30.11.09

Relançamento e reabertura do Indymedia-Portugal 10 anos depois do início da rede global Indymedia


A rede Indymedia nasceu no calor da revolta de Seattle, como uma dimensão fundamental do movimento global. Um movimento que ultrapassa as tricas separadoras dominantes da acção política tradicional (reformismo/revolução, local/global, violência/não violência) e inventa respostas práticas para lhes esquivar, desde os Fóruns Sociais, como forma organizativa que tenta superar o canibalismo político, até à 'desobediência civil protegida', como original prática de rua.

Seattle foi apenas a primeira face visível e a Organização Mundial de Comércio (OMC) tão só o pretexto para o que, há muito, se vinha a cozinhar, a necessidade de acordar a malta, de ser suficientemente confrontacional para trazer para a arena pública a voz duma oposição global ao sistema capitalista (e não apenas à OMC) que, pelo que se lia nos jornais e se via nas TVs, não existia.

Há dez anos, no dia 30 de Novembro de 1999, centenas de milhares de pessoas em todo o mundo trouxeram para as ruas a sua insatisfação. Em Seattle, mas também no Porto, em Lisboa, em Londres, em Berlim, na Índia ou na Nova Zelândia. Gente que acreditava que era preciso desmascarar o mundo para o qual se caía e se continua a cair. Com acções mais ou menos espectaculares, a resposta à globalização tornava-se definitivamente global. Festas, flyers, cartazes, ocupações, acções de protesto ou sabotagem, manifestações, palestras, debates, tudo serve e tudo serviu para avisar as pessoas e fazer com que solidariedade fosse mais do que uma palavra com sete sílabas, um redondo vocábulo.

O CMI Portugal é, como todos os centros de media independentes, um centro de informação livre e independente, que cumpre os requisitos para fazer parte da rede IMC e concorda com os princípios de filiação à rede. Funciona para que as pessoas possam tornar-se elas mesmas meios de informação livres e independentes.

Como tal, pretendemos realizar uma acção directa informativa, deixando de confiar aos meios de comunicação corporativos a tarefa de intermediar em exclusivo os acontecimentos e a sua interpretação. Convertemo-nos assim em fonte geradora de um discurso livre da manipulação de governos e corporações, e assumimos o nosso papel como artífices e zeladores dos canais que nos permitem transmitir e difundir uma outra visão da realidade.

O CMI Portugal pretende, assim, pôr em prática todos os mecanismos da imaginação que nos permitam, em conjunto, criar, aqui e agora, fragmentos de um mundo melhor. O desafio é, portanto, grande. Mas acreditamos que um colectivo de pessoas empenhadas em construir algo em conjunto conseguirá fazê-lo, enquanto esse empenho se mantiver, ultrapassando as várias barreiras que forem surgindo. Pretende-se, portanto, com este texto, não apenas a apresentação de uma nova forma de mostrar o que nos move, mas, acima de tudo, lançar um apelo para todos os que, como nós, acreditam que a realização voluntária, colectiva e horizontal de um meio de informação é, ao mesmo tempo, uma machadada nos paradigmas actuais e uma experiência de trabalho num mundo já transformado. Um apelo para que se juntem a esse mundo, para que se povoe de gente e, portanto, de novas possibilidades de ser melhor.

Reactivamos assim o CMI Portugal, para que tenhamos nós também uma voz alternativa aos grandes meios de comunicação deste país.

Estás preparado para escrever a tua notícia?

Ajuda-nos a construir este mundo melhor!


http://pt.indymedia.org/


http://www.indymedia.org/pt/index.shtml


FINTA - 15º Festival Internacional de Teatro Acert, em Tondela (30 de Nov. a 5 de Dezembro)


Mais de uma década a FINTA(r) a tristeza e a desmotivação e a construir colectivamente Futuros mais Solidários, Participados e Sustentados numa Comunidade Culta e Inclusiva.
De 30 de Novembro a 5 de Dezembro, o FINTA leva a cena a 15ª edição da Festa do Teatro. As edições anteriores trouxeram muitos e bons momentos teatrais à ACERT, às ruas de Tondela e das suas freguesias, entre muitos outros locais. Em 2009, queremos que o Festival seja também um ponto alto para os tondelenses e visitantes.

Haverá melhor forma de começar o FINTA do que com uma nova criação da equipa da casa? Julgamos que não! O Festival abre, assim, com uma estreia do TRIGO LIMPO teatro ACERT. “Vila Cacimba” constitui o retorno a Mia Couto e ao imaginário do seu universo, naquela que é a 85ª produção da companhia ACERTina. A encerrar a noite no bar e no dia seguinte na rua, Niño Costrini espalhará a ironia e o riso, fazendo a cidade transbordar de comédia, Novo Circo e malabarismo.

Nesta edição vamos ter vários retornos de companhias que deixaram a sua marca nas edições anteriores. Na tarde do feriado será apresentado no Auditório Municipal (Filarmónica Tondelense) o mais recente espectáculo infantil do GICC da Covilhã, com o qual temos um antigo historial de colaboração. Os mais novos têm aqui o primeiro dos espectáculos do Festival.

Assim que escurecer, a última peça do Teatro de Montemuro, um dos projectos mais característicos do panorama artístico português, vai inundar a noite com o brilho contagiante de corruptos incorrigíveis. Pela coerência da sua actuação e pelo modo como tem defendido a cultura nos territórios do interior, este grupo tem vindo a estabelecer fortes laços com a ACERT desde o seu início.


Dia novo, estreia nova. A Companhia Voadora de Santiago de Compostela, que integra actores cuja carreira começou no TRIGO LIMPO, partilha com o público mais uma estreia criada em residência no Novo Ciclo a (primeira produção desta companhia foi também criada em residência na sede da ACERT em Janeiro/Fevereiro de 2008).

Depois será altura de Teatro para as Escolas, pela mão dos nossos parceiros ao longo de todo o ano: O Art’Imagem no Auditório Municipal.

À noite, uma das últimas criações dos Yllana, mestres do humor que já nos brindaram com a sua presença em várias edições do Festival.
No quinto dia, o “Projecto Satélite” da Circolando fará do Teatro físico e visual a sua imagem de marca num espectáculo para toda a família.

No último dia à tarde, o CEPiA de Évora brinda-nos com uma estreia: um espectáculo que, também criado em residência artística no Novo Ciclo, constrói um microcosmo dramatúrgico de ficção.
À noite daremos lugar a uma Companhia que, presente no FINTA inaugural, nos presenteou com um extraordinário espectáculo de marionetas. Desta vez, o Teatro Corsario traz-nos uma estreia em Portugal que tem merecido as melhores referências na imprensa espanhola e internacional. “Aullidos” foi inclusive considerado o “melhor espectáculo de marionetas para adultos no Festival Internacional de Marionetas de Valência”. O grupo de Luís Bettencourt é a garantia de uma grande festa para encerrar ao ritmo da música açoriana.

Presença constante ao longo do Festival será a Companhia Marimbondo que, de Quarta-feira a Sábado, fará os cantos e recantos de Tondela transbordar de boa disposição.

De estreias e regressos se construirá, então, este FINTA, a Festa de todos os que fazem do Teatro um momento especial de partilha de emoções.
Suba o pano!


Programa FINTA
15º Festival Internacional de Teatro ACERT
Tondela, 30 Novembro a 05 Dezembro 2009


30 Nov. 21:45 ESTREIA TRIGO LIMPO TEATRO ACERT “Vila Cacimba”
23:30 Niño Costrini
01 Dez. 14:30 NIÑO COSTRINI (Ruas de Tondela)
16:00 GICC TEATRO DAS BEIRAS “LOL.pop”
21:45 Teatro Regional da Serrra do Montemuro “Saloon Ye-Ye”
02 Dez. 14:30 Companhia MARIMBONDO (Ruas de Tondela)
21:45 Estreia Plataforma Voadora “Super8”
03 Dez. 10:00 e 14:30 TEATRO ART’IMAGEM “História de uma gaivota e …”
14:30 COMPANHIA MARIMBONDO (Ruas de Tondela)
21:45 Teatro Yllana “Zoo”
04 Dez. 14:30 COMPANHIA MARIMBONDO (Ruas de Tondela)
21:45 CIRCOLANDO PROJ. SATÉLITE “Paisagens em Trânsito”
23:30 “Jamin’Tondela” B.Swing Café-concerto
05 Dez. 14:30 COMPANHIA MARIMBONDO (Ruas de Tondela)
18:30 ESTREIA CEPIA “Antes que a noite venha…”
21:45 TEATRO CORSÁRIO “Aullidos”
23:30 “Ynot Band” Café-concerto


Vila Cacimba
Uma aldeia que mente para viver, onde nasce um espectáculo… de verdade!
O TRIGO LIMPO teatro ACERT, a nossa companhia, regressa a Mia Couto, um autor do nosso
encantamento.
É num ambiente de sonho e de policial, onde o romance e a novela mexicana se fundem e confundem, que seis actores colocam em cena uma história mirabolante centrada na busca… de um remédio.
Conseguirá o Doutor Sidónio erradicar a epidemia que assolou Vila Cacimba ou pretende apenas curar Bartolomeu Sozinho? Conseguirá Suacelência um medicamento que lhe anule definitivamente a transpiração ou morrerá envenenado por vingança? Conseguirá Dona Munda que lhe devolvam a filha Deolinda ou será acusada de ser feiticeira?
Sonhar é uma cura ou dá um trabalhão danado? Há sempre um remédio para tudo ou a vida não tem remédio?


