5.5.06

Os novos movimentos sociais


Uma definição genérica como a que é proposta por Dalton e Kuechler - «um sector significativo da população que desenvolve e define interesses incompatíveis com a ordem política e social existente e que os persegue por vias não institucionalizadas, invocando potencialmente o uso da força física ou da coerção» - abrange realidade sociológicas tão diversas que o que destas se diz nela é afinal muito pouco. Se nos países centrais a enumeração dos novos movimentos sociais inclui tipicamente os movimentos ecológicos, feministas, anti-racistas, de consumidores, de auto-ajuda, a enumeração na América Latina – onde também é corrente a designação de movimentos populares ou novos movimentos populares para diferenciar a sua base social da que é característica dos movimentos nos países centrais (« a nova classe média») – é bastante mais heterogénea.

A novidade maior dos NMS reside em que constituem tanto uma crítica da regulação social capitalista como uma crítica da emancipação social socialista tal como ela foi definida pelo marxismo. Ao identificar novas formas de opressão que extravasam das relações de produção e nem sequer são específicas delas, como sejam a guerra, a poluição, o machismo, o racismo ou o produtivismo, e ao advogar um novo paradigma social menos assente na riqueza e no bem estar material do que na cultura e na qualidade de vida, os NMS denunciam, com uma radicalidade sem precedentes, os excessos de regulação da modernidade. Tais excessos atingem, não só o modo como se trabalha e produz, mas também o modo como se descansa e vive; a pobreza e as assimetrias das relações sociais são a outra face da alienação e do desequilíbrio interior dos indivíduos; e, finalmente, essas formas de opressão não atingem especificamente uma classe social e sim grupos sociais transclassistas ou mesmo a sociedade no seu todo.

Boaventura Sousa Santos, in Pela Mão de Alice

As 4 atitudes possíveis face à crise da modernidade capitalista


Há ocasiões em que vale a pena gastar breves momentos a ler o que as figuras mais canónicas do establishment capitalista global vão escrevendo. É o caso do conhecido sociólogo britânico A.Giddens cuja função de «intelectual da côrte» e «conselheiro espiritual» junto do actual governo inglês é por demais conhecida, além de ser o protótipo contemporâneo do académico mais empedernido no seio da sua comunidade de pares que, neste caso concreto, é o dos sociólogos.
Giddens teve um percurso académico típico, evoluindo desde o interesse pelo marxismo até à mais rançosa sociologia que hoje se «vende» nas instituições escolares da especialidade.
Ora é deste mesmo autor que seleccionamos um excerto de uma sua obra, já traduzida para português, acerca das 4 posturas ou atitudes possíveis face à crise da modernidade, isto é, o comportamento que cada indivíduo (cidadão) pode ( e poderá) assumir frente aos múltiplos problemas sociais, incluindo os de carácter ambiental.
Trata-se pois de uma autor relativamente ao qual não nos liga qualquer parentesco, muito pelo contrário, alimentamos mesmo saudavelmente um certo «ódio de estimação». Não obstante, sempre valerá a pena gastar alguns minutos com algumas das suas afirmações uma vez que elas bem podem constituir sintomas reveladores de que, atrás de um enquistamento académico, sempre se pode descortinar algum bom-senso intelectual.
Ora, senão vejamos.

Escreve ele:

«As reacções adaptativas aos riscos da modernidade podem ser diversas:

A primeira poderia ser chamada de adaptação pragmática e implica a concentração na “sobrevivência”. Mas esta aceitação pragmática não está isenta de custos psicológicos, pois, supondo uma indiferença, reflecte frequentemente ansiedades profundas subjacentes.

Uma segunda reacção adaptativa pode ser designada por optimismo persistente, baseado na razão providencial, independentemente de quaisquer perigos que ameacem a actualidade. Certos tipos de ideias religiosas também encontram facilmente afinidades electivas com o optimismo persistente.

Outro conjunto de atitudes é o do pessimismo cínico que supõe um envolvimento directo com as ansiedades provocadas pelos perigos e que, em alguns casos, pode coexistir com uma esperança desesperada.

Finalmente, existe o activismo radical que se define como uma atitude de contestação prática às fontes de perigo identificadas. Trata-se de uma perspectiva optimista associada à acção contestaria. O seu veículo principal são os movimentos sociais.»

Anthony Giddens, in As Consequências da Modernidade