10.11.08

Já disponível a edição do mês de Novembro da versão portuguesa do Le Monde Diplomatique



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Sumário de artigos do Le Monde Diplomatique ( edição do mês de Novembro da versão portuguesa )


Pensar o impensável
Editorial de Serge Halimi
«Tudo, portanto, era possível. Uma intervenção financeira maciça do Estado. O esquecimento das obrigações do Pacto de Estabilidade Europeu. Uma capitulação dos bancos centrais ante a urgência de uma retoma. A condenação dos paraísos fiscais. Tudo era possível porque se impunha salvar os bancos. Durante trinta anos, o mais leve esboço de qualquer alteração dos fundamentos da ordem liberal, para, por exemplo, melhorar as condições de vida da maioria da população, teve contudo o mesmo tipo de resposta: isso é tudo muito arcaico; então não sabem que o Muro de Berlim já caiu? E durante trinta anos a «reforma» foi aplicada, mas noutro sentido. [...]»

Leia no sítio Internet do jornal, inédito e em acesso livre, o artigo de Serge Halimi
«Último filme de campanha ou primeiros actos do próximo presidente?».

ESTADO SOCIAL: POLÍTICAS SOCIAIS ALTERNATIVAS
A suposta falência do Estado social
António Filipe
«[...] A alegada crise do Estado social foi "decretada" sensivelmente a partir do final dos anos 70 do século XX. A chegada ao poder de Ronald Reagan nos Estados Unidos e de Margaret Thatcher no Reino Unido como que deram o tiro de partida para uma tremenda ofensiva neoliberal à escala global, visando desmantelar conquistas sociais históricas e dando início, sobretudo no caso da Europa, a um retrocesso civilizacional profundo. Este ataque às funções sociais do Estado não se baseou em qualquer fundamento económico que tenha sido racionalmente demonstrado mas, acima de tudo, num regresso a dogmas ultraliberais impostos pela supremacia do poder económico no controlo dos aparelhos de Estado e dos mecanismos de formação e consolidação da ideologia dominante. [...]»

Desmercadorizar: palavra-chave para o novo século
Ana Drago
«[...] A estratégia neoliberal é por demais conhecida: criação de restrições no acesso a serviços públicos e selectividade social nas prestações; desinvestimento na produção directa pelo Estado de serviços públicos complementada com a entrega, por concessão, a privados dessas prestações de serviços, criando assim um mercado, nomeadamente, na área da saúde; programas de combate à pobreza que, na prática, não retiram ninguém da situação de pobreza, acompanhados da introdução do conceito do "pobre que merece ser ajudado" e dos primeiros passos no chamado workfare em detrimento do wellfare. [...]»

Portugal na balança da Europa social
Paulo Pedroso
«[...] A mudança de modelo social em Portugal não será o fruto da evolução sem ruptura do actual modelo. A sua reprodução manteria desigualdade, pobreza e clientelismo, embora possa ser mais bem gerida e aperfeiçoada. Essa boa gestão e esse aperfeiçoamento, sublinhe-se, têm vindo a ser conseguidos. Mas a passagem do modelo social português da boa gestão do modelo conservador para os padrões da social-democracia europeia implica mudanças de fundo na transparência dos processos de hierarquização de prioridades sociais, no financiamento do Estado, na abertura à participação, no tipo de prestações e serviços e no modo de formação das decisões políticas. [...]»


SAÚDE
Desigualdades que matam
Cipriano Justo
«[...] Nascer e crescer saudável constituem os principais pré-requisitos para se vir a ter boas condições de vida. O pleno emprego, a remuneração condigna, a protecção social ao longo da vida e a existência de um sistema de saúde de cobertura universal representam a infra-estrutura social capaz de garantir iguais oportunidades de bem-estar para todos. Dar voz e poder às pessoas de maneira a poderem intervir activamente nas decisões, desenvolver estratégias para melhorar a influência dos determinantes sociais na saúde individual e colectiva, e alterar o sistema de governação no sentido de reforçar as políticas intersectoriais estão entre as mais importantes mudanças políticas que é necessário realizar para se anular a distância e tornar mais homogéneo o potencial de saúde de cada comunidade.»