A partir de “Venenos de Deus, Remédios do Diabo, As incuráveis vidas de Vila Cacimba” de Mia Couto
Dramaturgia e Encenação Pompeu josé
Actores Ilda Teixeira, José Rosa, Pompeu José, Raquel Costa, Sandra Santos e Zito Marques
Cenografia Zétavares, Pompeu José e Taller de Escultura
Música Fran Perez (executada em cena pelos actores)
Figurinos Ruy Malheiro (com apoio à execução de José Rosa e Sandra Santos)

Classif: maiores de 12 anos.
www.acert.pt/trigolimpo

26.11.09

Dia sem compras (Buy Nothing Day) - lista de acções em Portugal para o próximo Sábado ( 28 de Novembro)


Lisboa - Horário da acção:
Concentração / Início da Marcha - Praça da Figueira (Baixa) - 14h
Teatro de Rua - 15h30 - Rua Augusta (cruzamento com Rua da Vitória) - 15h30 até às 16h
Final da Marcha com Teatro - 16h30 - Largo do Camões (Chiado) - 16h30 até ao pôr-do-sol
Com os grupos de percussão: Ritmos de Resistência (samba) e Nação do Bairro (maracatú)

No próximo sábado, 28 de Novembro, é celebrado o Dia Sem Compras. Durante este dia celebrado todos os anos a nível mundial, como um manifesto contra o consumismo desmedido e insustentável tão presente na maioria das sociedades, pessoas de todo o Mundo decidem não comprar nada!

É incentivada a reflexão sobre o modo de consumo na actuais sociedades capitalistas. Promove-se uma postura de consumo responsável, alertando-se a sociedade para a escassez dos recursos naturais e para a necessidade de todos nós, enquanto consumidores, termos consciência da pegada ecológica originada pela produção e transporte dos produtos que temos à nossa disposição nas superfícies comerciais. Defende-se a sustentabilidade do planeta, promovendo o consumo consciente e local, o comércio justo e a reutilização e troca de bens.

O caso do nosso país é ainda mais agudo, pois em Portugal consumimos 3 vezes mais do que o adequado para ter um planeta sustentável, disse-o publicamente o Presidente da Oikos (www.oikos.pt ) em 2007. Pensemos, por exemplo, nos pratos abastados das ementas portuguesas, na comida que se costuma deixar no prato no fim da refeição ou nas acelerações desnecessárias dos carros, que consomem combustível a mais.

Em vários pontos o GAIA (Grupo de Acção e Intervenção Ambiental) promove Acções para o Dia Sem Compras:

No Centro de Convergência do GAIA no Alentejo, nada melhor para assinalar o Dia Sem Compras que uma Feira de Trocas! No próximo Sábado acontecerá uma no Centro Social da Aldeia das Amoreiras, por isso já sabes, se não tiveres o que fazer com um montão de coisas que se estão a amontoar lá em casa, trá-las e pode ser que regresses com um montão de coisas novas!
Dia 28 às 15h, na aldeia das Amoreiras.
Mais informação em http://gaia.org.pt/node/15182

Em Lisboa o Dia Sem Compras é celebrado com uma Marcha a sair da Praça da Figueira às 14h até ao Largo Camões. Vamos passar pela Rua Augusta onde vai ser montado um Teatro de Rua, pela Rua do Carmo e Rua Almeida Garret até ao Largo do Camões onde representaremos de novo uma peça de Teatro do Oprimido. Na marcha praticipam também dois grupos de percussão: os Ritmos de Resistência (percusssão samba) e a Nação do Bairro (percussão maracatú).
Concentração / Início da Marcha – Praça da Figueira (Baixa) - 14h
Teatro de Rua – Rua Augusta (cruzamento com Rua da Vitória) – 15h30 até às 16h
Final da Marcha e Teatro de Rua – Largo do Camões (Chiado) – 16h30 até ao pôr-do-sol
Mais informação em http://gaia.org.pt/node/15181


No Porto está a ser realizado um ciclo de debates e cinema sobre consumismo e alternativas no espaço Casa da Horta. No dia sem compras um grupo de activistas estão a organizar algumas acções de sensibilização que se irão manter em segredo até o dia da acção. Para mais informação sobre o ciclo sobre consumismo e alternativas ver em: http://gaia.org.pt/node/15170

Divulga aos teus contactos!
Contamos contigo!

Convocatória internacional da Acção Climática contra a cúpula COP 15 em Copenhague


Contra a cúpula COP15 em Copenhague em Dezembro de 2009
Convocatória Internacional de Ação Climática

A catástrofe é real e a mudança climática é um dos seus vários sintomas. O slogan inevitável da COP 15, "evitar a crise climática global", é um embuste elaborado para ocultar o verdadeiro propósito da COP 15, ou seja, restaurar a legitimidade do capitalismo global, através da instituição do capitalismo “verde".

Será empregada uma nova retórica "para evitar a mudança climática" para justificar a repressão, as fronteiras fortificadas, e as suas guerras coloniais pelos recursos naturais. Vestir o Imperador com novas roupas.

A nossa resposta a esta mentira é um NÃO firme e absoluto.

Torna-se necessário alterar muito mais que os nossos hábitos em tempo de ócio para sustentar o mundo nos próximos dias. Seria muita tolice depositar as nossas esperanças justamente sobre aqueles que continuam a destruir o planeta por dinheiro.

Em Copenhague, eles vão mostrar a maneira correcta de criar um mercado que transforme a biosfera em mercadoria, e assim em poluição, despejando milhões de pessoas de suas terras para extrair os lucros da destruição do que resta do nosso planeta. Nem os governos nem as corporações sacrificarão seu crescimento para reduzir as emissões de carbono, e só vão fazer isso para criar um novo regime autoritário para si próprios.

A retórica sobre a “crise climática" e da "crise financeira" é uma manobra cínica dos
administradores do Estado para negar a crise geral da chamada civilização. A COP 15 será apenas uma tentativa para esconder a guerra que o capitalismo está avalizando contra todas as formas de vida no planeta.

Uma guerra que abarca a totalidade, incluindo os oceanos e a atmosfera.

No meio da guerra, não há tempo para falar de gestão ou de "soluções técnicas". Não se pode lutar em uma guerra alegando de que essa guerra não existe, cegos pela repressão e transformados em cúmplices ao aceitar a falsa promessa de tranqüilidade pequeno burguesa. No entanto, reconhecemos o inimigo. Fixamos uma posição. Lutar!

Só livrando-nos daqueles que dizem nos representar e derrotando a ideologia do crescimento econômico infinito, da produção industrial e de consumo, podemos assumir o controle de nossas vidas e do planeta.

É hora de declarar: atacaremos minuciosamente as estruturas que apóiam a COP 15. Irromperemos nas fileiras da sua polícia, recusaremos negociar com os governos beligerantes e os meios de comunicação que lhes são funcionais; nos negaremos a acompanhar as ONGs vendidas e todos os líderes do protesto, rechaçaremos todos os governos e todas formas de decisões governamentais, não só para deslegitimar aos atuais governos.

É a hora de dizer por que pensamos que a insurgência é necessária para começar realmente a mudar as coisas para as quais estamos tão desesperados. Através de um esforço conjunto em oposição contra os detentores do poder, podemos obter uma primeira visão global, tanto acerca
da riqueza quanto das oportunidades possíveis, quanto idéias, experiências e conceitos compartilhados por pessoas de todas as partes do mundo.

Às Brigadas Internacionais!

À Guerra Social, não caos climático!

Mais infos:
http://nevertrustacop.org/



Entre Seattle e Atenas, 10 anos de Revolta



Entre Seattle e Atenas, 10 anos de Revolta
Documentários a projectar na livraria-bar Gato Vadio no próximo dia 29 de Novembro, no Domingo à noite:

This Is What Democracy Looks Like
55 m.
Documentário independente sobre as acções de protesto em Seattle, em 1999, durante o encontro da Organização Mundial do Comércio.

DECEMBER 2008 - THE REVOLT (Grécia)
Contains 150 minutes unpublished visual material, reports and photos from the events of December 2008.

Documentário «Agostinho da Silva - um pensamento vivo» passa na livraria-bar Gato Vadio (dia 29/11 à tarde)




Agostinho da Silva - um pensamento vivo
Documentário, 80min, 2006. Portugal/Brasil
Direção: João Rodrigo Mattos
Sinopse
Marcado pelo gosto do paradoxo, pela independência e inconformismo das idéias e por invulgares dons de comunicação oral e escrita, a figura ímpar de Agostinho da Silva desenha–se num singular misto de sábio, visionário e homem comum, no qual o pensamento e a vida se indistinguem.


Gato Vadio, livraria-bar
Rua do rosário, 281 – Porto
telefone: 22 2026016

Agostinho da Silva-Um Pensamento Vivo – Trailer



"São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem."

Agostinho da Silva, in 'Cartas a um Jovem Filósofo'

Este documentário, produzido pela Alfândega Filmes, segue o percurso biográfico de Agostinho da Silva, um dos mais paradoxais pensadores portugueses do século XX.
Ao longo de 79 minutos, o realizador brasileiro João Rodrigo Mattos percorre todas as cidades e regiões por onde o filósofo português passou, entre Portugal e o Brasil.
O documentário reúne numerosos depoimentos de pessoas das esferas cultural, social e política, tais como Manoel de Oliveira, Caetano Veloso ou Mário Soares.
É uma excelente oportunidade para conhecer melhor um pensador livre e inconformado, que tem sido relegado para um plano marginal no panorama cultural português, talvez por sempre ter andado à margem do convencional.



Agostinho da Silva (Porto, 13 de Fevereiro de 1906 — Lisboa, 3 de Abril de 1994), foi um filósofo, poeta e ensaísta português. O seu pensamento combina elementos de panteísmo, milenarismo e ética da renúncia, afirmando a Liberdade como a mais importante qualidade do ser humano. Agostinho da Silva pode ser considerado um filósofo prático e empenhado através da sua vida e obra, na mudança da sociedade.
George Agostinho Baptista da Silva nasceu no Porto em 1906, tendo-se ainda nesse ano mudado para Barca D'Alva (Figueira de Castelo Rodrigo), onde viveu até aos seus 6 anos, regressando depois ao Porto, onde inicia os estudos na Escola Primária de São Nicolau em 1912, ingressando em 1914 na Escola Industrial Mouzinho da Silveira e completando os estudos secundários no Liceu Rodrigues de Freitas, de 1916 a 1924.

