Há ocasiões em que vale a pena gastar breves momentos a ler o que as figuras mais canónicas do establishment capitalista global vão escrevendo. É o caso do conhecido sociólogo britânico A.Giddens cuja função de «intelectual da côrte» e «conselheiro espiritual» junto do actual governo inglês é por demais conhecida, além de ser o protótipo contemporâneo do académico mais empedernido no seio da sua comunidade de pares que, neste caso concreto, é o dos sociólogos.
Giddens teve um percurso académico típico, evoluindo desde o interesse pelo marxismo até à mais rançosa sociologia que hoje se «vende» nas instituições escolares da especialidade.
Ora é deste mesmo autor que seleccionamos um excerto de uma sua obra, já traduzida para português, acerca das 4 posturas ou atitudes possíveis face à crise da modernidade, isto é, o comportamento que cada indivíduo (cidadão) pode ( e poderá) assumir frente aos múltiplos problemas sociais, incluindo os de carácter ambiental.
Trata-se pois de uma autor relativamente ao qual não nos liga qualquer parentesco, muito pelo contrário, alimentamos mesmo saudavelmente um certo «ódio de estimação». Não obstante, sempre valerá a pena gastar alguns minutos com algumas das suas afirmações uma vez que elas bem podem constituir sintomas reveladores de que, atrás de um enquistamento académico, sempre se pode descortinar algum bom-senso intelectual.
Ora, senão vejamos.
Escreve ele:
«As reacções adaptativas aos riscos da modernidade podem ser diversas:
A primeira poderia ser chamada de adaptação pragmática e implica a concentração na “sobrevivência”. Mas esta aceitação pragmática não está isenta de custos psicológicos, pois, supondo uma indiferença, reflecte frequentemente ansiedades profundas subjacentes.
Uma segunda reacção adaptativa pode ser designada por optimismo persistente, baseado na razão providencial, independentemente de quaisquer perigos que ameacem a actualidade. Certos tipos de ideias religiosas também encontram facilmente afinidades electivas com o optimismo persistente.
Outro conjunto de atitudes é o do pessimismo cínico que supõe um envolvimento directo com as ansiedades provocadas pelos perigos e que, em alguns casos, pode coexistir com uma esperança desesperada.
Finalmente, existe o activismo radical que se define como uma atitude de contestação prática às fontes de perigo identificadas. Trata-se de uma perspectiva optimista associada à acção contestaria. O seu veículo principal são os movimentos sociais.»
Anthony Giddens, in As Consequências da Modernidade