ENSAIO
No rasto da alegria
António Borges Coelho
«[...] Tenho saudades da alegria e de imaginar o futuro, não como fim, não como contemplação, não como paraíso, com ou sem purgatório, e vedado à gente do inferno. [...] O futuro não é amanhã, começa agora. Aqui, na nossa casa, no nosso bairro, na nossa cidade. Espalhemos a alegria nos pequenos gestos, nas pequenas coisas. Quanto às grandes causas, o tempo tem amadurecido um programa mínimo para a defesa da Terra e da Vida e para o alicerçar de uma sociedade mais fraterna. Esse programa avança cada vez mais na consciência das mulheres e dos homens de boa vontade. [...]»

DO MUNDO UNIPOLAR AO MUNDO MULTIPOLARO alvorecer de um século pós-americano
Alain Gresh
«[...] O mundo será multipolar? Sem qualquer dúvida, os Estados Unidos continuarão a ser, ainda por muitos anos, a potência dominante, e não apenas no plano militar. Eles terão todavia que ter em conta a emergência de centros de poder em Pequim e em Nova Deli, em Brasília e em Moscovo. O afundamento das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), o impasse da crise do nuclear iraniano, bem como as peripécias das negociações com a Coreia do Norte, confirmam que os Estados Unidos, mesmo aliados à União Europeia, já não são capazes de impor o seu ponto de vista e têm necessidade de outros parceiros para resolver as crises. [...]»

Finança, potências: o mundo está a mudar
Martine Bulard
«[...] O sistema continua em vigor, mas treme nas suas bases. Os Estados que acumularam reservas já não se contentam em colocar dinheiro nos bancos como o fizeram os países exportadores de petróleo nos anos setenta; eles criaram o que se designa por "fundos soberanos" (4 biliões de dólares pelo menos), que servem para investir em projectos de desenvolvimento, mais ou menos faraónicos como nos países do Golfo, ou para comprar empresas estrangeiras. Uma arma de intervenção que muitos países ocidentais temem. [...]»

O que antes se resolvia pela guerra
Philip S. Golub
«[...] Estamos, portanto, perante um estranho paradoxo. O capitalismo tende por natureza para a globalidade e a sua lógica transcende a divisão do mundo em Estados-nações. Ao mesmo tempo, ao investir prioritariamente em certos territórios, ele acaba por construir potências nacionais, por vezes hegemonias. A integração gradual das regiões emergentes na economia mundial no final do século XX difere todavia fundamentalmente daquela que, de forma coerciva, engendrou a grande divergência Norte-Sul e as desigualdades duradouras do sistema internacional moderno. [...]»

A queda de duas grandes praças bolsistas
Akram Belkaïd
«[...] Wall Street e a City, beneficiando das políticas de desregulamentação da década de 1980, foram também as principais organizadoras das políticas neoliberais que se disseminaram pelos quatro cantos do planeta. Grandes bancos de investimentos e de negócios, grupos de lóbi, banqueiros reciclados na política, à imagem dos grandes quadros do banco Goldman Sachs que fizeram uma retirada estratégica para a sua base do Departamento do Tesouro americano, todos defenderam com unhas e dentes, e obtiveram, a liberalização dos fluxos de capitais, a generalização do comércio livre e o retraimento dos Estados no tocante aos direitos sociais. [...]»
Sobre o tema, leia no sítio Internet do jornal, inédito e em acesso livre, o artigo de Akram Belkaïd
«Regresso dos bancos islâmicos?».