Dono de um percurso académico notável, de 1924 a 1928, cursou Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, tendo concluído a licenciatura com 20 valores. Após concluir a licenciatura, começa a escrever para a revista Seara Nova, colaboração que manteve até 1938.

Em 1929, com apenas 23 anos, defende a sua dissertação de doutoramento a que dá o nome de “O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas”, doutorando-se “com louvor”.

Em 1931 parte como bolseiro para Paris, onde estuda na Sorbonne e no Collège de France. Após o seu regresso em 1933, leciona no ensino secundário em Aveiro até ao ano de 1935, altura em que é demitido do ensino oficial por se recusar a assinar a Lei Cabral, que obrigava todos os funcionários públicos a declararem por escrito que não participavam em organizações secretas (e como tal subversivas). No mesmo ano, consegue uma bolsa do Ministério das Relações Exteriores de Espanha e vai estudar para o Centro de Estudos Históricos de Madrid. Em 1936 regressa a Portugal devido à iminência da Guerra Civil Espanhola.

Cria o Núcleo Pedagógico Antero de Quental em 1939, e em 1940 publica Iniciação: cadernos de informação cultural. É preso pela polícia política em 1943, abandonando o país no ano seguinte (1944) em direcção à América do Sul, passando pelo Brasil, Uruguai e Argentina, no seguimento da sua oposição ao Estado Novo, na altura conduzido por Salazar.

Em 1947 instala-se definitivamente no Brasil, onde viveu até 1969. Em 1948, começa a trabalhar no Instituto Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, estudando entomologia, e ensinando simultaneamente na Faculdade Fluminense de Filosofia. Colabora com Jaime Cortesão na pesquisa sobre Alexandre de Gusmão. De 1952 a 1954, ensina na Universidade Federal da Paraíba (em João Pessoa (Paraíba)) e também em Pernambuco.

Em 1954, novamente com Jaime Cortesão, ajuda a organizar a Exposição do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo. É um dos fundadores da Universidade de Santa Catarina, cria o Centro de Estudos Afro-Orientais, e ensina Filosofia do Teatro na Universidade Federal da Bahia, tornando-se em 1961 assessor para a política externa do presidente Jânio Quadros. Participou na criação da Universidade de Brasília e do seu Centro de Estudos Portugueses no ano de 1962 e, dois anos mais tarde, cria a Casa Paulo Dias Adorno em Cachoeira e idealiza o Museu do Atlântico Sul em Salvador.

Regressa a Portugal em 1969, após a doença de Salazar e a sua substituição por Marcello Caetano, que deu origem a alguma abertura política e cultural do regime. Desde aí continuou a escrever e a leccionar em diversas universidades portuguesas, dirigindo o Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Técnica de Lisboa, e no papel de consultor do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, (actual Instituto Camões).

Em 1990, a RTP1 emitiu uma série de treze entrevistas com o professor Agostinho da Silva, denominadas Conversas Vadias. Uma outra entrevista, até ao momento não publicada, conduzida por António Escudeiro e chamada Agostinho por si próprio, fala sobre a sua devoção ao Espírito Santo.

Faleceu no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, no ano de 1994.

Um documentário sobre o próprio, intitulado Agostinho da Silva: um pensamento vivo, foi realizado por João Rodrigues Mattos, e lançado pela Alfândega Filmes, in 2004.

Agostinho Da Silva é referenciado como um dos principais intelectuais portugueses do século XX. Da sua extensa bibliografia, destacam-se o livro Sete cartas a um jovem filósofo, publicado em 1945.

Lançamento do livro Boomerang de Pedro Eiras na livraria-bar Gato Vadio ( dia 28 de Nov. às 22h.)



Lançamento do livro Boomerang, de pedro eiras.
Apresentação por joão miguel teixeira lopes, com pedro eiras e antónio preto.
Livro da Colecção o rato da europa, das edições pé de mosca.
na livraria gato vadio,
rua do rosário, 281, no porto.
Sábado, 28 de novembro, às 22 h.

boomerang. 27 postais. sobre a europa ou os seus fantasmas. poderia ter sido um livro mas afinal é um trânsito. ir e vir. escrita sobre a escrita sobre a escrita. recuo histórico. e depois sobre o presente: desafiar a miopia. aceleração do tempo. 27 vezes, menos uma, porque há sempre o imponderável. ensaios postais crónicas relatórios de leitura. acordos e desacordos. para desmontar perder dispersar.

Pedro eiras
nasceu em 1975. é professor de literatura portuguesa na faculdade de letras da universidade do porto. Desde 2001, publicou livros de ficção (anais de pena ventosa, estiletes, os três desejos de octávio c.), teatro (antes dos lagartos, passagem, um forte cheiro a maçã, recitativo dos livros do deserto, as sombras, um punhado de terra), poesia (arrastar tinta) e ensaio (esquecer fausto, a moral do vento, a lenta volúpia de cair). com esquecer fausto, ganhou o prémio PEN clube português de ensaio em 2006. tem peças de teatro encenadas e publicadas em diversos países: portugal, frança, grécia, eslováquia, roménia, brasil.

apresentação da colecção o rato da europa
direcção de antónio preto

o rato da europa apresenta-se como uma colecção de textos inéditos, onde se pretende desenvolver, através dos mais variados géneros, ângulos de abordagem, pontos de vista e subterfúgios, uma reflexão alargada, não só sobre o lugar de portugal na europa como, também, sobre a relação de portugal com a europa. se o primeiro problema que se coloca é, desde logo, o de tentar perceber se as duas coisas são ou não a mesma coisa, se este confronto é ou não uma antinomia, outras questões, que daqui decorrem, passarão forçosamente pela aferição das taxas de câmbio entre representações, pela afinação da balança comercial das identidades, pela identificação do que continua a ser contrabando, pela revisão das fronteiras de um horizonte europeu que se define por aquilo que propõe ou que se funda naquilo que rejeita. é, pois, urgente saber se chamamos europa a um acordo de boa vizinhança, que nos permite ir a bruxelas pedir um raminho de salsa para a tortilha, se a europa é um diálogo, uma abertura, uma construção colectiva, se é a europa um projecto político comunitário ou um conjunto de normas sanitárias e de directrizes para a calibragem de maçãs, se a europa das cruzadas é, hoje, pátria de cavaleiros que se batem pela democracia ou terra de vilões dispostos a tudo pilhar em nome da mesma democracia, se o velho continente se transformou ou não num shopping vigiado, onde os cidadãos se confundem com os consumidores, ou se europa é, afinal, o nome do arame farpado que estendemos ao longo do mediterrâneo.
na era das low cost, numa altura em que já ninguém vai comprar caramelos a espanha, desafiámos alguns escritores a partilharem connosco as suas ideias e inquietações. feitas as malas, a viagem inicia-se com boomerang, de pedro eiras: um conjunto de 27 textos sobre as representações da europa na literatura portuguesa do século XIX até ao presente.
a próxima paragem aparecerá muito em breve.

antónio preto
emigrado há três anos em frança, onde realiza um doutoramento em letras, artes e cinema (na universidade paris 7) sobre a adaptação cinematográfica de textos literários em manoel de oliveira, publicou recentemente manoel de oliveira: o cinema inventado à letra, 11.º volume da colecção arte contemporânea público serralves. paralelamente, tem publicado crítica e ensaio em diversos jornais, revistas e catálogos em portugal, frança e brasil, participado em inúmeros colóquios, conferências e seminários, programado mostras de cinema mais ou menos clandestinas, como a reposição – o cinema em trás-os-montes (2007), e colaborado em projectos performativos, como a récita-atentando a carbonária (2008), com ana deus e joão sousa cardoso. é um dos mais assíduos clientes da cinemateca francesa e da piscine des amiraux.


http://oratodaeuropa.blogspot.com/
http://sombrachinesa.blogspot.com/

http://www.pedemosca.com/

A Cooperativa Pé de Mosca surge como plataforma cultural e social que, através do Design, das Artes Gráficas e da Formação se propõe criar projectos singulares e revestidos de uma forte dimensão social e pública. Assim, a Pé de Mosca privilegia o desenvolvimento de objectos de Design inclusivos e participativos, a colaboração com criadores de outras áreas de actuação e uma relação estreita entre o lado material e imaterial do Design.

25.11.09

EPAL colabora com empresa israelita acusada de pilhagem da água à população palestiniana



O Comité de Solidariedade com a Palestina denunciou o acordo recentemente celebrado entre a EPAL e a Mekorot, a empresa israelita responsável pela pilhagem das águas na Palestina. O Comité de Solidariedade enviou uma carta ao Conselho de Administração da EPAL, protestando contra o acordo entre a empresa portuguesa e a sua congénere israelita, e pedindo à EPAL que reconsiderasse esta parceria, denunciando o roubo sistemático dos recursos hídricos do povo palestiniano, mas esta rejeitou o apelo. Fontes palestinianas consideram esta parceria imoral.


O resultado desse roubo é quantificado no relatório da ONU de Julho de 2007, elaborado pelo OCHA (Office for the Coordination of Humanitarian Affairs). Do conteúdo deste relatório resulta que Israel açambarca anualmente 490 milhões de metros cúbicos dos 600 milhões produzidos pelos aquíferos da Cisjordânia. O povo palestiniano, que teria o direito a essa água, apenas fica com os restantes 110 milhões de metros cúbicos. A situação na Faixa de Gaza é ainda mais dramática, em especial desde a "Operação Chumbo Derretido", iniciada em Dezembrode 2008. Em consequência, o consumo palestiniano diário per capita(cerca de 60 litros) situa-se claramente abaixo do mínimo (100 litros) recomendado pela OMS, ao passo que o consumo israelita vai muito além desse mínimo e do necessário (330 litros).
Além disto, o Direito Internacional limita o direito de uma potência colonizadora utilizar os recursos hídricos de um território ocupado e proíbe-a de descriminar os residentes nessa área de ocupação. No entanto, Israel anexou ilegalmente os recursos hídricos da Palestina ocupada desde 1967, exercendo controlo absoluto sobre esses recursos, impondo políticas discriminatórias na distribuição da água. A empresa Mekorot participa nesta violação do Direito Internacional.



