com o capitalismo" e até as "nacionalizações". Por conseguinte, o rei vai nu – e querem que ele se dispa ainda mais… [...]»
Sobre este tema, leia no sítio Internet do jornal
«Variações de "esquerda" sobre o neoliberalismo», inédito de Blaise Magnin, em acesso livre.


IMIGRAÇÃO
Protocolos de expulsão
Tassadit Imache
«[...] Presentemente, estão montados na nossa paisagem moral e política cenários até há pouco inimagináveis: centros e instalações onde indivíduos e famílias se encontram encerrados. Pessoas exiladas, refugiadas, as quais, após terem sido julgadas na prefeitura de polícia, culpadas de já não corresponderem aos critérios cada vez mais numerosos da nossa hospitalidade, são arrancadas às suas vidas e às nossas enquanto aguardam a expulsão, sob constrangimento físico, psicológico e moral. Recentemente, uma directiva europeia autorizou que o período dessa sua detenção possa prolongar-se até dezoito meses. [...]»


SOMÁLIA
Frotas ocidentais contra piratas somalis
Philippe Leymarie
«[...] A pirataria somali, que no início da década de 2000 apenas abrangia algumas dezenas de pescadores ou antigos guardas costeiros que agiam por oportunismo, desenvolveu-se com o apoio de algumas personalidades da região autónoma da Puntlândia. O dinheiro fácil atraiu de seguida "investidores" e suscitou a formação de grupos organizados como os Somali Marines ou os Costiguards, à volta de alguns pequenos portos como o Eyl ou o Hobyo, no oceano Índico, e o Alula, no golfo de Áden. [...]»
Acompanha este tema, a cronologia
«Ataques e contra-ataques», em acesso livre no sítio Internet do jornal.

Colóquio internacional "The Walker and the City - O Peão e a Cidade" (12 de Nov. no Goethe-Institut em Lisboa)



O encontro fortuito entre cidadãos anónimos é a pedra de toque da vida urbana. Os espaços exteriores de atracção de gente são o garante da interacção entre gerações, classes sociais e comunidades, e de construção da "coisa pública".

Por toda a Europa, as preocupações ambientais e energéticas, associadas a novas exigências de qualidade na vivência urbana, têm contudo promovido visíveis alterações nos paradigmas ideológicos que balizam o discurso e a prática da gestão urbana.

O Colóquio “O Peão e a Cidade”, organizado pela “Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados”, a “Fundação Friedrich Ebert” e o ISCTE, procura reflectir, numa perspectiva comparada e a nível europeu, sobre essa categoria funcional da mobilidade urbana, tão ubíqua e estigmatizada que é o "peão". Para tal, foram convocados especialistas europeus de reconhecido mérito em áreas tão diversas como a engenharia de transportes, o urbanismo e as ciências sociais.

No contexto deste Colóquio Internacional, é também promovida uma Mesa Redonda juntando investigadores e organizações da sociedade civil portuguesa, onde se procurará fazer uma avaliação da situação da pedonalidade em Portugal.

No final do Colóquio será lançado o livro de Aymeric Bôle-Richard:
«Pedonalidade no Largo do Rato: Micro-poderes »( edição ACA-M)

Organização: ACA-M, Mestrado em Risco, Trauma e Sociedade - ISCTE,PQN-COST Action 358 e Fundação Friedrich Ebert

ENTRADA LIVRE

Tradução simultânea inglês-português (nas duas direcções) e do castelhano para o inglês.

Inscrições: Fundação Friedrich Ebert,
Tel. 213573375,
Fax 213573422,
mail:
info@feslisbon.org



Programa
The Walker and the City - O Peão e a Cidade
Lisboa, 12 de Novembro de 2008
Goethe-Institut Portugal
Campo dos Mártires da Pátria, 37

09.45h Registo


10.00h Abertura
Luís Reto (ISCTE, Lisboa)


10.10h Apresentação do Programa
Reinhard Naumann (Fundação Friedrich Ebert, Lisboa)
Manuel João Ramos (Acção COST, Lisboa)
Mário José Alves (Acção COST, Lisboa)


10.20h Mobilidade melhor com menos automóveis
Heiner Monheim (Universidade de Trier, Alemanha)


10.40h Andar, tempo e espaço publico: percepções, políticas e perspectivas
Daniel Sauter (Urban Mobility Research, Zurique)


11.00h Debate


11.20h Intervalo para café


11.40h Comodidade e segurança dos peões na Europa: passado e futuro
Nicole Muhlrad (INRETS, Paris)


12.00h Necessidades de qualidade para peões
Rob Methorst (Acção COST e Centre for Transport and Navigation, Amsterdão)


12.20h Debate

13.00h Intervalo


14.30h Mesa Redonda: Sociedade Civil: Estudos, participação e conflito …


15.40h Uma abordagem etnográfica à Rambla del Raval:
espaço (público?) e peões
Gerard Horta (Universidade de Barcelona)


16.00h Debate


16.30h Intervalo para café


16.50h O sistema de gestão de acesso de Londres (LAMS) e o estado do andar
Jim Walker (The Access Company, Londres)


17.10h Peões: cidadão de segunda?
Ralf Risser (Universidade de Lund)


17.30h Debate


18.00h Lançamento do novo livro editado pela ACA-M:
Pedonalidade no Largo do Rato: micro-poderes de Aymeric Bôle Richard

Associação de cidadãos auto-mobilizados:
http://www.aca-m.org/w/index.php5?title=P%C3%A1gina_principal