Interrogações da Índia sobre o seu papel internacional
Siddharth Varadarajan
«[...] A elite indiana vê com bons olhos a presença americana na Ásia Ocidental, mas hesita em estabelecer uma parceria com Washington noutras regiões, como a Ásia Central, se isso puser em causa as elações que mantém com a Rússia ou com outros actores potencialmente importantes, como o Irão. A administração americana espera, contudo, convencer as autoridades indianas a estabelecerem uma estreita cooperação em todas as questões asiáticas. Apesar de todos os esforços desenvolvidos, Nova Deli tem dificuldade em escolher as regiões em que a cooperação indo-americana lhe pareça ser possível. [...]»


CRISE FINANCEIRA
Os intelectuais ortodoxos e a crise
Frédéric Lordon
«[...] Na televisão, na rádio, na imprensa, quem é que comenta o afundamento do capitalismo financeiro? Os mesmos de sempre, claro! Todos eles, peritos, editorialistas, políticos, matraquearam-nos, durante duas décadas, com as suas loas a um sistema que se esboroa. E continuam por aí, fiéis ao seu posto, e a sua alegre arrogância não dá sinais de se esbater. Dividem-se entre os que, sem o menor escrúpulo, viraram a casaca e os que, um pouco desorientados pelo choque, tentam, apesar de tudo, manter como podem a sua linha e defender o indefensável no meio de ruínas. [...]»
Sobre a crise financeira, leia de Ignacio Ramonet
«Impacto global», inédito e em acesso livre no sítio Internet do jornal.


EM DEBATE
As virtudes esquecidas da actividade não mercantil
Jean-Marie Harribey
«[...] A riqueza não mercantil não é, portanto, um desvio dos resultados da actividade mercantil, ela é um «mais» que provém de uma decisão pública de utilizar forças de trabalho e equipamentos disponíveis ou subtraídos ao lucro. Ela é duplamente socializada: pela decisão de utilizar colectivamente capacidades produtivas e pela de repartir socialmente a carga do pagamento. Isto é insuportável para o imaginário burguês, e particularmente para a ortodoxia neoliberal. [...]»


FRANÇA
Em contramão na auto-estrada das ideias
François Ruffin
«[...] É caso para perguntarmos: então o PS, em trinta anos de governo e de alternâncias, não levou já a cabo milhentas revisões, ao ponto de se ver agora sem doutrina? Para trás, esquecidos e enterrados, ficaram a "frente de classe", a "planificação", a "autogestão", a "ruptura com o capitalismo" e até as "nacionalizações". Por conseguinte, o rei vai nu – e querem que ele se dispa ainda mais… [...]»
Sobre este tema, leia no sítio Internet do jornal
«Variações de "esquerda" sobre o neoliberalismo», inédito de Blaise Magnin, em acesso livre.


IMIGRAÇÃO
Protocolos de expulsão
Tassadit Imache
«[...] Presentemente, estão montados na nossa paisagem moral e política cenários até há pouco inimagináveis: centros e instalações onde indivíduos e famílias se encontram encerrados. Pessoas exiladas, refugiadas, as quais, após terem sido julgadas na prefeitura de polícia, culpadas de já não corresponderem aos critérios cada vez mais numerosos da nossa hospitalidade, são arrancadas às suas vidas e às nossas enquanto aguardam a expulsão, sob constrangimento físico, psicológico e moral. Recentemente, uma directiva europeia autorizou que o período dessa sua detenção possa prolongar-se até dezoito meses. [...]»


SOMÁLIA
Frotas ocidentais contra piratas somalis
Philippe Leymarie
«[...] A pirataria somali, que no início da década de 2000 apenas abrangia algumas dezenas de pescadores ou antigos guardas costeiros que agiam por oportunismo, desenvolveu-se com o apoio de algumas personalidades da região autónoma da Puntlândia. O dinheiro fácil atraiu de seguida "investidores" e suscitou a formação de grupos organizados como os Somali Marines ou os Costiguards, à volta de alguns pequenos portos como o Eyl ou o Hobyo, no oceano Índico, e o Alula, no golfo de Áden. [...]»
Acompanha este tema, a cronologia
«Ataques e contra-ataques», em acesso livre no sítio Internet do jornal.