No relatório intitulado “Israel raciona fios de água aos Palestinos”, a Amnistia acusava Israel de negar aos Palestinos o direito de acesso a água adequada, ao manter o controlo total sobre os recursos de água que são partilhados e levando a cabo políticas de discriminação.

Segundo a Amnistia Internacional, Israel utiliza cerca de 80% da água dos “lençóis de água da montanha” (mountain aquifer, no original), a única fonte de água dos Palestinos da Cisjordânia. Simultaneamente, a Mekorot vende a água a preços fortemente subsidiados aos colonatos Israelitas ilegais na Cisjordância. Aproximadamente 40% da água consumida pelos Palestinos na Cisjordância é fornecida pela Mekorot e é vendida a um preço muito mais alto e não subsidiado.

http://palestinavence.blogs.sapo.pt/

Nos 80 anos de Zeca lembramos os 10 de Seattle ( actividades na Casa Viva, durante o dia 30 de Novembro)


A Casa Viva assinala na próxima 2ª feira os 80 anos de José Afonso e também as manifestações contra a OMC e a globalização capitalista realizadas há 10 anos em Seattle.


Casa Viva
Praça do Marquês, 167 -Porto
(Nota Importante: tocar ao batente para abrirem a porta)


Programa de actividades

19h00 Relançamento do Indymedia português... pelo menos em papel. E projecção de imagens sobre a insatisfação que saiu à rua em Seattle, há 10 anos (durante a cimeira da Organização Mundial de Comércio), dando origem à criação de centros de informação independente nos cinco continentes deste planeta chamado Terra.


20h30 Jantar, traz o que te aprouver, desde que seja vegetariano, para partilharmos.


21h30 Apresentação do Movimento dos Sem Terra – Brasil
Documentário e conversa
Não comemos Eucalipto, de Mateus Flores (20’)
Registo da repressão contra as mulheres da Via Campesina, ocorrida após a ocupação de um latifúndio, em 2008, no estado do Rio Grande do Sul, no Brasil


21h30 O Canto de Intervenção
Iniciativa da AJA Norte, integrada nas comemorações dos 80 Anos de Zeca.



Nos 80 anos de Zeca lembramos os 10 de Seattle

Vejam bem, Seattle foi apenas a primeira face visível e a Organização Mundial de Comércio (OMC) tão só o pretexto para o que, há muito, se vinha a cozinhar, a necessidade de acordar a malta, de ser suficientemente confrontacional para trazer para a arena pública a voz duma oposição global ao sistema capitalista (e não apenas à OMC) que, pelo que se lia nos jornais e se via nas tvs, não existia. Afirmando, no coração do império, que o imperialismo não passará.

A insatisfação saiu à rua num dia assim, trazida por centenas de milhares de pessoas em todo o mundo. Foi há dez anos, no dia 30 de Novembro de 1999. Em Seattle, mas também no Porto, em Lisboa, em Londres, em Berlim, na Índia ou na Nova Zelândia. Gente que acreditava que era preciso desmascarar o mundo para o qual se caía e se continua a cair. Com acções mais ou menos espectaculares, a resposta à globalização tornava-se definitivamente global. Festas, flyers, cartazes, ocupações, acções de protesto ou sabotagem, manifestações, palestras, debates, tudo serve e tudo serviu para avisar a malta e fazer com que solidariedade fosse mais do que uma palavra com sete sílabas, um redondo vocábulo.

Mas é por Seattle que a data é, dez anos passados, recordada. Foi lá que, pela primeira vez, os poderosos foram confrontados com a sua fraca figura perante os que trilham os caminhos do pão e se viram incapazes de reunir, alguns de saírem do quarto de hotel. Foi lá que uma imensa mole humana os fez repensar a impunidade com que estavam a impor os seus desígnios. E foi em Seattle que a alternativa se apresentou ao mundo como um meio e um fim. Se pode haver dúvidas quanto ao consenso sobre que mundo novo construir, a forma como a contestação se organizou foi, ela própria, um novo mundo, opondo à actual organização topo-fundo ou centro-periferia, uma horizontalidade em rede.

E provando, na prática, que, dando poder à malta, ela se organiza e atinge objectivos. Potenciada pela existência da internet, a organização baseou-se na autonomia dos vários colectivos e indivíduos que a compunham. Havia um objectivo claro, pessoas para o levarem a bom porto, ferramentas para o atingirem, e isso bastou para que milhares de pessoas se organizassem e fizessem o mundo andar sem ter à frente um capataz.

Muitas das decisões dos dias de Seattle foram tomadas na rua, pelos próprios participantes. Essas assembleias, onde cabiam todos os interessados, que decidiam, entre eles, o que havia, de comum, a decidir são o alicerce dessa alternativa que, assim, se propunha. /This is what democracy looks like/, qualquer coisa como /É este o aspecto da democracia/, foi uma das palavras de ordem mais ouvidas nas movimentações de rua. O Povo é quem mais ordena, lembrar-se-iam se essa memória neles existisse.

Mas Seattle foi ainda o berço de outra proposta, desta vez ao nível da informação. Sabia-se, tendo em conta os propósitos desses dias, que a polícia não ia deixar que uma multidão, pura e simplesmente, impedisse a OMC de reunir. E sabia-se também, tendo em conta que os proprietários dos meios de comunicação estariam representados nessa reunião, que a cobertura sobre os eventos seria baseada na velha premissa da polícia contra os desordeiros. E surgiu o Indymedia, um centro de media independente de todos os poderes, para dar voz aos que não tinham espaço mediático. O lema /Be the Media/, qualquer coisa como /Sê os meios de comunicação/, diz tudo.

Como tudo estará dito ao saber-se que este centro de média se reproduziu pelos cinco continentes, onde foram criados centenas de Indymedias locais, organicamente unidos por laços fraternos e decisões assembleárias de todos os interessados. Com o objectivo de libertar a malta das grilhetas da informação uniformizada, da mera transmissão do pensamento dos poderosos, para ajudar o formigueiro a mudar de rumo. Uma rede mundial de informações, onde os sujeitos das acções são os jornalistas e onde uma nova e imensa minoria pode aceder a informações, pensamentos e análises normalmente ausentes do debate público. E um local, também, de inspiração, onde as acções de uns servissem de mote e alento para que outros abandonassem a apatia. Uma ferramenta, enfim, para que a voz não nos esmoreça, para agitar, empurrar e animar a malta.

Foi assim, Seattle, uma cidade que, apesar de sitiada, se manteve sem muros nem ameias. Como todas as coisas bonitas, um ponto na história em que a simplicidade aparente esconde uma teia de complexidades. Como uma canção do Zeca.

Que, com referências mas sem saudosismos, sejamos capazes de os os repetir, ao Zeca e a Seattle, é a nossa mais profunda esperança, o móbil do que fazemos.

O Canto de Intervenção (texto,música e poesia para recordar José Afonso) na Casa Viva (dia 30 de Nov. às 21h30, com entrada livre)




Viagem pelos principais cantores portugueses e internacionais, contextualizando o seu papel na música e na sociedade.
Interpretação: Paulo Esperança apresentação e narração Ana Afonso declamação Ana Ribeiro guitarra e voz Fernando Lacerda voz Paulo Veloso guitarra Miguel Marinho violino e bandolim Tino Flores guitarra e voz

Iniciativa da AJA Norte, integrada nas comemorações dos 80 Anos de Zeca


Local: Casa Viva
Pr. do Marques 167 - Porto
(tocar ao batente para abrirem a porta)

O 28º aniversário do Terra Viva ( Associação de Ecologia Social) é assinalado nos dias 28 e 29 de Novembro


Sede do TERRA VIVA –R.dos Caldeireiros, 213 –Porto (à Cordoaria)


PROGRAMA

Sábado, 28 de Novembro

15.30 -Mini-conferência/Sessão de Inform."ECOLOGIA SOCIAL,INTERVENÇÃO SOCIAL E MOVIMENTOS POPULARES- Balanço e perspectivas"

17.00 -Mostra de fotos e pequenos vídeos das nossas actividades juvenis
(REGRALL-Eco-escotismo livre, História Viva-Recriações Históricas, Participação em campanhas e movimentos populares-cívicos, etc.). Nota: continua depois à noite

17.30 -“ANTENAS DE REDES DE TELEMÓVEIS: AMEAÇA SOBRE AS NOSSAS CABEÇAS?!...”DEBATE ABERTO/ SESSÃO DE INFORMAÇÃO

20.30 - Jantar-Benefit (apoio CCL Almada)

21.30- "Velada Social-ecológica" - com cantos de intervenção (social e ambiental)


---Domingo, 29 de Novembro

10.30 - Visita à Quinta do Covelo (Paranhos) e apanha de bolotas de sobreiro e carvalho
(encontro 10.00 na praça do Marquês, junto ao lago - Est.Metro do Marquês)


15.00 - Workshop de BOLOTAS, MOAGEM BÁSICA E UTILIZAÇÃO CULINÁRIA -sede da Terra Viva

16.00 - Reunião/Sessão de Informação/Debate :
"ANIMAR E CRIAR MOVIMENTO POPULAR" -perpectivas e experiências de intervenção social "de base" dos últimos anos e lutas sociais da actualidade (c/visualização de vídeos e sites
de movimentos de base no Brasil, na Grécia e noutros locais)

MAIS INFORMAÇÕES/CONTACTOS:

telef. -967694816 / 223324001

email:
terraviva@aeiou.pt
http://terraviva.weblog.com.pt/

O Amor é mais poderoso que Deus e a Igreja! E ainda bem…


Em Celorico de Bastos, na freguesia de Carvalho, o amor venceu o todo-poderoso Deus, e a não menos tirânica Igreja Católica.

O padre Rui, de 26 anos, pároco em várias freguesias daquele concelho, ordenado sacerdote católico em Braga no ano passado, apaixonou-se por uma rapariga de 18 anos e fugiram ambos para surpresa geral dos paroquianos. Alguns consideram o comportamento do padre como atitude de homem, mas muitos ainda não compreenderam como o jovem padre trocou Deus pelo amor da sua vida!

O sacerdote esperou que a sua apaixonada perfizesse os 18 anos para desaparecerem da região, não sem antes pedir a rapariga em casamento à sua família – o que lhe foi recusado – e ter escrito uma carta de despedida ao arcebispo de Braga.

Por nós, desejamos ao jovem casal as maiores felicidades, e ficamos-lhes agradecidos pelo lição de vida que o jovem padre deu a todos nós: o amor é capaz de vencer a tirania de Deus e da Igreja…

Professores das Actividades de Enriquecimento Curricular marcam assembleia no SPN a 5 de Dezembro para tratar da sua situação laboral


Os professores das Actividades de Enriquecimento Curricular do Porto estão em luta.
São explorados pela Edutec, com a cumplicidade da Câmara Municipal do Porto e a indiferença do Governo e de todas as instituições que deveriam garantir que os direitos destes trabalhadores são garantidos.
Fartos de esperar por uma justiça que não chega, quebrando o isolamento e enfrentando a impunidade, estes profissionais vão reunir-se em assembleia aberta no próximo dia 5 de Dezembro, no Porto.

Os Precários Inflexíveis, bem como o FERVE e o Sindicato dos Professores do Norte, juntam-se a esta convocatória.

Assembleia aberta sobre a situação dos professores das Áreas de Enriquecimento Curricular

5 de Dezembro de 2009 às 10h30

Sindicato dos Professores do Norte ( Local: R. D. Manuel II, 51 C - 3º - Edifício Cristal Park)



As Áreas de Enriquecimento Curricular (AECs) são uma medida criada pelo Governo que prolonga o horário das actividades nas escolas, nomeadamente através da promoção do ensino do inglês e da música. Sendo uma política do Ministério da Educação, as responsabilidades de contratação dos profissionais que assegurem estas áreas são da responsabilidade das autarquias. O Ministério transfere uma verba por aluno por ano para as autarquias, que depois asseguram a existência das AECs. Dada a ausência de regras claras, as AECs têm resultado em situações muitas vezes delicadas para as escolas, as crianças e os profissionais.

No que a estes últimos diz respeito, as AECs são, em muitos casos, asseguradas por trabalhadores precários com reduzidos direitos e reduzido salário. Muitos destes profissionais trabalham para empresas que os angariam através de falsos recibos verdes e que se apropriam de uma parte da verba que o Ministério transfere, ou trabalham em condições de precariedade para empresas municipais que acumulam à custa destes trabalhadores, os quais vêem negados os direitos básicos que qualquer trabalhador deveria ter, quer ao nível do reconhecimento, quer em termos de protecção social (na doença, no desemprego, na segurança em relação ao emprego).

No caso específico do Porto, a política educativa implementada este ano lectivo de 2009/2010, pela Câmara Municipal é polémica e imoral, pois lançou a instabilidade entre os professores das AEC´s e nas EB1 do Porto, em consequência do concurso público internacional para a entidade gestora.

Deste modo, em vez de melhorarem as condições de trabalho dos professores (tal como estipula o decreto-lei 212/2009 de 3 de Setembro) pioraram a condição já precária dos falsos recibos verdes.

É urgente que pais, educadores, coordenadores e professores tenham conhecimento de toda esta situação.

É urgente que saibam que as autarquias recebem 100 euros por ano, por aluno, para cada disciplina. Isto significa que se estimarmos o número anual de aulas em 50, isso corresponde a 2€ por aluno, por hora. Isto corresponde, numa turma de 20 alunos a 40 euros por hora que a autarquia recebe. Ou seja, paga 11 e guarda 29 Euros. Este valor é variável em função do número de alunos por turma. Em 50 aulas corresponde a um lucro de 1 450 €, em cada disciplina e em cada turma. Se multiplicarmos este valor pelo número de turmas e de disciplinas, estamos a falar de um negócio simpático, sobretudo porque não há nenhum investimento em materiais didácticos, nem em instalações.

É urgente que saibam que os professores deixaram de ser pagos para fazer as planificações, articulação entre as disciplinas, presença nas reuniões e quaisquer outras situações normais provenientes da docência, que obrigam um professor a estar na escola, pois a nova entidade gestora apenas paga em função da hora leccionada retirando do seu vencimento a componente não lectiva, (reuniões, planificações, participações em festividades, actividades, etc.).

Porque é urgente partilhar informação sobre esta situação e juntar as pessoas que se encontram nesta condição, porque é urgente juntar a solidariedade dos pais e dos encarregados de educação, porque é urgente juntar todos aqueles que não querem que os seus impostos sirvam para este enriquecimento ilícito de autarquias e/ou empresas angariadoras de profissionais que é feito à custa da precariedade dos professores, porque é urgente tornar esta situação visível e reagirmos a ela, vai realizar-se no dia 5 de Dezembro uma reunião aberta que visa debater a situação precária que se vive actualmente nas Escolas Básicas de todo País e pensar acções a levar a cabo a partir do caso que se vive no concelho do Porto


Contamos com a presença de todos vós no SPN dia 5 de Dezembro às 10h15m.

FERVE- Fartos destes Recibos Verdes,
Precários Inflexiveis,
Professores das AEC’S do Porto,
Sindicato dos Professores do Norte

O neoliberalismo está vivo, e contra-ataca em nome da sacrossanta economia...

O neoliberalismo está "vivinho da silva"
( texto de Walden Bello )

O recente colapso da economia mundial, causado predominantemente pela falta de regulação dos mercados financeiros, provocou uma erosão na credibilidade do neoliberalismo. No entanto, segue exercendo uma forte influência na maioria dos economistas e dirigentes de empresas, sobretudo pela ausência de uma doutrina alternativa.

Por que a contínua invocação dos mantras neoliberais quando as promessas desta teoria foram contraditadas pela realidade em quase todas as ocasiões?

O neoliberalismo é uma perspectiva que advoga a favor do mercado como o principal regulador da atividade econômica, enquanto busca limitar ao mínimo a intervenção do Estado.

Em tempos recentes, o neoliberalismo foi identificado com a própria ciência econômica, dada sua hegemonia como um paradigma dentro da disciplina, que induz à exclusão de outros enfoques.

Dado que a economia é vista em muitos setores como uma ciência irrefutável, quase como a física (é a única ciência social para a qual há um Prêmio Nobel), o neoliberalismo teve uma tremenda e penetrante influência não só em âmbitos acadêmicos, mas também nos meios políticos. Enquanto a Universidade de Chicago, lar do guru neoliberal Milton Friedman, se converteu em fonte de sabedoria acadêmica, em círculos tecnocráticos o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial foram vistos como instituições-chave que levaram esta teoria à política com uma série de prescrições que eram aplicáveis a todas as economias.

É surpreendente comprovar como só recentemente o liberalismo se transformou em um paradigma hegemônico. Até meados dos anos 70, as orientações econômicas keynesianas, que promoviam uma boa dose de intervenção estatal como necessária para a estabilidade e um crescimento econômico constante, eram a ortodoxia. No chamado Terceiro Mundo, o desenvolvimentismo, que prescrevia os princípios keynesianos para as economias que estavam insuficientemente penetradas e transformadas pelo capitalismo, era o enfoque predominante. Havia um tipo conservador de desenvolvimentismo e outro progressista, mas ambos viam o Estado como o mecanismo central do desenvolvimento.

Creio que há três razões pelas quais o neoliberalismo, apesar de seus fracassos, segue sendo dominante.

Em primeiro lugar, em certos países em desenvolvimento como Filipinas, a corrupção continua sendo considerada geralmente como uma explicação para o subdesenvolvimento. Deriva daí o argumento segundo o qual o Estado é a fonte da corrupção e o incremento do papel do Estado na economia, inclusive como regulador, seja visto com ceticismo. O discurso neoliberal concorda perfeitamente com esta teoria da corrupção, minimizando o papel do Estado na vida econômica e sustentando que tornar as relações de mercado dominantes nas transações às custas do Estado reduzirá as oportunidades para a corrupção tanto dos agentes econômicos quanto dos estatais.

Por exemplo, para muitos filipinos o Estado corrupto foi e segue sendo o principal obstáculo para a melhoria do nível de vida. A corrupção estatal é vista como o maior impedimento para o desenvolvimento econômico sustentável. A corrupção, por óbvio, deve ser condenada por razões morais e políticas, mas a suposta relação entre corrupção e subdesenvolvimento tem, de fato, pouca base.

Em segundo lugar, apesar da profunda crise do neoliberalismo, não surgiu ainda nenhum paradigma ou discurso alternativo convincente nem local nem internacionalmente. Não há nada parecido com o desafio que os princípios keynesianos colocaram ao fundamentalismo do mercado durante a Grande Depressão dos anos 30 do século passado. Os desafios apresentados por economistas estelares como Paul Krugman, Joseph Stiglitz e Dani Rodrik continuam enquadrados dentro dos limites da economia neoclássica.

Em terceiro lugar, a economia neoliberal segue projetando-se com a imagem de uma “ciência irrefutável” em razão de ter introduzido meticulosamente a tecnologia matemática. Como seqüela da recente crise financeira, esta extrema aplicação da matemática foi objeto de críticas dentro da própria profissão. Alguns economistas sustentam que o predomínio da metodologia sobre a substância converteu-se na finalidade da prática econômica e, consequentemente, a disciplina perdeu contato com as tendências e os problemas do mundo real.

Vale a pena notar que John Maynar Keynes, que era uma mente matemática, se opôs à “matematização” da disciplina precisamente pelo falso sentido de solidez que dava à economia. Como registrou seu biógrafo Robert Skidelsky, “Keynes era notoriamente cético acerca da econometria” e os números “eram para ele simplesmente pistas, indicações, gatilhos para a imaginação”, ao invés de expressões de certezas sobre fatos passados e futuros.

Superar o neoliberalismo, portanto, requer ir além da veneração dos números que, freqüentemente, cobrem a realidade, e ir além também do suposto cientificismo neoliberal.

(*) Walden Bello, é deputado da República das Filipinas e analista do centro de estudos Focus on the Global South (Bangkok)

Tradução: Katarina Peixot

24.11.09

A Cimeira de Copenhague sobre o clima e a proposta do Equador para combater o caos climático (texto de Boaventura Sousa Santos)

De Copenhague a Yasuní

Como já se previra, a próxima Conferência da ONU sobre a Mudança Climática, que ocorrerá em Copenhague, de 7 a 18 de Dezembro, será um fracasso que os políticos irão tentar disfarçar com recurso a vários códigos semânticos como “acordo político”, “passo importante na direção certa”. O fracasso reside em que, ao contrário dos compromissos assumidos nas reuniões anteriores, não serão adotadas em Copenhague metas legalmente obrigatórias para a redução das emissões dos gases responsáveis pelo aquecimento global cujos perigos para a sobrevivência do planeta estão hoje suficientemente demonstrados para que o princípio da precaução deva ser accionado.

A decisão foi tomada durante a recente Cúpula da Cooperação Ásia-Pacífico e, mais uma vez, quem a ditou foi a política interna dos EUA: a braços com a reforma do sistema de saúde, o presidente Obama não quer assumir compromissos à margem do Congresso norte-americano e não pode ou não quer mobilizar este último para uma decisão que envolva medidas hostis ao forte lobby do setor das energias não renováveis. Os cidadãos do mundo continuarão pois a assistir ao espectáculo confrangedor de políticos irresponsáveis e de interesses económicos demasiado poderosos para se submeterem ao controle democrático e assim ficarão até se convencerem de que está nas suas mãos construir formas democráticas mais fortes capazes de impedir a irresponsabilidade dos políticos e o despotismo econômico.

Mas a reunião de Copenhague não será totalmente em vão porque a sua preparação permitiu que se conhecessem melhor movimentos e iniciativas, por parte de organizações sociais e por parte de estados, reveladores de uma nova consciência ambiental global e de outras possibilidades de inovação política. Uma das propostas mais audaciosas e inovadoras é a Iniciativa ITT do Equador apresentada, pela primeira vez, em 2007 pelo então Ministro da Energia e Minas, o grande intelectual-ativista Alberto Acosta, mais tarde Presidente da Assembleia Constituinte.

Trata-se de um exercício de co-responsabilização internacional que aponta para uma nova relação entre países mais desenvolvidos e países menos desenvolvidos e para um novo modelo de desenvolvimento, o modelo pós-petrolífero. O Equador é um país pobre apesar de (ou por causa de) ser rico em petróleo e a sua economia depender fortemente da exportação de petróleo: o rendimento petrolífero constitui 22% do PIB e 63% das exportações. A destruição humana e ambiental causada por este modelo econômico na Amazônia é verdadeiramente chocante. Em consequência direta da exploração do petróleo por parte da Texaco (mais tarde, Chevron), entre 1960 e 1990, desapareceram por inteiro dois povos amazônicos, os Tetetes e os Sansahauris.

A iniciativa equatoriana visa romper com este passado e consiste no seguinte. O estado equatoriano compromete-se a deixar no subsolo reservas de petróleo calculadas em 850 milhões de barris existentes em três blocos — Ishpingo, Tambococha e Tipuyini (daí, o acrônimo da inciativa) — do Parque Nacional Amazónico Yasuní, se os países mais desenvolvidos compensarem o Equador em metade dos rendimentos que deixará de ter em resultado dessa decisão. O cálculo é que a exploração gerará, ao longo de 13 anos, um rendimento de 4 a 5 bilhões de euros e emitirá para a atmosfera 410 milhões de toneladas de CO2. Tal não ocorrerá se o Equador for compensado em cerca de 2 biliões de euros mediante um duplo compromisso. Esse dinheiro é destinado a investimentos ambientalmente corretos: em energias renováveis, reflorestação, etc.; o dinheiro é recebido sob a forma de certificados de garantia, um crédito que os países “doadores” receberão de volta e com juros caso o Equador venha a explorar o petróleo, uma hipótese pouco provável dada a dupla perda para o país (perda do dinheiro recebido e a ausência de rendimentos do petróleo durante vários anos, entre a decisão de explorar e a primeira exportação).

Ao contrário do Protocolo de Kyoto, esta proposta não visa criar um mercado de carbono; visa evitar que ele seja emitido. Não se limita, pois, a apelar à diversificação das fontes energéticas; sugere a necessidade de reduzir a procura de energia, quaisquer que sejam as suas fontes, o que implica uma mudança de estilo de vida que será sobretudo exigente nos países mais desenvolvidos. Para ser eficaz, a proposta deverá ser parte de um outro modelo de desenvolvimento e ser adotada por outros países produtores de petróleo. Aliás, a sustentar esta proposta equatoriana está a nova Constituição do Equador, uma das mais progressistas do mundo, que, a partir das cosmovisões e práticas indígenas do que designam como “viver bem” (Sumak Kawsay) — assentes numa relação harmoniosa entre seres humanos e não-humanos, incluindo o que na cultura ocidental se designa por natureza — propõe uma concepção nova e revolucionária de desenvolvimento centrada nos direitos da natureza.

Esta concepção deve ser interpretada como uma contribuição indígena para o mundo inteiro, pois ganha adeptos em setores cada vez mais vastos de cidadãos e movimentos à medida que se vai tornando evidente que a degradação ambiental e a depredação dos recursos naturais, além de insustentáveis e socialmente injustas, conduzem ao suicídio coletivo.
Uma utopia? A verdade é que a Alemanha já se comprometeu a entregar ao Equador 50 milhões de euros por ano durante os 13 anos em que petróleo seria explorado. Um bom começo.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br

Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

Abaixo-assinado em solidariedade com os 11 anti-fascistas portugueses processados por participarem na manif de 25 de Abril de 2007

Artigo 45.º*
(Direito de reunião e de manifestação)
1. Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização.

2. A todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação.



Artigo 21.º*
(Direito de resistência)
Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.

*Constituição da República Portuguesa (Sétima revisão constitucional)



Sabemos que a manifestação contempla um direito constitucional inalienável. Não restam dúvidas quanto à natureza legal da manifestação que ocorreu no dia 25 de Abril de 2007, em Lisboa. Nessa tarde, na rua do Carmo, as autoridades policiais decidiram intervir violentamente. Não só puseram em causa um direito fundamental, como incorreram noutra ilegalidade pelo facto de não terem comunicado às pessoas que deveriam dispersar, como exige a lei e não foi feito. Quando um direito constitucional é posto em causa, mesmo que pelas autoridades policiais (com a agravante do incumprimento pelas forças policiais do aviso prévio de dispersão a que estão obrigadas por lei), os cidadãos que se vêm ofendidos no exercício de um direito fundamental têm o direito de pôr em prática outro preceito constitucional acima citado:

“Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública.” (Artigo 21.º/Direito de resistência)

Por outras palavras, resistir a alguém que pratica um crime (neste caso a polícia que interveio ao arrepio da lei nesse 25 de Abril de 2007). Alguns dos cidadãos que nessa tarde, escorados na indignação e na Constituição portuguesa, resistiram ao acto ilegal praticado pela polícia vão a julgamento no próximo dia 7 de Dezembro acusados de desobediência à autoridade.

Dois anos depois do sucedido, no dia 25 de Abril de 2009, a novela do paroxismo de uma cultura paternalista e baseada na intocabilidade dos agentes da autoridade – resquícios vivos da obediência ao Pai Nosso Salazar – veio escarranchada num artigo do Diário de Notícias, com chamada de primeira página: a lista “negra” dos 11 cidadãos injustamente arrolados pela justiça. O jornal diário referido, não só não consultou a Constituição da República, não só violou o código deontológico ao não ter procurado o contraditório, como teve o desplante de colocar a lista “negra” dos cidadãos, identificando-os com o nome, morada, idade, profissão e pormenores biográficos. O que o Diário de Notícias fez, com a anuência de director e editor, foi apenas fazer o copy paste do press release enviado pelo comissariado dos “serviços”. Comissariado que cumpriu o seu papel, já que os “serviços” têm de prestar contas ao Estado e aos cidadãos do seu excelso e secretíssimo desempenho. Tarefa cumprida escrupulosamente, já não com o “lápis azul”, mas com o pós-disciplinário “Magalhães”: colocou os insurrectos por ordem alfabética, enriqueceu o texto com requintes estatísticos e estilísticos que denotam o progresso desta classe tantas vezes desprezada. Quanto à decisão jornalística, ela já não cumpre o seu papel: pensar, sobretudo pensar com independência, e depois, averiguar, procurar o contraditório, a versão dos visados, ler a Constituição da República. E, como o pensamento crítico esteve arredado dessa decisão jornalística, o Diário de Notícias preferiu estar no lugar que convém estar no momento histórico que vivemos e cometeu um insulto, não apenas aos 11 cidadãos que estarão entregues a um processo injusto, como a todos os cidadãos que preferem pensar, (e que pensam com a Constituição, como faz esse reino de pessoas justas e bondosas e sérias, como os deputados e os jornalistas) e que concluem que a lista “negra” do jornal citado deveria ter o nome dos polícias que ilegalmente espancaram cidadãos que exerciam um direito fundamental. Sem o requinte estilístico do comissariado, mas com a profunda indignação pelo abuso das autoridades e a leviandade de um quotidiano…

Recordamos que em Novembro do ano passado o Estado francês e a administração Sarkozy montaram um show mediático para punir e vigiar a cidadania revoltada. A detenção dos Tarnac 9 foi uma ópera terrificante de marketing. Um show-off metonímico de terror: aterrorizar cada cidadão que põe em causa a falácia, o cinismo, a ganância, a injustiça de um sistema.

Alguns meses depois de o caso Tarnac ter feito as parangonas da imprensa, é o próprio Sindicato da Magistratura francesa a pronunciar-se inequivocamente sobre a utilização abusiva das leis do Estado para asfixiar os movimentos de contestação social: "dénonce l’utilisation de qualifications pénales outrancières aux fins d’intimidation et de répression des mouvements sociaux". Ou ainda: "Dans l’affaire du « groupe de Tarnac », l’instrumentalisation consentie de la justice - à la suite d’une opération de « police réalité » opportunément médiatisée par la ministre de l’Intérieur - semble avoir atteint son paroxysme.”

(O comunicado integral do Sindicato da Magistratura francesa pode ser consultado no site oficial:
http://www.syndicat-magistrature.org/spip.php?article825 )


Mudam-se os processos, mantém-se a mesma mesquinhez das autoridades.

Agora, o reality-show tem uma sequela lusitana. Mas é uma incógnita adivinhar quem se pronunciará contra o julgamento que ocorrerá no dia 7 de Dezembro no Parque das Nações.


O que é pobre e vil neste país, não é as autoridades policiais viveram numa espécie de bebedeira de impunidade, cometerem crimes e ilegalidades (não só é próprio das suas funções, como ainda têm a desculpa dos poderes governativos a que prestam obediência darem o péssimo exemplo), é não haver vozes que discordem da actuação da Justiça, que criticam as forças policiais, que façam a apologia da crítica ao autoritarismo, vá lá que defendam a sua constituição!


Este abaixo-assinado (à Constituição da República), que solicita a sua assinatura no caso de concordar com o seu teor, reveste-se de um acto de solidariedade para com aqueles que foram ilegalmente espancados pela polícia e a favor daqueles que se sentarão no banco dos réus por desejarem um país mais livre. E lembrem-se, não somos nós que somos “sérios”, não somos nós que somos “pessoas de bem”, não somos nós que somos constitucionalistas…

Os Proponentes e/ou Assinantes (depois de acrescentar o seu nome, BI e ocupação - se assim entenderem -, reenviem o email para que quem receba possa ter acesso à lista completa de assinantes):

Caso concorde, reenvie este email para os seus amigos e contactos e para as seguintes autoridades públicas:

Procuradoria-Geral da República:
mailpgr@pgr.pt

Tribunal Central de Instrução Criminal:
lisboa.tcic@tribunais.org.pt ,
lisboa.jcr@tribunais.org.pt

Coordenadas GPS:
Ordem dos Advogados:
cons.geral@cg.oa.pt,
cons.superior@cg.oa.pt

Sindicato dos Magistrados do Ministério Público:
smmp@net.novis.pt ,
(texto recebido via email)

Introdução à Soma - uma terapia anarquista: livro e oficina, seguido de jantar em benefício do CCL ( dia 28 de Nov. no Grupo Desportivo da Mouraria)


Dia 28 de Novembro (sábado) no Grupo Desportivo da Mouraria:

16h - Lançamento do livro "Introdução à Soma - uma terapia anarquista"
seguido de palestra e oficina de Soma (com a presença do autor, João da Mata)

20h - Jantar benefit contra o despejo do Centro de Cultura Libertária


Local: no Grupo Desportivo da Mouraria, à Travessa da Nazaré, nº 21 Lisboa


Sobre o livro "Introdução à Soma - uma terapia anarquista" de João da Mata:

Considerado um dos maiores músicos brasileiros, Cartola em parceria com Elton Medeiros na música “O sol nascerá”, canta: A sorrir / Eu pretendo levar a vida / Pois chorando / Eu vi a mocidade perdida... Talvez sem perceber, Cartola anunciara com seu samba uma potente postura ética, um verdadeiro modo de vida alegre e afirmativo.

Penso ser a Soma - uma terapia anarquista, a aposta em algo semelhante. Transformar nossa existência em um grande atelier a serviço de uma obra de arte, onde o propósito de dar um sentido artístico e belo à vida é uma aposta ética de mesma forma afirmativa. E é exactamente assim que acredito ser um acto e o objectivo terapêutico: a transformação da existência em algo sublime.

A Somaterapia ou apensa Soma é uma técnica terapêutico-pedagógica, corporal e em grupo que buscou no pensamento e na acção libertária tanto uma crítica às mais variadas forma de poder na vida social, quanto uma possibilidade de viver livre e plenamente.

Criada no Brasil pelo escritor e médico Roberto Freire, em plena ditadura militar nos anos de 1960, os primeiros grupos de Soma funcionaram de forma clandestina para atender aos activistas políticos. Não havia uma terapia em que os jovens perseguidos pelos militares pudessem confiar, pois a paranóia de denúncia era enorme. Assim, surgia uma terapia fortemente ligada às lutas libertárias, contra a normalidade perversa instituída e instaurada no Brasil. Passados quase quarenta anos de sua criação, a Soma permanece atenta aos mecanismos de controlo e captura das liberdades individuais e suas repercussões sobre a vida emocional das pessoas.

O livro que você tem em mãos é uma “porta de entrada” a esta técnica terapêutica revolucionária. Aqui você encontrará os principais conceitos, as bases teóricas e a metodologia da Soma. Em linguagem simples e directa, deve desperta-lo para os caminhos libertários e insurgentes em direcção à construção desta vida que Cartola canta em samba: alegre, afirmativa e guerreira.

Caso queiram saber mais sobre a Soma: http://www.somaterapia.com.br/

O decálogo do terrorista cultural




O Decálogo do Terrorista Cultural (Timóteo Pinto Remix 2007)

1. O Terrorismo Cultural (doravante denominado também TC) tem por base a revolta contra a hipocrisia conservadora e contra o bem-pensantismo progressista. Mas o principal inimigo do TC é a indiferença. Chama-se "Terrorismo" porque, nos dias atuais, a atitude mais sã é adotar/adaptar os termos mais desprezados. Se George W. Bush elegeu "O terrorismo" como seu inimigo principal, e todos se sentem obrigados a condenar o terrorismo, então o TC proclama-se terrorista. Não se trata de terrorismo contra a vida das pessoas - um empreendimento estúpido e inútil, já que a maior parte das mortes não naturais são provocadas pelas instâncias que se proclamam antiterroristas: governos, empresas, igreja, nações... Trata-se de terrorismo cultural, no sentido antropológico e mais lato do termo: terrorismo contra as crenças, os valores, os hábitos e os projetos que as instituições que temos - e muitos dos parvos que as representam - defendem.

2. O Terrorismo Cultural aceita a contradição permanente. Ao contrário da dialética, que percorre o espectro direita-esquerda, o TC defende que as contradições não se resolvem. Nesse sentido, o TC está mais próximo de algumas filosofias orientais e de outras ditas "primitivas" que vêem a contradição como o elemento dinâmico constante da sociedade, sem outra resolução que não a sua repetição cíclica e infinita. Só não é uma filosofia oriental porque não tem paciência para orientalices babacas, nem para a forma como elas têm sido cooptadas por yuppies budistas de Los-Angeles e gente do new age. Só não é um elogio do primitivismo porque não tem paciência para intelectuais burgueses que se fascinam com as danças tribais no Discovery Channel e gastam uma fortuna em viagens naturalistas à Amazônia para serem picados por mosquitos.


3. O TC é um bricolage de influências. Nele pode encontrar-se um pedaço de tudo: um bom pedaço de Anarquismo Libertário, tanto na vertente socialista européia como na vertente liberal americana; um bom pedaço de Gandhismo, assim como um bom pedaço de Liberalismo; pedaços de Surrealismo, de Groucho-Marxismo, de Filosofia Pragmática, de Hedonismo, de Hihicronedismo, de Zenarquismo; sobretudo, o TC simpatiza instintivamente com o Cinismo Surrealista. (O bricolage do TC não tem nada a ver com o bricolage dos pós-modernos, pois o TC não tem paciência para os pós-modernos que cooptaram um certo potencial TC para o (des)conforto de universidades americanas freqüentadas por filhos de narcotraficantes ou para o small print de revistas crípticas publicadas na França). Aquilo que o TC não suporta é o elogio absoluto da racionalidade ou o elogio absoluto da emotividade; o primado da biologia ou o primado da cultura e da construção social; as pessoas que se armam em marginais ou as pessoas que se armam em sistêmicas. O bricolage e a contradição permanente são aliados natos na luta cínica pelo desmascaramento dos sistemas de ação e pensamento. São do mais realista que pode haver - sobretudo porque o TC não se preocupa com a utilidade.


4. A primeira virtude de um TC (que não se chama virtude, pois o TC não tem paciência para as virtudes, assim como não tem paciência para o imoralismo militante dos pensadores "marginais") é saber gozar consigo próprio e ter prazer nisso. Não é possível aterrorizar a cultura sem se usar a si próprio como exemplo de como as coisas realmente são: bricoladas, contraditórias, irresolúveis. O projeto de identidade pessoal dum TC é a ausência de projeto, pois este necessita sempre de um sistema de crenças coeso ou, no mínimo, da submissão a uma autoridade ou a um status quo proclamado pelo senso comum.


5. Esta coisa de "irresolúveis" merece uma explicação: será o TC um desesperançado? Acha ele ou ela que nada tem solução? Não é bem assim.
O TC abomina utopias, milenarismos, histerias de massa, populismos, demagogias, livros de auto-ajuda e outras formas de substitutos da religião - incluindo a religião em si. Está mais que visto que conduzem ao desastre: do "socialismo real", às guerras religiosas, passando pelas seitas em que todos acabam mortos. O TC tão-pouco acredita na ilusão de felicidade através do consumo promovida pelo capitalismo. O cinismo realista do TC desconfia das lavagens cerebrais, quer venham da direita quer da esquerda, do campo religioso ou do campo científico, do campo socialista ou do campo capitalista. Não quer isto dizer que o TC seja um hedonista ou um "desconectado". Os primeiros são uns tontos, porque não percebem que obtêm o seu prazer à custa de não questionarem o que lhes permite obterem-no; os segundos tontos são, porque escolhem hipocritamente aquilo em que participam e aquilo em que não participam (por exemplo, não votam porque "não participam nessa farsa", mas nunca falham a picar o ponto no emprego...).


6. O TC desconfia daqueles que dizem que fazem TC: artistas, comentadores e opinion makers, jovens em manifestações anti-globalização, e outras espécies. O TC desconfia também dos que dizem que eles são apenas diletantes ou pessoas que estão a passar por uma fase. O TC desconfia dos primeiros porque de fato acha que são diletantes ou estão a passar por uma fase. Mas desconfia dos segundos porque acha que eles não têm autoridade para emitirem aquele juízo: a sua opinião é o simples balbuciar das banalidades auto-satisfeitas do senso comum.


7. Tudo o que um TC disser está sujeito à revisão por outro TC e assim sucessivamente até ao infinito, numa discussão eterna, bricolada, contraditória, realista, cínica e humorada, desde que com isso ninguém deixe de almoçar, dormir, ir à praia, dizer a sua opinião e fazer qualquer coisa de criativo.


8. Um bom TC destruiria imediatamente este texto. Um bom TC não pode admitir a possibilidade de ajudar a criar um dogma, associação, movimento, escola, partido, tendência, seita, culto, lobby, grupo de ajuda e muito menos uma empresa.


9. Não existem bons TCs.


10. Não existe ponto 10: um TC não consegue resistir a escrever um Decálogo só com nove pontos.

Diga não à vivissecção e ao biocídio: milhares de ratinhos são sacrificados em nome da ciência no biotério da Universidade do Algarve




Milhares de "ratinhos" de laboratório usados para investigação em Biotério da universidade

São aos milhares, só respiram ar puro e a água e alimentos que ingerem têm que ser esterilizados. Conhecidos por "ratinhos" de laboratório, são usados para investigação biomédica no Biotério da Universidade do Algarve (UAlg).

A estrutura, com capacidade para dez mil animais, é a única do género a Sul de Lisboa e ali são conduzidas experiências que não podem ser feitas em humanos, realizadas em nome do progresso científico.

As regras para aceder ao Biotério são rígidas: depois de se passar por tapetes autocolantes que retiram o excesso de pó das solas dos sapatos, é preciso vestir bata, colocar protecções nos pés, máscara, touca e luvas.

O procedimento é para evitar a contaminação entre as diferentes áreas do Biotério, já que o armazenamento dos animais - que respiram um ar semelhante ao que existe nos blocos operatórios -, requer cuidados extra.

Nas duas salas de armazenamento de animais, tudo é controlado ao pormenor: a temperatura, a humidade, a qualidade do ar e a intensidade da luz, sendo até simulados os ciclos diários e nocturnos.

As próprias gaiolas que servem de acomodação para os animais - algumas podem conter até cinco animais adultos -, têm filtros para impedir a passagem de micróbios.

Alguns dos ratinhos que ali estão armazenados já foram geneticamente manipulados em laboratório através do uso de células estaminais embrionárias, explicou à Lusa o coordenador do Biotério, José Belo.

A utilização de animais mutantes - aos quais lhes foi, por exemplo, retirado ou alterado um gene -, é importante para perceber o desenvolvimento embrionário de órgãos específicos como o coração ou o cérebro.

A manipulação genética é feita na sala experimental do Biotério, para onde os animais são levados sempre que se vai conduzir alguma experiência, sendo anestesiados, para lhes causar a mínima dor possível.

"Usamos os métodos menos dolorosos e mais humanizados possíveis", garante José Belo, lembrando que os animais são usados para o avanço da ciência e em benefício do ser humano.

"Não é uma coisa que façamos de ânimo leve nem pelo gosto de usar os animais, muito pelo contrário", sublinha aquele professor da UAlg, especialista em células estaminais e desenvolvimento embrionário.

Para ensinar os investigadores a manusear e trabalhar com animais em laboratório, haverá um curso organizado pelo Centro de Biomedicina Molecular e Estrutural da UAlg, que decorre de 29 de Novembro a 01 de Dezembro.

Sarajevo é brincadeira; aqui é o Rio de Janeiro ( a propósito da violência policial no Brasil)



Texto retirado do blogue: http://grazaza.blogspot.com/



SARAJEVO É BRINCADEIRA AQUI É O RIO DE JANEIRO

O Rio de Janeiro possui a polícia mais violenta do mundo.

O grau de letalidade da polícia carioca supera todas as polícias dos Estados Unidos somadas. Nos últimos sete anos, as mortes provocadas pelas ações policiais cresceram 298,3%. Hoje são mais de três pessoas por dia mortas pela polícia.

O perfil das vítimas é conhecido: jovens do sexo masculino, pretos, pobres, moradores de favelas e periferias e de baixíssima escolaridade.

Marcelo Freixo, 2006



Vivemos uma Guerra, não declarada, mas uma Guerra instituída, dita civil. Acostumamos-nos com as cenas de violência explícita, gratuíta, assustadora. Tiroteios são comuns, crianças assaltando aos bandos são comuns, corpos estendidos são comuns, e em meio a esta cartarse, em quem devemos confiar? Na polícia, deveria ser a resposta mais coerente. Mas no caso brasileiro, especificamente no caso carioca, a coisa não é bem assim...

Se fores parado, em uma blitz policial, a noite, no Aterro do Flamengo por exemplo, certo que serás assaltado, por quem acima de tudo, deveria estar ali para nos proteger. Os famigerados R$ 50,00 cobrados pela corrupta Polícia Militar Carioca, é conhecido por todos. Raras são as exceções em que serás liberado sem ter que deixar a significativa quantia para o "cafézinho" da galera, mesmo que estejas com documentação em dia, impostos pagos, sempre encontrarão uma coisinha boba para consumar o fato extorsivo.



Mão na cabeça; assalto? Não, é a polícia
São pagos pra proteger, mas te tratam como ladrão
Quem é que vão proteger, então?


Não é mais só nas favelas, que a PMERJ vem estrelando sua capacidade mágica de fazer "desaparecer" corpos de cidadãos assassinados impunemente. Na Barra da Tijuca, nobre bairro de Classe Alta, tivemos dois casos recentes desta habilidade. A jovem engenheira Patrícia que voltava de uma festa na Lapa, e que segundo a família - foi abordada em uma blitz policial, sendo seu carro encontrado dentro das águas e seu corpo e situações reais do acontecido, nunca esclarecidas. E o caso da comerciante chinesa Ye Guee que ao sair de uma casa de câmbio, com quantia significativa de dinheiro, foi abordada por uma viatura policial e pimba, nunca mais... Nas favelas, a lista de nomes é imensa... mas quando mata-se favelado, é diferente, no máximo uma mãe, uma irmã desesperada no noticiário, depois ninguém mais saberá o nome das vítimas, seja o menino que saiu pra comprar pão, seja o trabalhor que regressava tarde da noite depois de uma jornada exaustiva.


Quem foi a praia do Arpoador, Zona Sul - Rio de Janeiro, este final de semana teve a real dimensão do des-preparo da Polícia de Sérgio Cabral, nosso saudoso governador. O Grupo de Operações Táticas, leia-se os mais bem preparados políciais da corporação, aqueles que conseguem imobilizar sequestradores - isso quando não acertam na cabeça das vítimas - dispararam três tiros em um sujeito suspeito, que ameaça banhistas com um "canivete". Não defendendo o "elemento", que tava mais pra malucão, do que para qualquer outra coisa, e que deveria sim, ser detido, levado, penalizado, mas não com sua vida.

Ora, um grupo especializado, com certeza em número superior a "um" - o cara do canivete, conseguiria imobilizar o sujeito sem ter que sujar de sangue as areias da praia lotada e cheia de crianças. O que mais assusta, é a incapacidade de ação, e a opção pela concepção de assassinatos. Cada vez mais, e em plena arena, diga-se areia, para o povo todo ver...


O triste episódio trouxe à tona:

A filosofia do "atirar para matar" da Polícia Militar;
Seu despreparo para agir nestas situações;
A discussão sobre a possibilidade de ampliação no uso de armas não letais, para este tipo de circunstância;
O prognóstico assustador da aprovação de grande parcela da população civil, levantando a máxima de que "ladrão bom, é ladrão morto";

Não podemos deixar de levantar a bandeira dos Direitos Humanos, frente a essa maré "fascista" de limpeza social. Vivemos um ápice da violência, a desigualdade social e de oportunidades se agrava a cada dia. Nosso sistema penitenciário é um fracasso pleno e pouco se discute suas necessárias reformulações. Nossas cadeias funcionando como pós-graduações para o Crime organizar-se, e lá de dentro os detentos chaves, comandam ações de seus grupos aqui fora. Com dinheiro e bons advogados, conseguem rapidamente suas reduções de pena, e demais flexibilizações que o sistema fornece.


Temos que cuidar nossas crianças, orientá-las, educá-las, alimentá-las, não permitindo que continue a formação de exércitos de bandidos como vemos na maioria dos bairros de periféria espalhados por este país. A bandidagem rola solta, todos sabemos, é cruel e nefasta, mas nossa polícia não pode ser assim também. As corporações devem ser organizadas sob valores, ética, razão. Com melhores salários, mais treinamentos, uma vez que é composta de trabalhadores, pais de família, filhos, que devem ter condições dignas de vida para poderem exercer com plenitude suas funções de manutenção da ordem pública e segurança dos cidadãos, e não evoluirem para uma nova versão, miliciana, de bandidos fardados.

Para o alto escalão da PMERJ o fato citado do Arpoador foi um sucesso. Para boa parcela da nossa Opinião Pública também...

E aí??? é essa a mentalidade que queremos transmitir?

Discutir a raiz do problema é um buraco bem mais embaixo, onde, infelizmente, nem todos querem descer.

Por Graziele Saraiva